quinta-feira, 5 de julho de 2007

Projeto avalia risco ambiental de atividade da Petrobras no RN

"Ilustríssimos senhores / Venham ver e prestigiar / O resultado da pesquisa / Feita em nosso lugar / Para ver a quantas anda / A qualidade do ar"

Foi assim, em forma de cordel, que a professora Isabel Cristina Nunes da Silveira, moradora de Guamaré (RN), comunicou ao povo de sua cidade os resultados de um trabalho que, sob a coordenação técnica da Fiocruz, avaliou a qualidade do ar da região, onde está situado um pólo industrial da Petrobras. Concluído em março, o projeto aposta na participação da comunidade para a manutenção de um ambiente saudável. Seu mais recente fruto foi a publicação de um guia das aves da região que podem servir de indicadores da qualidade do ar, voltado à população em geral.

Instalada em Guamaré desde 1980, a Petrobras recebeu uma solicitação dos moradores do município para que avaliassem os possíveis danos causados ao ambiente e à população por suas atividades. “A gente olhava aquela fumaça, sentia um cheiro diferente e começava a se perguntar se aquilo não fazia mal”, conta Isabel. A empresa convidou, então, a o grupo de Pesquisa em Impactos Ambientais Globais e Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) da Fiocruz para que liderasse a investigação.“Propusemos uma avaliação integrada de saúde e ambiente”, explica a bióloga Sandra de Souza Hacon, coordenadora do projeto. “Nossas análises compreenderam, além da verificação da qualidade do ar, estudos sobre o perfil de saúde das cinco comunidades estudadas, além de aferição da qualidade da água e da percepção socioambiental das comunidades do entorno do pólo”. Lideranças comunitárias e agentes de saúde locais participaram da pesquisa, que incluiu a aplicação de dinâmicas e mais de mil questionários.

Os resultados foram tranqüilizadores: mostraram que as atuais emissões atmosféricas pelo pólo da Petrobras não geraram níveis de poluição preocupantes e não afetaram negativamente a saúde dos moradores. No entanto, a equipe da Fiocruz enfatiza a necessidade de um monitoramento contínuo da poluição no local por técnicas que possam ser acompanhadas pelas comunidades. Por isso, investiu na adaptação de métodos de biomonitoramento, ou seja, de avaliação da qualidade do ambiente de acordo com o comportamento de espécies da fauna e da flora locais.

A resposta está nos céus

Foi coordenada pelo biólogo Salvatore Siciliano, também da Fiocruz, uma atividade de identificação das espécies de aves presentes em Guamaré, nas regiões próximas e distantes ao pólo industrial. A pesquisa rendeu a publicação do livro As aves da região de Guamaré, RN – Guia de Identificação, que pretende sensibilizar a população leiga sobre a importância de conservar a biodiversidade local e participar das atividades de biomonitoramento. “Entre os vertebrados, as aves são os animais com maior capacidade de bioindicação, por causa da grande diversidade de espécies, da facilidade de amostragem e do conhecimento que as populações têm sobre elas, entre outros fatores”, aponta Luciano Moreira Lima, graduando em ciências biológicas da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e colaborador da pesquisa. “Elegemos 118 espécies de aves sentinelas, que são sensíveis às alterações da qualidade ambiental, para que sejam especialmente observadas”.

Para poder contar com a ajuda da população nesse processo, o guia traz, além de fotos e informações sobre as aves, textos explicativos sobre os biomas presentes em Guamaré e sobre a observação de aves e sua contribuição aos estudos ecológicos. Distribuído à população, o guia já começa a ser lido e apreciado. “Levei-o para a escola, é um material muito rico. A comunidade vai aprendendo a preservar”, aposta Isabel.

Fonte: Fiocruz

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