terça-feira, 29 de abril de 2008

Doença da pobreza

Fábio de Castro

Melhorar a infra-estrutura sanitária não basta para controlar a leptospirose numa favela. É preciso também melhorar a condição socioeconômica dos moradores, cuja variação acompanha o risco de infecção.

Essa é a principal conclusão de um estudo realizado numa comunidade carente de Salvador por pesquisadores do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (CPqGM), um dos institutos da Fundação Oswaldo Cruz, na capital baiana. Os resultados foram publicados na revista de acesso aberto Plos Neglected Tropical Diseases.

Os pesquisadores entrevistaram mais de 3 mil moradores da comunidade de Pau da Lima, em Salvador, e utilizaram modelos matemáticos para avaliar a associação entre fatores ambientais, indicadores socioeconômicos e a presença de anticorpos contra Leptospira nessa população.

De acordo com o autor principal do trabalho, Albert Icksang Ko, professor de Medicina da Universidade de Cornell (Estados Unidos) e pesquisador visitante do Laboratório de Patologia e Biologia Molecular do CPqGM, o estudo mostrou que mais de 15% dos moradores já haviam sido infectados alguma vez pela doença. “Além de identificar fatores de risco ambientais, como a falta de saneamento básico, o estudo mostrou que o nível de pobreza está fortemente ligado à prevalência da doença. Concluímos que o risco de infecção diminui em 11% a cada dólar a mais por dia acrescentado à renda familiar per capita”, disse Ko à Agência FAPESP.

O pesquisador explicou que, embora as deficiências na infra-estrutura sanitária tenham se mostrado uma fonte de transmissão de leptospirose, quando esses fatores ambientais foram controlados as diferenças socioeconômicas contribuíram para o risco de infecção. “Identificamos fatores ambientais de risco, como morar perto do esgoto a céu aberto, em locais onde há lixo exposto e em fundos de vale com risco de alagamento. Mas, entre os moradores nessas condições, as diferenças socioeconômicas se apresentaram como um fator de risco independente”, afirmou.

De acordo com Ko, existem mais de 10 mil casos de leptospirose registrados no Brasil – a maioria deles em populações carentes dos grandes centros urbanos. O pesquisador afirma que mais de 25% da população brasileira mora em favelas. A proporção chega a 60% em Salvador. “O problema é grave se pensarmos numa projeção epidemiológica. No mundo todo, temos 1 bilhão de moradores de favelas. Esse número deverá dobrar nos próximos 20 anos. Por isso é importante identificar com precisão os fatores de risco de infecção”, afirmou.

Participação da comunidade

Segundo Ko, o estudo foi realizado com recursos do Ministério da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos, por meio da Universidade de Cornell.

O estudo se baseou num um inquérito realizado com 3.171 residentes da comunidade, utilizando anticorpos aglutinantes contra Leptospira como um marcador de infecção prévia. Os dados sobre condições ambientais foram obtidos pelo Sistema de Informação Geográfica (GIS). “Utilizamos o modelo de regressão de Poisson para avaliar a associação entre a presença dos anticorpos e atributos ambientais, indicadores socioeconômicos e exposições de risco individuais.” De acordo com o pesquisador, a participação de líderes comunitários e das associações de moradores foi imprescindível para a realização do trabalho. “A comunidade foi o sujeito da pesquisa e colaborou muito para a obtenção dos dados e realização das entrevistas. A partir daí, utilizando o GIS, uma equipe de geógrafos criou os mapas que identificaram o impacto de cada um dos fatores ambientais e socioeconômicos”, explicou.

O estudo, de acordo com o pesquisador, contribui para incentivar o poder público a tomar medidas que possam diminuir os casos de infecção por Leptospira. “A leptospirose é uma doença de alto impacto econômico para o sistema público de saúde. Ela é associada a uma falência renal aguda, matando mais de 15% dos infectados que são hospitalizados”, disse. O artigo Impact of environment and social gradient on Leptospira infection in urban slums, de Albert I. Ko e outros, pode ser lido em www.plosntds.org.

Fonte: Agência Fapesp

PF combate liberação de cargas irregulares de madeira em Mato Grosso

Ana Luiza Zenker

A Polícia Federal (PF) desencadeou hoje (29) a Operação Termes, no estado de Mato Grosso. Segundo nota divulgada pela PF, o objetivo é desmontar um esquema de liberação de cargas irregulares de madeira, que envolvia advogados e servidores de órgãos públicos, como a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso, a Delegacia Estadual do Meio Ambiente e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

A operação mobiliza 250 policiais federais e 20 agentes da Força Nacional de Segurança Pública, que devem cumprir cerca de 60 mandados de prisão e 58 de busca e apreensão.Segundo a nota da PF, as irregularidades foram descobertas a partir da Operação Arco de Fogo, para reprimir crimes ambientais na Floresta Amazônica. O esquema consistia na facilitação do comércio ilegal de madeira em todas as suas fases, desde o licenciamento irregular de madeireiras e projetos florestais, passando pela emissão de Certificados de Identificação de Madeira falsos até o envolvimento de policias rodoviários federais, que seriam responsáveis pela fiscalização da carga.A ação da Polícia Federal se concentra nos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, São Félix do Araguaia, Comodoro, Cáceres, Porto Espiridião, Sinop, Colíder, Porto dos Gaúchos, Marcelândia, Cláudia, Alta Floresta, Paranaíta e Aripuanã. Termes, o nome da operação, em latim significa verme.

Fonte: Agência Brasil

Lagarto sem patas é descoberto no Brasil


Lagarto integra as supostas novas 14 espécies achadas durante expedição em Tocantins

Cientistas descobriram na região central do Brasil um lagarto sem patas, um sapo com chifres e um pica-pau-anão entre 14 espécies supostamente novas, afirmou um grupo conservacionista.

Uma expedição de quatro semanas pelo cerrado brasileiro, uma região ameaçada devido à expansão das áreas de cultivo agrícola, encontrou oito peixes, três répteis, um anfíbio, um mamífero e uma ave aparentemente novos para a ciência, disse o grupo Conservação Internacional. "O lagarto, chamado de Bachia genus, lembra uma cobra por não ter patas e por apresentar um focinho pontudo, o que o ajuda a locomover-se pelo solo predominantemente arenoso da região", afirmou em um comunicado a entidade, um grupo sem fins lucrativos com sede nos EUA.

Susan Bruce, porta-voz do Conservação Internacional, disse que o lagarto tinha entre 15 e 20 centímetros de comprimento. Entre os outros lagartos sem patas de várias partes do mundo incluem-se alguns parentes de lagartixas da Austrália e as cobras-de-vidro da Europa.
O lagarto brasileiro foi achado durante a expedição pela Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantis, uma área de cerrado protegida com 716 mil hectares de extensão. Entre as outras supostas novas espécies encontram-se um pica-pau-anão e um sapo com chifres. O grupo ambientalista tenta proteger a biodiversidade e argumenta que a humanidade consegue viver em harmonia com a natureza. "Áreas protegidas como a Estação Ecológica abrigam alguns dos últimos ecossistemas saudáveis de uma região cada vez mais ameaçada pelo crescimento urbano e pela agricultura mecanizada", disse o líder da expedição, Cristiano Nogueira.

A região do cerrado, parte dos altiplanos do centro do Brasil que antes cobria uma área do tamanho de metade da Europa, está cada vez mais tomada pela produção agrícola e pela criação de gado. A velocidade de expansão dessas áreas é duas vezes maior do que a verificada na Amazônia, afirmou o Conservação Internacional. A expedição também registrou a imagem de espécies ameaçadas como o tatu-bola, o cervo-do-pantanal e a arara-azul-grande em meio a mais de 440 espécies de animais documentadas durante a empreitada, da qual participaram 26 pesquisadores.

Fonte: Reuters

ONU vai criar grupo de crise em busca de saídas para a alta dos preços de alimentos

Paula Laboissière

A Organização das Nações Unidas (ONU) vai criar um grupo de crise para responder aos problemas provocados pela subida dos preços dos alimentos em todo o mundo. A decisão foi anunciada hoje (29), em Berna (Suíça), pelo secretário-geral da organização, Ban Ki-moon.
Dirigentes de 27 agências e organismos da ONU participam de reunião fechada desde ontem (28), na tentativa de traçar um plano contra a crise. As informações são da agência Lusa.

O grupo será composto por responsáveis das agências da ONU e do Banco Mundial e ficará sob a autoridade direta de Ban Ki-moon. Ele deve recorrer a medidas de urgência e de longo prazo para suavizar os transtornos provocados pelo aumento do preço de alimentos considerados essenciais, como o trigo. O diretor do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou que as próximas semanas serão críticas e garantiu que planeja criar um fundo para financiar os países mais pobres e ajudá-los em suas agriculturas.

Ban Ki-moon, por sua vez, considerou o aumento de preço dos alimentos no mercado mundial “um desafio sem precedentes”. "Se os fundos que solicitamos aos doadores não forem cumpridos plenamente, arriscamos que a fome e a subnutrição aumentem ainda mais e que distúrbios sociais se instalem em uma escala sem precedentes", afirmou o secretário-geral.
Na reunião da ONU, foram apontadas como causas da crise de alimentos, dentre outros, a falta de investimentos no setor agrícola, os subsídios que conturbam o comércio, os subsídios aos biocombustíveis, as más condições climáticas e a degradação do meio ambiente.

Fonte: Agência Brasil

Arco de Fogo supera 60 milhões em multas contra o desmatamento da Amazônia

Kézia Macedo (Ascom Ibama) e Christian Dietrich (Ascom Ibama Santarém)

Em dois meses de atuação, a operação Arco de Fogo superou R$ 60 milhões com 338 multas aplicadas contra o desmatamento da Amazônia pelas cinco bases da operação montadas nos estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia. Fiscais do Ibama e policiais federais e da Força Nacional de Segurança Pública fiscalizaram 166 propriedades, entre empresas e fazendas, e apreenderam 37,4 mil metros cúbicos de madeira ilegal, o suficiente para encher 1,5 mil caminhão.

Em 42 estabelecimentos, as atividades foram paralisadas devido à falta de licenciamento ou por depósito ou venda de madeira sem origem legal. Também foram apreendidos 1,4 metros de carvão vegetal ilegal, 26 veículos e 31 motosserras utilizados na prática do crime ambiental. Os agentes públicos destruíram 1,6 mil fornos de produção de carvão vegetal clandestinos.

Em Tailândia, Pará, e em Machadinho D’Oeste, Rondônia, o trabalho foi concluído. No Pará, a ação prossegue na cidade de Paragominas. Em Rondônia, a equipe fiscaliza agora o município de Cujubim. No Mato Grosso, a operação continua em Sinop e Alta Floresta.

Paragominas

A Operação Arco de Fogo em Paragominas, no sudeste do Pará, já superou a marca dos 12 milhões de reais em multas aplicadas desde o início de suas atividades no município. Até o momento, foram lavrados 55 Autos de Infração, sendo um de advertência e os demais 54 multas, totalizando R$ 12,6, além dos 10 Termos de Embargo e 26 Termos de Apreensões e/ou Depósito realizados. As equipes vistoriaram 20 empresas no município, resultando no embargo das atividades de quatro serrarias e uma carvoaria. A operação também vistoriou sete polígonos de desmatamentos, embargando as atividades em 1288 hectares onde a floresta foi devastada, visando a sua regeneração natural. Foram apreendidos até o momento 6.747,123 m3 de madeira em toras, 1168,63 m3 de madeira serrada, 105 metros de carvão, 130 estéreo de lenha, dois caminhões, uma máquina carregadeira e duas motosserras.

A Arco de Fogo é uma ação integrada de forças federais para combater o desmatamento da Amazônia e a cadeia do comércio de madeira ilegal. No Pará, recebe apoio do Governo de estado do Pará, por meio da Secretaria do Meio Ambiente. A ação não tem data para terminar.

Fonte: Ibama

Tese discute o valor do conhecimento tradicional para a ciência

Tiago Araújo

O reconhecimento do saber das populações tradicionais pelo meio científico ainda é um tabu. Um pesquisador vai a campo, realiza seu trabalho e publica sua pesquisa. A pessoa que o guiou na tarefa, conhecida pelos pesquisadores como "guia de campo" , tem direito de ser creditado na pesquisa científica como um dos autores?

A polêmica questão fez parte de uma série de perguntas feitas a diversos cientistas por Graça Ferraz, chefe da Coordenação de Planejamento e Acompanhamento (CPA) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT) e pesquisadora de Ciências Sociais. A questão envolvendo a valorização do conhecimento tradicional dos ribeirinhos foi o tema de sua tese de doutorado intitulada "Cientistas, visitantes e guias nativos na construção das representações de ciência e paisagem na Floresta Nacional de Caxiuanã", defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Graça Ferraz concentrou seu trabalho nas comunidades que vivem no entorno da Estação Científica Ferreira Penna (ECFPn), bem como nos pesquisadores que utilizam a estrutura da Estação, localizada na Floresta Nacional de Caxiuanã. "Trabalho com as comunidades que vivem no entorno da ECFPn desde 1996, e sempre me chamou a atenção o modo como elas tratam o conhecimento. Diferente de nós, pesquisadores, os conhecimentos dos ribeirinhos são algo comum e natural para eles, adquirido e repassado de pai para filho", explica Graça.
Para desenvolver seu trabalho, ela fez uma série de entrevistas com todos os guias de campo da Estação, moradores das comunidades próximas e pesquisadores que trabalham na ECFPn, inclusive alguns estrangeiros. Graça obteve relatos diversos acerca de conhecimento científico e tradicional.

Segundo ela, "o objetivo principal do trabalho era mostrar o quão importante é o conhecimento tradicional para as pesquisas científicas, dar visibilidade para essas pessoas". Graça conta que alguns pesquisadores reconheceram, por exemplo, "que se não tivessem a ajuda de um guia de campo, suas pesquisas poderiam levar meses ou anos a mais para serem concluídas. O ribeirinho conhece o melhor local para coletar um espécime ou instalar um equipamento, por exemplo". Ao serem perguntados se dividiriam a co-autoria de um trabalho científico com os guias de campo, alguns pesquisadores ficaram perplexos", diz Graça.
"O guia de campo não é visto como participante ativo na produção da ciência. Apesar de reconhecido por todos, o saber tradicional é colocado numa outra instância, menos qualificada", explica. Mas ela ressalta que não reconhecer o papel dos guias nativos não se constitui discriminação por parte dos pesquisadores. "Não se trata de algo consciente. O fato é que nós, pesquisadores, passamos por uma série de etapas - como provas, defesas de trabalhos, artigos publicados e outros - para oficializar o conhecimento que adquirimos. Acabamos, portanto, por valorizar o conhecimento que atravessa essas etapas e esquecemos que existem outras formas de conhecimento, como o adquirido pelos guias de campo".

Na opinião da pesquisadora, "a aquisição do conhecimento tradicional é histórica e processual, por isso, este não pode ser inventariado, mas a experiência em que se baseia, fundamental para produzir a ciência do lugar e no lugar, não pode ser adquirida em curto prazo". É essa perspectiva, acredita ela, "contribui para o entendimento da imprescindível colaboração dos nativos". Em seu trabalho, Graça concluiu que os moradores do entorno da Estação, incluídos os guias de campo, esperavam mais do conhecimento produzido na ECFPn, no sentido de mudar algo em suas vidas. Ela concluiu também que os pesquisadores vêem o guia de campo apenas como um instrumento para alcançar seus objetivos de forma rápida e segura.

Para ela, "o ideal seria o Museu Goeldi aproveitar o diferencial da ECFPn, uma base científica em plena floresta, em favor de suas pesquisas e reconhecer a importância do conhecimento adquirido pelos guias de campo, que disponibilizam tudo o que sabem a determinado pesquisador. Ele deve ter o seu trabalho reconhecido ao final de uma pesquisa, pois é um importante componente para o avanço do conhecimento".
Como solucionar a questão do reconhecimento do papel dos guias nativos? "Isso ainda fica em aberto," admite Graça em sua tese.

Fonte: Agência Museu Goeldi

Saiba como eliminar focos e evitar a picada do 'Aedes aegypti'

As larvas do mosquito têm fotofobia: ao iluminar o recipiente, elas se acumulam nos cantos mais escuros

Os dados científicos sobre as principais características e o comportamento do Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue, são fundamentais para orientar a população sobre a eliminação dos focos de reprodução do vetor e para buscar alternativas para evitar a picada do mosquito. Abaixo, algumas informações relevantes apontadas pela ciência e também dados de recentes pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, que há mais de 10 anos se dedica à investigação do Aedes.

É fácil reconhecer as larvas: elas fogem da luz

O A. aegypti adulto é fácil de reconhecer: as listras brancas nas patas são visíveis sem dificuldades. Outra informação importante é que o mosquito tem fotofobia (ou seja: ele tem grande aversão a luz). As larvas do A. aegypti fogem da luz, diferentemente das larvas de outros mosquitos urbanos. Por isso, quando a pessoa está em dúvida se a larva que foi encontrada é de A. aegypti ou não, uma saída eficiente é usar uma lanterna para iluminar as larvas, ou produzir sombra sobre a água em que há larvas junto à superfície em local claro. Se elas fugirem, fica confirmado que é A. aegypti. O mosquito adulto também tem esta característica e é muito arisco, se desloca com muita velocidade.

O mosquito está dentro de casa: embaixo da mesa e atrás da cortina são os lugares favoritos
O A. aegypti é doméstico: ele vive dentro da casa das pessoas ou dos ambientes de trabalho. Ele não vive em locais de mata fechada, diferentemente de outros mosquitos silvestres. Dentro do ambiente doméstico, os mosquitos adultos foram encontrados com freqüência em lugares como atrás de cortinas, em nichos de estantes e embaixo de mesas.

Eliminação de criadouros: pelo menos uma vez por semana trocar a água e esfregar as paredes de recipientes

Eliminar focos de água parada é fácil: desobstruir calhas, eliminar lixo a céu aberto que possa acumular água, virar garrafas com a boca para baixo são medidas que qualquer um pode e deve fazer todos os dias. Mas o que fazer com caixas d’água, tonéis e pratinhos de plantas, que não podem ser simplesmente eliminados, mas que são muito mais importantes que estes outros? Primeiro, as caixas d’água e tonéis devem ser vedados (não apenas tampados, mas totalmente vedados, já que o A. aegypti consegue entrar mesmo em frestas muito pequenas e depositar seus ovos).
Para os pratinhos dos vasos de plantas e qualquer outro reservatório de água que não possa ser eliminado, o importante é trocar a água e lavar bem as paredes do recipiente, no mínimo uma vez por semana. É fácil entender o porquê: os ovos não são depositados sobre a superfície da água, mas nas áreas úmidas da parede do depósito, junto à superfície da água. Eles ficam, por exemplo, grudados nas paredes dos vasos de plantas ou das caixas d’água. Por isso, é indispensável limpar as paredes onde os ovos podem estar grudados. Para saber de quanto em quanto tempo é preciso realizar a limpeza também é fácil: desde a eclosão do ovo (quando ele rompe para virar uma larva) até o surgimento de um mosquito adulto, são necessários cerca de dez dias. Esse desenvolvimento pode ser influenciado por diversos fatores, como quantidade de alimento disponível no criadouro, densidade da população de larvas e temperatura (o aumento da temperatura acelera o processo, o que é comum no Rio de Janeiro).

Por isso, se a troca da água acompanhada de lavagem for realizada uma vez por semana, mesmo que esteja muito quente, o tempo de ciclo de vida do mosquito será sempre interrompido. Uma dica é definir um dia na semana para realizar a troca de água e a lavagem dos reservatórios de água que não podem ser eliminados. Fixar este compromisso semanal com a saúde torna mais fácil lembrar do combate à dengue.
Caixas d’água e tonéis são os criadouros que geram maior número de mosquitos: o importante é vedar completamente
Pesquisas realizadas pelo IOC em diversos bairros do Rio de Janeiro mostram que os grandes reservatórios, como caixas d’água e tonéis, são os criadouros que geram maior número de mosquitos. Por isso, é fundamental vedar totalmente esses focos – sem descuidar dos pratinhos de planta, calhas e outros recipientes menores que podem acumular água.
O que fazer com as bromélias?
Estudos do IOC analisaram mais de 30 mil larvas e pupas no Rio de Janeiro. Apenas 0,48% deste total estavam presentes em bromélias. Isso indica que elas não são bons criadouros do A. aepypti. Mas todo cuidado é pouco: a recomendação é trocar a água que fica empoçada dentro das bromélias no mínimo uma vez por semana. Assim, se houver larvas ali, elas serão eliminadas antes de se transformar em mosquitos adultos.
Cuidado o ano inteiro: o ovo do A. aegypti sobrevive até 1 ano
Na natureza, dos ovos do A. aegypti podem sobreviver até um ano fora da água. Esta sobrevivência é maior quanto maior for a umidade relativa do ar. Por isso, é muito importante eliminar os focos da dengue o ano inteiro.

Brasil quer negociação global para efeito estufa em ambiente marinho

Grace Perpétuo

Na 57ª reunião do Comitê de Proteção do Ambiente Marinho da Organização Marítima Internacional (IMO), realizada em Londres entre os dias 31 de março e 4 abril, o Brasil enfrentou forte pressão dos países europeus ao defender uma negociação global, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima (UNFCCC), da questão da emissão dos gases de efeito estufa. A posição brasileira foi reiterada pela delegação do Ministério do Meio Ambiente diante de uma proposta na qual Dinamarca, Ilhas Marshall e algumas entidades marítimas defendiam que a IMO deveria ser o único ente a regular as emissões de gases de efeito estufa resultantes da navegação - acima até mesmo da UNFCCC.

Os grandes países do mundo em desenvolvimento - entre eles a China, a Índia, a Arábia Saudita, a África do Sul e a Venezuela - endossaram o posicionamento do Brasil. "Para nós, ambientalistas, qualquer restrição à emissão desses gases é muito bem-vinda, mas estamos em uma negociação brasileira muito mais ampla, que abarca todos os setores", diz o diretor do Departamento de Qualidade Ambiental na Indústria do Ministério do Meio Ambiente, Rudolf de Noronha, que participou da reunião. "É inegável que a IMO, por ser a agência especializada da Organização das Nações Unidas em navegação, detém toda a experiência e o conhecimento técnico sobre o assunto, mas não endossamos negociações setoriais", reitera.

No âmbito da UNFCCC, os países do Anexo 1 - os desenvolvidos - têm obrigações comuns, mas diferenciadas. Na proposta da Dinamarca e das Ilhas Marshall, ao contrário, a IMO estabeleceria para a navegação obrigações comuns para todos os países. "Ou seja: um navio, não importa de onde venha, só poderá emitir uma quantidade definida de gases de efeito estufa", diz Rudolf. A polêmica discussão será aprofundada em uma reunião em Oslo, na Noruega, entre os dias 23 e 27 de junho, já sobre um termo de referência preparado em Londres. "Na verdade, tudo leva a crer que esse assunto vá ficar na IMO a menos que haja a interferência de uma instância muito superior de negociação dentro da Convenção", diz Ademilson Zamboni, gerente de Qualidade Costeira e do Ar do MMA, que também participou da reunião. "Estaremos representados em Oslo, e vamos exigir que a posição dos países em desenvolvimento seja respeitada".

Pauta

A 57ª reunião do Comitê de Proteção do Ambiente Marinho da IMO abordou também outros assuntos "extremamente relevantes para o Ministério do Meio Ambiente", segundo Rudolf de Noronha. "Em primeiro lugar, ficou definido um cronograma estipulando novos limites para a redução de emissões de enxofre e de nitrogênio pela navegação", diz o diretor. "Trata-se de uma grande vitória, de um novo protocolo - pois, na navegação, tudo se torna global".
A reunião discutiu também diretrizes internacionais relativas aos seguintes temas: organismos aquáticos exóticos na água de lastro (que, utilizada em navios de carga como contrapeso, acaba por transportar e disseminar espécies de uma parte do mundo a outra); sistemas antiincrustantes, muito tóxicos, usados em navios; reciclagem de navios; dispersantes empregados em casos de derramamento de óleos no mar; e identificação e proteção de Áreas Especiais e de Áreas Particularmente Sensíveis no mundo. Estabelecidas pela IMO, essas são áreas litorâneas e marinhas especialmente suscetíveis a acidentes e que apresentam biomas cuja preservação é prioritária. Esse último tema é de especial interesse para o MMA, que inicia agora o debate acerca de potenciais Áreas Particularmente Sensíveis no Brasil.

Fonte: MMA

Integração e participação


Fábio de Castro

Pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) acabam de lançar o livro Promoção da Saúde e Gestão Local, cujo objetivo é divulgar estudos relacionados à gestão pública na área de saúde, numa perspectiva integrada e participativa. A obra toma como referência a iniciativa Cidades Sustentáveis, fomentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O livro, que divulga seis estudos realizados por pesquisadores do Centro de Pesquisas e Documentação em Cidades Saudáveis (Cepedoc) da FSP, foi organizado pela professora da Faculdade de Medicina de Jundiaí Rosilda Mendes e pelo sociólogo Juan Carlos Aneiros Fernandez, doutorando da FSP. Ambos são pesquisadores do Cepedoc. “O Cepedoc atua em vários projetos de pesquisa e intervenção, promovendo processos que viabilizem políticas públicas participativas integradas e a formação de lideranças visando à eqüidade e qualidade de vida. O livro reúne temas trabalhados pelo centro no decorrer dos últimos anos”, disse Fernandez à Agência FAPESP.

De acordo com ele, os pesquisadores contribuíram com o livro a partir de pesquisas específicas feitas em cada uma das linhas abordadas pelo Cepedoc, traçando um amplo panorama em torno do eixo da gestão na cidade. “Poucos trabalhos enfocam a cidade na promoção da saúde. A maioria tem foco em doenças, sistemas de saúde, unidades de saúde ou serviços de saúde. Nós procuramos abordar, sempre pensando na cidade, o desenvolvimento dos serviços de saúde voltados para a melhora da qualidade de vida, além de tratar das formas pelas quais gestores e cidadãos podem participar desse processo”, afirmou.

Fernandez afirma que a proposta que está por trás do livro – e que é a origem do centro – é a inciativa Cidades Saudáveis, uma agenda lançada pela OMS que tem como pressuposto a gestão integrada de políticas de cultura, saúde e educação. “O eixo central do trabalho é a participação social e a gestão participativa voltadas para a busca de eqüidade e diminuição das desigualdades existentes, construindo propostas de gestão que sejam sustentáveis do ponto de vista ambiental e político – isto é, que ultrapassem as mudanças partidárias ao longo do tempo, configurando uma política de Estado”, declarou.

Segundo Rosilda, o livro é resultado de um trabalho coletivo de muitos anos. “Ele traz uma visão geral da construção das nossas ações. Os capítulos todos se conectam, já que estamos tratando da promoção da saúde e de qualidade de vida nas cidades”, disse. A pesquisadora afirma que a obra era uma demanda dos profissionais da saúde e gestores locais que vivem em suas experiências cotidianas os problemas presentes nas cidades. “A idéia é que o livro vá potencializar essas discussões, incentivando uma abordagem integrada das políticas públicas. O ponto fundamental é fazer a conexão entre todas as abordagens diferentes da saúde na cidade”, afirmou Rosilda.

O público-alvo são gestores e estudantes do tema, de acordo com a pesquisadora. “Isso está conectado com uma proposta mais ampla: vamos fazer agora uma plataforma para um curso de promoção da saúde para gestores municipais do país todo. O livro é uma base de dados para aprofundarmos a quesão da cidade, contribundo para a pesquisa no setor”, disse. A obra reúne seis pesquisas: “Promoção da saúde e qualidade de vida”, “Gestão local e políticas públicas para a qualidade de vida”, “Participação social e cidadania em movimentos por cidades saudáveis”, “Intersetorialidade: reflexões e práticas”, “Território: potencialidades na construção de sujeitos” e “Descentralização: cálculo e axioma”.

  • Promoção da Saúde e Gestão Local
  • Organizadores: Juan Carlos Aneiros Fernandez e Rosilda Mendes.
  • Preço: R$ 18
Fonte: Agência Fapesp

segunda-feira, 28 de abril de 2008

DE VOLTA AO BATENTE!!!

OLÁ AMIGOS

Gostaria primeiramente de agradecer a todos que apesar dos atrasos continuaram ou descobriram o blog. Estava em período de entrega de dissertação de mestrado e por isso deixei de publicar por algum tempo as notícias. Mas agora depois de tudo acertado e aprovado espero poder continuar a postar o que há de melhor em informação ambiental tanto aqui quanto na Rebia. Também queria solicitar que as pessoas que comentarem os pots deixem seus e-mails para que possamos manter contato.

Abraços e obrigado.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Exploração de mogno no Brasil é exemplo para Cites

O Brasil é um dos três países que podem comercializar mogno, conforme decisão da Cites - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Silvestres da Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção, realizada na semana passada, em Genebra, na Suíça. Na 17° reunião da Cites, o mogno (Swietenia macrophylla) entrou na categoria punitiva de “comércio significativo”, isso quer dizer que sua comercialização está impedida nos países onde a espécie ocorre, até a comprovação de que a comercialização respeita as diretrizes para exploração sustentável. Brasil, Guatemala e México foram exceção.

O diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas, Antonio Carlos Hummel, atribuiu a exclusão do Brasil da lista de restrição da Cites ao trabalho de ordenação do mogno. “O Brasil saiu, a partir de 2003, de um a posição de grande ilegalidade na exploração dessa espécie, com falta de controle, impasses judiciais e proibições descumpridas, para um estágio de reconhecimento internacional das boas práticas de manejo e florestal do mogno no país”. Para o coordenador-geral de Autorização do Uso da Flora e Florestas, José Humberto Chaves, representante do Ibama na reunião, o caso do mogno é emblemático e reforça a necessidade de o país continuar seu esforço de ordenamento da exploração e comércio de espécies madeireiras ameaçadas e, assim, permanecer como exemplo para os outros países.

O trabalho deve ser estendido ao pau-brasil (Caesalpinia echinata), incluído na Cites no ano passado, e ao cedro rosa (Cedrela odorata), que poderá no futuro entrar para o Anexo II da CITES, a exemplo do mogno e pau-brasil. “Precisamos estudar melhor o cedro, conhecer sua ecologia e avaliar a pressão que o comércio internacional exerce sobre a espécie, que passou a ser alvo um do mercado a partir das restrições impostas ao mogno. Com o mogno no comércio significativo, essa pressão pode ser ainda maior”, avalia Chaves. A coordenadora de Proteção e Conservação Florestal, Cláudia Mello, que também participou da reunião em Genebra, avalia o motivo de a restrição não afetar o Brasil: “nos últimos anos, ordenamos a exploração do mogno, revisamos todo o marco legal para exploração da espécie e desenvolvemos um sistema de controle do transporte e comercialização”.

Fonte: Ibama

General Augusto Heleno será convidado a debater política indigenista e defesa da Amazônia

A subcomissão temporária criada pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) para acompanhar a crise ambiental da Amazônia aprovou requerimento de convite ao comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, para que compareça ao colegiado a fim de discutir a política indigenista do Brasil e a defesa da Amazônia.

O convite ao general Augusto Heleno será feito por intermédio do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Também serão convidados o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira; o procurador da República em Rondônia Reginaldo Trindade e o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Bazileu Alves Margarido Neto. A proposta da audiência pública é do senador Expedito Júnior (PR-RO). O nome do procurador Reginaldo Trindade foi acrescentado por sugestão do presidente da subcomissão, senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), para que seja discutida matéria publicada na revista Veja sobre exploração de madeira em reserva indígena de Rondônia. A razão do convite ao presidente do Ibama é a mesma.

O vice-presidente da subcomissão, senador Sibá Machado (PT-AC), discordou da proposta para realização da audiência pública. Ele argumentou que a subcomissão foi criada para discutir a operação Arco de Fogo e não a política indigenista ou o roubo de recursos das reservas indígenas, como minerais e madeira. Sibá disse que o general já foi convidado para expressar sua posição na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).

Os senadores Jayme Campos (DEM-MT) e Gilberto Goellner (DEM-MT) aliaram-se aos senadores Flexa Ribeiro e Expedito Júnior, argumentando que a política indigenista e a exploração de madeira nas reservas indígenas são assuntos da subcomissão e por isso devem ser debatidos.

Fonte: Agência Senado

Secretária destaca papel das ciências da Terra no debate sobre mudanças do clima

Lucia Leão

A secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Thelma Krug, destacou nesta quarta-feira (23) o papel das ciências da Terra no enfrentamento das mudanças climáticas, seja para reduzir as interferências antrópicas que agravam o problema ou nas linhas de atuação voltada à adaptação das comunidades que sofrem com os efeitos dessas mudanças. A secretária representou a ministra Marina Silva na solenidade de lançamento regional do Ano Internacional do Planeta Terra para a América Latina e o Caribe, realizada no Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados.

Diante de uma platéia formada principalmente por parlamentares e representantes da comunidade científica nacional e internacional, Thelma Krug disse que a discussão sobre as mudanças climáticas no âmbito do Congresso Nacional é especialmente oportuna neste momento, quando o governo finaliza a proposta da Política Nacional de Mudanças Climáticas, que em breve será enviada ao Legislativo. "A política será um dos alicerces do Plano Nacional de Mudanças Climáticas e traçará um norte seguro para ações concretas e os esforços que o Brasil fará, de forma voluntária, em todos as áreas temáticas, quer seja no setor de energia, de agricultura ou do uso da terra para evitar as interferências perigosas do homem no sistema climático".

Fonte: MMA

Livro reúne informações essenciais

O desenvolvimento de biofármacos a partir de moléculas compostas por proteínas complexas, obtidas com o cultivo de células animais, é uma área que vem passando por um boom nas últimas décadas. Esta técnica de cultivo, que já é utilizada com êxito na produção de vacinas e proteínas terapêuticas, começa a estender-se para outros campos, como de transplantes de órgãos, terapias celulares e gênicas, toxicologia e fisiologia in vitro, produção de biopesticidas, dispositivos bioeletromecânicos e nanobiotecnologia.

O tema é abordado em praticamente todos os seus aspectos no livro Animal cell technology: from biopharmaceuticals to gene therapy (Tecnologia de cultivo de células animais: de biofármacos a terapia gênica), da Editora Taylor & Francis, que terá a edição em português lançada em breve pela Editora Roca. “O livro traz 21 capítulos, assinados por 43 autores de nove países, em mais de 500 páginas”, afirma Ângela Maria Moraes, professora da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp e uma das organizadoras da obra.


O professor Octavio Ramírez, da Universidade Nacional Autônoma do México, informa no prefácio que dentre os mais de 500 produtos biofarmacêuticos que se encontram atualmente em testes clínicos, cerca de metade é produzida com o cultivo de células animais. Segundo ele, os biofármacos obtidos por meio desta tecnologia representam um mercado de dezenas de bilhões de dólares anuais e que cresce acentuadamente. “O livro é dividido em duas partes, uma de fundamentos e outra voltada para aplicações do cultivo de células animais”, explica Ângela Moraes. Os 21 capítulos estão relacionados com os aspectos biológicos mais relevantes – clonagem e expressão de proteínas heterólogas, crescimento e morte celular, meios de cultura e metabolismo – e também com aspectos tecnológicos e de engenharia – projeto, operação, monitoramento e controle de biorreatores, além de separação de células e da purificação dos produtos.

De acordo com a professora da FEQ, o livro registra inicialmente os marcos no cultivo de células animais, que buscam a produção em maior escala de biofármacos. “O próprio desenvolvimento de frascos especiais para o cultivo destas células, com tampas que facilitam a oxigenação e em formatos adequados para favorecer a adesão celular e o armazenamento em estufa, já representa um marco”. Outro marco, na opinião de Ângela Moraes, foi a introdução de antibióticos no meio de cultura, em meados do século passado, a fim de contornar problemas com a contaminação microbiana. “Uma célula animal leva em média 24 horas para se duplicar, enquanto uma bactéria pode fazê-lo em 20 minutos, dominando o sistema.”

Depois de detalhar as características das células animais em cultura e de comparar seu cultivo com o de microorganismos, os autores tratam da clonagem de células animais para a produção de proteínas heterólogas. “São apresentadas metodologias para modificar geneticamente as células para obter uma proteína de interesse. É descrito ainda como isolar uma célula ou como buscar aquelas de interesse no meio da população modificada”.

Hibridomas

O livro detalha os fundamentos da tecnologia de hibridomas, produtos da fusão in vitro de mielomas com linfócitos B normais. “Um linfócito produtor de um anticorpo de interesse, por exemplo, não é capaz de se propagar in vitro, enquanto que mielomas podem ser cultivados indefinidamente. O hibridoma junta as características positivas de ambos: se reproduz inúmeras vezes e pode fornecer ‘eternamente’ a molécula desejada”.

Há um capítulo inteiramente dedicado à formulação de meios de cultura para células animais, com destaque para aqueles livres de soro animal. “Com o advento da doença da ‘vaca louca’ e a transferência de outros contaminantes, como vírus, juntamente com esse tipo de soro, as agências reguladoras passaram a requerer meios de cultura mais definidos quimicamente e livres de componentes de origem animal”. O livro descreve o mecanismo de proliferação das células in vitro, com atenção especial à morte celular, que precisa ocorrer o mais tardiamente possível, a fim de prolongar o período de produção. “Um capítulo que interessa particularmente aos engenheiros químicos é o de modelagem matemática do crescimento celular e da síntese de produtos”.

Purificação

As técnicas de purificação das proteínas, segundo Ângela Moraes, estão também entre as informações importantes na obra, pois muitas vezes se exige uma pureza de até 99,9% para proteínas terapêuticas. Além dos procedimentos relativos à purificação, o livro trata também de aspectos regulatórios, de controle de qualidade e validação.

A propriedade intelectual também é objeto do livro, visando principalmente aos pesquisadores da academia, por vezes mais preocupados em publicar os resultados de seu trabalho em revistas científicas do que em patentear os produtos. “Explicamos os requisitos de patenteabilidade e apontamos os caminhos, além de mostrar exemplos de invenções”. Ainda a esse respeito, a professora menciona as proteínas recombinantes e vacinas virais, dentre outros produtos, hoje disponíveis e que têm mercado assegurado. “Contamos a história do desenvolvimento de alguns deles, a sua comercialização atual e também informamos sobre patentes expiradas e prestes a vencer – o que permitiria produzi-las no Brasil.

Um exemplo é a eritropoetina, usada na terapia de anemia, que já motivou a Argentina a instalar uma planta para sua produção”.

Biopesticidas

Os biopesticidades têm seu espaço no livro. Ângela Moraes observa que ouvimos pouco sobre esses produtos, embora o Brasil seja um dos maiores usuários, sobretudo na cultura da soja. “Para controlar a lagarta da soja, que desfolha a plantação em pouco tempo, podem ser empregados baculovírus, comumente obtidos de lagartas infectadas”. A professora informa que o baculovírus é muito específico, inofensivo aos mamíferos e com baixa persistência no ambiente. No entanto, a falta de informação contribui para a predominância do pesticida químico, com seus conhecidos danos à saúde e à natureza. “O biopesticida infecta a lagarta, que adoece e demora alguns dias para morrer. Como o processo é mais lento, o agricultor por vezes questiona sua eficácia”.

A docente acrescenta que também falta ao país uma plataforma melhor definida de produção de baculovírus em larga escala, o que poderia ser feito pela infecção de células de insetos em cultura, em oposição ao uso de lagartas, aumentando a oferta de vírus. Os dois últimos capítulos do livro envolvem duas áreas altamente em voga em termos de aplicação: o cultivo de células tronco para utilização em várias terapias, em artigo assinado por especialistas de renome; e a terapia gênica, onde as possibilidades para o cultivo de células animais são comentadas por autores de igual nível. “O conhecimento nestas áreas ainda é limitado, mas o potencial desta tecnologia para esses dois tipos de terapia é espetacular”, assegura Ângela Moraes.

Edição em português atende pedido de alunos

Uma rede de pesquisadores brasileiros envolvidos com a cultivo de células animais começou a surgir há poucos anos, congregada em torno dos cursos de treinamento organizados pela professora Leda Castilho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2004, a docente organizou com o professor Ricardo Medronho, também da UFRJ, o I Seminário Latino-americano de Cultivos Celulares, que atraiu para a rede pesquisadores do exterior. Atuante na rede, a professora Ângela Moraes, juntamente com Leda Castilho e a pesquisadora Elisabeth Augusto, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), não teve dificuldade em atender ao pedido dos alunos da Unicamp, reunindo autores para produzir um livro mais completo sobre esta tecnologia, em português.

Esta edição primeira em inglês deve-se ao fato de a proposta do livro e seu conteúdo, que começou a ser produzido em português em 2004, ter sido comentada com o professor Michael Butler (da Universidade de Manitoba, Canadá), referência mundial no assunto. “Ele, que já constava como autor de um dos capítulos, achou a idéia excelente e ofereceu-se para ajudar a lançá-lo em inglês, fazendo a revisão dos textos e uma criteriosa análise de consistência dos capítulos. O professor veio ao Brasil, trabalhou no livro por cerca de um mês e acabou como co-autor de mais um capítulo”. O livro em português está em fase de verificação final das provas e será lançado até o meio do ano, estando destinado a graduandos, pós-graduandos e pesquisadores de engenharia de bioprocessos, engenharia química, farmácia, biologia, microbiologia, química, biomedicina e áreas afins. Os autores dos capítulos do livro em português são do Brasil, Argentina, Chile, Alemanha, Canadá, Cuba, Uruguai, Espanha e Portugal.

Fonte: Unicamp

Expedição descobre novos vertebrados no cerrado


Andressa Spata

Biólogos identificam 14 espécies desconhecidas em estação ecológica no Tocantins e na Bahia

O cerrado brasileiro acaba de ganhar 14 novas espécies de vertebrados, identificadas em expedição realizada na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, que abrange os estados do Tocantins e da Bahia. A descoberta, feita por pesquisadores de diversas instituições do Brasil, reforça a importância de se aprofundar o conhecimento sobre esse que é um dos biomas mais ameaçados do mundo e já apresenta 50% de sua área original devastada.

As espécies descobertas incluem oito peixes, três anfíbios, um mamífero, uma ave e um réptil. “Ainda não sabemos se esses animais só vivem naquela região específica ou se ocorrem em todo o cerrado”, diz o coordenador da expedição, o biólogo Cristiano Nogueira, do Programa Cerrado-Pantanal da ONG Conservação Internacional – Brasil (CI-Brasil). “Porém, estamos certos de que eles são endêmicos do bioma e, portanto, não existem em mais nenhum outro lugar do planeta”, completa. Um dos achados da expedição foi uma nova espécie de lagarto do gênero Bachia, bem adaptada aos solos arenosos. O pesquisador lembra que outras espécies do gênero também foram descritas recentemente no cerrado. Por ter seu hábitat progressivamente diminuído pela ocupação humana, esses animais já se encontram ameaçados.

Além das espécies inéditas, a equipe registrou a presença de outros animais ameaçados de extinção, como a arara-azul-grande e o tatu-bola. “A preservação da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins é de extrema importância”, avalia o biólogo. “Sem ela, essas espécies já poderiam ter sido extintas.” A expedição durou quase um mês e mobilizou 26 pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Federal de São Carlos (UFSCar), Federal do Tocantins (UFT) e da ONG CI-Brasil. Nogueira explica que, com os dados coletados e um maior aprofundamento das pesquisas, será possível definir com mais precisão o grau de ameaça a esses animais e mapear ambientes únicos e frágeis na região, com o objetivo de preservá-los de forma mais eficiente.

Fonte: Ciência Hoje

Dengue põe em evidência pesquisas realizadas no Rio de Janeiro

Vinicius Zepeda

A nova epidemia de dengue, que atingiu o Rio ao longo das últimas semanas, trouxe visibilidade para diversos estudos que visam ao combate à doença e que vêm sendo realizados em instituições de ensino e pesquisa fluminense. Pelo menos três deles, que ganharam a mídia recentemente, receberam apoio da FAPERJ, direta ou indiretamente. Na Uerj uma equipe coordenada pelo médico Antônio Cláudio Mendes-Ribeiro anunciou uma descoberta mundial a respeito dos sangramentos decorrentes da doença. Já no Instituto de Microbiologia da UFRJ, Maulori Currié Cabral apresentou uma armadilha simples e artesanal para prevenir a incidência de novos focos. Além disso, uma equipe da Coppe/UFRJ, em parceria com pesquisadores de outras duas instituições, desenvolveu um sistema de softwares computacionais para agilizar a prevenção e o controle da doença.

Na Uerj, uma equipe de pesquisadores, coordenada pelo médico e professor Antônio Cláudio Mendes-Ribeiro, do Laboratório de Transporte de Membranas (LTM) do Departamento de Farmacologia e Psicobiologia, acaba de concluir um artigo em fase de publicação em uma revista internacional, com o apoio do edital Pesquisa para o SUS, da FAPERJ, e também com bolsas da Fundação ligadas ao Programa de pós-graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental (Fisclinex), o estudo A via L-arginina – óxido nítrico, sangramento e dengue. “Nossa pesquisa demonstrou pela primeira vez no mundo, que em pacientes com dengue clássica (não–hemorrágica), suas plaquetas têm um transporte aumentado do aminoácido L-arginina, substrato da síntese do óxido nítrico, que é um potente vasodilatador e anti-agregante plaquetário”, explica Mendes-Ribeiro. “Desta forma, não somente na dengue hemorrágica, mas em qualquer que seja seu tipo, as plaquetas têm sua função diminuída. Com esta diminuição, os pacientes ficam mais sujeitos a hemorragia ou sangramento”, acrescenta.

A descoberta realizada pelos pesquisadores do LTM/Uerj resultou na publicação de um artigo que já está no prelo de uma revista internacional. Para o desenvolvimento da pesquisa, a equipe coordenada por Mendes-Ribeiro estudou 16 pacientes em Hospitais da Zona Oeste do Rio, entre 2005 e 2006. “Agora vamos propor novas formas de combate à desagregação plaquetária. Inibir a entrada da L-arginina, desativando a ação do óxido nítrico dentro da plaqueta, é uma das possibilidades”, afirma o pesquisador. Atualmente os pesquisadores do LTM já estão terminando um novo estudo, desta vez com 20 pacientes com dengue hemorrágica. “Neste outro trabalho, constatamos que o uso indiscriminado do medicamento paracetamol pode estar associado ao aumento da mortalidade da doença. Apesar de este remédio não inibir a função plaquetária, ele causa efeitos colaterais no fígado, onde a dengue é tóxica. Para quem consome bebidas alcoólicas então, o risco é maior ainda”, explica. “Portanto, além de combater os focos do mosquito é essencial que a pessoa com suspeita de dengue procure os postos ou tendas de saúde para receber o tratamento adequado, em vez de se automedicar”, conclui.
Garrafa PET, tesoura, alpiste, microtule e fita isolante criam armadilha para mosquito

Dengue põe em evidência pesquisas realizadas no Rio de Janeiro

Uma armadilha simples e eficaz para eliminar mosquitos e em particular os da espécie Aedes aegypti, transmissores da dengue no ambiente urbano; a “mosquitérica” tornou célebre o Prof Maulori Curié Cabral, do Departamento de Virologia do Instituto de Microbiologia da UFRJ. Feita de garrafa plástica (PET), fita isolante, lixa, tesoura e um pedaço de tecido chamado microtule (tecido do véu de noiva com a trama de no máximo 1 mm de diâmetro), grãos de alpiste, arroz ou de ração para gatos triturada, a armadilha já foi apresentada em programas de TV e jornais de todo o país, e sua confecção tem sido ensinada em escolas públicas e privadas do estado, como motivação educacional para prevenção de doenças transmitidas por mosquitos. Graças ao apoio do edital Apoio à Melhoria do Ensino nas Escolas Públicas do Estado do RJ, da FAPERJ, o artefato está sendo ensinado a estudantes dos municípios de Saquarema, Volta Redonda, Três Rios, entre outros.

Para construir a mosquitérica corta-se a garrafa PET na altura em que ela começa a afunilar. Depois do corte formam-se duas peças: o copo e o funil. Lixa-se a parte interna do funil. Tira-se a argola que lacra a tampa da garrafa. Cobre-se a boca da garrafa com um pedaço do microtule e usa-se a argola como presilha do microtule. Tritura-se uma pequena quantidade de arroz ou alpiste (4 ou 5 grãos) ou um grão de ração felina. Usa-se um desses materiais como fonte de alimento para o desenvolvimento das larvas, colocando-o no fundo do copo, junto com água. Tampa-se o copo com a boca do funil para baixo. Veda-se, com a fita isolante, a parte externa do funil com a borda do copo (clique e confira passo a passo para construir a mosquitérica – PDF).

É importante manter sempre a água num nível acima da boca da garrafa (onde se encontra o pedaço de microtule) e marcar esse nível com um pequeno pedaço de fita isolante. A água com o alimento (arroz, alpiste ou ração) atrai a fêmea do mosquito. Em poucos dias, se no ambiente em volta houver o vetor, os ovos e as larvas aparecerão no recipiente. “Para saber se a larva é realmente do mosquito da dengue, pode-se apontar uma lanterna acesa para a base da garrafa. Se as larvas fugirem da luminosidade (se movimentando em direção à superfície), é um sinal de que se trata do Aedes aegypti” explica Cabral.

O pesquisador lembra que a mosquitérica não deve ser mantida em local exposto ao sol, pois isso anula sua atratividade aos A. aegypti. “O nível da água deve estar sempre próximo da marca. Por isso, é preciso enchê-la sempre, pois a água evapora e seu nível diminui”, afirma. Maulori Cabral chama a atenção para o fato de que a “mosquitérica” não substitui o trabalho de prevenção contra focos dos mosquitos. Seu objetivo é indicar se há, na vizinhança, alguém mantendo os criadouros de mosquitos da dengue. Além disso, pode servir para prevenir a infestação por focos de outros tipos de mosquitos e muriçocas.

Segundo Maulori Cabral, em 2007 escolas municipais e privadas de Saquarema confeccionaram sete mil mosquitéricas. Já nesta semana, as escolas de Volta Redonda produzirão, juntas, um total de 16 mil dessas armadilhas. A equipe que colabora com Cabral conta ainda com pesquisadores da UFRJ, Fiocruz (Fundação Instituto Oswaldo Cruz) e UFF (Universidade Federal Fluminense). Eles visitam escolas e cidades orientando a população sobre formas de prevenir a doença. No último dia 5 de abril, estiveram na Ilha de Paquetá. “Por ser um ambiente fechado, esperamos que a população daqui transforme este local no modelo experimental de prevenção para todo o país”, prevê Cabral. Para atender a solicitações para apresentações e esclarecer dúvidas, o Instituto de Microbiologia da UFRJ oferece ainda o Disque-Dengue, com dois telefones: 2560-6698 e 2560-8344 ramal 163, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.

Em parceria com Uece e Universidade de Avignon, Coppe/UFRJ desenvolve softwares
Uma equipe da Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia) desenvolveu, em parceria com pesquisadores da Uece (Universidade Estadual do Ceará) e da Université de Avignon, França, um conjunto de softwares computacionais para a prevenção e controle da dengue. Segundo seus criadores, o sistema, testado com bom resultado em Fortaleza, permitirá aos gestores de saúde visualizar, de uma única vez e de forma imediata, as diversas dimensões do problema como controle de focos, casos de infecções e logística dos agentes.

O novo sistema é composto de cinco softwares. O primeiro é GeogRAPHVS, voltado para a produção e edição paralela georeferenciada de mapas urbanos. O segundo é o Gestor, voltado par a gestão de planejamento e distribuição de agentes de saúde. O terceiro é o Supervisor, voltado para a supervisão e distribuição de tarefas, transferência de dados coletados em campo por meio da internet. O quarto é o Palm Agent, que monitora por meio de um GPS, a localização dos agentes de saúde. O quinto e último é o Webdengue, um sistema georeferenciado para ser usado via internet, permitindo a visualização e notificação de casos de infecção e focos da doença em tempo real.

Envolvido no projeto, o professor da Coppe/UFRJ Adilson Elias Xavier, afirma que com o novo sistema será possível, em pouco tempo, fazer o cruzamento das informações, analisar os locais infestados e os casos da doença. “Neste ambiente, múltiplas cidades podem ser acompanhadas, dia-a-dia, basta que se tenha os mapas digitais”, conclui Adilson.Clique e confira passo a passo para construir a mosquitérica (doc. em PDF)

Fonte: Agência Faperj

Equilíbrio natural

Poluição verde? As florestas tropicais liberam enormes quantidades de hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos voláteis, que têm papel importante para atrair insetos polinizadores e repelir herbívoros. Entretanto, esses compostos são os mesmos que dominam as emissões globais de gases danosos à camada de ozônio.

O segundo fato foi suficiente para levar pesquisadores a apontar uma possível influência negativa das florestas no aquecimento global. Alguns modelos indicaram que as emissões de isopreno – principal composto volátil emitido pelas florestas – poderiam se sobrepor à capacidade dos oxidantes atmosféricos de remover gases estufa, como o metano, ou tóxicos, como o monóxido de carbono.

Um novo estudo, publicado na edição desta quinta-feira (10/4) da revista Nature, aponta o contrário. Feito por pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, o trabalho destaca que a quantidade de isopreno emitida pelos ecossistemas terrestres em atmosferas não poluídas causa muito menos danos do que se imaginava. Os cientistas sobrevoaram por diversas vezes a Floresta Amazônica, sobre o Suriname e as Guianas, para medir as emissões. Valores também foram obtidos sobre o Oceano Atlântico. “Os dados revelaram, inesperadamente, concentrações elevadas de radicais hidroxila [formados pela quebra do ozônio pela radiação ultravioleta]. Acreditamos que a oxidação natural dos compostos orgânicos voláteis, principalmente do isopreno, recicla os radicais hidroxila eficientemente em óxidos de nitrogênio por meio de reações de peróxidos orgânicos”, destacaram.

Se as quantidades de emissões de hidrocarbonos e compostos orgânicos voláteis fossem realmente prejudiciais, segundo os autores, as concentrações de radicais hidroxila deveriam ser menores, uma vez que elas estariam sendo destruídas por meio da reação com as emissões voláteis. Segundo os cientistas alemães, a oxidação natural dos compostos biogênicos da floresta faz com que os radicais sejam reciclados. “Embora sejam necessários mais estudos laboratoriais para explorar em mais detalhes os mecanismos químicos responsáveis para a reciclagem dos radicais hidroxila, nossos resultados demonstram que a biosfera mantém um equilíbrio notável com o ambiente atmosférico”, afirmaram.

O artigo Atmospheric oxidation capacity sustained by a tropical forest, de Jos Lelieveld e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Fonte: Agência Fapesp

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ministro descarta vantagem na renegociação com produtor que adotar práticas sustentáveis

Luana Lourenço

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o deputado André de Paula (DEM-PE) e o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, participam da audiência pública que discute o desmatamento na Amazônia Brasília - O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, descartou hoje (9) a possibilidade de conceder vantagens na renegociação da dívida de produtores que se comprometerem a aplicar práticas sustentáveis. A sugestão foi feita pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante audiência pública na Câmara dos Deputados: “Por que não pensar em algo para aqueles que fizerem recuperação de reserva legal, recuperação das áreas de preservação permanente, os que querem fazer manejo de pastagens ou recuperação com espécies nativas?”

Na avaliação da ministra, essas medidas permitiriam um processo “ganha-ganha”, com benefícios para os produtores e para a preservação das florestas. “É uma idéia a ser discutida e debatida para que essa agenda seja positiva, no lugar de ficarmos discutindo como se houvesse um grupo a favor de destruir a Amazônia e outro contra o desenvolvimento da Amazônia”, apontou. No entanto, de acordo com Stephanes a compensação da dívida e o estímulo a práticas agrícolas sustentáveis na Amazônia são “programas” diferentes. “Até porque o endividamento está no Centro-Sul, de Mato Grosso para baixo, incluindo o estado, mas temos que considerar que grande parte do estado é cerrado, não estamos falando do bioma Amazônia – terão que ser programas separados”, avaliou.

O ministrou afirmou durante a audiência pública que o aumento da produtividade da agricultura, principalmente de grãos, não depende mais do avanço sobre a floresta: “Podemos aumentar nossa produção sem derrubar nenhuma árvore”. E anunciou que investimentos em pesquisas para aumentar a produção sem abrir novas áreas vão fazer parte do chamado PAC da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], que segundo ele será anunciado em breve. Apesar da divergência sobre a inclusão do viés ambiental na renegociação da dívida agrícola, a ministra Marina Silva reiterou que o governo está comprometido em frear a devastação das florestas e disse que ela e o ministro Stephanes pertencem a um “mesmo grupo”, a favor do desenvolvimento sustentável aliado à preservação da Amazônia.

Fonte: Agência Brasil

Geradores de vapor de Angra 1 chegam à Central Nuclear

A instalação dos equipamentos produzidos pela Nuclep ocorrerá em setembro

Os novos geradores de vapor (GV) da Usina Angra 1, fabricados pela Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep/MCT), foram entregues nesta semana à Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis (RJ). As duas unidades vão equipar a Usina Angra 1. Cada peça pesa 343 toneladas e mede 21 metros de comprimento, por 4,5m de diâmetro. Os geradores foram fabricadas na unidade da Nuclep, em Itaguaí (RJ), e começaram a ser transportadas no dia 1º de abril.

Uma carreta especial - com 12 eixos e 12 rodas em cada eixo - foi utilizada para transportar as unidades no trecho de quatro quilômetros que separa a fábrica do Terminal Marítimo da Nuclep. No local, os geradores foram colocados em uma balsa de 50m de comprimento e 16m de largura, que seguiu até a Central Nuclear. Foram investidos R$ 569 milhões na aquisição, análise de segurança, licenciamento, substituição e armazenamento das unidades. A previsão da Eletronuclear é iniciar, em setembro, os serviços de substituição dos dois geradores de vapor.

Os GVs são equipamentos responsáveis pela produção do vapor saturado seco para movimentar as turbinas geradoras de energia elétrica. A troca das peças em Angra 1, foi uma decisão da Eletronuclear, depois da identificação da predisposição para desgaste da liga metálica utilizada nos tubos dos equipamentos, o que exigia freqüentes testes de sua integridade. O mesmo problema também foi encontrado em outras usinas nucleares no mundo. Oitenta e cinco delas já realizaram substituições semelhantes e, até 2011, outras 20 usinas, incluindo Angra 1, farão a troca destes equipamentos. A instalação dos novos equipamentos levará cerca de quatro meses de trabalho ininterrupto. Com a Usina desligada, será feita uma abertura provisória na parede do edifício do reator, por onde sairão os antigos GVs e entrarão os novos. Dispositivos especiais serão utilizados para o içamento e transporte destes equipamentos.

Os antigos GVs serão armazenados, de maneira segura, no Depósito Inicial dos Geradores de Vapor, no próprio sítio da Central Nuclear, em Angra dos Reis. O local reunirá condições ambientais adequadas e, por estar próximo da usina, oferecerá facilidade e segurança para o transporte.Em preparação para a substituição dos dois GVs, Angra 1 está realizando uma parada programada, tendo sido desligada do Sistema Elétrico Brasileiro no dia 16 de fevereiro, com previsão de retorno à operação no próximo dia 16 de abril. Neste período, os técnicos da Eletronuclear estão realizando a instalação de estruturas temporárias, além de medições, marcações, verificações nos equipamentos e, adicionalmente, a inspeção dos GVs em operação.

Fonte: Eletronuclear

Parceria no Vale do Paraíba

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT) e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb) assinaram um convênio para monitorar a qualidade da água no rio Paraíba do Sul por meio de cinco plataformas de coleta de dados (PCDs). O sistema é operado por satélites.

Segundo o Inpe, o convênio representa uma oportunidade de avanço nos estudos e coleta de informações relacionadas às mudanças ambientais conseqüentes da ocupação urbana e da exploração dos solos. Os dados obtidos deverão permitir a elaboração de modelos de funcionamento da bacia hidrográfica do Paraíba, que corta um dos principais pólos industriais e tecnológicos paulistas, além de cidades do Rio de Janeiro como Volta Redonda e Resende.
O objetivo é coletar dados hidrometeorológicos sobre precipitação e nível do rio, para medidas de vazão, e alguns parâmetros de qualidade das águas, como acidez, turbidez (coloração), condutividade e oxigênio dissolvido.

As medições deverão ser feitas a cada dez minutos. O monitoramento, praticamente em tempo real, permite a fiscalização pela Cetesb do despejo de efluentes proibidos ou com qualidade fora dos padrões. O sistema permitirá traçar cenários futuros para subsidiar planejamento de uso dos solos e dos recursos hídricos. O monitoramento também possibilita a emissão de alertas de poluição das águas para ações de contenção de danos ambientais.

Fonte: Agência Fapesp

Agroecologia capacita mulheres

Aumento da renda não-agrícola, melhor oferta de alimentos saudáveis, maior participação econômica e social e visibilidade para a atividade desenvolvida foram alguns dos principais impactos que a inserção de programas de capacitação em agroecologia possibilitaram para um grupo de mulheres do assentamento do Vergel, em Mogi Mirim, no Estado de São Paulo. “A experiência trouxe um crescimento na participação feminina dentro do assentamento, além de valorizar seus conhecimentos e sua produção. Muitas comentaram que o processo alimentou o sonho de crescer e viver na terra”, explica a autora da pesquisa, Ana Paula Pegorer de Siqueira.

Durante três anos, Ana Paula acompanhou as reuniões quinzenais sobre quatro temas escolhidos pelas próprias mulheres. Elas não só receberam informações sobre manejo de horta, plantas medicinais, artesanato e processamento de alimentos, como também puderam externar os conhecimentos da cultura local. “O conhecimento dos agricultores não pode ser desprezado”, argumentou Ana Paula. A dissertação de mestrado que analisou a experiência foi orientada pela professora Sonia Maria P. P. Bergamasso e apresentada na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri). A motivação para o estudo, conta a engenheira agrônoma Ana Paula Siqueira, partiu da constatação de que as mulheres, mesmo com uma participação ativa na agricultura, sofrem com a falta de oportunidades.

A pesquisa apurou que elas são responsáveis por 48%, em média, da renda familiar. O percentual é considerado bastante significativo. “Mesmo assim o trabalho das mulheres não é valorizado, pois é classificado como ajuda. Ademais, o dinheiro auferido geralmente é controlado pelos maridos. Também possuem pouca autonomia nas decisões e ainda sofrem com a falta de capacitação. Enfrentam barreiras na busca do reconhecimento, o que muitas vezes resulta na evasão das mulheres que atuam no campo”, pondera a engenheira.

A experiência, desta forma, possibilitou um impacto positivo levando as mulheres a fundar a Associação de Mulheres Agroecológicas – AMA. A Associação não só trouxe inúmeros benefícios como ajudou na criação de um ambiente propício para participação política e social. “Ganharam mais atividades, mas o crescimento foi visível. Elas criaram, por exemplo, um banco de sementes para servir de suporte para as próximas plantações. Além de possibilitar a inserção na Rede de Agroecologia coordenada pela Embrapa Meio Ambiente. Participaram de mais de 20 eventos da área em universidades e institutos de pesquisa e, o que é melhor, a comunidade passou a respeitá-las”, comemora.

Ana Paula explica que o conceito de agroecologia – a ciência que dá embasamento teórico e metodológico para a transição da agricultura convencional para uma agricultura de base ecológica – foi criado na década de 1930 e ganhou força nos anos de 1980, com as diversas conseqüências do modelo de agricultura convencional – que privilegia o uso de agrotóxicos – para o meio ambiente. “O conceito de sustentabilidade acabou evidenciando a Agroecologia como um novo paradigma na agricultura”, esclarece.A experiência de capacitação das mulheres teve o envolvimento do Centro de Pesquisa Mokiti Okda, de Ipeúna, no Estado de São Paulo, onde Ana Paula era responsável pelo Setor de Ecologia Agrícola. A pesquisa teve apoio financeiro do CNPq.

Fonte: Jornal da Unicamp

domingo, 6 de abril de 2008

Menos queima no plantio da cana

Imagens de satélite obtidas por meio do projeto Canasat, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelam a redução da queima de palha de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo.

Por meio de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento é mapeada a área cultivada, fornecendo informações sobre a distribuição espacial da cultura de cana-de-açúcar.
Segundo o Inpe, os dados serviram de base para o Protocolo Agroambiental assinado recentemente pela Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar de São Paulo (Unica) e pela Secretaria de Meio Ambiente. O documento estabelece prazos para o fim das queimas nos canaviais em São Paulo e estipula ações de sustentabilidade ambiental.

Os mapas, elaborados pelos técnicos da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe, mostram a redução da área de queima e, ao mesmo tempo, o avanço da mecanização nos canaviais. “Foram menos 108 mil hectares de área queimada, número 5% menor em relação à safra de 2007. Já a área cultivada cresceu 520 mil hectares”, disse Bernardo Rudorff, pesquisador do Inpe. Foram comparadas as duas últimas safras (2006-2007 e 2007-2008). No total, a colheita sem o uso do fogo ocorreu em 656 mil hectares, significando aumento de 34% para 46% da área total colhida em São Paulo, que foi de 3,79 milhões de hectares. O benefício é sobretudo ambiental. Evitar a queima da cana significa reduzir a emissão de poluentes. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, a redução da área de queima evitou a emissão de 3.900 toneladas de material particulado, equivalente a 28% da emissão de partículas geradas pela combustão de óleo diesel por veículos na região da Grande São Paulo em 2006.

Fundamental para formular políticas públicas na área, as informações espaciais sobre a cana-de-açúcar são usadas para a previsão e estimativa da área cultivada. O próximo desafio do Canasat é utilizar as imagens para aferir a produtividade e mostrar como se dá o avanço da cultura. “À medida que o projeto evolui, temos cada vez mais dados e podemos agregar outras classes de informações. Logo poderemos saber se o plantio da cana passou a ocupar áreas de outras culturas ou atividades econômicas”, disse Daniel Alves de Aguiar, que desenvolveu o método para a avaliação da área de cana colhida sem queima em seu curso de mestrado no Inpe.
O projeto Canasat utiliza as imagens de sensoriamento remoto para mapear e quantificar a área plantada com a cultura da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo visando a fornecer informações sobre a distribuição espacial da cana para diversos setores que, direta ou indiretamente, estão envolvidos com o agronegócio do setor.

Além de São Paulo, o satélite monitora Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O projeto foi criado em 2003, em parceria entre Inpe, Unica, Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP). As informações estão disponíveis na internet por meio de mapas temáticos com a distribuição espacial da cana e da localização de usinas e destilarias. Mais informações: www.dsr.inpe.br/canasat

Fonte: Agência Fapesp

Pesquisadores da USP desenvolvem plástico feito a partir da mandioca

Material é biodegradável, comestível e renovável

Pesquisadores de diversas instituições têm trabalhado em busca de alternativas ao plástico produzido a partir de derivados do petróleo. Após anos de pesquisa a Universidade de São Paulo chegou a um plástico biodegradável, comestível e renovável feito a partir de amido de mandioca. Em breve o projeto deve ser apresentado a empresas para dar início a uma produção em escala industrial.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de mandioca, e o amido é cada vez mais utilizado como matéria-prima nas indústrias de alimentos. Mas quem poderia imaginar que deste mesmo amido seria possível produzir plásticos? A idéia virou pesquisa no Laboratório de Engenharia de Alimentos da USP, e os pesquisadores chegaram a um material que pode servir como embalagem para qualquer tipo de produto. As vantagens são inúmeras: o "plástico" é biodegradável, comestível e renovável. – O que acontece com o plástico convencional, que é feito a partir do petróleo, é que ele não é renovável, não é biodegradável e um dia vai acabar. Então uma garrafa plástica pode demorar até 100 anos para se decompor. Já o nosso filme, em questão de dois, três meses, já se decompôs e não fica no lixão causando problemas – ressalta a pesquisadora Cynthia Ditchfield.Receita simples

A doutoranda Ana Cristina de Souza, uma das pesquisadoras do laboratório, usa apenas quatro ingredientes para o plástico aparecer: primeiro mistura o açúcar invertido com o açúcar convencional, o amido de mandioca e a água. Depois a mistura vai para o microondas e sai de lá com aspecto gelatinoso. A solução é colocada em uma placa e segue para uma estufa, e quando sai, o plástico está pronto. Todo esse processo artesanal feito ao longo de quatro dias vai ser substituído por um equipamento: a miniextrusora, aparelho que mistura os ingredientes e permite preparar o plástico em menos de uma hora, deve chegar ao laboratório no segundo semestre.

Ana destaca que as pesquisas vão continuar, já que o filme biodegradável ainda não tem as características ideais do plástico. Ela acredita, no entanto, que está num modelo bem próximo do adequado. – O ideal seria um filme que não deixe passar tanto vapor de água e oxigênio, que tenha uma permeabilidade baixa a esses vapores e gases e que tenha uma tração alta para que o filme não rasgue com facilidade. Acho que conseguimos chegar rápido nesse ideal, em dois ou três meses, porque a pesquisa nesta parte já está bem avançada. Responsabilidade ambientalHoje a maioria das empresas que não quer ficar para trás está se adaptando aos padrões globais em busca do empreendedorismo sustentável. No caso dos fabricantes de plásticos não é diferente. Este estudo da USP, iniciado em 2005 e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, tem o apoio de uma das maiores petroquímicas da América Latina.

Em breve o plástico verde deve virar realidade e começar a ser produzido em escala industrial. – Este é um grande problema das indústrias hoje, o que fazer com um material que não é biodegradável? Então o impacto no meio ambiente é muito menor, as indústrias vão ter maior interesse com esses novos materiais – comemora a doutoranda Otília de Carvalho.
Quem mais uma vez agradece é o meio ambiente.

Fonte: USP

Novos agentes para a limpeza de águas poluídas por metais pesados

Vinicius Zepeda

Pó de casca de coco verde: 400 mil toneladas anuais em busca de novas formas de usoDurante os últimos anos, o uso de agentes ambientalmente amigáveis – como fungos, leveduras, algas marinhas e resíduos industriais (bagaço de cana, pó de osso, casca de arroz, palha, por exemplo) – na limpeza de águas poluídas tem sido pesquisado em todo o mundo. É o que afirma Maurício Leonardo Torem, professor e pesquisador do Departamento de Ciências dos Materiais e Metalurgia (DCMM) da PUC-Rio. Ele e sua equipe desenvolveram um estudo sobre o uso de pó de casca de coco verde (Cocus nucifera) e do microorganismo Rhodococcus opacus para a remoção de metais pesados em águas residuárias da indústria minero-metalúrgica. A pesquisa tem apoio do edital Cientistas do Nosso Estado, da FAPERJ.

O despejo de metais pesados em águas causa graves problemas de saúde e doenças, até fatais, como o câncer. No trabalho desenvolvido na PUC-Rio foram verificadas as propriedades das duas substâncias estudadas. Para isso, foram realizadas análises eletrocinéticas (de potencial de atração de elétrons), espectroscopia de infravermelho e microscopia eletrônica e análises do potencial de absorção de metais como cromo, cádmio, cobre, zinco e chumbo por parte do pó de casca de coco verde e do Rhodococcus opacus.

Para Maurício Torem, a escolha do pó de casca de coco verde se deveu à busca de uma solução para despejos líquidos orgânicos encontrados em abundância no país. “São cerca de 400 mil toneladas anuais em busca de novas formas de reaproveitamento”, explica Torem. Já o Rhodococcus opacus foi escolhido devido ao baixo preço de uma cultura in natura (as chamadas cepas); e a facilidade de cultivá-las. “O R. opacus se alimenta de glicose, levedura, extrato de carne e extrato de malte, produtos de fácil acesso e baratos”, acrescenta o pesquisador.

O novo processo apresenta vantagens em relação aos métodos industriais tradicionais, como a filtragem, a centrifugação e a precipitação química. ”Em geral, estes métodos empregam solventes, tóxicos para quem os manipula, e começam a ficar caros quando a concentração de metais em relação ao volume de água é baixa”, alerta ele. Combinar o método de bioflotação com a biossorção foi a solução encontrada pelos pesquisadores. A biossorção resume-se em atrair íons de metais pesados presentes na água. Um processo usado pela indústria há mais de cem anos, a bioflotação consiste em passar uma corrente de ar por um líquido com um reagente bioquímico. “Neste processo é essencial que seja produzida uma espuma. Nela fica agregada a substância a ser descartada”, explica Torem. Neste ponto, ele destaca outras vantagens do Rhodococcus opacus como: hidrofobicidade (ele não se mistura à água, fica em sua superfície), não causa doenças, e tem um potencial enorme para produzir espuma”, acrescenta.

No caso da biossorção, empregando Rhodococcus opacus, a capacidade máxima foi de 94,3, 72,9 e 32,2 (mg/g) para o chumbo, cromo e cobre, respectivamente. Na bioflotação, verificou-se que o microorganismo apresenta resultados promissores como coletor e espumante, obtendo-se percentagens de remoção de chumbo, cromo e cobre de 94%, 54% e 43%, respectivamente. ”Os resultados apresentados mostram seu grande potencial para a remoção de metais pesados”, conclui.

Já o pó de casca de coco verde (Cocos nucifera) foi verificado como um adsorvente (fixador de moléculas extraídas em sua superfície) eficaz e promissor no tratamento de efluentes contendo cádmio, cromo e cobre. “A eficiência do processo de remoção foi de 90%, 86% e 99% para o cádmio, cromo e cobre, respectivamente”, recorda o pesquisador. A pesquisa faz parte dos trabalhos que vêm sendo desenvolvidos desde os anos 90 no DCMM para a busca de solução para o tratamento de águas poluídas por despejos líquidos industriais. No final de 2003, Torem submeteu um projeto de pesquisa à FAPERJ, sendo contemplado, em 2004, no edital Cientistas do Nosso Estado. “De 2004 a 2006, o apoio da Fundação foi o ponta-pé inicial das nossas pesquisas com o uso do pó de casca de coco verde e do Rhodococcus opacus”, recorda.

Fonte: Faperj

Cetene quer usar biossensores para controlar qualidade de biodiesel

Sensores devem ser colocados no tanque de armazenamento de biodiesel da Usina de Biodiesel de Caetés

Parcerias nas áreas de biossensores e tecnologia de controle de qualidade de biocombustíveis, especialmente o biodiesel, estão em discussão no Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene/MCT) e na Embrapa Instrumentação Agropecuária. Para que as duas instituições troquem mais informações sobre suas experiências, o chefe geral da unidade da Embrapa, Álvaro Macedo, e os pesquisadores Paulo Herrmann Júnior e Cauê Oliveira visitam, nesta sexta-feira (4), as instalações do Cetene, no Recife (PE).

Herrmann Júnior é um dos pesquisadores envolvidos na criação da língua eletrônica, invenção já patenteada e utilizada na análise da qualidade de substâncias como o café, sucos e água. A língua eletrônica é um dos projetos mais famosos de nanotecnologia desenvolvidos no Brasil. O equipamento foi criado pela Embrapa e pela Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), em 2001. Ela utiliza unidades sensoriais que conseguem perceber o gosto de forma ainda mais apurada que a língua humana. "Queremos utilizar uma espécie de língua eletrônica para fazer o controle digital da qualidade do biodiesel armazenado, que é o uso de biosensores", aponta Fernando Jucá, diretor do Cetene. A intenção é associar estes biosensores a um equipamento de coleta e transmissão de informações, que nada mais é do que uma interface inteligente do sistema desenvolvido pelo Laboratório para a Integração de Circuitos e Sistemas (LINCS/MCT), uma design house que integra a estrutura do Cetene.

Inicialmente, os biossensores devem ser colocados no tanque de armazenamento de biodiesel da Usina de Biodiesel de Caetés, município do Agreste Meridional de Pernambuco. A usina é administrada pelo Cetene. As informações sobre a qualidade do biodiesel devem ser transmitidas via microondas pelo dispositivo eletrônico desenvolvido no LINCS para a central de informações do Cetene, em Recife. "Existe hoje uma preocupação em controlar a qualidade do biodiesel, porque a tendência é que sua utilização na mistura com o óleo diesel seja crescente", aponta Jucá. O processo de produção do biodiesel faz com que, quando armazenado, ele sofra um processo natural de degradação, corrosão ou adulteração.

Desde 1º de janeiro último, está em vigor a obrigatoriedade de utilização de 2% de biodiesel no óleo diesel – o B2. O governo federal quer chegar ao B5 e o Cetene já avalia o uso do B20 em motores estacionários no arquipélago de Fernando de Noronha, território do estado de Pernambuco. Além de conhecer as instalações do Cetene, com ênfase nas áreas de microscopia eletrônica, biofábrica e microeletrônica, os pesquisadores devem repassar informações sobre pesquisas em desenvolvimento pela Embrapa Instrumentação Agropecuária nas áreas onde o Cetene também atua. Cauê Oliveira também deve proferir palestra sobre a experiência da Embrapa na área de nanotecnologia.

Fabiana Galvão

A Frente Parlamentar em prol do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) se reúne hoje (4) no Centro Regional Sul (CRS) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), em Santa Maria (RS). No encontro serão apresentadas as atividades do Inpe na Antártica.
Na ocasião, o Inpe deve firmar convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e com a Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Furg). O objetivo é estudar a influência da Antártica e Oceano Austral nas mudanças globais e no clima do continente sul-americano e Oceano Atlântico Sul.

O CRS atua em colaboração com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A aproximação com instituições gaúchas demonstra o interesse do Inpe no desenvolvimento da região. Participam também da reunião o senador Sérgio Zambiasi, Jefferson Simões, do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas (Nupac) da UFRGS, Carlos Alberto Eiras Garcia, coordenador do Grupo de Oceanografia de Altas Latitudes (Goal) da Furg, Dilermando Ribeiro Lima, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), Luiz Antonio Barreto de Castro, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped/MCT) e Maria Cordélia Machado, coordenadora para Mar e Antártica da Seped.
A Frente Parlamentar foi criada há um ano com o intuito de assegurar a continuidade das pesquisas científicas que são desenvolvidas na região há mais de 25 anos.

O Proantar

Presente na Antártica desde os anos 80, o Inpe transferiu seu Programa Antártico para o CRS, em Santa Maria, em 2007. As pesquisas do Inpe na região enfocam a dinâmica da atmosfera, a camada de ozônio, meteorologia, aquecimento global, gases do efeito estufa, a radiação ultravioleta, a relação sol-atmosfera, o transporte de poluição, oceanografia e interação oceano-atmosfera. A maior parte dos projetos oferece resultados e dados de aplicação no estudo das mudanças globais.

Neste ano serão instaladas antenas receptoras de imagens de satélite no CRS. Elas captam dados dos satélites meteorológicos NOAA e Aqua, da missão EOS (Earth Observation System) da Nasa, ampliando a área de cobertura das antenas do Inpe. A disponibilização das imagens será aberta e gratuita. O Inpe coordena, no Ano Polar Internacional (2007/2009), um projeto temático e multi-institucional em parceria com 10 países com o objetivo de estudar a influência da atmosfera Antártica na América do Sul, especialmente no Brasil.

Fonte: Marjorie Xavier

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Critério para conservar

Fábio de Castro

Os dados científicos reunidos pelo Projeto Biota-FAPESP determinam, a partir de agora, os critérios e parâmetros para a concessão de autorização para supressão de vegetação nativa no Estado de São Paulo.

Uma resolução da Secretaria de Meio Ambiente (SMA) de São Paulo, publicada no Diário Oficial do Estado de 14 de março, estabelece que a análise de todos os pedidos para uso de áreas com florestas nativas deverá se basear nas categorias de importância para a restauração definidas no mapa “Áreas Prioritárias para Incremento para Conectividade” – um dos vários mapas produzidos pelo Biota. De acordo com coordenador do Programa Biota-FAPESP, Ricardo Ribeiro Rodrigues, a resolução demonstra a efetividade do uso dos dados científicos na sustentação das políticas públicas estaduais na área ambiental. “O volume de dados alcançado pelo Biota nos permitiu ter certeza de que eles poderiam ser usados para fornecer diretrizes às políticas públicas. Esse não era um objetivo inicial do programa, mas acabou se tornando um produto da máxima importância. O mais importante é que os critérios agora terão base científica”, disse o professor do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), à Agência FAPESP. A resolução, segundo Rodrigues, foi traçada com base no livro Diretrizes para a conservação e restauração do Estado de São Paulo, produzido sob coordenação do Programa Biota em parceria com a SMA. A publicação está na gráfica e deverá ser lançada no fim de abril.

Reserva legal

Rodrigues explica que a resolução utiliza os mapas do Biota para determinar objetivamente os critérios usados para não autorizar o uso de áreas que se prestam ao papel de corredores ecológicos e de abrigo de biodiversidade. O mapa de conectividade indica essas áreas prioritárias. “Nos mapas, identificamos os fragmentos que são considerados prioritários para conservação e indicamos essas áreas para a compensação da reserva legal das propriedades agrícolas, além de recomendar a interligação desses fragmentos pela restauração da mata ciliar funcionando como corredor ecológico”, disse. De acordo com o professor, dos 3,5 milhões de hectares de vegetação remanescente no Estado, apenas 760 mil estão em unidades de conservação. “O restante está em mãos de proprietários particulares. Para conservar essas áreas a proposta é transformá-las em reserva legal. Para as melhores áreas desses trechos, recomendamos a transformação em Reserva Particular de Patrimônio Natural”, afirmou.

Segundo a resolução, quem quiser solicitar a supressão de vegetação nativa dentro dos limites das áreas demarcadas como prioritárias pelo Biota deverá apresentar um estudo de fauna e flora, independentemente do estágio de regeneração em que se encontrar a vegetação. Só será permitida a supressão e exploração da área nativa se a vegetação não abrigar espécies da fauna e flora silvestres ameaçadas de extinção. A concessão de autorização atenderá critérios fixados pelo mapa de conectividade.

Fonte: Agência Fapesp