quarta-feira, 30 de julho de 2008

Cientistas buscam compreender estímulos químicos utilizados por insetos

Renata Moehlecke

Compreender os estímulos químicos que os insetos utilizam para conseguir se alimentar de sangue tem sido o objetivo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Fiocruz Minas Gerais. Em artigo publicado no último volume da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, os cientistas apresentam os resultados de uma pesquisa que avaliou os efeitos de um odor humano sintético, o BGML, e da substância octenol em armadilhas para flebotomíneos, insetos transmissores das leishmanioses.


O BGML é uma mistura de ácido lático, ácido capróico e amônia, enquanto o octenol é bastante utilizado por insetos da ordem Diptera para 'caçar' seus hospedeiros vertebrados e também conhecido por constituir o cheiro humano. Muitas são as substâncias liberadas por vertebrados, como galinhas, cachorros, cavalos e humanos, que atraem diferentes espécies de insetos. E essas substâncias têm sido desenvolvidas de forma sintética por cientistas em laboratórios.

A pesquisa apresentada no artigo se concentrou em duas espécies de flebotomíneos, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia intermedia. Esse tipo de pesquisa pode ser uma boa alternativa para capturar insetos de importância médica e veterinária, assim como para elaborar formas de prevenção de picadas que acarretem doenças. “O presente estudo relata pela primeira vez uma resposta de espécies de flebotomíneos do Novo Mundo a armadilhas com iscas de octenol, ácido capróico e amônia sob condições de campo”, dizem os pesquisadores no artigo.

Para o estudo, 25 armadilhas foram instaladas durante cinco noites, sendo que a montagem era alternada entre áreas urbanas e de florestas na cidade de Varzelândia e no distrito de Brejo do Mutambal, ambos em Minas Gerais, em abril e maio de 2005. Nessas regiões, a leishmaniose tegumentar é uma doença endêmica.

Os resultados mostraram que, conforme cresciam as doses de octenol, aumentava a captura de fêmeas da espécie L. intermedia, mas a substância não demonstrou nenhum efeito sobre a captura de L. longipalpis. “A resposta ao octenol parece ser específica por espécie e ele pode servir como um atrativo para alguns insetos e como um repelente para outros”, explicam os autores. “No entanto, sua presença nas armadilhas não inibiu a captura de ambas as espécies”.

Já as armadilhas com BGML coletaram um grande número de L. longipalpis quando comparadas com as que apresentavam os componentes ácido lático, ácido capróico e amônia separadamente ou com as do grupo de controle (sem nenhuma substância). “Entretanto, quando banhadas com octenol, foi observada um decréscimo na captura de L. longipalpis”, afirmam os pesquisadores. “Isso sugere que o octenol é uma parte do odor humano que não funciona como atrativo para essa espécie”.

Os pesquisadores comentam, ainda, que o gás carbônico é o mais importante atrativo liberado por vertebrados, usado por insetos hematófagos para localizar seus hospedeiros, mas seu estudo em condições de campo é bem limitado e, por essa razão, não foi verificado. “Mais estudos para avaliar a eficácia de diferentes concentrações e combinações de ácido capróico e amônia para atrair flebotomíneos devem ser realizados”, concluem.

Fonte: Fiocruz

Nenhum comentário: