quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Inpa realiza expedição em unidade de conservação ambiental

O Parque Estadual do Rio Negro – setor Sul, a 40 quilômetros de Manaus (AM), terá ainda neste ano um Plano de Gestão, para nortear as atividades contempladas por esta unidade de conservação ambiental, como, por exemplo, o ecoturismo. Durante doze dias, de 3 a 15 deste mês, pesquisadores e técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e membros do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas (SDS) estiveram a bordo do barco Maíra I fazendo levantamentos da flora, fauna e socioeconomia na região do rio Cuieiras.

Fauna

Entre trinta pequenos mamíferos (roedores e marsupiais) coletados nas margens do rio Cuieiras, os pesquisadores do Inpa identificaram os gêneros Isothrix, Micoureus, Proechimys, Didelphis, Marmosops, Metachirus, Oecomys e Neacomys. Os animais foram capturados por meio de 352 armadilhas em três trilhas (ou transectos) – duas localizadas em floresta de terra firme, nas margens esquerda e direita do rio, e uma em área de campina, paisagem caracterizada por vegetação de baixo porte e aberta e que ocorre sempre em solos arenosos e de baixa fertilidade. "Nosso objetivo foi fazer um inventário rápido da fauna para determinar a diversidade de pequenos mamíferos e propor medidas de conservação e manejo que auxiliarão na gestão da área", comenta Eduardo Schimidt Eler, biólogo e mestrando em genética de pequenos mamíferos não-voadores no Inpa. No barco Maíra I foi improvisado um pequeno laboratório de genética e de triagem do material biológico. Os pesquisadores verificaram os dados biométricos (peso e medidas corporais) e reprodutivos dos animais capturados nas armadilhas.

Em seguida foram feitos o preparo de suspensão celular a partir da medula óssea retirada do fêmur dos mamíferos, a amostragem de tecido (um pedaço de músculo e outro de fígado) para estudos de seqüência de DNA, e a taxidermia, com a preparação da pele e a retirada do crânio para limpeza e posterior análise detalhada. "As diferenças são muitos sutis entre os roedores, externamente eles são muito parecidos, o que torna necessária a utilização de técnicas de citogenética para identificar as espécies", explica a geneticista do Inpa, Maria Nazareth da Silva. "Nós esperávamos encontrar todos os gêneros que foram capturados no Cuieiras, pois são bem conhecidos na Amazônia. No entanto, ainda precisamos refinar o conhecimento sobre o número e a distribuição das espécies, pois na região deste rio as informações ainda são escassas sobre pequenos mamíferos", complementa. O grupo de pesquisadores de herpetofauna, que inclui os répteis e os anfíbios, deparou-se, durante parte da expedição, com a escassez de chuvas, o que nos primeiros dias dificultou a captura de animais. Mesmo assim, diversas espécies foram encontradas e identificadas. Um total de 52 armadilhas foi disposto nas margens esquerda e direita do rio Cuieiras, sendo que diferentes paisagens foram amostradas, entre floresta de igapó, terra firme, e campina.

Estudos comprovam que a região amazônica possui uma grande diversidade de anfíbios e répteis, chegando a mais de trezentas espécies de serpentes, 89 de lagartos e 163 de anfíbios. A rã Leptodactylus riveroi, a falsa coral Drepanoides anomalus e o lagarto Kentropyx calcarata são alguns exemplos de espécies capturadas pelos pesquisadores do Inpa. "Na região do Cuieiras já foi realizado um trabalho sobre a composição da herpetofauna. Então, faremos uma comparação do que encontramos nesta expedição com as espécies catalogadas e os ambientes amostrados no passado", comenta o biólogo Vinicius de Carvalho. Ele conta que foram encontradas algumas espécies de lagartos e serpentes que vivem embaixo da terra (chamadas fossoriais) e em meio às folhas e embaixo de cascas de árvores, troncos e cupinzeiros (semi-fossoriais), além de um lagarto semi-aquático e um jacaré-tinga (Caiman crocodylus), espécie ameaçada e que vive em igarapés, no interior da floresta. Enquanto os pesquisadores de herpetofauna e pequenos mamíferos torciam para que chuvas caíssem sobre o Cuieiras, o grupo que ficou com a incumbência de estudar quelônios afirmava que o ideal é o período da seca para avistar e coletar esses animais. A expedição foi realizada durante período chuvoso, quando ocorre a cheia dos rios. Em razão disso, as armadilhas compostas por tremmel nets (malhadeiras), hop traps (funis) e fike nets (funis intercalados por barreiras) não obtiveram sucesso na captura dos animais.

Assim, o mergulho foi escolhido como principal método, idéia que partiu de um morador local, Raimundo Alencar Ribeiro, 26, da comunidade Nova Canaã. Segundo Rafael Beinhard, pesquisador do Inpa que trabalha desde 1999 com ecologia de quelônios, para que se obtenha sucesso com este método é preciso ser um bom mergulhador e saber onde os animais ficam escondidos nos igapós. "Apesar de o rio estar cheio e os bichos estarem espalhados pelo igapó, conseguimos pegar muitas irapucas através do mergulho. Num único dia, em poucas horas, capturamos de 13 a 15 animais", afirma o pesquisador. Beinhard explica que em toda a Amazônia brasileira existem apenas 17 espécies de quelônios, e que, normalmente, uma área amostrada apresenta entre cinco e oito espécies. No Cuieiras foram capturadas especialmente irapucas (Podocnemis erytrhrocephala), além de um cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus), um lala (Rhinemys rufipes), um jabuti piranga (Geochelone carbonaria) e dois jabutis (Geochelone denticulata). "É importante propor planos de manejo para as espécies que são muito abundantes, como as irapucas e os cabeçudos. Para tanto, precisamos entender a estrutura populacional dessas espécies, como, por exemplo, se existem mais indivíduos adultos ou juvenis, fêmeas ou machos", avalia o pesquisador do Inpa. Para ler toda a matéria, clique aqui.

Fonte: Assessoria de Comunicação do INPA

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