Estudo
do Imazon mostra que exigência dos grandes compradores e carne obrigou
pecuarista a regularizar suas terras e reduzir o desmatamento
Por Thais Guerrero, da Revista Época
Desde
que frigoríficos e redes varejistas passaram a ter
critérios para selecionar seus fornecedores situados na Amazônia, a situação do
setor da carne começou a melhorar no quesito impacto ambiental. Um estudo da
Universidade Wisconsin e da National Wildlife Federation em coautoria com o
Imazon, publicado no jornal cientifico Conservation Letters nesta
terça-feira, mostra que hoje há mais fazendeiros em situação de legalidade e
reduzindo os desmatamentos. Em 2009, 36% de propriedades avaliadas que
forneciam carne, boi e couro tinham feito derrubadas recentes. Já em 2013, a
taxa havia caído para 4%.
O estudo avaliou a
situação de municípios onde há propriedades que fazem negócios com o maior
frigorífico do mundo, a JBS. E compara as taxas de
desmatamento antes e depois que redes de varejistas e frigoríficos assinaram o
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal do Pará
e um acordo de desmatamento zero com o Greenpeace. Em ambos os
acordos, os compradores de boi, carne ou couro prometiam não adquirir nada de
fazendas em municípios com índices de desmatamento recentes e que não tenham se
inscrito do Cadastro Ambiental Rural (CAR). O CAR é uma espécie de Imposto de Renda em
que se declaram os limites das propriedades e as áreas desmatadas. No Pará é
uma exigência do governo estadual desde 2006, mas só ganhou força depois de
2009.
A análise se
restringiu ao Pará, já que
esse é o estado com o segundo maior rebanho do Brasil – 19,2 milhões de cabeças
de gado – e foi responsável por 40% do desmatamento da Amazônia durante a
última década. Mais de 39 mil propriedades foram incluídas no estudo, sendo
2.723 fornecedoras da JBS e 37.071 localizadas num raio de 10 quilômetros
delas.
Os pesquisadores
descobriram que o compromisso da JBS com o desmatamento zero contribuiu com uma
corrida de inscritos no CAR. Vários fazendeiros interessados em vender para o
frigorífico fizeram o cadastro e conseguiram fechar negócios, acirrando a concorrência
entre as fazendas. Dos 56 fornecedores da JBS entrevistados, 85% declararam que
registraram suas propriedades com a meta de vender ao frigorífico. E se
cadastraram no CAR, em média, 374 dias antes do que as propriedades que já
vendiam gado para a JBS. Até o início de 2010, quase 60% das transações mensais
dos frigoríficos da JBS foram feitas com fornecedores cadastrados no CAR. No
fim de 2013, o índice era de 96%.
Do grupo de não fornecedores da empresa, quase metade só aderiu ao CAR em média
três anos depois dos acordos serem assinados. E só aderiram porque foram
pressionadas e tiveram apoio do governo estadual, especialmente para os
pequenos agricultores.
Em relação ao desmatamento, o estudo mostra que os municípios tiveram reduções
nas taxas de desmatamento nos três anos seguintes à assinatura dos acordos. E
isso foi mais significativo entre as fazendas que se tornaram fornecedoras da
JBS após 2009. Uma das razões, segundo o documento, é que as recém-contratadas
tinham taxas de desmatamento muito altas e não possuíam estímulos para evitar
as derrubadas fora da lei.
Ao mesmo, as fazendas que pararam de vender os bois à JBS em 2009 desmataram
75% mais do que as que permaneceram como fornecedoras.Há um desafio para que os
desmatamentos cheguem realmente a zero nas fazendas do Pará: o vazamento ou
lavagem do gado ilegal. Como os acordos regulam apenas as compras
diretas, sem considerar fazendas de cria e recria, os pecuaristas ilegais podem
vender seus bois para os frigoríficos que não monitoram toda a cadeia
(vazamento). Ou repassam o gado para fazendas regularizadas que fazem as vendas
diretas aos frigoríficos (lavagem).
Segundo Paulo
Barreto, pesquisador do Imazon e coautor do estudo, é
preciso acabar com os “furos” que permitem o comércio de gado ilegal. “O acordo
pelo desmatamento zero deve ser fiscalizado e ampliado para que todos os
frigoríficos exijam gado de fazendas regularizadas. A pressão pode vir das duas
fontes principais: dos compradores dos frigoríficos como supermercados, redes
de restaurante e da indústria que compra couro, por exemplo, ou os gestores do
acordo – no caso, o MPF e o governo do Pará”. Ele diz que o governo paraense
contratou uma empresa para fazer auditorias e, em breve, irá
revelar as empresas que não cumpriram integralmente o TAC e que devem ser
punidas. Será o próximo passo para o elevar os critérios da pecuária na
Amazônia.
Do grupo de não fornecedores da empresa, quase metade só aderiu ao CAR em média três anos depois dos acordos serem assinados. E só aderiram porque foram pressionadas e tiveram apoio do governo estadual, especialmente para os pequenos agricultores.
Em relação ao desmatamento, o estudo mostra que os municípios tiveram reduções nas taxas de desmatamento nos três anos seguintes à assinatura dos acordos. E isso foi mais significativo entre as fazendas que se tornaram fornecedoras da JBS após 2009. Uma das razões, segundo o documento, é que as recém-contratadas tinham taxas de desmatamento muito altas e não possuíam estímulos para evitar as derrubadas fora da lei.
Ao mesmo, as fazendas que pararam de vender os bois à JBS em 2009 desmataram 75% mais do que as que permaneceram como fornecedoras.Há um desafio para que os desmatamentos cheguem realmente a zero nas fazendas do Pará: o vazamento ou lavagem do gado ilegal. Como os acordos regulam apenas as compras diretas, sem considerar fazendas de cria e recria, os pecuaristas ilegais podem vender seus bois para os frigoríficos que não monitoram toda a cadeia (vazamento). Ou repassam o gado para fazendas regularizadas que fazem as vendas diretas aos frigoríficos (lavagem).
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