Por Fabrício Ângelo
Quem anda pelas matas da Amazônia já deve ter se deparado com pequenas estruturas feitas de areia, conhecidos popularmente como “chaminés”.
O que poucas pessoas sabem é que essas formações são construídas por larvas de uma espécie de cigarra encontrada apenas no sul dos Estados Unidos e no bioma amazônico, aFidicina chlorogena .
Convidado pelo Museu da Amazônia (Musa) o biólogo e pesquisador suíço, Dr. Claude François Béguin, conheceu esse tipo diferente de habitat e resolveu estudá-lo. Segundo Béguin, ainda se conhece pouco sobre a vida da Fidicina. “Algumas pessoas do Jardim Botânico de Manaus me falaram sobre essas estruturas diferentes e fiquei muito impressionado e resolvemos começar a pesquisar sobre elas”.
De acordo com o biólogo as “chaminés” são construídas pelos insetos ainda em sua fase de larva, mas ainda não se sabe exatamente qual a sua finalidade. “O que já descobrimos é que a estrutura é montada sobre galerias subterrâneas. Sabemos disso, pois, pudemos observar um inseto adulto rompendo a chaminé e saindo”, disse.
CICLO DE VIDA
As cigarras, como quase todos os insetos, vivem muito mais como larva do que na fase adulta. As espécies vivem abaixo do solo e depois de adultas se reproduzem nas copas das árvores, onde podemos ouvir o seu canto. “Antes de morrer as fêmeas depositam seus ovos nos galhos que caem sobre a terra e reiniciam o ciclo. A própria larva se enterra, sem ajuda”, explica o professor Claude.
Essas larvas se alimentam dos sulcos das raízes das árvores da floresta e ficam nesse estágio por dois ou três anos e é nesse tempo que as chaminés vão surgindo. “Uma coisa que nos impressionou muito é a profundidade dessa região subterrânea, quase um metro. Acreditamos que haja galerias ramificadas nesses locais”, afirmou.
Agora, a pesquisa entra na fase de avaliar como são construídas as estruturas, se por apenas uma cigarra ou por um grupo e se as galerias se comunicam.
Outra questão curiosa é entender como as chaminés crescem. “Passei o mês de novembro de 2013 no Jardim Botânico trabalhando com os insetos. Criei um sistema de marcas que medem altura e deslocamento da estrutura e com isso pude perceber que o segmento superior é que aumenta, isto é, a largura se mantém”, destacou o pesquisador.
De acordo com Claude François Béguin, o trabalho já conseguiu chegar a algumas conclusões, de como é feito o deslocamento e a reconstrução da estrutura. “Cortamos uma parte do topo de sete chaminés e esperamos para ver o que aconteceria, e a surpresa foi que a cigarras as fecharam pouco tempo depois. Não sabemos por que ela faz essa reparação, mas é incrível como tem essa habilidade”.
Aos poucos o professor Claude vai descobrindo mais informações sobre a espécie, seu modo de vida e essas estruturas. “Já me deparei com chaminés de 13 centímetros e que se mantêm fechadas e em pé. A cigarra realiza inúmeras idas e vindas do fundo do solo carregando areia para a construção e reparação das chaminés, o que faz com que elas sempre estejam alongadas e facilmente manuseáveis”, empolga-se.
PESQUISA DE ALTA PRECISÃO
Outra curiosidade citada pelo biólogo é que as chaminés também podem servir para manter os parâmetros físico-químicos de sobrevivência do inseto. “Elas dependem de algumas condições como temperatura, concentração de oxigênio, de gás carbônico, de umidade. E, provavelmente, isso é um dos motivos da rápida restauração da altura inicial de estrutura, pois a cigarra ao perceber esse desvio, se mobiliza para reconstruí-la”.
O professor Claude espera conseguir recursos para iniciar um trabalho minucioso de investigação, principalmente, por meio de sondas com microcâmeras. “Essa parte subterrânea é um mistério que precisamos desvendar para conhecer os ciclos de vida dessa espécie, assim como a função da estrutura”, enfatiza.
Além da Fidicina chlorogena, existe outra espécie de cigarra em um ponto diferente no Jardim Botânico. “Essas não fazem as chaminés, e seus poços subterrâneos não são profundos”, indica.
Ainda para o professor o tipo de solo em que vivem define o modelo de estrutura a ser criada. “O solo amarelo, onde estão as chaminés, é mais maleável e umidificável, o que ajuda na construção de estruturas e de regiões subterrâneas mais profundas”, falou.
A pesquisa ainda está em seus primeiros passos, até porque devido ao longo período de maturação da larva, é preciso estar sempre atento às modificações na estrutura. “Espero que outros pesquisadores se interessem pelo trabalho e deem continuidade, pois o pouco que sabemos já mostra que temos um novo e desafiador processo para se conhecer cada vez mais espécies desse bioma tão rico”, finalizou.
Fotos: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTA
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