segunda-feira, 30 de março de 2009

Poeira do aquecimento

A recente tendência de aquecimento observada no Oceano Atlântico se deve em grande parte a reduções nas quantidades de poeira e de emissões vulcânicas nos últimos 30 anos, segundo estudo publicado no site da revista Science.

Desde 1980, a temperatura no Atlântico Norte tem aumentado em média 0,25 ºC por década. O número pode parecer pequeno, mas tem grande impacto em furacões, que preferem águas mais quentes. Um exemplo: 2005 teve recorde no número de furacões, enquanto em 1994 foram poucos eventos, mas a diferença na temperatura oceânica entre os dois anos foi de apenas 1 ºC.

De acordo com a pesquisa, feita por cientistas da Universidade de Wisconsin em Madison e da Administração Nacional do Oceano e Atmosfera (Noaa), nos Estados Unidos, mais de dois terços dessa tendência de aquecimento podem ser atribuídas a alterações em tempestades de poeira na África e à atividade vulcânica nos trópicos no período.

Os autores do estudo haviam mostrado anteriormente que a poeira vinda da África e outras partículas suspensas na atmosfera podem reduzir a atividade de furacões por meio da diminuição da luz solar que chega ao oceano, mantendo a superfície mais fria. Ou seja, anos com mais poeira implicam menos furacões.

Os pesquisadores combinaram dados obtidos por satélites de aerossóis (material particulado suspenso na atmosfera) com modelos climáticos para avaliar o efeito na temperatura oceânica. Eles calcularam quanto do aquecimento no Atlântico observado desde 1980 foi devido a mudanças em tempestades de poeira e na atividade vulcânica, especialmente as erupções do El Chichón, no México, em 1982, e do Pinatubo, nas Filipinas, em 1991.

A conclusão foi que o efeito foi muito maior do que se esperava. “Grande parte da tendência de aquecimento no padrão a longo prazo pode ser explicada por esses fatores. Cerca de 70% é resultado da combinação de poeira e vulcões e aproximadamente 25% se devem apenas a tempestades de areia”, disse Amato Evan, da Universidade de Wisconsin, principal autor do estudo.

Os resultados indicam, portanto, que apenas 30% dos aumentos na temperatura no Atlântico Norte são devidos a outros fatores. Embora não desconte a importância do aquecimento global, Evan aponta que o estudo faz com que o impacto desse fator no Atlântico esteja mais em conformidade com o menor aquecimento verificado no Pacífico.
“Faz sentido, porque não esperávamos que o aquecimento global fizesse com que a temperatura oceânica se aquecesse tanto em tão pouco tempo”, disse.

De acordo com o cientista, vulcões são naturalmente imprevisíveis e, portanto, difíceis de serem incluídos em modelos climáticos, mas novos modelos deverão levar em conta a importância de tempestades de areia como um fator para prever acuradamente como as temperaturas oceânicas vão se alterar.

O artigo The role of aerosols in the evolution of tropical North Atlantic Ocean temperature anomalies, de Amato Evan e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

Fonte: Agência Fapesp

quinta-feira, 26 de março de 2009

Projetos sustentáveis

Formado por seis universidades brasileiras, o Consórcio Brasil representará o país no Solar Decathlon Europe, competição universitária de construção de casas energeticamente auto-sustentáveis que será realizada em 2010.

Integrantes das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e as federais do Rio de Janeiro (URFJ), Minas Gerais (UFMG), Santa Catarina (UFCS) e do Rio Grande do Sul (UFRGS) decidiram unir forças para se tornarem mais competitivos no evento que será organizado pela Escola Politécnica de Madri, na Espanha.
Para montar o projeto ideal, o consórcio fez um concurso interno, em que estudantes de arquitetura das seis universidades apresentaram projetos. O júri foi composto de professores das universidades brasileiras e representantes da Politécnica de Madri, entre eles o vice-reitor de Relações Internacionais Jose Manuel Páez. Foram escolhidos os projetos de alunos da UFSC, Unicamp e UFRGS como os três melhores.

Os projetos contemplam áreas como arquitetura, engenharia elétrica, civil e de materiais e iluminação e marketing. “Não se trata apenas de fazer uma casa sustentável, mas de pensar nela como algo que pode ser reproduzido facilmente na sociedade”, disse Adnei Meleges de Andrade, professor do Instituto de Eletrotécnica e Engenharia e responsável pelo consórcio na USP, ao USP Online.

O Solar Decathlon foi criado pelo Departamento de Energia do governo norte-americano, em 2002, e a próxima edição será realizada em outubro, em Washington. A edição na Europa será a primeira fora dos Estados Unidos.

O decatlo solar tem dez critérios de avaliação, cada um com pontuações diferenciadas. Além das questões arquitetônica e de engenharia, contam pontos as instalações, balanço de energia, condições de conforto, funcionamento de equipamentos, inovação e sustentabilidade.
Comunicação, marketing, sensibilização social, industrialização e comercialização também são importantes, pois o projeto deve ser comercializável. Mais informações: www.solardecathlon.org

Fonte: Agência Fapesp

quarta-feira, 25 de março de 2009

Química polivalente

Fábio de Castro

Produtos fabricados com substâncias tensoativas à base de açúcares são atualmente o principal exemplo de aplicação em larga escala da “química verde” – um conjunto de diretrizes voltado à redução do impacto ambiental dos processos químicos. Mas a importância econômica dessas substâncias não para por aí: elas têm potencial para ser empregadas até mesmo como vetores não virais para a terapia gênica.

Reunir os crescentes avanços acadêmicos e tecnológicos da comunidade internacional sobre os tensoativos – ou surfactantes – à base de açúcares é o objetivo do livro Sugar-Based Surfactants: Fundamentals and Applications, lançado nos Estados Unidos. A obra apresenta artigos de pesquisadores de dez países, incluindo o Brasil.

Omar El Seoud, professor titular do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP), e sua orientanda de doutorado Paula Galgano foram os responsáveis pelo capítulo Tensoativos iônicos à base de açúcares: síntese, propriedades de solução e aplicações.

Além dos brasileiros, a obra, organizada por Cristobal Ruiz, da Universidade de Málaga, na Espanha, traz artigos de pesquisadores da própria Espanha, da Itália, Suécia, Holanda, Japão, Alemanha, França, Estados Unidos e Irlanda.
“Escrevemos sobre a síntese, as propriedades e as aplicações de tensoativos iônicos – isto é, os que têm carga – à base de açúcares. Trata-se de um tema importante para o Brasil, porque nossa situação é muito privilegiada para a produção em larga escala, já que temos grande disponibilidade de açúcares, como sacarose, glicose e frutose, assim como de ácidos graxos, permitindo ampla gama de aplicações”, disse El Seoud à Agência FAPESP.

De acordo com o pesquisador do Laboratório de Tensoativos e Polímeros do IQ-USP, os tensoativos à base de glicose (ou alquil poliglicosídeos) estão sendo empregados em algumas formulações de limpeza doméstica no Brasil. Os surfactantes à base de sacarose e sorbitol (ou glicose reduzida) são amplamente usados nas indústrias de alimentos, cosmética e farmacêutica, especialmente como solubilizantes e emulsificantes.

El Seoud conta que esses surfactantes têm custo competitivo, são produzidos com matérias-primas renováveis, são biodegradáveis e biologicamente compatíveis – o que é importante para as aplicações médicas.
“Eles seguem os princípios da ‘química verde’, já que não há resíduos: tudo o que entra no processo de fabricação sai no produto. Isso é importante porque a principal fonte de tensoativos hoje é o petróleo e há urgência em buscar fontes alternativas para matéria-prima desses produtos”, explicou. Terapia gênica El Seoud é o pesquisador responsável pelo Projeto Temático “Sintese, propriedades e aplicações de tensoativos e biopolímeros funcionalizados: Um enfoque de química verde”, apoiado pela FAPESP.

Ele explica que a estrutura de um tensoativo consiste em uma “cabeça” iônica – ou polar – e uma cauda apolar. Na maior parte dos detergentes de uso doméstico hoje existentes no mercado eles são baseados no petróleo. A “cabeça” é de benzeno sulfonato de sódio e a “cauda” consiste em um alcano ou um hidrocarboneto.
“Já nos tensoativos à base de açúcar, a ‘cabeça’ é de glicose, sacarose ou frutose, enquanto a ‘cauda’ consiste em um ácido graxo ou um álcool graxo – ambos obtidos a partir de gordura”, disse.

Os tensoativos iônicos produzidos no laboratório do IQ-USP são feitos à base de aminoglicose, açúcar extraído da quitina, um carboidrato que compõe as cascas de camarão e de crustáceos em geral.
“A partir de um processo químico, essa quitina é transformada em quitosana. Esses dois carboidratos têm vários usos, porque são biocompatíveis. Podem ser usados, por exemplo, em curativos em forma de filmes, para tratamento de queimaduras, levando o princípio ativo para o organismo”, disse.

Além de aplicações em detergentes, pastas de dentes e fármacos, os tensoativos à base de açúcares poderão ser usados como vetores não-virais (que não usam vírus) para terapia gênica, com potencial para aplicação em doenças infecciosas, cardiovasculares, fibrose cística, doença de Parkinson e alguns tipos de câncer.

Segundo El Seoud, a alternativa teria diversas vantagens em relação aos vetores virais: simplicidade e baixo custo de produção, compatibilidade com o sistema imunológico e alta capacidade de transfecção in vitro – introdução de uma molécula de DNA em uma célula.
“O protocolo viral é muito eficiente, porque o vírus contorna todas as dificuldades para chegar ao interior da célula levando o DNA sadio. Mas envolve também grandes problemas, por lidar com um vírus no corpo humano, representando certo risco de toxidez, ou provocando uma reação imunológica”, indicou.

No protocolo não viral, o DNA e um tensoativo catiônico – que pode ser feito à base de açúcar – formam um complexo. “A associação entre o DNA e o lipídio catiônico ajuda a proteger o DNA contra a degradação, facilitando sua incorporação na célula. Embora menos eficiente que o protocolo viral, esse método é mais seguro, de baixo custo e poderia ser aplicado em larga escala”, disse.

Sugar-Based Surfactants: Fundamentals and ApplicationsAutor: Cristóbal Ruiz (Org.)Lançamento: 2009 Preço: US$ 205Páginas: 680
Mais informações: www.amazon.com

Fonte: Agência Fapesp

sexta-feira, 13 de março de 2009

Senadores defendem produção de energia eólica

Geraldo Sobreira

Em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) sobre os leilões de contratação de energia eólica, os senadores Cícero Lucena (PSDB-PB), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Jefferson Praia (PDT-AM), Lobão Filho (PMDB-MA), Ideli Salvatti (PT-SC) e Renato Casagrande (PSB-ES) defenderam a produção de energia eólica para diminuir a produção de gases de efeito estufa.

Cícero Lucena perguntou à representante do Ministério do Meio Ambiente, Ana Lúcia Dolabella, sobre o impacto ambiental da produção de energia eólica. Ana Lúcia respondeu que, apesar de ter o objetivo de substituir a energia de combustíveis fósseis, a energia eólica, considerada limpa, também produz impacto ambiental. O ministério estuda os efeitos ambientais desse tipo de energia, acrescentou.

Por sua vez, Flexa Ribeiro manifestou a preocupação sobre a melhor forma de incentivar a produção de energia eólica. O representante da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Edvaldo Alves de Santana, disse que o leilão é a melhor maneira. "Há necessidade de calibrar o preço teto para não dar um leilão vazio", observou o técnico.

Jefferson Praia defendeu a realização de pesquisa sobre fontes de produção de energia eólica na Amazônia. Edvaldo Alves de Santana disse que no Amapá e no Maranhão há potencial de produção desse tipo de energia. Na opinião do técnico, na Ilha do Marajó, entre outras áreas da Amazônia, também existe tal possibilidade.

Na mesma reunião, a comissão aprovou requerimento de Casagrande com o objetivo de propor ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que institua um incentivo à energia solar no programa de habitação popular. Aprovou ainda, também por sugestão de Casagrande, pedido de realização de sessão solene do Congresso Nacional para celebrar o Dia Mundial da Água, em 24 de março. Outro requerimento aprovado, de autoria de Cícero Lucena, visa à realização de audiência pública sobre fontes de energia alternativa.

Fonte: Agência Senado