Por Luís Mansuêto, da Agência FAPEAM
As águas dos igarapés do Sabiá, Sabiá 2 e Aliança com Deus, localizados na Reserva Adolpho Ducke, têm sofrido forte pressão da expansão urbana da cidade de Manaus, uma vez que as águas que entram na Reserva já estão poluídas pela ação do homem. Foi o que apontou o artigo 'Efeito da pressão antrópica sobre igarapés na Reserva Florestal Adolpho Ducke, área de floresta na Amazônia Central'
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Acta Amazonica, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), publicada no mês de setembro. O trabalho foi escrito pelos pesquisadores do Inpa, Sávio José Filgueiras Ferreira, Sebastião Átila Fonseca Miranda, Ari de Oliveira Marques Filho, e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Cláudia Cândida Silva.
Durante o projeto, foram investigadas variáveis físico-químicas e químicas dos igarapés, em área de floresta primária de terra firme, próximo à área urbana. O objetivo foi verificar contaminações decorrentes das atividades domésticas, uma vez que a falta de estrutura de saneamento faz com que os igarapés funcionem como receptores dos dejetos gerados nas residências.
Os pesquisadores relataram que foi possível observar diferenças significativas nas médias da concentração de íons de hidrogênio, na condutividade elétrica e na quantidade de material em suspensão, entre os igarapés estudados. “Os resultados mostraram que o igarapé que drena a área de floresta mantém suas características naturais, por estar protegido das atividades humanas, como é o caso do Igarapé do Bolívia. Todavia, os que têm origem em área urbana estão impactados”, pontuaram.
Nos igarapés cuja nascente encontra-se dentro da reserva, os valores médios correspondentes ao pH, condutividade elétrica e material em suspensão estão normais. Os valores mais elevados foram registrados nos impactados. Nos igarapés Sabiá, Sabiá 2 e Aliança com Deus, o pH foi, respectivamente, 6,70; 6,84 e 6,50. Isso significa que dentro da Reserva Ducke os recursos hídricos já se encontram afetados pela ação do homem. Eles explicaram que se esperava que todos os igarapés no interior da Reserva apresentassem pH de ambiente natural, o que não ocorreu.
“Em áreas protegidas os valores do pH, geralmente, são menores do que 5,0. Ao adentrar em área urbana os valores tendem a aumentar, chegando a serem maiores do que 6. A expansão da urbanização, a consequente retirada da matéria orgânica, a exposição do solo e o lançamento de esgotos sem tratamento, favoreceram o aumento do pH das águas superficiais”, esclareceram.
Os igarapés investigados que adentram a Reserva são fortemente influenciados pela urbanização na parte superior de suas bacias, de acordo com os pesquisadores, o que faz com que suas águas cheguem em condições já deterioradas naquele ecossistema. Por exemplo, o Igarapé do Bolívia, antes de receber o Sabiá, dentro da Reserva, drena uma área integralmente com floresta nativa, portanto, mantém sua água em condições naturais. Entretanto, após recebê-lo, ainda dentro da reserva, a qualidade de suas águas é alterada, sendo talvez o único igarapé que sai da reserva com as águas já com pH acima do normal.
Segundo os pesquisadores, percebeu-se também a melhoria na qualidade da água no Igarapé do Sabiá, já que ele entra na reserva com uma carga de poluição e, em seguida, recebe a contribuição do Igarapé Aliança com Deus (mais impactado), porém, pouco antes de desaguar no Bolívia, esta carga está reduzida. “A melhoria se deve, em parte, à entrada de pequenos tributários não impactados que ajudam a diluir a carga poluidora”, destacaram.
Influência humana
A influência humana exerce grande influência sobre os igarapés, segundos os pesquisadores, pois as alterações deixam de ser regulares, ainda que o sistema consiga absorver certo grau de perturbação. Isso se deve porque o homem raramente causa perturbações limitadas que permitam que o ambiente se recupere. Um exemplo de pressão excessiva sobre o meio ambiente é a ocupação desordenada das bacias hidrográficas, principalmente quando um grande contingente se estabelece sem o menor planejamento e sem o devido acompanhamento de infraestrutura e saneamento básico.
Importância da Reserva Ducke
Reserva Adolpho Ducke (Foto: Ricardo Oliveira) |
Com uma área de 100 quilômetros quadrados, o que equivale a aproximadamente 11 campos de futebol, a Reserva Florestal Adolpho Ducke está situada na periferia da cidade de Manaus e, ao longo dos anos, ela vem sendo pressionada pelo avanço da urbanização, que já chegou a ocupar alguns setores de suas bordas. Para tentar frear a expansão urbana e evitar o avanço sobre a Reserva Florestal, no ano 2000, foi criado o Jardim Botânico de Manaus, que é administrado por meio de uma parceria entre o Inpa, a Prefeitura de Manaus e o Museu da Amazônia (Musa).
“A criação do Jardim Botânico talvez tenha sido a atitude mais eficiente até o momento para evitar o avanço da urbanização. A eficiência reside não apenas na barreira física, mas principalmente nas atividades desenvolvidas naquele local, tornando as crianças mais propícias a conviver bem com a natureza”, pontuaram.
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