segunda-feira, 18 de maio de 2015

Indústria moveleira amazonense pode ser destaque com pesquisa e investimentos

Por Fabrício Ângelo

manejo florestal é uma promissora alternativa de renda para as comunidades rurais, ao mesmo tempo em que alia o uso eficiente e racional das florestas ao desenvolvimento sustentável local, regional e nacional.
Somente no Amazonas em 2013, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) autorizou o manejo de mais de 550 milhões de metros cúbicos de floresta em 32 municípios. Uma das incentivadoras dessa forma de obtenção de melhores índices sociais e econômico por meio da preservação da floresta deveria ser a indústria moveleira. Mas não é isso que ocorre na Região Norte, segundo dados da Organização Não Governamental (ONG) Imazon, o setor ainda é incipiente representando apenas 2,6% do nicho produtivo.
No Amazonas também não é diferente. “Temos um polo moveleiro que ainda trabalha de forma artesanal e com baixa lucratividade”, diz o professor doutor, Fernando Cardoso Lucas Filho, chefe do Laboratório de Estruturas e Secagem, localizado no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Segundo ele, por possuir um grande potencial de exploração de recursos madeireiros, o Estado deveria ser um dos principais fornecedores de móveis do País, mas isso não acontece. “A perda de matéria-prima e baixa utilização de tecnologia faz com que os empresários tenham pouco lucro com o empreendimento”, observa.
Fernando Cardoso e seu orientando, Álefe Lopes Viana, mestre em Ciências Florestais e Ambientais, realizaram pesquisas junto a fabricantes de móveis no Amazonas e também em outras regiões. Para Aléfe, que defendeu o ponto de vista em sua dissertação de mestrado “Aplicação do Método de Custeio baseado em atividades (abc) na Produção de Artefatos de Madeira”, entre os principais problemas na fabricação de móveis pelos amazonenses estão a utilização de tecnologias obsoletas nos processos de industrialização e ausência de design.
“Existe um manejo florestal que pode ser bem utilizado para a produção de matéria-prima, mas ainda falta organização ao setor. O processo produtivo ainda é feito de maneira arcaica, o que resulta em um baixo valor agregado ao bem”, disse.
PRESERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Produção pequena, mercado reduzido e altos custos são apontados pelos pesquisadores como o cenário atual da indústria moveleira no Amazonas. “No trabalho, tentamos identificar quais as falhas que encarecem tanto o produto e o deixam fora do mercado externo e até interno, pois mesmo em Manaus, poucos móveis locais são consumidos”, ressalta Viana.
Pesquisadores Prof. Dr. Fernando Cardoso Lucas Filho e Msc. Àlefe Lopes Viana. Foto: Fabrício Ângelo

Outro importante ponto destacado por Fernando Cardoso é a falta de motivação dos produtores rurais para investir em manejo florestal. “O manejo só é sustentável se agregar valor social e econômico à região. Hoje, verificamos que existem políticas públicas para o setor, mas ainda não é perceptível o desenvolvimento gerado por isso, principalmente quanto à geração de empregos. Temos uma produção madeireira, mas ainda não temos uma indústria forte de beneficiamento e produto final”, alerta.
A demora no retorno financeiro com o manejo faz com que a indústria pecuária continue crescendo de forma avassaladora no Estado. “Sabemos que a abertura de pasto é a principal causa do desmatamento na Amazônia e logo depois vem o cultivo de soja. Isso porque os grandes e pequenos produtores rurais ainda não veem o manejo como uma forma permanente de rendimento”, analisa o professor.
USO DE TECNOLOGIAS
Ser produtor de madeira não significa que não pode ser competitivo no setor. Um dos exemplos é a Itália, país europeu com limitadas áreas florestais, que desde a década de 70 lidera o mercado mundial de produção de móveis.
Conforme Aléfe Viana, mesmo importando madeira de vários países, inclusive o Brasil, os italianos têm um alto valor agregado em seus produtos. “A madeira representa cerca de 10% do valor de um móvel que poderá ser comercializado por dez ou vinte vezes do seu valor de produção, mas para isso é importante utilizar as tecnologias corretas e melhorar o aspecto estético do produto”.
Apesar de longo, há um caminho que pode ser percorrido pelos empresários do setor. “Hoje somos apenas fornecedores de madeira, mas isso pode mudar com investimento na capacitação dos empresários, de mais pesquisas na área e também do apoio de agências de fomento, pois temos o que há de mais importante, os recursos naturais, que podem e devem ser preservados ajudando a gerar desenvolvimento nas localidades que dependem da floresta’, finalizou Viana.
Fonte: CIÊNCIAemPAUTA

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