terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Proprietários da Fazenda Monte Verde vêem produtividade aumentar com o Silvipastoril



O produtor Rafael Hirle, filho do proprietário da Fazenda Monte Verde, localizada no município de Teófilo Otoni, na região leste de Minas Gerais começou a utilizar a recuperação de pastagens já há alguns anos, e logo depois incluiu o plantio de árvores em sua iniciativa.

Segundo Hirle, ele já conhecia a tecnologia de recuperação de áreas degradas com pastagem, mas apenas se utilizava de gramíneas. “Por fazer parte de outros projetos desenvolvidos no estado já sabia dá importância de se recuperar o pasto, mas a gente se utilizava de braquiária (gramínea exótica muito utilizada por pecuaristas)”, disse.

Quando foi procurado pela Engenheira Agrônoma Marianna Vilar para participar do Projeto Rural Sustentável (PRS), ficou conhecendo outras formas de recuperação por meio do plantio de árvores e arbustos na propriedade. De acordo com Rafale, a melhora da produção leiteira é visível. “Podemos notar que o gado gosta de estar entre a vegetação mais alta, longe do calor e além disso a água que era pouca está voltando aos rios próximos da propriedade.”, ressaltou.

Sistema Silvipastoril integra Pecuária e Conservação de Florestas
Foto: Fabrício Ângelo
No local foram cultivadas espécies como Flamboyant, Sapucaia, Mulungu, Ipê, Jamelão, Aroeirinha e Ingá. Os proprietários estão entusiasmados com os resultados e pretendem recompor uma área de floresta que existia há muitos anos. “Infelizmente nossos antepassados não tinham essa visão e “limpavam” as áreas para o gado. Hoje vemos que muitos problemas que temos como falta de água e solo infértil foram causados por isso”. Mas ele não os culpa, “era uma cultura que existia e nosso desafio é além de recuperar essas terras mostrar que existem novos meios de se produzir com lucratividade e amo tempo preservando nosso bem maior que são os recursos naturais”, afirmou.

De acordo com a Agente de Assistência Técnica do PRS , Marianna Villaça, a criação de animais ao ar livre, em uma pastagem adequadamente arborizada, é capaz de contribuir para o sequestro de carbono, para menor emissão de óxido nitroso e para a mitigação da emissão de gás metano, “e talvez os benefícios mais importantes são o bem-estar animal e o aumento de absorção e infiltração de água no solo ", destacou.

Foi Marianna quem levou o Projeto Rural Sustentável ao produtor Rafael e seu pai Salmir propondo que a propriedade servisse de exemplo a outros fazendeiros da região. “Ao ver a vontade da família Hirle em regenerar suas terras não só com gramíneas, mas incluir outros tipos de vegetação percebi que seria uma ótima oportunidade para mostrar que é possível produzir mais e ser ambientalmente sustentável”, enfatizou. 

Recuperação de pastagem com gramineas na Fazenda Monte Verde


Recuperação de florestas e pastagens é fundamental para a região
Janaína Mendonça Pereira é chefe regional do Instituto Estadual de Florestas ((IEF-MG)) da região Nordeste do Estado. Segundo ela, uma das formas mais importantes para a conservação da floresta é sensibilizar o proprietário rural de que ele é o grande guardião dos recursos naturais. “Somos vitimas de uma sociedade que sempre foi incentivada a dominar a natureza, e muitas políticas públicas foram direcionadas para isso. Agora se não nos apressarmos, pagaremos um preço caro no futuro”, salientou.

Para Janaína Mendonça ações como essas vão esclarecer 
incentivar as novas gerações de agricultores da importância de 
se manter florestas e matas ciliares intactas
Para a chefe do IEF, os Vales do Mucuri e do Jequitinhonha em Minas Gerais vem sofrendo com a escassez hídrica e se não forem tomadas providências em pouco tempo será impossível produzir com rentabilidade na região. “O sistema de inclusão do componente arbóreo nas pastagens e também nos topos de morro é uma metodologia que vai auxiliar muito na recuperação dos lençóis freáticos e no melhoramento do solo, e por isso nós do IEF junto com projetos como o Rural Sustentável estamos apostando que ações como essa vão esclarecer e incentivar as novas gerações de agricultores da importância de se manter florestas e matas ciliares intactas”, enfatizou.

Sobre o Projeto
O objetivo do Projeto é melhorar a gestão da terra e das florestas por agricultores nos biomas Amazônia e Mata Atlântica para o desenvolvimento rural sustentável, redução da pobreza, conservação da biodiversidade e proteção do clima; e promover a implantação de um projeto de grande escala que possa, contribuir para o desenvolvimento do Plano de Agricultura de Baixo Carbono - Plano ABC através do fomento de implantação de tecnologias em propriedades rurais.

Este projeto de cooperação técnica tem como o executor e gestor financeiro o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Esta Cooperação Técnica é financiada pelo Fundo Internacional para o Clima (International Climate Fund - ICF) do Ministério da Agricultura, da Alimentação, da Pesca e dos Assuntos Rurais do Governo Britânico (DEFRA), tendo como beneficiário o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio da Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo

Sistema Silvipastoril modifica paisagem e aumenta produtividade em propriedades rurais do Leste de Minas Gerais

Por Fabrício Ângelo


Reunir a criação de gado, com a produção de lavouras ao mesmo tempo em que se preserva a floresta nativa. Isso é possível por meio do sistema produtivo de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF).

O ILPF é uma das tecnologias apoiadas pelo Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), política pública que incentiva a organização e o planejamento de atividades agropecuárias consideradas sustentáveis e que ajudem o país a reduzir suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs), conforme acertado dentro do Acordo de Paris.

Dentro do ILPF o Sistema Silvipastoril integra a pecuária, plantação de pastagens e o componente arbóreo. Segundo pesquisa publicada pela unidade da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa Florestas), “a prática de arborização da pastagem confere maior sustentabilidade ao sistema pecuário brasileiro, impactando de forma positiva na atividade junto à opinião pública”.

Além disso arborizar pastos em áreas já abertas, com espécies nativas de ocorrência regional, significa estabelecer um novo paradigma pecuário para as regiões. Incluir o componente arbóreo nas pastagens, degradadas ou não, nos diversos biomas, melhora o bem-estar animal, podendo constituir-se, inclusive, em uma alternativa de melhoria do solo, via diminuição de erosão, aumento de fertilidade e ciclagem de nutrientes, dependendo da espécie utilizada. (Embrapa, 2009, p.5)

Professor Dr. Rogério Martins Mauricio afirma que investir em 
biomassa significa reduzir o desmatamento .
Para o professor Dr. Rogério Martins Mauricio, pesquisador e docente da Universidade Federal de São João Del Rey (UFSJ) em Minas Gerais e membro do Centro Brasileiro de Pecuária Sustentável (CBPS), as mudanças climáticas globais devem afetar cada vez mais a atividade agropecuária e defende a utilização de modelos de produção que estimulem a geração de biomassa (matéria orgânica de origem animal ou vegetal) e a utilização de arbóreas consorciadas com a produção animal. “A biomassa produzida pelas árvores nativas e por arbustos forrageiros pode substituir os fertilizantes químicos, ser utilizada como uma forma de energia, além de auxiliar na fixação do nitrogênio. Além disso, em tempo de preocupações intensas com aquecimento global e seus efeitos essa biomassa representa uma forma natural de sequestro de carbono”, afirmou.


Outro ponto destacado por Martins é que investir em biomassa significa reduzir o desmatamento e diversificar as fontes de alimentação de animais e até seres humanos.

“Hoje os sistemas Silvipastoris podem ser compostos por árvores e gramíneas, e além de produzir esse material orgânico também pode representar importante componente no conforto térmico do animal”, disse.
Gado entre as árvores inseridas na pastagem altera a paisagem da propriedade
Ainda de acordo com Rogério Martins um dos principais objetivos do sistema é modificar a paisagem da região em que está inserido, sendo um processo agroecológico produtivo de alta eficiência. “Temos o desejo de que essa tecnologia não seja usada por apenas um ou dois produtores, mas sim que ao ver todas as vantagens que ela proporciona, outros se sintam motivados a aplica-la criando assim um modelo de grande extensão”, salientou.

Plantio direto com rotação de culturas é eficaz na mitigação de gases de efeito estufa

Por Liliane Castelões, da Embrapa Cerrados 

Foto: André Minitti
Experimentos de longa duração na região central do Cerrado brasileiro apontaram que o sistema plantio direto (SPD) com uso da rotação de culturas e presença de plantas de cobertura é o mais promissor para mitigação de gases de efeito estufa (GEE), quando comparado ao cultivo mínimo, sem a presença de plantas de cobertura, ou ainda em relação ao preparo convencional do solo. Os sistemas integrados, ou mesmo os sistemas em que a gramínea braquiária foi utilizada somente como planta de cobertura após a soja, também apresentaram menores emissões de GEE.

Na avaliação das emissões acumuladas por unidade de produto (grãos/massa seca), os pesquisadores da Embrapa Cerrados (DF) observaram que o SPD com milho na presença de nitrogênio (N) e com milheto, como planta de cobertura, resultou na menor intensidade de emissão: 77 miligramas de óxido nitroso (N2O) por quilo de grãos produzido (77 mg N-N2O kg-1 grãos). Esse resultado foi obtido em comparação a outras espécies de plantas de cobertura, a exemplo do sistema com a leguminosa feijão-bravo-do-ceará, que apresentou emissão de 100 mg N-N2O kg-1 grãos.

No experimento mais antigo de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) do Brasil, conduzido na Embrapa Cerrados desde 1991, as emissões acumuladas após um período de 509 dias de avaliação no sistema integrado com plantio direto foram de 1,75 kg/ha de N2O, valor 53% e 62% menor do que os observados na área de agricultura contínua sem rotação com pasto e na área de lavoura contínua com preparo anual do solo, respectivamente.

Os experimentos também avaliaram os estoques de carbono após 22 anos de implantação. De acordo com o pesquisador da Embrapa Robélio Marchão, na amostragem para cálculo dos estoques de carbono do solo até a profundidade de um metro, somente os sistemas integrados foram capazes de retornar os estoques aos valores iniciais observados no Cerrado.

Potencial mitigador de gás estufa
Dentre os gases de efeito estufa, o óxido nitroso (N2O) é um dos mais importantes na agricultura, por estar associado com a entrada de nitrogênio (N) no sistema de produção pelo uso de fertilizantes nitrogenados, manejo e decomposição dos resíduos vegetais e pela mineralização da matéria orgânica do solo. Embora tenha menor concentração na atmosfera, o N2O apresenta potencial de impacto 310 vezes maior quando comparado ao dióxido de carbono (CO2), além do tempo de permanência na atmosfera de 150 anos.

No plantio direto com a rotação de culturas, o potencial de mitigação das emissões de N2O é maior independentemente da adoção ou não da adubação nitrogenada, sendo indicado, por exemplo, o uso de milheto e feijão guandu em sucessão ao milho. Para sistemas com uso de soja, as pesquisadoras da Embrapa Arminda Carvalho e Alexsandra de Oliveira sugerem a cultura do sorgo como opção de safrinha sob condição de sequeiro.

As cientistas explicam que o potencial de mitigar GEE do sistema plantio direto com rotação de culturas se deve também à produção de matéria seca das plantas de cobertura, considerando sobretudo a qualidade dessa biomassa produzida. “A produção da matéria seca pode contribuir efetivamente, já que está ligada a processos fundamentais, como a ciclagem e acúmulo de nutrientes, aumentando a sua disponibilidade para as culturas subsequentes, principalmente o nitrogênio, se utilizado eficientemente. Além de proporcionar cobertura e incrementar a matéria orgânica do solo ao longo dos anos”, explica Arminda.

Maior produtividade do milho
A pesquisadora ressalta também o incremento de produtividade de milho cultivado em sucessão à safra agrícola de milheto e braquiária. A especialista conta que a prática produz maiores quantidades de palhada no sistema plantio direto e, consequentemente, promove maior proteção contra agentes erosivos e acumula mais carbono no solo.

De acordo com Alexsandra de Oliveira, na avaliação das emissões acumuladas por unidade de produto em cada sistema de manejo, com rotação e pousios, o pior resultado foi o da soja em sistema de preparo convencional de solo e posterior pousio (com ausência de plantas de cobertura e sem safrinha), quando comparado ao sistema plantio direto com rotação de culturas. Nesse caso, o plantio convencional apresentou emissão por produto de 3,9 e 9 vezes mais em comparação à rotação milho-guandu e soja-sorgo, respectivamente, em sistema plantio direto.

Para as pesquisadoras, o uso de espécies vegetais que promovam menor dependência por fontes externas de nitrogênio, e que incrementem o rendimento de culturas, precisa ser intensificado nos agroecossistemas. “Os estudos devem relacionar a emissão acumulada de N-N2O pela produtividade, buscando sistemas ou arranjos que resultem em maior eficiência na conversão por produto, isto é, quantidade de nutriente aplicado via fertilizante versus quantidade de grão produzido”, destacam.

Acúmulo de carbono no solo

O plantio direto na palha é uma prática agrícola adotada por produtores no Cerrado desde a década de 1980. Sua adoção viabiliza várias safras num mesmo ano agrícola. Além de reduzir a erosão e evitar perdas de solo, o SPD reduz os custos de produção por não necessitar revolver o solo (menor custo energético) e também aumenta o rendimento das operações de semeadura, ampliando a janela de plantio para o produtor. Dada sua importância, o SPD é uma das tecnologias incluídas no Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC).

A inclusão teve como objetivo melhorar a qualidade do sistema, uma vez que há a necessidade de uma cobertura permanente do solo, o que não ocorre nos sistemas de cultivo mínimo ou semeadura direta, nos quais, na maioria dos casos, não há revolvimento do solo. Há ainda em todas as regiões do País uma grande área sob preparo convencional na qual o solo é revolvido, causando emissões de carbono para a atmosfera.

Um dos problemas que podem ocorrer após vários anos da adoção do plantio direto é a saturação do carbono na camada superficial do solo, devido à ausência de revolvimento. O pesquisador Robélio Marchão explica que esse desafio de encontrar outras formas de promover o acúmulo de carbono no perfil do solo em profundidade poderá ser superado com a adoção da integração lavoura-pecuária (ILP), que se baseia na rotação com pastagens em áreas agrícolas.

“Já podemos afirmar, para o caso de solos agrícolas corrigidos, que a rotação dessas áreas com pastagens, em sistemas que integram lavoura e pecuária, é uma das formas de potencializar o sistema plantio direto, permitindo, assim, acumular carbono em camadas mais profundas do perfil do solo”. Em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF) onde ocorre essa rotação entre agricultura e pastagens há um maior acúmulo de carbono no solo, principalmente devido ao sistema radicular das espécies forrageiras, que se torna abundante ao encontrar o perfil de solo corrigido.

Trabalhos realizados pela equipe da Embrapa Cerrados no sudoeste goiano, em Rio Verde e Montividiu, também demonstraram que após aproximadamente 15 a 20 anos nos sistemas convencionais de sucessão safra-safrinha há uma saturação do carbono na camada superficial do solo (0-20 cm), não sendo mais possível estocar quantidades significativas de matéria orgânica no perfil. Daí a importância da integração e rotação com pastagens.

A importância da adoção de práticas de manejo sustentáveis

A intensificação sustentável utilizando plantas de cobertura e ainda rotação com pastagens na ILP é apontada como solução técnica para melhoria da qualidade do solo e formação de palhada para o SPD no Cerrado, além da mitigação de GEE. O conceito de intensificação sustentável está ligado ao melhor uso de recursos naturais combinado com o uso das melhores tecnologias e insumos disponíveis (melhores genótipos e maior eficiência ecológica) que minimizem ou eliminem danos ambientais e maximizem os processos ecológicos nos agroecossistemas.

De acordo com a equipe da Embrapa Cerrados responsável pelos estudos, a intensificação sustentável da produção tem sido estudada em todo o mundo e reflete uma busca constante pela maior sustentabilidade no campo, principalmente em relação à sustentabilidade ambiental da produção agrícola.  

Arminda Carvalho, Alexsandra de Oliveira e Robélio Marchão chamam a atenção para o fato de a intensificação sustentável na agricultura atender a um dos grandes desafios da produção de alimentos, o de aumentar a produção nas áreas agrícolas existentes, proporcionando menor pressão pela abertura de novas fronteiras agrícolas, sem reduzir a capacidade de continuar produzindo alimentos e garantindo a segurança alimentar.

Arminda reforça que quanto mais eficiente for o sistema em relação ao uso de nitrogênio e em acumular carbono, como no caso da intensificação sustentável, maior seu potencial de mitigar GEE.  A necessidade de buscar alternativas de adoção de práticas de manejo que permitam equacionar produtividade com sustentabilidade é enfatizada por Alexsandra. A pesquisadora destaca principalmente a questão da produtividade, tendo em vista que haverá uma crescente demanda por alimentos em função do aumento populacional.

A previsão da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) é de que a população mundial até 2050 será de nove bilhões de pessoas, e a demanda por alimentos será de 3,2 bilhões de toneladas por ano, o que representa 40% a mais do que a demanda atual. “Diante desse cenário, a intensificação sustentável da produção por meio da melhoria da qualidade do sistema plantio direto será fundamental para o futuro da agricultura brasileira”, afirma Alexsandra.

Fonte: Agência Embrapa



Uma vez degradado, o Cerrado não se regenera naturalmente

Por José Tadeu Arantes, da Agência FAPESP


Alguns dos mais importantes rios do Brasil – Xingu, Tocantins, Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Gurupi, Jequitinhonha, Paraná e Paraguai, entre outros – nascem no Cerrado. Trata-se da única savana do planeta dotada de rios perenes. A rápida conversão do Cerrado em pastagens e lavouras e o manejo inadequado das áreas preservadas colocam em risco esse formidável recurso natural, em um país com o terceiro maior potencial hidrelétrico tecnicamente aproveitável do mundo, e em que 77,2% da matriz elétrica é suprida pela hidroeletricidade.

Abandonadas, áreas do bioma convertidas em pastagens se transformam em cerradão, uma formação
 de vegetação adensada mas pobre em biodiversidade, indica pesquisa feita na Unesp (fotos: divulgação)


Além disso, a destruição do Cerrado constitui uma perda inestimável em termos de biodiversidade, pois, na microescala, esse bioma, que pode apresentar 35 espécies diferentes de plantas por metro quadrado, é mais rico em flora e fauna do que a floresta tropical (leia em: http://agencia.fapesp.br/25865).

Sabe-se que o Cerrado tem um potencial de regeneração natural muito alto. Mas até que ponto vai sua resiliência? O que é necessário para que, uma vez convertido em pastagens, o Cerrado recupere sua configuração natural? Quanto tempo seria necessário para isso?

Um novo estudo, feito na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e com resultados publicados no Journal of Applied Ecology, procurou responder a essas perguntas.

“Nosso esforço inicial foi localizar, no Estado de São Paulo, as áreas de antigas pastagens que agora se encontram em regeneração natural na condição de ‘reserva legal’”, disse a coordenadora do estudo Giselda Durigan, professora da pós-graduação em Ciência Florestal da Unesp e pesquisadora do Instituto Florestal do Estado de São Paulo.

O trabalho foi realizado no âmbito do doutorado de Mário Guilherme de Biagi Cava, com Bolsa da FAPESP e orientação de Durigan. O trabalho também foi apoiado por meio de um Auxílio à Pesquisa concedido ao professor Milton Cezar Ribeiro e de uma Bolsa de Doutorado a Natashi Aparecida Lima Pilon.

“Foram encontradas mais de 80 áreas, o que pareceu de saída um dado bastante promissor. Mas o entusiasmo inicial de meu orientando foi arrefecido pela resistência dos proprietários em permitir o acesso às áreas para amostragem. E isso nos levou a uma primeira constatação: a de que o rigor das leis de preservação não tem sido acompanhado da necessária assistência que deveria ser prestada pelo poder público aos particulares para a restauração da vegetação”, disse.

Apesar do interesse social de uma pesquisa como essa, a oposição dos proprietários fez com que a amostragem fosse reduzida para 29 áreas, que haviam sido convertidas de Cerrado em pastagens, e foram posteriormente incorporadas como unidades de conservação ou reservas legais de empresas de reflorestamento, usinas e propriedades agropecuárias.

Nelas, foi feito o levantamento da vegetação, tanto das árvores quanto das plantas pequenas que compõem o estrato herbáceo-arbustivo e que constituem a maior riqueza da flora do Cerrado. Apesar de estarem localizadas em regiões diferentes, essas 29 áreas, com idades variando de quatro a 25 anos, puderam ser ordenadas em uma sequência cronológica no que se refere ao estágio de regeneração.

“Para resumir nossos resultados, de maneira bastante simplificada, descobrimos que o estrato arbóreo se recupera, até mesmo com muita facilidade. Mas, uma vez eliminada, a vegetação rasteira ou de pequeno porte, que compõe o estrato herbáceo-arbustivo e que contém a maior parte das espécies endêmicas, não se regenera. Então, quando a pastagem é simplesmente abandonada, ela se transforma, depois de algum tempo, em um cerradão, que é uma formação caracterizada por vegetação muito adensada, com grande predomínio de árvores e pobre em biodiversidade”, afirmou Durigan.

As árvores se recuperam por possuírem raízes muito profundas e terem evoluído, ao longo de milhões de anos, desenvolvendo a capacidade de rebrotar inúmeras vezes.

“Quem tenta implantar pastagens no Cerrado sabe que o custo maior de manutenção é a roçada. Sem que seja roçada pelo menos de dois em dois anos, a vegetação arbórea volta a se impor. Não é possível eliminá-la nem aplicando herbicida”, disse Durigan.

Porém o estrato herbáceo-arbustivo, que é removido para a implantação das pastagens, não se recompõe, devido à invasão dos terrenos por gramíneas exóticas muito resistentes e agressivas: as braquiárias.

“Essas só desaparecem com o sombreamento, causado pelo adensamento das árvores. Mas, quando desaparecem as gramíneas exóticas, as plantas originais de pequeno porte, que foram completamente erradicadas pelos herbicidas, pelas roçadas e pela competição com as braquiárias e que não toleram a sombra, também não voltam mais”, continuou a pesquisadora.

Para fazer com que a área voltasse a abrigar um cerrado típico, seria necessário eliminar as gramíneas exóticas, com manejo por meio de fogo associado a herbicida, e, depois, reintroduzir as espécies nativas. Mas isso constitui uma operação difícil e cara, que, com os recursos atuais, não pode ser realizada em larga escala.

“Temos pesquisado diferentes técnicas para promover a recuperação. Com sementes, é necessária uma quantidade gigantesca, que não há nem de onde tirar. O que deu muito certo, em escala experimental, foi o transplante do estrato herbáceo-arbustivo: a camada superficial do solo, acompanhada das touceiras de capim e das pequenas plantas”, disse Durigan.

“O grande problema é que, no Estado de São Paulo, já não há mais áreas-fonte para isso. O que sobrou de Cerrado aberto está invadido por gramíneas exóticas. Então, quando se transplanta a camada superficial do solo, a braquiária vai junto. Isso acontece inclusive nas áreas protegidas”, acrescentou.

Floresta degradada

O estudo feito na Unesp permitiu fechar um diagnóstico e fazer predições. Espontaneamente, uma vez degradado, o cerrado típico não se recompõe totalmente. Para que uma área de pastagem volte a ser um cerrado típico, com riqueza de biodiversidade, com a flora característica, com habitats para fauna especializada em savana, é necessário manejo humano: não se pode deixar que o adensamento das árvores passe do limiar de 15 metros quadrados por hectare; é preciso erradicar o capim exótico; e deve-se reintroduzir o estrato herbáceo-arbustivo nativo.

Evoluindo espontaneamente, sem manejo, em 49 anos a vegetação arbórea nas antigas áreas de pastagem irá se transformar em cerradão. A cobertura esparsa de solo característica do cerradão é alcançada em quatro anos e a biodiversidade pobre do estrato herbáceo é obtida em 19 anos. “O processo é rápido, mas os resultados não são os que procuramos. O cerradão não se distingue de uma floresta degradada”, disse Durigan.

Dois anos depois do levantamento, já na segunda fase do doutorado de Cava, os pesquisadores vão voltar às mesmas áreas em fevereiro e março de 2018, e medir tudo novamente, para obter a taxa precisa de aumento de cobertura, densidade e biodiversidade.

“Esses valores precisos nos permitirão saber com exatidão qual é o potencial de regeneração das diferentes áreas e quais são os fatores favoráveis. É o tipo de solo? É a distância a uma fonte de sementes? É a proximidade de recursos hídricos? Todos esses parâmetros serão considerados”, disse Durigan.

Conforme afirmou, o artigo publicado por seu grupo é muito inovador porque não há ninguém em outros países tratando de recuperação de savanas.

“Isto porque ainda não ocorreu na África nem na Austrália um processo similar ao que estamos vivendo aqui, de conversão da savana em pastagens extensivas e em grandes lavouras de soja, cana ou milho. Na África, as savanas estão bem degradadas, mas devido ao sobrepastoreio, à exploração de lenha e a outras ações os impactos são menos visíveis no curto prazo. No Brasil, estamos presenciando transformações que ocorrem de um dia para o outro”, comentou a pesquisadora.


O artigo Abandoned pastures cannot spontaneously recover the attributes of old-growth savanas (doi: 10.1111/1365-2664.13046), de Mário G. B. Cava, Natashi A. L. Pilon, Milton Cezar Ribeiro e Giselda Durigan, está publicado em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1365-2664.13046/full.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Curso online gratuito traz informações sobre a Amazônia e as mudanças climáticas

Professores, jornalistas e leigos interessados em conhecer mais sobre a floresta amazônica e as mudanças climáticas acabam de ganhar a nova versão de um curso completo, gratuito e disponível organizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Basta um click no site e os usuários terão acesso a informações atualizadas por especialistas e cientistas. O curso está dividido em módulos e pode ser feito de acordo com a disponibilidade de tempo dos usuários.

Com um design que favorece a navegação e a busca de dados e imagens, o curso é simples o suficiente para atender àqueles com pouco ou nenhum conhecimento sobre o tema e diversificado e completo também para auxiliar e esclarecer profissionais que se relacionam com os temas abordados no curso.

O curso A Floresta Amazônia e as Mudanças Climáticas é uma iniciativa conjunta entre duas organizações norte americanas, National Environment Education Foundation (NEETF) e Cooperative Program for Operational Meteorology, Education and Training (Comet), juntamente com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Educação e conhecimento

O material é dividido em cinco seções: Terra e seu Clima; Evidências das Mudanças Climáticas; Projeções para o Futuro; Brasil, a Amazônia e Mudanças Climáticas e Acordos Internacionais. O curso tem versões em português e inglês. Pode ser feito diretamente na internet ou impresso para uso em salas de aula.

O curso também é uma fonte de informação segura para profissionais que tratam diariamente com o tema e uma opção de leitura para os leigos interessados nos temas da atualidade.

Fonte: IPAM

IPBES lança em março novos relatórios sobre o status da biodiversidade

Por Karina Toledo, da  Agência FAPESP 

Cinco novos relatórios sobre o status da biodiversidade no planeta serão divulgados em março, na Colômbia, durante a 6ª Reunião Plenária da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) – entidade criada em 2012 com a missão de sistematizar o conhecimento científico sobre o tema e, assim, subsidiar decisões políticas em âmbito internacional.

O evento será realizado em Medelín de 17 a 24 de março. Entre os participantes estará Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do programa BIOTA-FAPESP e membro do Painel Multidisciplinar de Especialistas (MEP) da IPBES. Também estará presente a pesquisadora Cristiana Simão Seixas, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp.

“Será debatida e aprovada uma avaliação global temática sobre Degradação e Restauração de Áreas Degradadas, além de quatro avaliações regionais sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – uma com foco nas Américas, outra na África, a terceira na região da Europa e Ásia Central e, a última, Ásia e Pacífico”, contou Joly.

Como explicou o coordenador do BIOTA, as quatro regiões do planeta não foram divididas segundo os critérios geopolíticos tradicionalmente adotados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e sim com base na biogeografia, ou seja, nos padrões de evolução da biodiversidade de cada região geográfica.

Os relatórios regionais servirão de base para o primeiro Diagnóstico Global sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, previsto para 2019 – documento que deverá orientar a tomada de decisão em todas as convenções da área. Seixas, da Unicamp, integra a equipe que coordenou o Diagnóstico Regional das Américas.

Além dos relatórios na íntegra, também serão divulgados em março os sumários para os tomadores de decisão – tanto políticos na área pública como gestores ambientais no setor privado. Esses resumos serão elaborados com uma linguagem acessível a um público mais amplo.

Contribuições da Natureza para as Pessoas

De acordo com Joly, todos os documentos divulgados pela IPBES a partir de 2018 terão como base um novo conceito denominado Nature’s Contributions to People (Contribuições da Natureza para as Pessoas ou NCP, na sigla em inglês), detalhado por cientistas ligados à plataforma em artigo publicado em janeiro na revista Science.

Trata-se de uma evolução do conceito de “serviços ecossistêmicos”, introduzido originalmente em 2005, no relatório Millennium Ecosystem Assessment da ONU.

“Naquela ocasião, foram definidos como serviços ambientais ou ecossistêmicos todos aqueles benefícios que a humanidade obtém da natureza direta ou indiretamente, como polinização, purificação da água e do ar, fertilização dos solos e dispersão de sementes. Essa abordagem permitiu atribuir valores para esses serviços. Por exemplo, a polinização no Estado de São Paulo valeria, no mínimo, o equivalente ao ganho monetário com a produção de laranja – que depende integralmente dos polinizadores”, explicou Joly.

Os serviços ecossistêmicos foram divididos em quatro categorias: Serviços de Provisão (produtos como alimentos, água doce, fibras, compostos químicos, madeira); Serviços de Regulação (processos naturais que regulam as condições ambientais, como absorção de dióxido de carbono pela fotossíntese das florestas, controle do clima, polinização de plantas, controle de doenças e pragas); Serviços de Suporte (contribuem para a produção de outros serviços ecossistêmicos, como ciclagem de nutrientes, formação do solo, dispersão de sementes); e Serviços Culturais (relacionados com benefícios recreacionais, educacionais, estéticos e espirituais).

Com o passar dos anos, porém, os membros da IPBES avaliaram ser necessária uma nova classificação que, além de questões financeiras, considerasse os benefícios imateriais proporcionados à humanidade, como o uso tradicional de uma determinada região por populações indígenas ou a possibilidade de desfrutar uma paisagem natural preservada.

“É uma visão mais holística e que leva em consideração percepções de diferentes culturas. Por exemplo, em vez de defender a preservação de uma determinada área apenas pelo fato de ela proteger recursos hídricos, leva-se em conta que aquela região tem um valor intrínseco por ser conservada. Tem pessoas que vão pagar para ficar em uma pousada ao lado da área preservada. Ou então argumenta-se que a área é relevante para índios Guarani, que extraem o bambu nativo para sua cestaria. Atualmente, estes aspectos não são adequadamente considerados”, disse Joly.

O artigo publicado na Science foi elaborado por 30 cientistas liderados por Sandra Díaz, da Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina, e Unai Pascual, do Centro Basco para Mudanças Climáticas, na Espanha.

“Por mais de uma década, as políticas públicas relacionadas à natureza foram dominadas pelo conhecimento das ciências naturais e da economia”, disse Díaz. “A pesquisa vibrante desenvolvida a partir da abordagem de serviços ecossistêmicos avançou na questão da sustentabilidade, mas ignorou as evidências e as ferramentas das ciências sociais, humanidades e outras visões de mundo. A noção muito mais ampla das NCPs enfatiza que a cultura é fundamental para todos os laços entre as pessoas e a natureza e reconhece outros sistemas de conhecimento, como, por exemplo, as comunidades locais e os povos indígenas, muito mais do que antes.”

“Este novo contexto conceitual inclusivo demonstra que, embora a natureza ofereça uma recompensa de bens e serviços essenciais, como alimentos, proteção contra inundações e muito mais, possui um rico significado social, cultural, espiritual e religioso que também precisa ser avaliado na elaboração de políticas públicas”, disse Robert Watson, presidente da IPBES.

Joly ressalta, no entanto, que no Brasil a valoração dos serviços ecossistêmicos na elaboração de políticas públicas é algo ainda embrionário. “Estamos tentando fazer avançar uma legislação que reconheça a importância, por exemplo, de manter paisagens conservadas ao lado de áreas cultivadas e outras questões associadas à preservação dos serviços ecossistêmicos”, disse.

Prestes a concluir seu segundo mandato no MEP, o coordenador do BIOTA se despedirá da plataforma em março. Na 6ª Reunião Plenária da IPBES, pelo menos 12 dos 25 membros serão renovados. A escolha leva em conta especialidade, reconhecimento na comunidade científica e distribuição entre países da região. Atualmente, a plataforma conta com representantes de 124 países-membros da ONU.

Ao longo dos seis anos que representou o Brasil, Joly coordenou as ações de Capacity Building (capacitação de profissionais e instituições) da plataforma. Além disso, coordenou o MEP nos seus primeiros anos de existência, ao lado do australiano Mark Londsdeale, da Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth (CSIRO).

A experiência adquirida na coordenação do BIOTA e na IPBES levaram Joly – ao lado de Fábio Scarano (Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável e Universidade Federal do Rio de Janeiro), Cristiana Seixas (Unicamp), Jean Paul Metzger (Universidade de São Paulo), Jean Pierre Ometto (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e Mercedes Bustamante (Universidade de Brasília) – a criar, em fevereiro de 2017, a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES). 

O artigo Assessing nature's contributions to people (doi: 10.1126/science.aap8826), de Sandra Díaz, Unai Pascual e colaboradores, pode ser lido em http://science.sciencemag.org/content/359/6373/270.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Chile é primeiro país da América Latina a proibir uso de sacolas plásticas

Por Suzana Camargo, do site Conexão Planeta

A presidente Michelle Bachelet assinou na semana passada o projeto de lei que proíbe a venda de sacolas plásticas em mais de 100 cidades e vilarejos ao longo da costa do Chile. A medida torna o país o primeiro da América Latina a enfrentar de maneira séria o problema que o plástico vem causando ao meio ambiente, ao poluir os oceanos e matar milhares de animais marinhos.
“Precisamos cuidar de nossos ecossistemas marinhos”, disse Michelle Bachelet. “Nossos peixes e outras espécies estão morrendo pela ingestão de plástico ou estrangulados com estes resíduos. Esta é uma luta que todos temos que abraçar: comércio, consumidores e governos”.
Comerciantes chilenos que não obedecerem a nova lei poderão receber multas de até US$ 300 dólares.
Referência na produção de pescados, o Chile é o maior vendedor de salmão para o mercado brasileiro. Tanto através da pesca artesanal como da aquicultura (produção em fazendas marinhas), o país exporta ainda outras espécies, como mexilhão e a truta arco-íris.
Em 2016, os pescados representaram 7,6% das exportações chilenas, ficando em quarto lugar numa lista dos dez produtos mais comercializados para o exterior. O setor foi ainda o que mostrou o maior crescimento, 65,5% em relação a 2009.
Não é difícil entender então a preocupação do governo do Chile em proteger suas águas. Além da proibição do plástico, o país anunciou que irá criar uma área de proteção marinha de 1,6 milhão de kmem 2018.

A Era do ‘Plasticídio”

Um estudo publicado pela revista Science, em 2015, revelou que oito milhões de toneladas de resíduos plásticos são jogadas nos oceanos por ano. Cientistas afirmam que no futuro, nossa época será conhecida como a do “Plasticídio”.
É por isto que medidas, como a tomada agora pelo Chile, são tão bem-vindas. Em sua conta no Twitter, a presidente Michelle Bachelet conclamou as pessoas a usarem a hashtag #chaobolsasplásticas(#tchausacolasplásticas, em português) nas redes sociais.
Em diversos países da Europa, a distribuição das sacolas plásticas já é proibida há anos. Quando não, ela é cobrada. Mostramos aqui, neste outro post, no ano passado, que entre outubro de 2015 e abril de 2016, os sete maiores supermercados da Inglaterra viram uma queda de 85% na entrega de sacolas, de 7,6 bilhões de unidades para 600 milhões, depois que elas deixaram de ser dadas gratuitamente nas lojas e uma taxa de apenas 5 centavos de libra foi imposta para cada unidade.
Irlanda, Escócia, Dinamarca, Alemanha, Portugal e Hungria são outros lugares onde, se você quer a sacola plástica, é obrigado a pagar por ela. Recentemente noticiamos aqui também que o Quênia proibiu a produção, venda e uso de sacolas plásticas com pena de multa e até prisão (leia mais aqui).
E o Brasil, quando vai tomar uma atitude?

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Projeto de lei quer proibir agricultores de produzir, distribuir e armazenar sementes

O Projeto de Lei 827/2015 propõe o pagamento de royalties sobre espécies de plantas que foram alteradas, como as híbridas 

Por Lilian Campelo, do Brasil de Fato

A troca, a livre distribuição e o armazenamento das melhores sementes é uma das práticas mais comuns das comunidades tradicionais, mas esta herança cultural do cultivo corre sérias ameaças. Isso porque o Projeto de Lei (PL) 827/2015, conhecido como Projeto de Lei de Proteção aos Cultivares, quer passar para grandes empresas o controle sobre o uso de sementes, plantas e mudas modificadas.

De acordo com o projeto, a comercialização do produto que for obtido na colheita dependerá da autorização do detentor das chamadas cultivares, que são plantas que tiveram alguma modificação pela ação humana, como as híbridas, por exemplo.

Para o educador popular da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, Lourenço Bezerra, do Programa Amazônia, o projeto prejudica práticas ancestrais: “Com essas sementes, o agricultor tradicional não precisa utilizar fertilizantes sintéticos e não precisa utilizar os defensivos agrícolas, que são os agrotóxicos, que eles chamam de defensivos agrícolas".

Bezerra ressalta que a medida tem como objetivo beneficiar as grandes empresas que comercializam agrotóxicos: "Então, as empresas querem obrigar, além do agricultor comprar a semente, mas também de comprar os insumos, os agrotóxicos fertilizantes sintéticos e isso vai beneficiar quem? Vai beneficiar as empresas”.

O projeto é de autoria do deputado ruralista Dilceu Sperafico (PP-PA) e tem a proposta de alterar a Lei de Proteção de Cultivares, que regulamenta a propriedade intelectual referente às cultivares.

Para o deputado federal e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, Nilto Tatto (PT-SP), a proposta ameaça a segurança alimentar e também a segurança nacional do país, ao transferir para as grandes empresas o controle de quais sementes plantar e do volume. Ele ressalta ainda que o projeto apresenta um discurso que visa desenvolver a pesquisa nacional sobre as cultivares, mas, na opinião dele, amplia o controle das grandes empresas no domínio da política da agricultura brasileira.

“Então você joga na mão da iniciativa privada a definição da relação do que cobre e do que não cobre de royalties da agricultora. Talvez a questão mais grave e conceitual que está por trás desse relatório é tirar o papel do Estado sobre determinada parte da política da agricultura brasileira”, diz o parlamentar.

Diferença entre sementes:


O projeto de lei, caso aprovado, também irá aumentar o número de cultivares protegidas, isto é, aquelas que não podem ser utilizadas livremente. Até 2015 foram feitos pedidos 3.796 pedidos de proteção de cultivar e foram concedidos títulos para 2.810 cultivares. Segundo informações no site, que estão atualizadas, a última modificação data de novembro de 2017 e para acessar a lista completa de quem solicitou os pedidos clique aqui.

Na Câmara dos Deputados, em Brasília, o PL segue em tramitação ordinária. No dia 5 deste mês, estava marcada votação do parecer do relator do deputado federal Nilson Aparecido Leitão (PSDB-MT), mas a pauta dividiu a bancada ruralista e o relatório não foi votado.

Entenda:

Cultivar é o nome dado a uma nova variedade de planta, ou seja, são espécies de plantas que foram modificadas devido a alteração ou introdução feita pelo homem, desenvolvida do cruzamento entre duas espécies puras e diferentes. Elas apresentam características específicas de outras variedades da mesma espécie de planta por sua homogeneidade, estabilidade e novidade, logo, não é encontrada no meio ambiente.

As novas espécies desenvolvidas em território nacional e caracterizadas como novas cultivares são cadastradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)  pelos criadores para conferir proteção aos direitos de propriedade intelectual. O prazo de proteção de um cultivar vigora a partir da data de concessão do Certificado Provisório de Proteção, que dura 15 anos, com exceção das videiras, árvores frutíferas, árvores florestais e árvores ornamentais. Após esse prazo, a cultivar cai em domínio público e seu uso passa a ser livre de pagamentos de royalties.

De acordo com o projeto, a comercialização do produto que for obtido na colheita dependerá da autorização do detentor da cultivar. Assim, a proposta irá limitar os agricultores familiares de produzir, armazenar, distribuir, comercializar e trocar as suas sementes.


segunda-feira, 1 de junho de 2015

Cinco municípios do Amazonas aguardam reconhecimento de situação de Emergência

Mesmo com decreto municipal, as cidades precisam da homologação do Estado para receber ajuda humanitária e verbas

MANAUS – Caapiranga, Borba, Codajás, Itacoatiara e até a capital do Amazonas, Manaus, aguardam reconhecimento da situação de Emergência por parte do Governo do Estado. 

As cidades ainda estão com documentação incompleta junto a Defesa Civil do Amazonas, órgão que homologa a situação no Estado e garante o envio de verbas e ajuda humanitária às localidades atingidas pela enchente. A Defesa Civil do Amazonas não deu previsão de quando o processo de reconhecimento será concluído. Outros 30 municípios já tiveram a condição reconhecida desde o início da cheia. Em todo o Estado já são mais de 230 mil pessoas afetadas pela enchente.

Em Manaus, a área mais crítica é Zona Rural, onde escolas já foram transferidas de localidade para dar continuidade ao ano letivo. "Temos avisado as prefeituras e o Estado sobre a situação das grandes cheias. É possível que elas se repitam com mais frequência nos próximos anos e nós temos que nos preparar construindo edificações mais altas e distantes das áreas de alcance dos rios”, alerta o coordenador de articulação do órgão, Hermógenes Rabelo.

As situações de Emergência e Calamidade são caracterizadas pela incapacidade das prefeituras em prestarem socorro aos seus habitantes e manterem o funcionamento de serviços básicos como saúde e educação. Para que o município tenha a condição reconhecida, é necessário que a prefeitura publique um decreto municipal e em seguida, envie a documentação necessária à Defesa Civil estadual, que homologa a situação. Só então o Governo Estadual envia ajuda humanitária e verbas para medidas paliativas de socorro aos atingidos pela cheia.



Fonte: Portal Amazônia

Museu da Vida promove série de atividades culturais na Semana do Meio Ambiente

Para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, o Museu da Vida — espaço da Fiocruz que integra ciência, cultura e sociedade — preparou uma série de atividades culturais, todas gratuitas e abertas ao público, entre os dias 1º e 6 de junho. O objetivo da “Semana do Meio Ambiente” é promover reflexões sobre a importância da preservação do meio ambiente e sua relação com a saúde e sociedade em geral.

As atividades acontecem no campus Manguinhos, localizado na Zona Oeste da cidade, de segunda a sexta, das 9h às 16h30, e sábado, das 10h às 16h. “Nós inserimos a Semana do Meio Ambiente em nosso calendário de eventos devido à tradição do museu em trabalhar questões ambientes e de sustentabilidade na maioria de suas atividades junto ao público”, explica Diego Bevilaqua, chefe do Museu da Vida.

Quem passar pelo Museu da Vida durante a semana poderá participar de palestras na Tenda da Ciência e no auditório, 'contação' de histórias, oficinas de brinquedos com sucatas, passeio pelo campus da Fiocruz e Horto, além de ter a oportunidade de conhecer uma minicolônia de formigas saúvas e observar no microscópio óptico a vida que existe na água não tratada.

O Museu da Vida fica localizado no campus da Fiocruz, na Av. Brasil, 4.365, Manguinhos, Rio de Janeiro.

Confira a programação

Fonte: Portal Fiocruz

Auditorias reforçam sucesso do Compromisso Público da Pecuária

Resultados mostram que os fornecedores diretos dos gigantes do setor não contaminam mais a carne com desmatamento da Amazônia

Há dez anos o Greenpeace começou a investigar a cadeia produtiva da pecuária na Amazônia, setor que ainda hoje representa uma das principais ameaças à preservação da floresta. Em 2009 lançamos o relatório “A Farra do Boi da Amazônia”, que mostrava a terrível relação entre empresas frigoríficas e clientes como Nike, Adidas, Unilever, Casino, Carrefour e Walmart com o desmatamento da floresta e o uso de trabalho escravo.
Terras da Floresta Nacional de Jamanxim, próximas à BR-163 são queimadas ilegalmente para abrir espaço para a criação de gado. (© Rodrigo Baléia / Greenpeace)


O esforço valeu a pena. Apenas um mês depois da publicação do relatório, os maiores frigoríficos do Brasil - JBS, Marfrig e Minerva – que representam hoje algo em torno de 60% de tudo o que é abatido no bioma, assumiram um compromisso público de só negociarem carne e couro com fazendas que não recorressem ao desmatamento, ao uso de trabalho escravo ou invasão de áreas protegidas. As empresas firmaram também, junto ao Greenpeace, um Termo de Referência, onde se comprometeram, com base nos mesmos critérios, a auditar e publicar anualmente seus resultados nesta empreitada contra o desmatamento.
Hoje, os frigoríficos divulgaram os resultados da segunda auditoria anual independente realizada para testar o sistema de controle socioambiental de compras e as conclusões são animadoras: de acordo com as empresas de auditoria, BDO e DNV, os três frigoríficos tem, de fato, conseguido cortar relações comerciais com fazendas que continuam a desmatar. Segundo o relatório, 99% das compras, analisadas por amostragem, vieram de fornecedores diretos que deixaram o desmatamento no passado.
Todas as empresas aumentaram o percentual de propriedades e compras de gado de fazendas fornecedoras monitoradas com mapas georreferenciados, que são mapas muito mais precisos e completos. Este ano a Marfrig atingiu 100% de fornecedores com este tipo de identificação. Em 2014 a empresa possuía 98% de seus fornecedores mapeados. A JBS passou de 50%, em 2014, para 71% das compras de gado de fazendas monitoradas. Já a Minerva tinha 43% de fazendas com mapas no ano passado e esse percentual pulou para 85%.
Veja aqui os resultados das auditorias
“Os três frigoríficos avançaram muito ao banir produtores diretos que continuam destruindo a floresta ou invadindo ilegalmente terras indígenas. Os frigoríficos estão monitorando de forma mais precisa as fazendas que fornecem diretamente para eles. Tem equipes de sustentabilidades dedicadas a monitorar diariamente as fazendas das quais querem comprar e mostraram que dá para monitorar a produção pecuária. Coisa que, em um passado recente, era impensável.”, disse Adriana Charoux, da campanha Amazônia do Greenpeace.
Infelizmente, a produção pecuária ainda é uma das principais causas do desmatamento na Amazônia. O gado ocupa atualmente mais de 60% da área já desmatada de floresta. Mas esse cenário vergonhoso para o setor e para o Brasil – que se vangloria de ser o maior produtor de carne do mundo, mas que oculta os impactos e passivos socioambientais presentes na cadeia de produção – pode acabar.
“A publicação desses resultados é crucial para assegurar a transparência e favorecer o controle social da produção na Amazônia brasileira”, conta Charoux. “Vemos que, cada vez mais, as empresas vem dando preferência a fornecedores que estão em acordo com a lei e praticando as condições do Compromisso que exige mais do que a lei – o Desmatamento Zero.  Isso é um grande incentivo para todo o mercado e, sobretudo, uma trilha aberta para a preservação da floresta”, observa.
Um estudo publicado recentemente na revista científica Conservation Letters, assinado pela professora Holly Gibbs, da Universidade de Wisconsin, mostra que o Compromisso vem ajudando a reduzir o desmatamento e que isso ocorreu graças a pressão exercida pelo mercado, que adotou critérios mais rígidos de compra. A análise de Gibbs mostra que o compromisso assinado em 2009 vem ajudando a reduzir o desmatamento, tornando a destruição da floresta um mau negócio. Através de estudo de caso baseado na JBS, em 2009, 36% das propriedades que forneciam carne ou couro para a empresa tinham registros de desmatamentos recentes. Em 2013 este número caiu para 4%. Fazendeiros fornecedores registraram suas propriedades no Cadastro Ambiental Rural (CAR) quase dois anos antes de propriedades vizinhas não fornecedoras, e 85% dos fazendeiros entrevistados indicaram que os acordos eram a causa principal para essa atitude.Consequentemente, frigoríficos diminuíram as compras de fazendas com desmatamento recente, que foi cerca de 50% menor que o registrado em fazendas que forneciam antes da assinatura do compromisso.
Mas segundo a pesquisadora, para que o acordo seja ainda mais efetivo, é preciso acabar com as falhas e com o vazamento de gado que acontece quando outro frigorífico compra de fazendas rejeitadas pelas empresas comprometidas com desmatamento zero “contaminando assim a cadeia com desmatamento”.
“Para que o setor deixe de vez o inglório posto de `maior desmatador da Amazônia’ implementar o controle sistemático de fornecedores indiretos deve ser uma prioridade daqui em diante. Está também mais do que na hora de outros frigoríficos e supermercados assumirem o compromisso com o Desmatamento Zero como critério básico de compra. As associações brasileiras de carne (ABIEC e ABRAFRIGO) e a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) devem orientar firmemente seus associados a abandonarem de vez o desmatamento”, avalia Charoux. “Fazer qualquer coisa menos do que isso é inaceitável”, conclui.
A preservação da Amazônia é fundamental para muito além de suas fronteiras. É a floresta que regula o clima e a geração de chuvas em todo o Brasil e no continente sul-americano, o que impacta na própria produção agropecuária. Sem floresta, não tem água, comida nem clima para que nosso planeta continue sendo a casa das futuras gerações.  É por isso que o Greenpeace exige que as empresas se comprometam com o desmatamento zero - uma cadeia de abastecimento, sem destruição da floresta.  
Fonte: Greenpeace