segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ônibus movido a hidrogênio com tecnologia nacional é lançado pela Coppe/UFRJ

Da Agência Faperj
O primeiro ônibus a hidrogênio do Brasil com tecnologia 100% nacional foi lançado, no dia 26 de maio (quarta-feira), em evento realizado no Rio de Janeiro. O veículo, desenvolvido pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) em parceria com a Fetranspor e com as secretarias municipal e estadual de transportes, circulará nas ruas do Rio a partir do segundo semestre de 2010.

O lançamento reuniu dirigentes de empresas privadas e estatais, representantes de governo e de instituições financeiras, entre outros agentes necessários para que o projeto seja viabilizado, modernizando o transporte da cidade e tornando o meio ambiente mais limpo e sustentável. Considerado a evolução do transporte urbano, o ônibus conta com financiamento da FAPERJ, Finep, Petrobras e CNPq. O veículo, com tamanho e aparência iguais de um ônibus urbano convencional (vista lateral de 12,5m), tem piso baixo, ar-condicionado, espaço para embarque de deficientes físicos e autonomia para rodar até 300 quilômetros.

É movido a energia elétrica, obtida através de uma tomada ligada na rede e complementada com energia produzida a bordo, por uma pilha alimentada com hidrogênio. Isso significa um veículo silencioso, com eficiência energética muito maior que a dos ônibus convencionais a diesel e com emissão zero de poluentes. O que sai de seu cano de descarga é apenas vapor de água, tão limpo que, se condensado, resultaria em água para consumo. Seu pioneirismo está no fato de terem sidos desenvolvidos no Brasil todos os equipamentos e subsistemas tecnológicos importantes para esta aplicação.

O sistema de tração elétrica oferece partidas e deslocamentos suaves e permite otimizar o seu desempenho em função do ciclo de rodagem. Este é o primeiro de uma série de três ônibus desenvolvidos pelo Laboratório de Hidrogênio da Coppe para um programa da Secretaria de Estado de Transportes. O segundo ônibus será elétrico híbrido a álcool e o terceiro exclusivamente elétrico. Mais informações: http://www.coppe.ufrj.br/

Mata Atlântica perdeu 20 mil hectares desde 2008

Agência FAPESP
 Dados parciais do projeto Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, referentes ao período 2008-2010, revelam que a Mata Atlântica perdeu 20.857 hectares de sua cobertura vegetal, o que equivale à metade da área do município de Curitiba (PR).

O número foi divulgado no dia 26 de maio pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em evento promovido pela Fundação SOS Mata Atlântica.

O número é parcial porque o Inpe analisou imagens feitas por satélites de 72% da Mata Atlântica, com a atualização dos mapas de nove entre os 17 Estados nos quais o bioma está presente: Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

Minas Gerais foi o Estado que mais perdeu cobertura nativa e, ao lado do Paraná e de Santa Catarina, está entre as unidades da Federação que mais desmataram esse bioma. Cabe ressaltar que Minas Gerais teve 80% de sua área analisada, e o Paraná, 90%, o que significa que o desmatamento pode ter sido maior.

O Inpe analisou até o momento 94.912.769 hectares. Os Estados do Nordeste não foram estudados por causa da incidência de nuvens sobre a região, o que impediu a análise. O instituto prevê a conclusão dessa avaliação até o fim do ano.

O projeto Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica surgiu em 2004 por meio de uma parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica e a Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe.

Mais informações: www.dsr.inpe.br e http://www.sosma.org.br/.

Cientistas criticam propostas de mudanças no Código Florestal

:Por José Carlos Oliveira, da Rádio Câmara

Cientistas criticaram na Câmara, em debate com deputados da Frente Parlamentar É uma associação suprapartidária de pelo menos 1/3 dos integrantes do Poder Legislativo Federal destinada a aprimorar a legislação referente a um tema específico. As frentes parlamentares estão regulamentadas pelo ato 69/05, da Mesa Diretora. Toda frente tem um representante oficial.

As frentes podem utilizar o espaço físico da Câmara, desde que suas atividades não interfiram no andamento dos outros trabalhos da Casa, não impliquem contratação de pessoal nem fornecimento de passagens aéreas. Ambientalista realizado na quarta-feira, as propostas de mudanças no Código Florestal (Lei 4.771/65) em análise na Casa. O doutor em ecologia de paisagens e professor da Universidade de São Paulo (USP) Jean Paul Metzger apresentou um estudo científico sobre pontos em análise na possível reformulação do código. Ao contrário do que propõe o setor do agronegócio, ele defendeu, por exemplo, o aumento da largura das áreas de proteção permanente (APPs) ao longo de rios dos atuais 30 metros para, pelo menos, 100 metros.

Segundo ele, só assim as APPs vão contribuir para a conservação ambiental. Metzger também criticou as propostas de flexibilização do código no que diz respeito à possibilidade de junção das APPs com as áreas de reserva legalÁrea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.

O tamanho da reserva varia de acordo com a região e o bioma: - Na Amazônia Legal: 80% em área de florestas, 35% em área de cerrado, 20% em campos gerais; - Nas demais regiões do País: 20% em todos os biomas., a fim de liberar mais espaço para a expansão agrícola. "Do ponto de vista biológico, isso é um absurdo, porque essas duas áreas têm funções totalmente distintas. As APPs protegem solos, recursos hídricos e áreas sensíveis, basicamente, enquanto a reserva legal tem uma função muito mais de proteção da biodiversidade e de uso sustentável de recursos naturais. Não se deve misturar essas duas coisas", ressaltou.

O doutor em ciências agrárias e professor da USP, Gerd Spavorek, defendeu a manutenção da atual legislação ambiental. Segundo ele, o Código Florestal pode ser aplicado de forma ainda mais rigorosa sem atrapalhar os interesses do agronegócio.

Na avaliação do coordenador da frente parlamentar, deputado Sarney Filho (PV-MA), as opiniões desses especialistas deram um novo enfoque à análise dos argumentos que os ruralistas vêm apresentando como base científica para mudar a legislação.

Debate ampliado
O subprocurador geral da República Mário Guise reclamou que algumas áreas científicas ficaram de fora dos debates em torno de mudanças no código: "Há uma certa tendenciosidade no processo de coleta de informações para subsidiar a reformulação do código. É preciso ouvir os biólogos, que vão dizer o tamanho das áreas que precisam ser preservadas."

O deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP) também defendeu a ampliação do debate. “É fundamental ouvir o mundo científico, o Judiciário e o Ministério PúblicoA Constituição (art. 127) define o Ministério Público como uma instituição permanente, essencial ao funcionamento da Justiça, com a competência de defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis. O Ministério Público não faz parte de nenhum dos três Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário.

O MP possui autonomia na estrutura do Estado, não pode ser extinto ou ter as atribuições repassadas a outra instituição. Os membros do Ministério Público Federal são procuradores da República. Os do Ministério Público dos estados e do Distrito Federal são promotores e procuradores de Justiça. Os procuradores e promotores têm a independência funcional assegurada pela Constituição. Assim, estão subordinados a um chefe apenas em termos administrativos, mas cada membro é livre para atuar segundo sua consciência e suas convicções, baseado na lei.

Os procuradores e promotores podem tanto defender os cidadãos contra eventuais abusos e omissões do poder público quanto defender o patrimônio público contra ataques de particulares de má-fé. O Ministério Público brasileiro é formado pelo Ministério Público da União (MPU) e pelos ministérios públicos estaduais. O MPU, por sua vez, é composto pelo Ministério Público Federal, pelo Ministério Público do Trabalho, pelo Ministério Público Militar e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).", sugeriu.

Uma comissão especial da Câmara analisa propostas de mudanças ou de revogação do Código Florestal. A frente parlamentar quer demonstrar, no entanto, que é possível produzir e preservar o meio ambiente mantendo o respeito a essa legislação.

Proteção das Terras Guarani garante a preservação da Mata Atlântica

As principais causas de destruição da Mata Atlântica - a expansão da fronteira agropecuária, os grandes empreendimentos de infraestrutura, o crescimento das cidades e a exploração não sustentável das florestas - são também as principais ameaças aos direitos territoriais dos Guarani

Por Bianca Pyl - para a Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP)

Na semana em que as atenções se voltam para a Mata Atlântica, devido ao Dia Nacional desse bioma - comemorado em 27 de maio, é impossível esquecer dos Guarani, um povo indígena que luta pela preservação da mata, da qual depende diretamente para manter seu modo de vida. “O povo Guarani sempre foi o mais interessado em preservar a Mata Atlântica e continua sendo o que mais preserva porque não estamos preservando somente a mata, estamos preservando a nossa cultura. Onde ainda tem um restinho dessa mata é porque ali vive o povo Guarani”, define Antônio Carvalho, o Werá Kwaray, da aldeia Boa Esperança, no município de Aracruz (ES).

Os Guarani constituem a maior população indígena em área da Mata Atlântica. Cerca de 90% das 120 terras Guarani situadas nas regiões Sul e Sudeste estão localizadas em meio a esse bioma. Isso não é por acaso, o bioma é o local privilegiado para sua cosmologia e para a constituição do tekoa, conceito que diz respeito à realização do seu modo de ser. “Para nós, povo Guarani, é a natureza que foi preservada, nós entendemos que ela é um espaço muito importante para o povo Guarani. E também para o povo Guarani ela é bastante sagrada, ela precisa ser preservada. Nós entendemos que ela não é importante só para o povo Guarani, por isso ela deve ser preservada, não só pelo Guarani, mas pela sociedade branca, o próprio governo precisa fazer com que essas áreas não seja destruída", relata Maurício da Silva Gonçalves, da aldeia Estiva, em Diamante (RS).

As principais causas do processo da destruição da Mata Atlântica - a expansão da fronteira agropecuária, os grandes empreendimentos de infraestrutura, o crescimento das cidades e a exploração não sustentável das florestas - são também as principais ameaças aos direitos territoriais dos Guarani. Não é coincidência que o Estado de Santa Catarina - segundo colocado entre os estados campeões em desmatamento no período de 2005 a 2008 segundo o "Atlas da Mata Atlântica" da Fundação SOS Mata Atlântica - é também uma das regiões onde as disputas envolvendo as terras Guarani são mais acirradas.

A destruição da mata e o confinamento em áreas diminutas também ameaça a seguridade alimentar dos Guarani que dependem dos recursos da floresta para garantir a sua subsistência. Além disso, os índios estão entre as populações mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas decorrentes do desmatamento da floresta e o aumento das emissões de gases do efeito estufa.

Os Guarani estão conscientes e preocupados com tal situação, como coloca Santiago Karaí Ryapua, líder Guarani da Aldeia Lomba do Pinheiro, localizada em Porto Alegre (RS). “Os mais velhos sentem muita falta, sempre no Rio Grande do Sul temos uma reunião de Guarani e sempre os pajés começam a falar como era antes e até hoje, é muito difícil não existe mais mato, espaço livre para nós poder fazer, sentir como Guarani, sentir como Mbya. Não tem mais condições hoje em dia. Por isso há muita dificuldade. Os mais velhos sempre fala, a mata é sagrada, que o nosso Nhanderu deixou para nós, para nós cuidar. Mas o branco não respeita e não conhece o valor que tem essa mata, o rio, ele não conhece, para nos Mbya é uma tristeza que a gente passa no dia-a-dia", lamenta.

Proteção do meio ambiente e dos direitos indígenas: horizonte comum
Sérgio Macena, da aldeia Ribeirão Silveira (SP), conta que aguarda ansioso pela efetivação de uma Unidade de Conservação (UC) próxima à aldeia. “Sendo (a área) uma Unidade de Conservação é mais fácil para gente porque sabemos que não haverá mais desmatamento, é preciso que os órgãos responsáveis atuem e nos ajudem na conservação da mata, tão importante para a nossa sobrevivência”.

A aldeia onde Sérgio mora está localizada entre os municípios de Bertioga, São Sebastião e Salesópolis. A unidade de conservação que se pretende criar tem mais de 8 mil hectares e fica no trecho mais preservado de Mata Atlântica no litoral paulista. A área de planície, que faz conexão com o Parque Estadual da Serra do Mar, abriga rica diversidade de ambientes: dunas, praias, rios, florestas, mangues e uma variada vegetação de restinga, nos quais vivem animais raros e ameaçados de extinção, de acordo com a Organização Não-Governamental (Ong) WWF-Brasil.

O “Diagnóstico Socioambiental para Criação de Unidades de Conservação Polígono Bertioga”, encomendado pela WWF-Brasil para embasar a etapa de consultas públicas, reconhece a importância da presença dos Guarani: “As Terras Indígenas (TI) do Povo Guarani, aldeia do Ribeirão Silveira, cumpre importante papel na manutenção da cultura local e do uso diferenciado do território”.

O mesmo documento aponta que “embora esta população tenha suas terras demarcadas e vivam da agricultura de subsistência são enormes as dificuldades por eles encontradas, pois, entre outros pontos críticos, as áreas oficiais que foram demarcadas como Território Indígena não têm grande valor para a prática da agricultura tradicional. Em vista disso, eles hoje ocupam uma área particular, e lutam há vários anos na justiça pela remarcação e ampliação dos limites de seu território”.

Para Sérgio a área onde vivem continuará preservada, se os direitos ambientais e territoriais forem respeitados. “Nossa área vai continuar preservada porque, hoje no Brasil a gente vê, onde existe comunidade indígena, tem preservação da mata centenária e original. Nós temos uma educação de desde que Deus criou a gente, sempre respeitamos a natureza, porque a natureza é tudo. Mas tem muito hotel e condomínio de luxo perto da gente e temos que ficar de olho para nada mais ser construído”, alerta.

A proteção do meio ambiente e a dos direitos territoriais indígenas, além de terem sido consagrados na Constituição Federal, possuem um horizonte comum. Na opinião de Lúcia Andrade, coordenadora da Comissão Pró-Índio de São Paulo, a demarcação das terras indígenas deveria ser percebida como uma estratégia de proteção da Mata Atlântica complementar à criação e consolidação das unidades de conservação e ao fortalecimento do arcabouço legal que protege a vegetação nativa.

Nessa perspectiva, lembramos as diversas situações, em que os Guarani, ao defenderem seus direitos, contribuíram para impedir danos ao bioma. É possível encontrar uma série de exemplos de casos em que a presença dos Guarani em determinada área impediu o desenvolvimento de projetos que acarretariam sérios impactos ambientais. Esse foi o caso dos índios da Aldeia Rio Branco, de Itanhaém (SP) que conseguiram na década de 1990 o adiamento por tempo indeterminado das barragens nos rios Capivari e Monos.

Os Guarani também participam da campanha que busca impedir a construção da Hidroelétrica de Tijuco Alto no Rio Ribeira de Iguapé, na região do Vale do Ribeira (SP). Exemplo mais recente (2008) foram os esforços para impedir a do complexo portuário Porto Brasil, da empresa LLX, no município de Peruíbe, litoral sul de São Paulo, que afetaria a TI Piaçaguera.

Terras ameaçadas
A maior dificuldade dos Guarani se encontra justamente no fato de não terem suas terras reconhecidas e homologadas, como garante a Constituição Federal. Esse é o caso das terras de Santigo Karaí Ryapua, que vive com 27 famílias em uma área de 10 hectares não regularizada em Porto Alegre (RS), e de muitos outros Guarani.

O estudo “Terras Guarani no Sul e Sudeste”, elaborado pela Comissão Pró-Índio de São Paulo, revela que 80% dos territórios Guarani localizados no Sul e no Sudeste ainda não foram regularizados ou se encontram regularizados com pendências. Apenas 32 TIs encontram-se homologadas.

Os dados não deixam dúvidas: do total de 74 Terras Indígenas (TIs) homologadas pelo governo federal do início de 2003 até outubro de 2009, apenas três contemplam o povo Guarani. O número inexpressivo de terras contrasta com o número de pessoas que compõem essa que é uma das maiores populações indígenas do país: 55 mil 302 índios de acordo com a Funasa.

A incapacidade do governo em garantir as demarcações e as disputas envolvendo as terras Guarani e geram uma situação de insegurança que ameaça a sustentabilidade física e cultural desse povo e o coloca em situação de extrema vulnerabilidade.

Fonte: Ecoagência

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Reis da savana

Da  Agência FAPESP

Leões? Elefantes? Girafas? Nenhum deles. Os majestosos animais mais frequentemente associados com a savana africana não têm um papel tão importante quando o assunto é a importância para o ecossistema.

Pelo menos não tanto como a do verdadeiro rei da savana nesse caso, que é o modesto cupim. Segundo uma nova pesquisa, o pequeno inseto contribui enormemente para a produtividade do solo por meio de uma rede de colônias uniformemente distribuídas.

Os cupinzeiros estimulam de modo importante a produtividade vegetal e animal em nível local, enquanto que sua distribuição por uma área maior maximiza a produtividade do ecossistema como um todo, indicam os pesquisadores.

A conclusão do estudo, publicado na revista de acesso livre PLoS Biology, confirma uma abordagem conhecida da ecologia de populações: frequentemente são as menores coisas que importam mais.

“Não são os predadores carismáticos – como leões e leopardos – que exercem os maiores controles em populações. Em muitos aspectos, são os pequenos personagens que controlam o cenário. No caso da savana, aparentemente os cupins têm uma tremenda influência e são fundamentais para o funcionamento do ecossistema”, disse Robert Pringle, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, um dos autores da pesquisa.

Os cupinzeiros estudados no Quênia central têm cerca de 10 metros de diâmetro e se encontram distribuídos com distâncias de 60 a 100 metros entre eles. Cada estrutura abriga milhões de insetos e são muitas vezes centenárias.

Depois de observar um número inesperado de lagartos nas vizinhanças de cupinzeiros, Pringle e colegas passaram a quantificar a produtividade ecológica relativa à densidade da estrutura.

Os pesquisadores observaram que cada cupinzeiro dava suporte a densas agregações de flora e de fauna. Plantas cresciam mais rapidamente quando estavam mais próximas aos montes e as populações de animais e as taxas de reprodução diminuíam à medida que se afastavam dos mesmos.

O que os pesquisadores observaram em campo foi ainda mais fácil de perceber por meio de imagens feitas por satélite. Cada cupinzeiro se encontrava no centro de uma “explosão de produtividade floral”.

O mais curioso é que essas manifestações de produtividade são organizadas, distribuídas uniformemente como se fossem as casas de um tabuleiro de xadrez.

O resultado é a formação de uma “rede otimizada de plantas e animais intimamente ligados à distribuição ordenada dos cupinzeiros”, segundo Pringle.

Os cientistas estão estudando os mecanismos que levam à distribuição centrada nos cupinzeiros. Uma suspeita é que os cupins distribuem nutrientes, como fósforo e nitrogênio, que beneficiam a fertilidade do solo.

“Cupins costumam ser vistos como pragas e ameaças à produção agrícola, mas a produtividade – tanto em cenários selvagens como dominados pelo homem – pode ser muito mais intrincada do que se estimava”, disse Pringle.

O artigo Spatial Pattern Enhances Ecosystem Functioning in an African Savanna (PLoS Biol 8(5): e1000377.doi:10.1371/journal.pbio.1000377), de Robert Pringle e outros, pode ser lido em http://biology.plosjournals.org/.


Estudo aponta maior impacto de desmatamento na parte alta da Bacia do Alto Paraguai

Da WWF
O diagnóstico que será apresentado por um grupo de ONGs ao governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, nesta quarta-feira, 26/05, em Campo Grande, tem por objetivo o monitoramento de impactos no Pantanal

Estudo realizado por um consórcio de ONGs que atuam no Pantanal, entre elas o WWF-Brasil, mostra um Pantanal ainda conservado se comparado a outros biomas, como Mata Atlântica, mas vulnerável, principalmente em razão dos impactos ocorridos na parte alta da Bacia do Alto Paraguai (BAP). Enquanto a planície inundável mantém 86,6% da sua cobertura vegetal natural, no planalto da BAP, apenas 43,5% da área possui vegetação nativa.

O diagnóstico denominado Monitoramento das Alterações da Cobertura Vegetal e Uso do Solo na Bacia Alto Paraguai foi realizado pelas ONGS Ecoa-Ecologia e Ação, Conservação Internacional, Fundação Avina, SOS Pantanal e WWF-Brasil e teve o apoio técnico da Embrapa Pantanal. O objetivo foi fazer uma análise detalhada das mudanças de cobertura vegetal e uso do solo, ocorridas na Bacia do Alto Paraguai no período de 2002 a 2008.

O estudo teve como base inicial dados do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio), do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O trabalho envolveu a análise de mapas existentes e de novas imagens de satélite. Os técnicos também fizeram visitas de campo para coletar dados, entrevistaram especialistas da área e compararam essas informações com as imagens de satélite.

O resultado do diagnóstico mostra que a planície inundável, onde está o Pantanal ainda está bem conservada, com 86,6% da sua cobertura vegetal natural. A situação é bem diferente na parte alta da bacia hidrográfica, onde apenas 41,8% da vegetação natural permanecem com sua formação original. O estudo também registrou um percentual maior de desmatamento no planalto da BAP. De 2002 a 2008, o lado brasileiro da BAP, onde está o Pantanal, teve uma perda de 4% de sua vegetação natural, contra 2,4% da planície.

Conversão para pastagens
O mapeamento apontou diferenças na ocupação do solo entre o planalto e a planície, onde está localizado o Pantanal. Enquanto o planalto caracteriza-se pela forte ocupação da agricultura e pecuária, na planície, a pecuária de caráter mais extensivo exerce menor pressão sobre a cobertura vegetal original.

Os dados de 2008 mostram que a pecuária é o uso antrópico (pela ação humana) mais representativo na BAP, respondendo por 11,1% da área antrópica da planície e por 43,5% da área antrópica do planalto. A agricultura, que ocorre em apenas 0,3% da planície, ocupa uma área de 9,9% do planalto.

Ciclo das Águas
O estudo ajuda a reforçar a necessidade de olhar para o Pantanal com uma visão de bacia hidrográfica e não apenas a região alagável, a mais conhecida. Isso porque, é na parte alta onde estão as nascentes dos rios que abastecem o Pantanal. O equilíbrio ambiental e os processos ecológicos, responsáveis pela rica biodiversidade do Pantanal são determinados por eventos, naturais ou não, que ocorrem tanto na parte alta como na planície da bacia hidrográfica.

A água que nasce nas partes altas corre para baixo, para a planície inundável, por isso qualquer impacto nessa área tem reflexos no Pantanal. “É esse ciclo hidrológico – com águas que sobem no período das águas e baixam na estação seca - que faz o Pantanal um bioma tão importante, único, com uma das mais ricas biodiversidades do mundo’, destaca a secretária-geral do WWF-Brasil, Denise Hamú. Para Hamú, entender e respeitar esse ciclo é fundamental para a conservação do Pantanal e das espécies que ele abriga.

Ferramenta de gestão e monitoramento
O mapa da cobertura vegetal é mais uma ferramenta para entender o Pantanal e a relação entre o planalto e a planície alagável e para ajudar os governos a adotarem medidas para a conservação do Pantanal.

Para as instituições, será um elemento importante para as ações de conservação e para o diálogo com o segmento produtivo. “Nosso objetivo é discutir um modelo sustentável para o futuro do Pantanal que combine desenvolvimento com a proteção da natureza” afirma Denise Hamú.

A base de dados produzida pelo estudo servirá de referência para o monitoramento da cobertura vegetal e uso do solo da BAP, sendo revisada e detalhada, incorporando-se críticas e sugestões de entidades parceiras a cada revisão. A intenção das ONGs é contribuir para o aumento da compreensão da dinâmica que ocorre na região e que essa compreensão possa ser convertida em ações de apoio à conservação e ordenamento do uso sustentável da região.

O Estudo completo está disponível no site http://www.wwf.org.br/

Contatos:

Assessoria de Comunicação do WWF-Brasil
Geralda Magela, assessora de Comunicação – Programa Pantanal: (61) 8165-6809 – geralda@wwf.org.br
Maristela Pessôa, assistente de Comunicação: (61) 3364.7464 – maristela@wwf.org.br

Agricultores reclamam que Monsanto restringe acesso a sementes de soja convencional

Empresa é acusada de escravizar produtores, com a cobrança abusiva de royalties sobre sementes de soja pela adoção de adicional sobre produtividade das lavouras.

Por Danilo Macedo, da Agência Brasil

A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) e a Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange) estudam recorrer ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, contra a Monsanto. Segundo as duas entidades, a empresa norte-americana está restringindo o acesso de produtores a sementes de soja convencional (não transgênica). “Eles estão impondo uma proporção de venda de 85% de sementes transgênicas para 15% de convencionais. A produção de sementes tem que atender ao mercado. Não se pode monopolizar ou fazer o mercado”, reclamou o novo presidente da Aprosoja, Glabuer Silveira.

A estimativa do setor produtivo é que aproximadamente 55% das sementes de soja plantadas no país sejam transgênicas. Silveira disse que o problema não é o uso da biotecnologia, mas sim a retirada da opção que o produtor tem de plantar a semente convencional. “A Monsanto tem uns 70% do mercado brasileiro. O problema não é ela ter o mercado, mas querer moldá-lo. Não estamos tendo direito de opção”.

Alguns produtores temem ficar dependentes da empresa americana caso as sementes transgênicas dominem o mercado, já que a Monsanto tem direito a royalties sobre a biotecnologia aplicada nelas. “Os sementeiros dizem que é imposição da Monsanto. Eles estão nos cercando e, no dia que fecharem, cobrarão o que quiserem”, afirmou o sojicultor Pedro Riva, de Sorriso, em Mato Grosso.

Silvio Munchalack, produtor de milho e soja de Nova Mutum, também em Mato Grosso, disse que até há alguns anos não plantava soja transgênica, mas isso está cada vez mais difícil. “A Fundação Mato Grosso fornece sementes convencionais, mas não tem para todo mundo. Vai ter que ser tudo transgênico”, afirmou o agricultor, que na safra passada conseguiu comprar apenas 40% de sementes convencionais, do total plantado em sua propriedade.

Além do receio de uma futura dependência de uma única empresa, o que tem levado alguns produtores a preferir plantar soja convencional é que estão conseguindo mais rentabilidade, principalmente devido ao prêmio que países europeus e asiáticos pagam por esse tipo de produto. O diretor executivo da Abrange, Ricardo Tatesuzi de Souza, reclama de abuso de poder econômico e de falta de transparência na cobrança dos royalties. “Na nota fiscal não vem quanto está se pagando de royalties. A lei de patente permite a eles cobrarem quanto quiserem”.

Procurada pela Agência Brasil, a Monsanto respondeu que “a informação não procede”. Apesar da negativa, o presidente da Aprosoja disse que tentará uma última conversa com a empresa. “Vamos buscar um entendimento. Se não der certo, vamos ao Cade”, afirmou, acrescentando que a reunião precisa ocorrer logo para que o assunto seja resolvido antes da próxima safra.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Ação em conjunto

Por Fábio de Castro, da  Agência FAPESP 
Os padrões de uso de energia contemporâneos são insustentáveis em inúmeros aspectos. Para reverter esse quadro, há soluções tecnológicas promissoras – como o desenvolvimento do etanol de segunda geração –, mas elas precisarão ser acompanhadas de profundas mudanças culturais, que poderão incluir a redução do uso do automóvel individual, por exemplo.

Esse foi o teor do debate realizado na abertura do workshop Scientific Issues on Biofuels (Questões científicas sobre biocombustíveis), que reuniu nesta segunda-feira (24/5), na sede da FAPESP, pesquisadores de diversos países para discutir a ciência da produção de biocombustíveis e sua sustentabilidade.

O evento, promovido pela FAPESP, pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pelo InterAcademy Panel (IAP) – rede que reúne academias de ciências de diversos países –, prossegue nesta terça-feira (25/5).

De acordo com o professor José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), o uso do automóvel individual nos padrões contemporâneos pode estar no coração dos problemas energéticos do mundo.

Ele explicou que o setor de transportes – praticamente todo baseado em derivados de petróleo – representa cerca de 30% de toda a energia consumida no mundo. Nesse segmento, nada cresce tão rapidamente como o uso do automóvel individual.

“É um problema assustador, porque já existem cerca de 600 milhões de automóveis rodando no mundo e esse número aumenta continuamente. As pessoas querem o automóvel, ficam dependentes dele e a tendência é que os países em desenvolvimento se encaminhem para o modelo dos Estados Unidos, onde há mais de 700 automóveis para cada mil pessoas”, disse à Agência FAPESP.

Segundo o cientista, ex-reitor da USP e ex-ministro da Educação, dificilmente os avanços tecnológicos serão suficientes para dar conta de solucionar o problema energético se o padrão de uso do automóvel for o mesmo dentro de 15 anos.

“O desafio é grande demais para que a ciência dê conta dele sozinha. Será preciso aliar as soluções tecnológicas a uma mudança cultural, que inclui o incentivo ao uso de metrô, bicicleta e ônibus. As pessoas vão ter que usar menos o automóvel”, disse.

A missão da transformação cultural, de acordo com Goldemberg, não cabe aos pesquisadores. Mas a ciência terá, necessariamente, que dar sua contribuição. Segundo ele, há três caminhos por onde será possível alcançar um transporte sustentável: eletricidade, biocombustíveis e veículos híbridos.

“A solução dos veículos elétricos é muito atraente, mas esbarra em um grande problema: as baterias. Elas são volumosas, pesadas e caras. Por enquanto estão longe de permitir que possamos manter os hábitos atuais de uso de automóveis. Nessa área, os veículos híbridos parecem mais promissores”, apontou.

Para o cientista, no entanto, a alternativa dos biocombustíveis é a mais viável. O Brasil, segundo ele, já tem uma indústria de etanol altamente desenvolvida e competitiva. “O mais interessante é que não apenas contamos com uma produção considerável – são 435 usinas de grande porte, que produzem 27 bilhões de litros de etanol por ano –, mas temos competitividade, o que não ocorre com outras alternativas de energias limpas”, afirmou.

A vitalidade do etanol brasileiro é possível, segundo Goldemberg, porque a cana-de-açúcar tem um balanço energético extremamente favorável. “Usamos uma unidade de combustível fóssil para produzir oito unidades de energia. A cana-de-açúcar tem um balanço energético fantástico e esse é o critério número um de sustentabilidade”, destacou.

Fantasia do status quo
Para Lee Lynd, professor de biologia do Dartmouth College (Estados Unidos), a questão energética é um desafio sistêmico que, para ser encarado, necessitará de uma grande revolução sistêmica. “As tendências atuais são insustentáveis e as soluções, geralmente, são improváveis. Mas sabemos que a manutenção dos padrões atuais é uma fantasia. Precisamos provar que as soluções improváveis são possíveis. É a única alternativa”, disse.

De acordo com Lynd, em 1980 o mundo excedeu sua capacidade regenerativa. “Em 2005, já precisávamos de um planeta com 1,3 vezes mais recursos do que a Terra dispunha para viver de forma sustentável. Isso, se considerarmos o padrão médio de consumo de energia. Se todos seguissem o padrão dos Estados Unidos, seriam precisos 4,5 planetas. Para o padrão da Índia, 0,4 planeta seria suficiente. No padrão alemão, seriam necessárias duas Terras”, disse.

Para Lynd, o uso de biomassa para a produção de energia é a principal alternativa disponível. “Não digo isso só porque estou no Brasil. É uma opinião com base científica: a cana-de-açúcar, a meu ver, é a mais promissora das opções de bioenergia, embora haja restrições”, afirmou.

Segundo o cientista, há dois fatores-chave que impedem a produção de biomassa celulósica em larga escala: a dificuldade de conversão e as preocupações com o uso do solo. “O primeiro fator deverá ter uma solução tecnológica em tempo hábil. A questão do uso do solo, por outro lado, envolve uma intrincada trama política e social”, disse.

Lynd afirma que ainda hoje há avaliações contraditórias sobre a viabilidade física para a produção global de bioenergia sustentável com uso da cana-de-açúcar. Segundo ele, essa contradição se determina pela visão de mundo de cada um.

“Existem ainda muitas avaliações negativas disseminadas pelo mundo quanto ao desejo de um futuro com matriz bioenergética. Mesmo aqueles que têm acesso às mesmas informações acabam chegando a conclusões diferentes em relação a isso. Essas divergências refletem expectativas diferentes em relação à capacidade de inovação e de mudança de hábitos”, disse.

O cientista, no entanto, acredita que, diferentemente do que indicam algumas avaliações feitas nos Estados Unidos, a produção da bioenergia em larga escala com base em etanol poderá ter um papel fundamental no combate à pobreza e à fome, já que sua produção poderá gerar emprego e renda.

“Por outro lado, mesmo nos Estados Unidos as limitações de terras cultiváveis poderiam ser contornadas com mudanças de hábitos alimentares, por exemplo. Sabemos que a necessidade de terra disponível para produzir um quilo de carne bovina é 50 vezes maior do que para produzir um quilo de carne de frango. Se trocássemos a carne de vaca por carne de aves, já teríamos terras com potencial de uso para produção de bioenergia em quantidade suficiente para substituir toda a gasolina do planeta”, disse.

Workshop
O segundo e último dia do workshop terá a palestra Academies, Advisory Councils and Governments-Roles and Responsibilities in Building Successful Societies Through Science, Technology and Innovation, com Howard Alper, professor da Universidade de Ottawa e presidente do Conselho de Ciência e Tecnologia e Inovação do Canadá.

Em seguida, serão realizadas duas sessões de debate, com os temas “The Science of Bioenergy and the Environment” e “Sustainability of Biofuels”, e a apresentação das conclusões por parte dos relatores das sessões.

Mais informações sobre o evento: www.fapesp.br/biofuels

CONVITE

O Coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, Deputado SARNEY FILHO (PV-MA), e demais ONG’S ambientalistas, integrantes dos grupos temáticos da Frente: ÁGUA, ENERGIA RENOVÁVEL, BIOCOMBUSTÍVEL, RESÍDUOS, FLORESTA, CLIMA, EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CERRADO/CAATINGA, FAUNA,QUESTÕES URBANAS, EMPRESAS E JUSTIÇA AMBIENTAL convidam para debate sobre "Fundamento Científico no Código Florestal "

Data: 26 de maio de 2010 (quarta-feira)
Horário: 8 horas e 30 minutos
Local: Cafeteria Mais Brasil - 10º andar, Anexo IV da Câmara


PALESTRANTES:

Gerd Sparovek - Professor da Universidade de São Paulo com atuação na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz na área de conservação do solo e planejamento do uso da terra.

Jean Paul Metzger - Professor da Universidade de São Paulo, membro da International Association For Landscape Ecology e editor de quatro revistas. Tem experiência na área de Ecologia de Paisagens e Conservação, com ênfase no estudo de paisagens fragmentadas da mata atlântica.

Mario Gisi, Subprocurador-Geral da República/4ª Câmara de coordenação e Revisão – Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal.

O objetivo do debate é discutir os fundamentos científicos do código florestal e os efeitos para o Brasil da sua aplicação.

A Frente Parlamentar Ambientalista tem como objetivo apoiar políticas públicas, programas e demais ações governamentais e não-governamentais que promovam o desenvolvimento sustentável e está aberta a novas adesões.


Meio Ambiente mantém eficácia de ato que criou floresta em Rondônia

Vania Alves, da Agência Câmara

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável rejeitou na quarta-feira (19) a suspensão dos efeitos do Decreto 96.188/88, que cria a Floresta Nacional do Bom Futuro, em Rondônia.

A medida está prevista no Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 1617/09, do deputado Ernandes Amorim, que recebeu parecer contrário do relator, deputado Edson Duarte (PV-BA).

Segundo o autor da proposta, essa unidade de conservaçãoParte do território nacional sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias de proteção de seus recursos ambientais. As unidades de conservação podem ser privadas ou públicas e se distribuem em reservas biológicas, estações ecológicas, parques, monumentos naturais, áreas de proteção ambiental, florestas públicas, reservas extrativistas, reservas de fauna, reservas de desenvolvimento sustentável e reservas particular do patrimônio natural.

No Brasil, 4% do território estão protegidos por algum tipo de unidade de conservação. foi criada quando a Administração Pública ainda não era obrigada a promover a consulta pública e a realizar estudos técnicos prévios, o que, no seu entendimento, levou aos conflitos sociais hoje existentes na região.

Limites da Constituição
O relator observa que tem sido frequente o uso de PDCs, previsto na Constituição Federal, para se opor aos atos do Executivo. Esse uso, acrescenta, não tem observado os limites impostos pela Constituição. Edson Duarte lembra que a separação de Poderes é um princípio constitucional e que o PDC foi criado para sustar atos do Executivo que exorbitem de suas competências.

Segundo o relator, justamente porque a criação da Floresta do Bom Futuro foi feita antes da legislação que exige a consulta à população local e estudos técnicos, não cabe afirmar que houve arbítrio do Executivo no decreto que criou a reserva.

Acordo sobre conflitos
Com relação aos conflitos sociais registrados na área, Edson Duarte informou que já foi assinado um termo de acordo entre a União e o estado de Rondônia para solucionar as demandas. Segundo o acordo, a área da floresta deverá comportar três unidades de conservação, sendo uma Área de Proteção Ambiental (APA) estadual, uma Floresta Estadual e uma Unidade de Conservação Federal de Proteção Integral.

Para a área já ocupada pelo homem, correspondente a cerca de 70 mil hectares, existe a previsão de que seja delimitada de forma a possibilitar o uso sustentável dos recursos naturais existentes, mediante regulamento e critérios a serem definidos pelo estado, que também deverá regularizar a situação das famílias já instaladas.

Tramitação
A proposta será votada pelo Plenário e já foi aprovada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. Ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, inclusive quanto ao mérito.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

População mundial de peixes está em perigo

Levantamento da FAO mostra que ecossistemas marinhos continuam em deterioração; conferência em Nova York reúne países para revisar acordo que trata da conservação e utilização sustentável de espécies migratórias.

Por Daniela Traldi, da Rádio ONU em Nova York.

Uma conferência de cinco dias na sede da ONU em Nova York deve discutir a revisão da implementação de um acordo de 1995 que estabeleceu um regime jurídico para a conservação a longo prazo e utilização sustentável de espécies migratórias de peixes.

O encontro teve início nesta segunda-feira com o alerta de que 3/4 da população mundial de peixes está em perigo e próxima ao esgotamento enquanto os ecossistemas marinhos continuam em deterioração. Os dados são da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO.

Pesca Excessiva
Segundo o subsecretário adjunto de Oceanos e Pescas dos Estados Unidos, David Balton, presidente da conferência, os principais temas do evento serão a pesca excessiva, os efeitos sobre o ambiente marinho e a necessidade de assistência aos países em desenvolvimento.

As nações também terão oportunidade para considerar novas medidas para reforçar o acordo sobre o tema. O documento, que entrou em vigor em 2001 e tem 77 Estados partes, abrange espécies migratórias que se deslocam por longas distâncias, como atuns e tubarões oceânicos.

O acordo inclui ainda espécies de peixes dentro da zona econômica de Estados costeiros, como bacalhau e lulas.

A conferência é aberta a todos os países e deve rever progressos sobre o tema desde 2006, ano da última revisão.

Perda crescente da biodiversidade mobiliza o planeta

Mais de 100 países, incluindo as principais potências econômicas e o Brasil, vão se reunir para tentar encontrar alternativas a fim de evitar mais colapsos ambientais


No Ano Internacional da Biodiversidade, o Brasil se destaca por várias ações que vêm contribuindo para a manutenção das diferentes espécies aqui localizadas. Entre elas, a redução do desmatamento na Amazônia, a criação de novas áreas de conservação de uso sustentável e de proteção integral e o monitoramento de todos os biomas brasileiros. E ainda a discussão sobre patrimônio genético entre países megadiversos, que inclui a distribuição justa e equitativa dos benefícios econômicos oriundos da exploração da biodiversidade.

Por Carine Corrêa, do MMA

O ano de 2010 será marcado internacionalmente não apenas pela Copa do Mundo. Outro tema - a biodiversidade - vai interferir de forma direta e implacável no cotidiano das pessoas, em escala muito maior e talvez sem a mesma visibilidade na mídia. O assunto também vai atrair a atenção de muitos países durante a Conferência da Biodiversidade (COP-10), a ser realizada em outubro em Nagoya (Japão).

Apesar de ainda não ter o mesmo apelo do futebol nas discussões do dia-a-dia, neste Ano Internacional da Biodiversidade - estabelecido pela ONU- nações de todo o mundo vão debater a perda da biodiversidade, prejuízo que afeta não só animais e plantas (como muitos preferem simplificar a questão), mas interfere de maneira crucial na manutenção da vida do homem e no equilíbrio de todo o planeta.

Para se ter uma ideia do tamanho do prejuízo, as perdas econômicas decorrentes do processo de redução de espécies alcançam uma cifra anual entre U$2 e US$ 4,5 trilhões, segundo pesquisadores do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

O encontro no Japão vai reunir as nações megadiversas (grupo dos 17 países que abrigam a maioria das espécies da Terra e juntos detêm cerca de 70% de toda a biodiversidade do planeta, entre eles o Brasil), as principais potências econômicas mundiais e outros 100 países aproximadamente. O objetivo é tentar encontrar soluções que possam surtir efeito rápido (ou pelo menos de médio prazo), a fim de evitar novos colapsos ambientais ao redor do planeta.

Durante a COP-10, o Brasil vai assumir um protagonismo, pois pretende reafirmar o pacto entre os países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), para o cumprimento das metas estabelecidas tanto na Rio-92 quanto em Johannesburgo (África do Sul), em 2002.

Vai ainda defender a bandeira da repartição de benefícios oriundos do patrimônio genético da biodiversidade, principal ponto pretendido pelos megadiversos na convenção.

Segundo a secretária de Biodiversidades e Florestas do MMA, Maria Cecília Wey de Brito, muitas reuniões preparatórias têm sido realizadas pelas 17 nações megadiversas, com o objetivo de se estabelecer uma proposta comum.

A questão da compensação financeira pelo conhecimento obtido a partir da biodiversidade, no entanto, é motivo de controvérsia. Ganhou manchete dos jornais o caso do cupuaçu, que teve um pedido de patente registrado no exterior por uma empresa japonesa, apesar de ser uma planta típica da Amazônia.

Por meio da contestação de entidades ambientalistas nos escritórios de patentes internacionais, foi impedida a aprovação do registro, pois as aplicações do produto já eram, há muito tempo, de domínio dos índios e das comunidades tradicionais amazônicas, e não envolviam nenhum tipo de inovação que justificasse o direito de sua exploração pela companhia japonesa.

Diversidade global em declínioDe acordo com o terceiro relatório do Panorama da Biodiversidade Global (GBO3, em inglês), divulgado no começo de maio pelas Nações Unidas (cuja versão em português será lançada em 21 de maio pelo MMA), nenhum país cumpriu integralmente as metas de redução da perda da biodiversidade em seus territórios entre 2002 e 2010.

O documento é um relatório oficial da Convenção sobre Diversidade Biológica, estabelecida em 1992, e vai pautar as discussões entre os chefes de Estado participantes da Cúpula da Biodiversidade no Japão. O ponto mais preocupante deste estudo revela que a perda da biodiversidade global está alcançando um patamar quase irreversível.

Entre 1970 e 2006, por exemplo, o número de indivíduos de espécies de vertebrados teve um declínio de 30% em todo o mundo, e a tendência, segundo o GBO3, é de que a redução continue, especialmente entre animais marinhos e nas regiões tropicais. O relatório indica ainda que 40% das espécies de aves e 42% dos anfíbios apresentam população em queda.

Para reverter o quadro de sérios prejuízos ambientais e econômicos, seriam necessários investimentos em todo o planeta de aproximadamente U$45 bilhões por ano.

O relatório indica os cinco principais fatores de pressão sobre a biodiversidade: perda e degradação de habitats (convertidos em plantações, pastagens, áreas urbanas), mudanças climáticas, poluição, sobreexploração dos recursos naturais e a presença de espécies exóticas invasoras. As intervenções humanas em lagos de água doce também foram apontadas como outro fator importante, pois devido ao acúmulo de nutrientes, inúmeras espécies de peixes foram levadas à morte em larga escala.

A acidificação e poluição dos oceanos também vitimam os recifes de corais, o que descaracteriza o ecossistema marinho. Nas grandes regiões do mundo, os habitats naturais continuam a declinar em extensão e integridade, especialmente os bancos de algas marinhas, as zonas úmidas de água doce, as localidades de água congelada e os recifes de corais e de mariscos.

Segundo dados da World Conservativon Union (União Mundial de Conservação), a ação do homem provoca 0,2% da perda média de espécies todos os anos, que ocorre ainda por queimadas e desmatamento impulsionados pelo mercado imobiliário e/ou monoculturas de larga escala, caça e tráfico de animais. Extrativismo sem manejo adequado e mineração, dentre outros fatores de intervenção antrópica, também são causas crescentes do processo de extinção, por acompanharem as necessidades de uma população humana que, segundo estatísticas da Organização das Nações Unidas, é de 6,5 mil milhões, com perspectivas de aumento para 7 mil milhões até o ano de 2012.

De acordo com o secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica, Ahmed Doghlaf, a perda da biodiversidade ocorre em uma velocidade sem precedentes. "As taxas de extinção podem estar mil vezes acima das médias históricas", alerta.

Apesar de o GBO3 ressaltar o aumento considerável das áreas de proteção ambiental (82% estão em áreas marinhas e 44% em regiões terrestres), e o progresso significativo da preservação de florestas tropicais e manguezais, dados do documento revelam que estas medidas não foram suficientes para alcançar a meta estabelecida.

Ações brasileiraHá ainda outros pontos do documento do Pnuma considerados críticos. A Amazônia é citada como área sujeita a danos irreparáveis, em parte motivados pelo desmatamento e queimadas, e por outro, pelas mudanças na dinâmica regional das chuvas e extinção de espécies.

O Brasil é citado como exemplo no que diz respeito à criação de áreas protegidas (unidades de conservação). Dos 700 mil quilômetros quadrados transformados em áreas de proteção em todo o mundo, desde 2003, quase três quartos estão em solo brasileiro, resultado atribuído em grande parte ao Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa).

Para 2010, já está em fase de análise a criação de novas áreas protegidas: 3.044.000 hectares no Cerrado; 868.192 hectares no Pantanal; 600 mil hectares no Pampa e mais de 1.200.000 hectares na Mata Atlântica.

Outra estratégia fundamental adotada pelo Brasil para combater o desmatamento e a extinção de espécies decorrente desta prática é o monitoramento por satélite de todos os biomas brasileiros, procedimento que, até 2008, era realizado apenas na Amazônia e em parte da Mata Atlântica.

Com a identificação e controle das principais causas do desmatamento na região, em 2009, a devastação da floresta teve o menor índice (43% mais baixo) dos últimos 20 anos.

Os primeiros resultados sobre o Cerrado e Caatinga, levantados entre 2002 e 2008, já foram lançados, mostrando que quase metade da cobertura vegetal original destes biomas já foi destruída. Para este ano, serão divulgados os dados referentes à cobertura vegetal do Pantanal, Mata Atlântica e Pampa, referentes ao mesmo período.

Por meio do monitoramento, é possível estabelecer planos de ação de fiscalização, controle e combate ao desmatamento, bem como levar alternativas sustentáveis às regiões onde o desmate ainda é muito praticado.

Exóticas e invasorasTambém foi lançada, em 2009, a Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras. O programa vai orientar as diferentes esferas do Governo a fim de mitigar e prevenir os impactos negativos destas espécies sobre a população humana, os setores produtivos, o meio ambiente e a biodiversidade.

Os eixos deste plano são a prevenção da introdução de novos indivíduos, bem como a mitigação da presença dos mesmos em biomas e bacias hidrográficas do Brasil. Atualmente, as invasões biológicas causadas por espécies exóticas invasoras são consideradas a segunda maior causa de perda da biodiversidade biológica do planeta, perdendo apenas para a destruição de habitats.

No Brasil, os custos decorrentes dos impactos causados por estas espécies atingem cerca de U$ 50 bilhões ao ano. Entre elas, podemos citar o mosquito da dengue, o mexilhão dourado, o caracol gigante africano, a uva-do-japão, o capim-annoni e o amarelinho.

Também tem sido feita a atualização de listas de espécies brasileiras ameaçadas de extinção (fauna e flora), que servem como alerta e instrumento de monitoramento da política de conservação destas espécies. " O número de espécies em extinção está aumentando, o que é um sinalizador preocupante, pois demonstra que o objetivo de reduzir a taxa de extinção não tem sido alcançado", avalia João de Deus Medeiros, diretor do Departamento de Florestas do MMA.

Fundamentais para a conservação e recuperação de espécies ameaçadas de extinção (um dos principais compromissos dos países durante a CDB), estes levantamentos funcionam como instrumentos de implementação da Política Nacional da Biodiversidade, que inclui as Listas Nacionais Oficiais de Espécies Ameaçadas de Extinção; os Livros Vermelhos das Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção e os Planos de Ação Nacionais para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção.

Evolução da vidaA biodiversidade é a totalidade das espécies de seres vivos de uma determinada região ou tempo, e abrange animais, vegetais, fungos e microorganismos, sendo responsável pela evolução e manutenção da vida em todos os lugares. Sua manutenção depende do equilíbrio e estabilidade de ecossistemas, e seu uso e aproveitamento pela humanidade deve, necessariamente, ser feito de maneira sustentável de forma a preservá-los.

Desde que o homem começou a interferir na natureza, a biodiversidade tornou-se a base das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais e, mais recentemente, da indústria de biotecnologia. Trata-se ainda da fonte primária para remédios, cosméticos, roupas e alimentos, entre outros produtos, e é essencial para a criação de grãos mais produtivos e resistentes a pragas e a outras doenças.

A espécie humana é apenas uma entre 1,75 milhão de espécies de vida conhecidas. O Pnuma estima que existam pelo menos 14 milhões de espécies vivas ao redor do planeta. Alguns especialistas calculam que esse número possa chegar a 50 milhões, ou ainda mais.

Extinção de espéciesA Convenção sobre Biodiversidade foi estabelecida em 1992, durante a ECO-92, no Rio de Janeiro, mas a meta de redução da perda da biodiversidade só foi fixada na Cúpula da Terra de Johannesburgo, em 2002. Durante o evento, os governos participantes se comprometeram a estabelecer medidas para combater a extinção de espécies.

Dentre os pontos acordados constam a redução da degradação de habitats, o controle de espécies exóticas invasoras (que ocasionam prejuízos de aproximadamente R $ 2,5 trilhões nas economias de todo o planeta) e transferência de tecnologia para países em desenvolvimento. Das 21 metas estabelecidas pela ONU em 2002, nenhuma está próxima de ser cumprida.

A Convenção sobre Diversidade Biológica foi assinada por 156 nações - atualmente foi ratificada por 192 - e estabeleceu que os países têm direito soberano sobre à variedade de vida contida em seu território, bem como o dever de conservá-la e de garantir que seu uso seja feito de forma sustentável, isto é, assegurando sua preservação.

Um dos temas mais defendidos pela CDB é a necessidade de repartição justa e equitativa dos benefícios derivados do uso dos recursos genéticos. Eles seriam divididos entre todos os países e populações cujo conhecimento foi chave para sua utilização. Como exemplo, comunidades acostumadas a usar plantas de sua região desde tempos remotos, como os índios.

Terceiro alerta

Por Alex Sander Alcântara, da Agência Fapesp

“O cientista deveria ser um grande contador de histórias, para levar informação científica à sociedade de modo que todos, mas especialmente os jovens, descubram o mundo da natureza”, disse o ambientalista americano Thomas Lovejoy, presidente do Heinz Center for Science, Economics and Environment e consultor do Banco Mundial para sustentabilidade, no sábado (22/5), durante palestra em comemoração ao dia Internacional da Biodiversidade.

A afirmação de Lovejoy – que criou o termo "diversidade biológica" – referia-se ao papel do cientista na tarefa de construção de uma “consciência pública” para reverter o processo de perda de biodiversidade. “Precisamos reverter esse processo. Para isso, a decisão passa por todas as instâncias do poder, mas passa também pelo envolvimento de toda a sociedade”, disse à Agência FAPESP.

O evento, realizado no Palácio dos Bandeirantes, teve a presença do presidente da FAPESP, Celso Lafer, representando o governador Alberto Goldman, e foi organizado pelo Programa Biota-FAPESP como parte das atividades do Ano Internacional da Biodiversidade, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Lovejoy destacou pontos importantes do Terceiro Panorama da Biodiversidade Global (Global Biodiversity Outlook - GB3), recém-lançada publicação da Convenção sobre a Biodiversidade Biológica (CBD) da ONU.

O documento é baseado em cerca de 500 trabalhos científicos e em relatórios nacionais e cruza dados de outros relatórios, como o Living Planet Index e o Red List Index.

A conclusão mais categórica do panorama ressalta que a meta de redução da perda da biodiversidade para 2010 não foi alcançada em nível mundial. As populações de espécies de vertebrados reduziram-se em quase um terço, em média, entre 1970 e 2006, e continuam caindo globalmente, de forma mais severa nos trópicos e entre espécies de água doce.

Lovejoy, que foi chefe responsável pela revisão do documento, apresentou o quadro atual da biodiversidade e focou em alguns pontos específicos do panorama, em especial no caso da Amazônia, que ele pesquisa há mais de quatro décadas.

"Os cenários apresentados não são animadores, mas, apesar de as metas não terem sido cumpridas, é preciso manter o otimismo. Os resultados são uma oportunidade para melhorar e criar soluções e buscar novas formas de explorar a biodiversidade de forma sustentável”, disse.

O relatório aponta que das 11 metas acordadas por governos de todo mundo em 2002 nenhuma foi alcançada globalmente, apesar de em algumas ter havido pequenos avanços, como a situação das espécies ameaçadas, classificada como “algum progresso”, e a redução da poluição e de seus impactos sobre biodiversidade, que figura no texto como “progresso significativo”.

No entanto, o consumo não sustentável aumentou e continua a ser uma grande causa da perda da biodiversidade. Além disso, muitos recursos biológicos que sustentam meios de subsistência, como peixes, mamíferos, aves, anfíbios e plantas medicinais, estão em declínio, afetando as populações mais pobres.

De outro lado, existem dados um pouco mais animadores. Segundo o panorama, de 1970 a 2006 as áreas de proteção terrestres no mundo aumentaram de 4 milhões para 14 milhões de quilômetros quadrados. Houve também um aumento nas áreas marinhas protegidas.

“Contudo, a meta a ser atingida em 2010 era que pelo menos 10% de cada região biologicamente relevante no mundo deveria estar dentro de uma área protegida”, disse Lovejoy. Segundo o relatório, 44% das ecorregiões terrestres (zonas com uma grande proporção de espécies e tipos de habitats partilhados) e 82% das ecorregiões marinhas se encontram abaixo do objetivo de 10%.

Savazinação da Amazônia
O Terceiro Panorama da Biodiversidade Global considera que as cinco principais pressões que estão causando diretamente a perda da biodiversidade são alterações nos habitats, sobreexploração, poluição, espécies exóticas invasivas e alterações climáticas.

As previsões climáticas há cerca de seis anos mostravam uma projeção de aumento de cerca 1,5º C da temperatura na atmosfera. Ao indicar o movimento da massa de umidade no planeta mostrando a Amazônia, Lovejoy disse que se o aumento da temperatura global não ficar abaixo dos 2º C haverá um "deslocamento de umidade", que alteraria o ciclo da chuvas na América do Sul e aceleraria o processo de “savanização da Amazônia”.

“A soja na região pantaneira é beneficiada pelas chuvas que são geradas na região Amazônica. Mudar esse ciclo seria um desastre porque mexeria com a estabilidade climática desses ecossistemas na grande maioria dos ambientes sul-americanos”, destacou.

Apesar de ainda ser considerada uma área crítica – se no futuro forem mantidas as condições atuais de aumento de temperatura e acúmulo de gases estufa na atmosfera – o relatório indica que o número de áreas de reserva na Amazônia cresceu. Mas outro dado contrastante é que, apesar da taxa de desmatamento da floresta ser positiva – caiu 74% de 2003 a 2009 – a projeção futura aponta que o desmatamento chegará a mais de 20% da área da floresta original

A maioria dos ecossistemas terrestres e aquáticos também está se tornando cada vez mais fragmentada. De acordo com o panorama, se a situação atual não mudar, no futuro mais de metade dos habitats marinhos não serão propícios para a formação dos corais.

“Os sistemas de corais são hipersensíveis. O aumento na temperatura do mar influenciará na relação entre os corais e as algas marinhas. Além disso, o aumento da acidez nos oceanos, que parece imperceptível para as pessoas, está longe de ser imperceptível para os organismos marinhos”, disse Lovejoy.

O ambientalista afirma ainda que se a temperatura média global ultrapassar os 2º C e as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera alcançarem as 450 partes por milhão (ppm), os ecossistemas marinhos não sobreviverão. “Precisamos reverter essa situação e manter a concentração de dióxido de carbono em 350 ppm, ainda menor do que a taxa atual, que beira os 390 ppm", disse.

O Terceiro Panorama da Biodiversidade Global será apresentado na Conferência das Partes na Convenção, que será realizada em outubro de 2010, em Nagoya (Japão). O objetivo é que o documento se torna a base da análise do plano estratégico para a próxima década da Convenção sobre Diversidade Biológica.

Modelo exemplar
Lovejoy destacou ainda a imporância do prorama Biota-FAPESP como um exemplo a ser seguido. “O Biota merece ser replicado e espalhado por todo o mundo. É um modelo notável para gerir programas de recursos biológicos”, disse.

Para Celso Lafer, presidente da Fundação, o Biota é um programa que orgulha qualquer dirigente de uma instituição de pesquisa como a FAPESP. “O programa é moderno do ponto de vista do trabalho de pesquisa. Ele constrói redes, une pesquisadores e permite que as sinergias das nossas universidades possam estar em marcha para o avanço do conhecimento”, destacou.

De acordo com Carlos Alfredo Joly, coordenador geral do Biota-FAPESP e professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em dez anos o programa já catalogou cerca de 2 mil novas espécies no Estado de São Paulo.

“Mas, na segunda fase do programa, no plano estratégico para os próximos dez anos, nosso desafio é conseguir também uma inserção internacional mais forte. Temos participado de diversos fóruns no exterior e feito parcerias com esse objetivo”, disse.

Outro desafio, aponta, é tornar o conhecimento científico produzido pelos integrantes do Biota-FAPESP mais próximo da população, em particular de jovens do ensino fundamental e médio. “Por isso, nessa segunda fase do Biora, vamos levar o conhecimento do programa a esses alunos”, afirmou.

Mais informação sobre o relatório: http://gbo3.cbd.int/
Biota-FAPESP: http://www.biota.org/

Comissão aprova destinação de 2% do FGTS para ações ambientais

Por Vania Alves, da Agência Câmara

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável aprovou na quarta-feira (19) a destinação anual de pelo menos 2% dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS- demissão sem justa causa; - término do contrato por prazo determinado; - aposentadoria; - suspensão do trabalho avulso; - falecimento do trabalhador; - necessidade pessoal, urgente e grave, decorrente de desastre natural causado por chuvas ou inund) para infraestrutura urbana.

Os recursos deverão financiar projetos de reuso de águas cinzas ou águas pluviais, a implantação e recuperação da arborização urbana e projetos voltados à otimização do uso da energia elétrica em habitações de interesse social.

O texto aprovado é o substitutivo do deputado Anselmo de Jesus (PT-RO) ao Projeto de Lei 5972/09, do deputado Antônio Roberto (PV-MG). A proposta modifica a Lei do FGTS (Lei 8.036/90).

Áreas de preservação
Segundo o relator, é freqüente que empreendimentos habitacionais e urbanísticos financiados pelo Poder Público - mediante o uso dos recursos do FGTS ou outras fontes - apresentem problemas e mesmo ilegalidades relacionadas à manutenção das Áreas de Preservação Permanente (APPsSão faixas de terra ocupadas ou não por vegetação nas margens de nascentes, córregos, rios, lagos, represas, no topo de morros, em dunas, encostas, manguezais, restingas e veredas. Essas áreas são protegidas por lei federal, inclusive em áreas urbanas. Calcula-se mais de 20% do território brasileiro estejam em áreas de preservação permanente (APPs).

As APPs são previstas pelo Código Florestal. Os casos excepcionais que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em APP são regulamentados pelo Ministério do Meio Ambiente.) ao longo dos rios e nas encostas. Isso porque não contam com medidas voltadas à eficiência energética, não implantam sistemas de arborização adequados, entre outros.

Anselmo de Jesus argumentou, porém, que a proposta original tomava essa providência de forma genérica. “Proteger o meio ambiente sem adjetivar de que forma nos parece pouco produtivo. Também combater a poluição em qualquer de suas formas é um tanto quanto vago, pois podemos entender que a adequação de fontes móveis de emissão urbana é uma forma de combate, ou mesmo a coleta e tratamento de esgoto, que já é contemplado no § 2º do artigo a ser modificado”, afirma.

Tramitação
A proposta ainda será analisada de forma conclusivaRito de tramitação pelo qual o projeto não precisa ser votado pelo Plenário, apenas pelas comissões designadas para analisá-lo. O projeto perderá esse caráter em duas situações: - se houver parecer divergente entre as comissões (rejeição por uma, aprovação por outra); - se, depois de aprovado pelas comissões, houver recurso contra esse rito assinado por 51 deputados (10% do total).

Nos dois casos, o projeto precisará ser votado pelo Plenário. pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; de Finanças e Tributação (inclusive quanto ao mérito); e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Integra da proposta:

Fórum de biodiversidade detalha programação e objetivos do evento

Da Agência Câmara

Os organizadores do primeiro Fórum de Biodiversidade das Américas detalharam a programação e os objetivos do evento, durante entrevista na Câmara, nesta quinta-feira. O fórum vai reunir órgãos públicos, ONGs e entidades da sociedade civil da América Latina em busca de soluções para os atuais problemas ambientais.

O evento será realizado de 5 a 9 de julho, em Brasília, e é promovido pela Rede Brasileira de Jardins Botânicos, com o apoio do Congresso Nacional, do Parlamento do Mercosul, da Unesco e do Ministério do Meio Ambiente, entre outros órgãos.

Ciência e comunidade
Segundo o diretor executivo do Jardim Botânico de Brasília, Jeanitto Gentilini, a expectativa é de que o fórum seja um catalisador de pequenas e grandes ideias aplicáveis ao dia a dia do cidadão.

"Intenção é fazer uma comunicação muito intensa entre o setor científico, porque há questões específicas a serem abordadas, como, por exemplo, a revisão da meta da rede de jardins botânicos brasileiros, mas com uma preocupação muito grande de que a gente não perca a interface com a comunidade”, explica Gantilini.

“Na verdade, a gente estruturou o evento em quatro pilares: preservação, pesquisa, educação ambiental e cultura, exatamente para reforçar a ideia da diversidade de culturas que o tema aborda", acrescenta.

Ano da biodiversidade
2010 é o ano internacional da biodiversidade e o evento também pretende fazer uma convocação direta a cada indivíduo para viabilizar soluções ambientais. Para isso, o fórum lançou a campanha "O que você faz pelo planeta?".

O interessado já pode usar o e-mail biodiversidadedasamericas@gmail.com para enviar projetos ou informações sobre ações concretas relativas, por exemplo, à educação ambiental, à recuperação de áreas devastadas e ao reaproveitamento de lixo. As sugestões poderão fazer parte do "guia da sustentabilidade", que será distribuído nos povoados, municípios e metrópoles latinoamericanas.

Foco no indivíduo
A secretária de cidadania ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Samyra Crespo, disse que o foco do fórum é o indivíduo. "É começar a trabalhar com os cidadãos brasileiros, com os lares brasileiros e com os indivíduos. 'O que você faz pelo planeta?' é um chamamento muito direto.”

“E é bem possível que nós não só tenhamos uma mobilização virtuosa, mas nos surpreendamos com a quantidade de iniciativas que hoje existem na sociedade brasileira e que, às vezes, não são valorizadas", avalia.

Código florestal
O presidente da representação brasileira no Parlamento do Mercosul, deputado José Paulo Tóffano (PV-SP), também acredita que o fórum vai repercutir nas atuais discussões da Câmara sobre possíveis alterações no Código Florestal.

"Nós queremos um código florestal, não um código rural ou do agronegócio. São eventos desse porte e desse nível que vão sensibilizar as pessoas que, por sua vez, sensibilizam os parlamentares, como aconteceu recentemente com o Projeto Ficha Limpa, quando houve uma pressão muito grande da sociedade e uma comoção que fez com que muito parlamentares viessem a rever o seu posicionamento", diz Tóffano.

Assim como o Parlamento do Mercosul, o Mercado Comum do Caribe (Caricom) também vai participar do Fórum de Biodiversidade das Américas. Uma das linhas de atuação do evento é a ajuda prioritária a países com graves sequelas ambientais, como o Haiti, recentemente devastado por um terremoto.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Fundação lança quarta edição do programa de Difusão e Popularização da C&T

Para democratizar a informação sobre a produção de conhecimento e produzir resultados que possam ser operacionalizados em políticas a ser adotadas no estado do Rio de Janeiro, a Fundação lançou, nesta quinta-feira, 20 de maio, o edital Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia. O programa, criado em 2007, chega agora a sua quarta edição. Com recursos de R$ 1,5 milhão, ele visa estimular e promover iniciativas que versem sobre o tema. Os interessados terão até o dia 15 de julho para submeter suas propostas.

Para inscrever projetos, as equipes devem ser formadas por um grupo de pesquisadores com vínculo empregatício/funcional em instituições de ensino e pesquisa sediadas no estado, envolvidas em ações para a divulgação científica e tecnológica, inclusive sob a forma de redes ou consórcios. O coordenador do projeto deve ter o grau de doutor ou comprovar marcante experiência na área em que a sua proposta se insira, especialmente nos últimos cinco anos, estar ativa e produtivamente envolvido em projetos que envolvam difusão e popularização de C&T e não pode pertencer a mais de um grupo que submeta propostas no presente edital; a equipe responsável pela realização do projeto também poderá incluir mestres, pós-graduandos, estagiários de graduação e funcionários técnico-administrativos do quadro das instituições partícipes.

Com recursos de R$ 1,5 milhão, o programa visa atender propostas, que devem estar classificadas em uma de duas faixas, de acordo com o montante solicitado: A: valor máximo de cada proposta – R$ 100 mil, em um total de R$ 500 mil, disponibilizados para esta faixa; B: valor máximo de cada proposta – R$ 50 mil, perfazendo um total de R$ 1 milhão, disponibilizados para esta faixa. O prazo para execução de cada projeto deverá ser de, no máximo, 24 meses, contados a partir da data da liberação dos recursos.

Do total de recursos disponibilizados, 70% serão direcionados a despesas de custeio e 30% para despesas de capital. Consideram-se como despesas de custeio pequenas obras de infraestrutura e instalações (até o limite de 30% do montante solicitado em despesas de custeio); serviços de terceiros (pessoas físicas e jurídicas), até o limite de 40% do montante solicitado em despesas de custeio; diárias e passagens, até o limite de 5% do montante solicitado em despesas de custeio (desde que compreendam despesas necessárias para o desenvolvimento do projeto de pesquisa); não serão permitidas diárias e passagens para participação em reuniões científicas; material de consumo, componentes e/ou peças de reposição de equipamentos; despesas de importação (até o limite máximo de 18% do valor do bem importado). Como despesas de capital, serão consideradas apenas a aquisição de materiais permanentes e de equipamentos.

De acordo com o cronograma do edital, terminado o prazo de submissão de propostas, a 15 de julho, os proponentes deverão fazer a entrega da documentação impressa da proposta até o dia 23 de julho. A divulgação dos resultados está prevista para acontecer a partir de 9 de setembro.

Este é o 15.º edital lançado pela Fundação no ano de 2010, contemplando a meta de atender todas as grandes áreas do conhecimento. Em 2007, foram 17 editais, 29 em 2008; e 19 em 2009. Além deste edital que está sendo lançado hoje, reedições de alguns editais lançados desde 2007, assim como novos editais, ainda estão programados para lançamento em 2010.

Confira a íntegra do edital de Difusão e Popularização da C&T - 2010

Cientistas avaliam doenças que afetam os corais

Por Débora Motta, da Agência Fapesp

Os recifes de corais são tão importantes para a vida marinha que podem ser comparados a verdadeiras florestas submersas. Escolhidos para ser o berçário e local de crescimento de diversas espécies – desde as invertebradas até mesmo as vertebradas de grande porte, como as baleias e aves migratórias –, eles contribuem de forma decisiva para a formação da biodiversidade, além de ser importantes redutos de pesca.

Colônia de Mussismilia: espécie exclusivada
costa brasileira sofre drástica redução(Tim Werner)
O Brasil possui recifes de coral que não abrigam tantas espécies quanto os do Caribe e do Pacífico, mas que concentram grande quantidade de espécies endêmicas, isto é, que só ocorrem aqui, como em Abrolhos. Apesar da importância incontestável desse santuário marinho, danos ambientais causados pela ação humana vêm contribuindo para a proliferação de doenças infecciosas que afetam os seus corais.
As doenças em corais, reconhecidas pelos especialistas desde os anos 1980, representam a principal causa da perda da cobertura coralínea no mundo. Cerca de 40% dos recifes de corais do planeta já foram dizimados.
Pesquisa coordenada pelo professor Fabiano Thompson,   
do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IB/UFRJ), e que conta com parceiros em diversas instituições do país, avalia a saúde dos corais no Banco dos Abrolhos, na Bahia. O projeto, que recebeu apoio da FAPERJ por meio de um Auxílio à Pesquisa (APQ1), investiga as doenças que vêm acometendo corais relacionadas com os vibrios – bactérias que vivem associadas à estrutura coralínea e que até então tinham sido pouco estudadas.

O levantamento dessas doenças fornece ferramentas para avaliar a saúde do ambiente marinho, já que os recifes de coral, devido à sua sensibilidade, são considerados termômetros da conservação dos oceanos. O estudo permitiu também investigar a biodiversidade dos micro-organismos associados a eles, que são causadores das doenças. Uma delas é o branqueamento, relacionado à perda das algas microscópicas zooxantelas, que vivem harmonicamente nos tecidos dos corais, em simbiose, colaborando para sua nutrição. "O branqueamento, considerado um processo unicamente fisiológico do coral e da zooxantela, é uma doença infecciosa causada por vibrios", explica o professor. "Uma das consequências dessa doença é o aspecto esbranquiçado da colônia devido à perda da zooxantela."

As espécies de corais escolhidas para nortear a pesquisa foram a Mussismilia híspida e a Mussismilia brasiliensis, conhecidas popularmente como coral-cérebro. Exclusiva da costa brasileira, do Rio Grande do Norte a Santa Catarina, a Mussismilia é a principal formadora de recifes no país. Mas de acordo com o professor, nos últimos cinco anos foi observada uma redução drástica do número de suas colônias, por metro quadrado, em Abrolhos. "Caso não sejam adotadas medidas de preservação ambiental, o coral-cérebro pode ser extinto em menos de um século", alerta Thompson.

A disseminação das doenças de corais – como branqueamento, necrose e praga branca – pode estar relacionada à poluição e à elevação da temperatura dos oceanos. De acordo com Thompson, a degradação das bacias hidrográficas modifica as características da água, tornando-as mais favoráveis à multiplicação dos vibrios e de outras bactérias indicadoras, tais como Bacteroidetes. "A poluição aumenta a quantidade de matéria orgânica na água. Os dejetos funcionam como alimento para o desenvolvimento dessas bactérias, fazendo com que elas se proliferem, ou mesmo devido à contaminação de esgotos domésticos com carga bacteriana elevada. O aumento de temperatura da água, especialmente no verão, também favorece a multiplicação de vibrios, o que torna mais frequente as infecções dos corais."
 
O mundo invisível das bactérias de corais
 
Coral-cérebro em dois momentos: saudável, com sua habitual cor
amarelada (à esq.), e doente, apresentando sinais da praga branca
(Guilherme Dutra/Léo Francini)
 
O projeto, que rendeu uma série de publicações em revistas científicas conceituadas, como a Marine Pollution Bulletin, Journal of Applied Microbiology, IJSEM, e Environmental Microbiology Reports (sendo os primeiros trabalhos acerca da microbiologia de corais em âmbito nacional), vem ocupar a lacuna deixada pela escassez de estudos sobre a biodiversidade microbiana marinha brasileira. "Os biólogos marinhos não estudavam os micro-organismos e não tinham noção de sua importância e de sua abundância nos corais. Há cerca de um milhão de células de vibrio por mililitro de muco ou de tecido de coral", destaca. "Determinamos pela primeira vez a composição das bactérias que se associam a esses corais, saudáveis e doentes, e descrevemos novas espécies, como a Vibrio communis, que é fixadora de nitrogênio e é um dos vibrios mais abundantes no muco de corais."

O trabalho de classificação taxonômica das bactérias de corais está disponível na Internet, no banco de dados http://www.taxvibrio.lncc.br/. O site, construído com o auxílio da professora Ana Tereza Vasconcellos, do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LabInfo/LNCC), contém informações das sequências gênicas e dos locais de coleta de cerca de 600 vibrios de corais. O banco também armazena dados taxonômicos de outros animais marinhos, como moluscos e camarões, além de permitir a identificação eletrônica de materiais genéticos isolados e a busca de sequências relacionadas.

Com o objetivo de caracterizar a biodiversidade das bactérias associadas aos corais, os pesquisadores recorreram às técnicas da metagenômica, isto é, aquelas relacionadas à análise das sequências genéticas de uma comunidade inteira de micro-organismos que vivem em um determinado ambiente. Foram coletadas amostras de muco de corais saudáveis e doentes. "Estamos tentando determinar agora quais são os genes dos vibrios responsáveis pela produção de toxinas que afetam o coral. Em condições controladas de laboratório, em experimentos em aquários na UFRJ, queremos saber se os vibrios são tóxicos a ponto de causar doenças e matar os corais. Este projeto está em andamento e será financiado pelo edital Biotérios, da FAPERJ", conclui Thompson.

Além do professor Thompson, participaram do projeto de caracterização da diversidade microbiana de corais os professores Ricardo Kruger, da Universidade Nacional de Brasília (UNB); Ana Carolina Vicente, do Instituto Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); Ana Tereza Vasconcellos, do LNCC; Rodolfo Paranhos e Clóvis B. Castro, ambos da UFRJ; Rodrigo de Moura, da Conservação Internacional (CI-Brasil); Ronaldo Francini Filho, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Marcelo Brocchi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); e alunos de diferentes níveis e bolsistas da FAPERJ.