quarta-feira, 30 de junho de 2010

Desafios da química ambiental

Por Fabio Reynol,  da Agência FAPESP 

 “É preciso conhecer os limites do planeta e definir melhor o que se entende por sustentabilidade”, disse Arnaldo Alves Cardoso, professor do Instituto de Química de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que coordena o projeto de pesquisa Effects of emissions on current and future rainfall patterns in Southeast Brazil, apoiado pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

Segundo Cardoso, o desenvolvimento econômico dos países traz com ele o aumento no consumo de produtos e serviços, o que causa uma contradição: quanto mais rica uma nação se torna, maior será o impacto que ela provocará sobre o planeta.

Como exemplo, citou dados da Energy Information Administration (EIA) dos Estados Unidos, segundo os quais o país consumiu 71,4 exajoules de energia em 2006, enquanto o Brasil consumiu 8 exajoules e Moçambique, 0,207 exajoule, no mesmo período.

“Ou seja, Moçambique leva 345 anos para consumir a quantidade de energia que os Estados Unidos gastam em apenas um ano”, comparou Cardoso, para quem os desejos de consumo também provocam uma contradição.

“Queremos ter um belo carro, morar em um grande apartamento voltado para uma floresta e, de preferência, perto de uma praia ou cachoeira. E não nos damos conta de que o avanço dos padrões de consumo está exaurindo o planeta”, disse Cardoso.

O pesquisador destacou o artigo A safe operating space for humanity, escrito pelo grupo de Johan Rockström, da Universidade de Estocolmo, Suécia, publicado na edição de setembro de 2009 da revista Nature.

O artigo listou nove limites críticos para a sustentabilidade do planeta: mudanças climáticas; perda da biodiversidade; interferência nos ciclos globais de nitrogênio e fósforo; uso de água potável; alterações no uso do solo; carga de aerossóis atmosféricos; poluição química; acidificação dos oceanos; e perda do ozônio estratosférico.

Três áreas já teriam ultrapassado o limite da sustentabilidade: mudanças climáticas, perda da biodiversidade e o ciclo do nitrogênio. A expansão da agricultura seria, na opinião do professor da Unesp, um dos fatores que mais afetam o planeta. “A agricultura é uma atividade que influencia todos os nove limites divulgados no artigo de Rockström e colegas”, disse Cardoso à Agência FAPESP.

Utilizado nas lavouras como fertilizante, o nitrogênio é importado por vários países agrícolas, incluindo o Brasil, e apenas parte desse elemento é incorporado ao produto. A maior quantidade fica no ambiente em que é aplicado.

“As plantas absorvem, no máximo, 30% do nitrogênio aplicado no solo e todo o excedente fica no país que utiliza o fertilizante”, disse o professor, que também coordena o projeto Deposição atmosférica de espécies químicas nitrogenadas em corpos de água superficial, apoiado pela FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.

Além de ser um importante contaminante e formador do óxido nitroso, um dos mais poderosos gases de efeito estufa, o nitrogênio também tem sido extraído da natureza de maneira desequilibrada, segundo Cardoso.

Em 1990, quando a produção mundial de nitrogênio atingiu 80 milhões de toneladas, o homem igualou a capacidade natural do planeta de utilizar esse elemento. Desde então, com índices crescentes de 156 milhões de toneladas em 1995 e 187 milhões em 2005, mais nitrogênio tem sido retirado da natureza, o que pode levar à escassez do elemento fundamental para a produção de alimentos e de bioenergia.

“O nitrogênio tem um papel fundamental na agricultura. Sem ele, cerca de 3 bilhões de pessoas, metade da população mundial, não estariam aqui hoje”, disse Cardoso, explicando que o elemento foi crucial na chamada revolução verde, proporcionando, por exemplo, um salto na produção de trigo na Índia de 12 milhões de toneladas, em 1965, para 73,5 milhões de toneladas em 1999.

Esse é um problema a ser enfrentado também na produção de biocombustíveis, como o biodiesel e o etanol da cana-de-açúcar, de acordo com o cientista.

Esgoto terciário Cardoso destacou outro fator de forte impacto ambiental, especialmente no Brasil: a falta de tratamento de esgoto. Segundo o Sistema Nacional de Informação Sanitária (SNIS), em 2004 apenas 32,5% do esgoto produzido no Brasil recebia algum tipo de tratamento.

Além disso, a parte do esgoto que é tratada não retira as moléculas mais complexas. “Aquilo que chamamos de água limpa que sai dos tratamentos contém fármacos, hormônios, nitratos, sulfatos e fosfatos – e esses últimos vão para os rios gerando a proliferação de algas”, disse.

“Não sou contra o tratamento atual de esgoto, que é um serviço muito importante, mas é preciso dizer que ele precisa ser aperfeiçoado”, afirmou o professor, ressaltando que é crucial investir em tecnologia para que a química consiga atingir também o chamado nível terciário de tratamento de esgoto, que ataca essas substâncias.

Em relação ao consumo de energia, Cardoso coloca um vilão ambiental muito encontrado nas grandes cidades: a combustão. “Toda combustão é um processo de quebra e reorganização e produz sempre óxido de nitrogênio, composto envolvido na formação do ozônio”, explicou.

Importante elemento da alta atmosfera, por servir de filtro aos raios solares ultravioleta, na baixa atmosfera o ozônio pode ser nocivo. Cardoso citou uma medição feita em Araraquara, que apontou o aumento da presença desse gás na cidade.

O grupo de pesquisa da Unesp encontrou quase 70 partes por bilhão (ppb) na cidade paulista, enquanto o índice máximo recomendado pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos é de 75 ppb.

Com a combustão provocada principalmente por indústrias e veículos, o ozônio tem subido a taxas de 1% a 2% ao ano em áreas remotas. “Precisamos conhecer as consequências disso, mas ninguém está falando desse problema”, disse.

Outro subproduto da combustão é o nitrogênio. Sua deposição a partir da atmosfera tem provocado a eutrofização dos oceanos, que é a proliferação de algas, e o aumento da acidez dos mares devido à formação de ácido nítrico.

Para Cardoso, contornar esses obstáculos requer uma participação dos químicos e de mais divulgação sobre essa matéria para a população. “Plantar uma árvore que exala aromas em um grande centro, por exemplo, pode piorar a qualidade do ar, pois ao exalar compostos orgânicos voláteis ela vai contribuir para formar mais ozônio”, disse.

Desenvolver tecnologias para o tratamento de esgoto terciário, criar fertilizantes inteligentes que sejam liberados conforme a capacidade de absorção das plantas, pesquisas de alternativas energéticas que dispensem a combustão, buscar alternativas para reduzir as emissões de orgânicos voláteis são algumas pautas sugeridas por Cardoso para os profissionais da química.

O professor ainda defende uma revisão do ensino de química em todos os níveis de formação. “É preciso que esses problemas também sejam colocados em sala de aula, para que os alunos sintam que a química está muito mais relacionada com o nosso cotidiano do que se imagina”, disse.

Comissão agenda votação de mudanças no Código Florestal para próxima semana

Nesta terça-feira (29 de junho) aconteceu mais uma reunião da Comissão Especial sobre o Código Florestal Brasileiro, na Câmara dos Deputados, em Brasília, e a votação das propostas de mudança na legislação foi marcada para os dias 5 e 6 de julho. Algumas sugestões para o texto foram acatadas pelo relator, deputado Aldo Rebelo, mas ainda é preciso que a sociedade se mobilize para que nossa legislação ambiental e nossa qualidade de vida não sejam prejudicadas. Para saber mais acesse o site dos Exterminadores do Futuro e deixe seu comentário também em http://www.conexaososma.org.br/.

Fonte: SOS Mata Atlântica

Petrobras Ambiental lança seleção pública de projetos de todo o Brasil

A seleção que acontece a cada dois anos faz parte de uma das ações estratégicas do Programa, que incluem ainda fortalecimento das organizações ambientais e suas redes e disseminação de informações sobre o desenvolvimento sustentável

Por Agência Petrobras de Notícias

A Petrobras lançou, na segunda-feira (21/6), Seleção Pública de Projetos 2010 do Programa Petrobras Ambiental (PPA). A seleção, que acontece a cada dois anos, faz parte de uma das ações estratégicas do Programa Petrobras Ambiental, que incluem ainda fortalecimento das organizações ambientais e suas redes e disseminação de informações sobre o desenvolvimento sustentável.

Para esta seleção, serão destinados R$ 78 milhões. A cerimônia foi realizada no edifício-sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, e contou com as presenças da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira e da secretária do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, Marilene Ramos.

Após a cerimônia, foi realizada entrevista coletiva com o gerente executivo de Comunicação Institucional, Wilson Santarosa, o gerente executivo de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, Ricardo Azevedo, o gerente de Responsabilidade Social da Petrobras, Luis Fernando Nery, e o presidente do Instituto Terrazul, Marcos Santana, representando as instituições parceiras do Terceiro Setor.

De acordo com Santarosa, a sustentabilidade faz parte de um novo cenário de desafios no mundo e nas empresas. “O programa econômico e o desenvolvimento sustentável devem estar alinhados para garantir a sobrevivência da espécie humana”, disse. A Petrobras tem seguido essa diretriz. O investimento 30% superior nesta seleção pública em relação à anterior indica essa direção.

O gerente de Responsabilidade Social da Petrobras, Luis Fernando Nery, destacou a transparência e o aspecto democratico do processo seletivo “A seleção pública é uma iniciativa que garante a democratização do acesso aos recursos da Companhia, permitindo que sejam inscritos projetos de todos os portes e regiões do Brasil. São formados grupos de avaliadores de diversos setores da sociedade, incorporando visões diferentes e garantindo uma maior transparência do processo”, ressaltou.

Os projetos devem ter como foco principal a gestão de corpos hídricos superficiais e suberrâneos; a recuperação ou conservação de espécies e ambientes costeiros, marinhos e de água doce; e a fixação de carbono e emissões evitadas.

Todas as iniciativas devem promover educação ambiental, visando o consumo consciente, a eficiência energética e a conservação de recursos naturais.

Inscrições
O período de inscrições vai de 21 de junho até 19 de agosto de 2010. Serão aceitas inscrições de projetos sob a responsabilidade de pessoas jurídicas sem fins lucrativos, com atuação no Terceiro Setor, como associações, fundações, ONGs, Oscips e demais organizações sociais. Podem ser inscritos projetos que solicitem patrocínio no valor de até R$ 3,6 milhões e que sejam executados entre 18 e 24 meses.

Os projetos que ultrapassarem o valor de R$ 3,6 milhões terão as inscrições aceitas, desde que os valores solicitados à seleção pública não ultrapassem essa soma.

Seleção dos projetos
Os projetos passarão por triagem administrativa, técnica, comissão de seleção e, em última instância, por um Conselho Deliberativo. Os projetos são avaliados por profissionais da Companhia, técnicos e especialistas externos, representantes do Governo, do Terceiro Setor, de universidades e da imprensa.

Entre os critérios de avaliação estão o alinhamento às diretrizes do PPA; potencial transformador e pioneirismo; cooperação entre entidades mediante redes; capacidade de mobilização da comunidade; impacto socioambiental, entre outros.

A divulgação dos projetos selecionados está prevista para novembro de 2010, no site do Programa.

As caravanas
Estão sendo realizadas caravanas, que são oficinas presenciais e gratuitas, para prestar esclarecimentos às instituições do Terceiro Setor, sobre o roteiro de elaboração de projetos ambientais adotado pela Petrobras. As caravanas visitam todos os estados brasileiros, além de Brasília.

A primeira aconteceu em 10 de maio, em São Luiz. O encerramento será no Rio de Janeiro, na última semana de julho. O cronograma completo da Caravana Ambiental está disponível no site www.petrobras.com.br/ppa2010.

Além das oficinas presenciais, haverá o atendimento on-line, no período das inscrições, de segunda-feira a domingo, das 9h às 21h. A caravana virtual vai usar uma nova ferramenta (formspring), que permitirá a técnicos do Programa responder as dúvidas sobre a seleção pública pela internet, e que ficarão disponíveis a qualquer usuário, permanentemente.

Sobre o Programa Petrobras Ambiental
Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável, o Programa investe em projetos de todo o país, voltados à conservação e preservação dos recursos ambientais e a consolidação da consciência socioambiental brasileira, relacionados aos temas Água e Clima.

Desde que foi criado, em 2003, o Petrobras Ambiental já patrocinou centenas de projetos, tendo alcançado dezenas de bacias e ecossistemas em cinco biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Pantanal. Suas ações já envolveram diretamente 3,6 milhões de pessoas, além de mais de 820 parcerias, 240 publicações, 4.354 cursos e palestras e o estudo de mais de cinco mil espécies nativas.

O PPA inclui também os projetos de biodiversidade marinha, que são referenciais nacionais e têm projeção internacional. Projetos como o Tamar, Baleia Jubarte e Golfinho Rotador, entre outros, integram o Planejamento Estratégico Integrado, uma parceria entre a Petrobras e o Ministério do Meio Ambiente, por meio do ICMBIO. Desde 2008, o Programa passou a incluir as questões relativas à fixação de carbono e emissões evitadas, com base em recuperação de áreas degradadas e conservação de florestas e áreas naturais.

De 2008 a 2012, serão investidos R$ 500 milhões nas ações estratégicas do Programa, que incluem: investimentos em patrocínios a projetos ambientais; fortalecimento das organizações ambientais e de suas redes e disseminação de informações para o desenvolvimento sustentável.

Informações sobre a seleção pública do PPA podem ser encontradas no site: www.petrobras.com.br/ppa2010

Shell se nega a informar sobre grave contaminação na Nigéria

A companhia anglo holandesa Shell rechaçou na semana passada a revelação de documentos que mostrariam mais informações sobre os vazamentos de seus oleodutos na zona do Delta do Níger, na Nigéria. O comportamento da empresa demonstra que está escondendo fatos para não ter que limpar sua contaminação e compensar as comunidades locais, conforme alertam os Amigos da Terra Holanda.

A negativa da Shell aconteceu em março quando os Amigos da Terra Holanda e quatro agricultores e pescadores nigerianos estavam realizando uma audiência em Haya. O caso é contra a matriz e subsidiária Shell Nigéria. Os requerentes acusam a companhia pela grande contaminação ambiental provocada pelo vazamento de petroleiras nos povoados de Oruma, Goi e Ikot Ada Udo. Agora eles pediram uma audiência especial a corte para pedir que a Shell facilite o acesso aos 30 documentos.

"Pedimos a Shell informações referentes ao dano de seus derrames de petróleo, o plano de contenção desses derrames, dentre outras, mas a empresa disse que não nos daria nenhum desses documentos," disse à Rádio Mundo Real, Geert Ritsema, porta-voz de Amigos da Terra Holanda.

"A Shell tenta se mostrar como uma empresa aberta e transparente mas na realidade é completamente fechada", disse o ativista. "Sempre dizem que fazem tudo apropriadamente e que seguem as normas, mas se é assim", pergunta ele, "por que simplesmente não revelam os dados?"

"Eu penso que a razão pela qual se negam a dar esses documentos é que tem medo de logo serem forçados a pagar alguma compensação e limpar o meio ambiente, o que eles querem evitar," disse Ritsema.

Os Amigos da Terra Holanda e os quatro agricultores e pescadores nigerianos querem em juízo que a Shell realize uma manutenção adequada das suas instalações na Nigéria, porque as investigações realizadas indicam que não alcançam os níveis exigidos internacionalmente. Os oleodutos usados ali nunca seriam aceitos na Europa, por exemplo, manifestou Ritsema à Rádio Mundo Real.

Os requerentes no processo também pedem que a Shell limpe a sua contaminação e compense economicamente os quatro nigerianos, porque eles não podem pescar e nem cultivar desde 2005. Ritsema declarou que a contaminação da Shell afeta em geral toda a população de Oruma, Goi e Ikot Ada Udo. Por isso, a demanda de limpeza é tão importante, para que toda a comunidade seja beneficiada.

O ativista dos Amigos da Terra Holanda contou que visitou os povoados de Goi e Oruma e que estes começaram a se desintegrar, pois as pessoas estão desesperadas por não terem nada para comer.

Os ativistas estimam que a quantidade de óleo derramada pela Shell na Nigéria durante os últimos 50 anos quase quintuplica o volume que jorra pela britânica Britsh Petrolium no Golfo do México neste momento.

Fonte: EcoAgência

terça-feira, 29 de junho de 2010

Procuram-se climatologistas

Por Fabio Reynol, da Agência FAPESP
O Brasil precisa aumentar o número de pesquisadores que atuam em modelagem climática. Essa é a opinião de Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), que considera esse o maior desafio para que o país continue crescendo na área.

Nobre, que também é coordenador executivo do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas, falou sobre os desafios e obstáculos para o desenvolvimento de modelos climáticos no país no Faculty Summit 2010 América Latina, evento promovido pela FAPESP e pela Microsoft Research em maio, no Guarujá (SP).

Ele destacou a complexidade das pesquisas climáticas, que envolvem variadas áreas do conhecimento – como física, química, biologia e hidrologia –, além de detalhes como influências do solo, da vegetação, dos oceanos e da própria atmosfera, entre outros.

“Desenvolver um modelo computacional para simulações climáticas que considere cenários futuros e projeções para vários anos é uma tarefa muito complexa. Envolve uma imensa quantidade de variáveis e depende de capacidade de processamento igualmente grande”, disse à Agência FAPESP.

Diante desses desafios, por que o Brasil decidiu desenvolver um modelo próprio, quando há muitos já prontos em outros países? “O primeiro motivo é que precisamos desenvolver a capacidade do país nessa área”, disse.

Segundo Nobre, formar novas gerações de pesquisadores em clima e ter autonomia nessa área é estratégico para um país que baseia boa parte de sua economia em agricultura e lidera a produção de bioenergia, com destaque para o etanol da cana-de-açúcar.

Outro motivo é se manter na vanguarda da modelização do clima. “Precisamos desenvolver também as novas gerações de modelos climáticos”, apontou.

A autonomia brasileira na área também beneficia outros países, especialmente os latino-americanos vizinhos, que partilham de sistemas climáticos próximos. A troca de informações seria útil também para nações africanas. Esses fatos justificariam a defesa de um aumento na colaboração entre pesquisadores do “Sul”, incluindo a Índia.

No entanto, o desenvolvimento brasileiro na modelagem climática está limitado ao número de pesquisadores que se dedicam à área. Atualmente, o país conta com pouco mais de meia centena de profissionais especializados na construção de modelos climáticos.

“O que temos hoje é uma massa crítica mínima. Queremos triplicar esse número dentro de dez anos”, disse Nobre. O pesquisador indica que deveremos dobrar esse número dentro dos próximos cinco anos. Outros centros avançados de modelagem climática de países desenvolvidos em pesquisa em clima contam com um mínimo de 150 especialistas, número que esse esforço nacional em modelagem climática pretende alcançar por volta do ano de 2020.

Supercomputador climático
Com exceção do número de pesquisadores, o Brasil já conta com fatores que o colocam em um lugar privilegiado na pesquisa climática. “Temos quase 20 anos de experiência no assunto, nossos modelos produzem previsões de tempo e da tendência climática sazonal com bons índices de acerto, e agora temos também infraestrutura computacional”, disse Nobre.

O pesquisador se refere ao supercomputador recém-adquirido pelo Inpe com apoio da FAPESP, que tem velocidade efetiva de 15 teraflops na aplicação de modelagem e que deverá entrar em operação até o fim do ano.

Nobre explica que a modelagem climática envolve milhares de variáveis – simulações repetidas que podem chegar, cumulativamente, a centenas de milhares de anos –, considera diferentes cenários e ainda deve apresentar boa resolução. Todos esses fatores exigem uma alta capacidade de processamento, um trabalho que só é possível para os supercomputadores.

O novo sistema de supercomputação custou R$ 50 milhões, sendo R$ 15 milhões da FAPESP e R$ 35 milhões do Ministério da Ciência e da Tecnologia, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). “Esse computador está entre os cinco maiores do mundo voltados à modelagem climática”, disse Nobre.

Com a infraestrutura adequada, o Inpe pretende desenvolver nos próximos anos modelos climáticos de quinta geração, que integram ainda mais processos relevantes ao clima e que são, por conta disso, muito mais complexos.

Política de Mudanças Climáticas é regulamentada

Por Agência FAPESP
O governador do Estado de São Paulo, Alberto Goldman, assinou o decreto que regulamenta a Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC). A cerimônia ocorreu no dia 24, no Palácio dos Bandeirantes.

A regulamentação é resultado da Lei nº 13.798, sancionada em novembro de 2009, que tem como meta a redução, em todos os setores da economia, de 20% da emissão de gases de efeito estufa até 2020, tendo por base o ano de 2005. A meta é quatro vezes mais rigorosa do que a definida no Protocolo de Kyoto.

O decreto cria e especifica as competências do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas, que tem caráter consultivo e tripartite, com participação de representantes de órgãos governamentais, dos municípios e da sociedade civil, totalizando 42 componentes.

O conselho terá a atribuição de realizar audiências públicas para discutir questões relacionadas à mudança do clima, além de propor medidas de mitigação e adaptação.

O decreto cria também um comitê gestor, composto por membros de várias secretarias estaduais, que avaliará e monitorará o cumprimento da meta global e das metas setoriais e intermediárias, que serão definidas na comunicação estadual.

“Cada secretaria terá as suas metas, responsabilidades e trabalhos. Faremos uma avaliação periodicamente para acompanhar a evolução dessa meta que queremos avançar”, disse Goldman.

Até o fim do segundo semestre de 2010, o Inventário de Gases de Efeito Estufa do Estado de São Paulo, que será parte integrante da Comunicação Estadual, apresentará a base das emissões paulistas, possibilitando o cumprimento da meta prevista na lei.

O decreto institui ainda programas e planos voltados para a inovação tecnológica, energia, transporte, construção civil, educação ambiental e para ações emergenciais e mapeamento de áreas de risco, como o programa de crédito Economia Verde, que oferece recursos para entidades privadas na implementação de ações que reduzam as emissões de gases de efeito estufa.

Outro ponto importante é a definição dos critérios para elaboração da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), que será incorporada nas políticas, planos e programas de governo, buscando o desenvolvimento sustentável, com revisão a cada cinco anos.

Pagamento por Serviços Ambientais
Também foram definidos os critérios do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), que visa à formulação de políticas de planejamento, ordenação e gerenciamento do território, de modo a convergir o desenvolvimento econômico com propostas de proteção e conservação ambiental.

Além disso, o secretário estadual do Meio Ambiente, Xico Graziano, assinou a resolução que institui o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). A modalidade inicial prevista na resolução é a remuneração para produtores rurais que protegerem as nascentes dentro de suas propriedades, por um período de cinco anos.

O projeto, denominado de Mina D’Água envolve um município de cada uma das 22 bacias hidrográficas do Estado. Serão investidos cerca de R$ 3,5 milhões do Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição (Fecop).

Mercúrio é mais perigoso no mar

Por Agência FAPESP
 As concentrações de mercúrio em água doce são muito maiores do que as encontradas em água salgada. Entretanto, ao serem ingeridos, são os peixes de mar que oferecem mais riscos à saúde humana.

A afirmação é de um estudo feito por pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e publicado neste domingo (27/6) no site da revista Nature Geoscience.

O motivo é a própria água do mar. A versão potencialmente perigosa do mercúrio é o metilmercúrio (C2H6Hg), que se une à matéria orgânica dissolvida em água doce e, no mar, liga-se ao cloreto, ou seja, ao próprio sal.

“O modo mais comum por meio do qual a natureza transforma o metilmercúrio em uma forma menos tóxica é por meio da ação da luz solar. Quando o metilmercúrio é ligado à matéria orgânica dissolvida, como plantas ou animais decompostos, a luz do sol quebra a molécula”, disse Heileen Hsu-Kim, professora assistente de engenharia civil da Universidade Duke e um dos autores do estudo.

“Entretanto, na água do mar, o metilmercúrio permanece fortemente ligado ao cloreto, não sendo degradado com facilidade pela luz solar. Nessa forma, ele será ingerido por animais marinhos”, explicou.

O metilmercúrio é uma neurotoxina potente que, uma vez ingerida, pode provocar problemas nos rins, no sistema nervoso e até mesmo morte. A ingestão da substância é particularmente perigosa nos casos de gravidez, podendo causar problemas neurológicos na criança.

Como peixes e frutos do mar têm tendência natural de armazenar metilmercúrio em seus órgãos, eles são a principal fonte de ingestão do metal em humanos.

“A exposição ao mercúrio é consideravelmente elevada nos Estados Unidos. Um levantamento epidemiológico recente verificou que 8% das mulheres tinham níveis de mercúrio mais altos do que o limite considerado ideal. Uma vez que os humanos estão no topo da cadeia alimentar, qualquer quantidade de mercúrio nos alimentos se acumula em nosso corpo”, disse Heileen.

Segundo a cientista, o estudo reforça a importância de direcionar pesquisas e políticas de controle do mercúrio para a água salgada. Até hoje, a maior parte dos esforços tem sido direcionada à presença do metal em água doce.

Atualmente, destaca Heileen, cientistas contam com tecnologia capaz de medir com eficácia as concentrações de mercúrio na água do mar, que são menores – e, portanto, mais difíceis de identificar – do que na água doce.

“Como o metilmercúrio não é quebrado pela luz solar na água do mar, sua vida é muito maior ali do que na água doce”, disse. O mercúrio chega à água por muitas rotas. As fontes mais importantes são a combustão de carvão, o refino de ouro e de outros metais não ferrosos e erupções vulcânicas.

O artigo Photolytic degradation of methylmercury enhanced by binding to natural organic ligands (doi: 10.1038/ngeo892), de Tong Zhang e Heileen Hsu-Kim, pode ser lido por assinantes da Nature Geoscience em www.nature.com/ngeo.

Experiências em Responsabilidade Ambiental

A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, seção Rio Grande do Sul (Abes-RS) em parceria com a Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) realizará o Ciclo de Ino­vações 2010 - “Experiências em Responsabilidade Ambiental”. O ciclo é composto de quatro encontros com foco nas engenharias civil, agronômica, química e eletro-eletrônica. O primeiro encontro ocorrerá durante as comemorações do 80º aniversário da Sergs e abordará o tema “Obras Civis: o desafio da Sustentabilidade”.

Local: sede social da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) Av. Cel. Marcos, 163, Pedra Redonda, Porto Alegre, RS.

Programação (*)
11h00 - Recepção e abertura
11h30 - Palestra “Produção e tecnologias mais limpas - avanços - aplicação na engenharia civil” professor Carlos Alberto Mendes Moraes
12h30 - Case “Empreendimentos residenciais sustentáveis” engenheiro Cláudio Teitelbaum
13h00 - Case “Socioambiental: uma nova idéia na concepção de obras de tratamento de Esgoto” engenheiro Valdir Flores
13h30 - Debates
14h00 - Encerramento

(*) O almoço será servido durante o evento

Palestrantes
Carlos Alberto Mendes Moraes - Engenheiro Metalúrgico pela UFRGS, mestre em Engenharia Metalúrgica pela UFRGS, doutor em Ciências dos Materiais - University of Manchester. Professor adjunto da Unisinos. Editor da revista eletrônica Estudos Tecnológicos em Engenharia (Qualis B4/B5). Membro do comitê fundi/RS – Sebrae/RS, do Brazilian Committee for Phase Diagrams of Materials, do comitê de meio ambiente do Instituto Gaúcho de Estudos Automotivos, e do comitê gestor - Fórum Gaúcho de Produção Mais Limpa. Experiência na área de engenharia de materiais e metalúrgica, com ênfase em reciclagem de resíduos.

Claudio Teitelbaum - Engenheiro Civil pela UFRGS, mestre em Administração de Empresas pelo PPGA/UFRGS. Diretor de Qualidade e Relacionamento com o Cliente do Escritório de Engenharia Joal Teitelbaum. Responsável pela Gestão da Qualidade na empresa - Prêmio Nacional da Qualidade 2003, Troféus Diamante (2003 e 2004), Ouro (2002), Prata (2001) e Bronze (1999 e 2000) do Prêmio Qualidade RS, promovido pelo PGQP, Prêmio CNI de Gestão Ambiental – Etapa Nacional, nos anos 2000, 2002, 2005, 2006 e 2008. Vice-presidente do Sinduscon-RS, Examinador Sênior, Orientador e Instrutor da Banca Examinadora do PNQ, Diretor de Qualidade da Fundação Bienal do Mercosul, Diretor do PGQP e representante da Joal Teitelbaum no United States Green Building Council e no Green Building Council Brasil.

Valdir Flores - Engenheiro Civil pela UFRGS; pós-graduado em drenagem pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Atuou por trinta anos em projetos, obras e manutenção de sistemas de abastecimento de água e coleta de esgotos sanitários, tendo exercido cargos de diretor e superintendente no Dmae. Também exerceu atividades, como professor de ensino técnico e instrutor em treinamentos. Atualmente é coordenador do Programa Integrado Socioambiental pelo Dmae e consultor técnico em obras de Saneamento Básico.

Poluição por plásticos nos oceanos: uma preocupação global

* Por Fernanda Imperatrice Colabuono

Os plásticos têm inúmeras qualidades e utilidades que trazem praticidade a nossa vida. Apesar disso, uma vez descartados no ambiente podem causar sérios prejuízos a biota e ao ecossistema. Hoje em dia, os plásticos são considerados poluentes emergentes e constituem um problema global. Por este motivo, pesquisadores de todo o mundo tem se preocupado com este tema e diversos estudos sobre a poluição por plásticos tem sido desenvolvidos.

A ingestão de plásticos por animais marinhos, como tartarugas e aves, é um assunto em particular que tem chamado muito a atenção dos pesquisadores, devido aos danos causados a estes animais. Os efeitos físicos causados pela ingestão de plásticos são os mais conhecidos. Dentre eles pode-se citar o sufocamento por grandes peças de plástico, a obstrução do trato digestório e a diminuição do volume funcional do estômago, que podem causar, em pouco tempo, a morte do animal.

Outro problema associado à ingestão de plásticos que têm sido recentemente investigado é a transferência de poluentes orgânicos persistentes que encontram-se adsorvidos a superfície dos plásticos para os animais que os ingerem. Os plásticos adsorvem os poluentes presentes no ambiente e chegam a ter concentrações tão altas quanto as encontradas em diversos animais, e estão sendo utilizados para monitorar a poluição de diversos locais no mundo.

Apesar de a alimentação ser a maior via de exposição de poluentes orgânicos persistentes para os animais marinhos, alguns trabalhos investigam a ingestão de plásticos como uma fonte adicional de contaminação. Os poluentes orgânicos persistentes são bastante conhecidos por seus efeitos tóxicos e além da sua grande persistência no ambiente, possuem alta afinidade aos tecidos animais. Os bifenilos policlorados (PCBs) e pesticidas organoclorados, como os DDTs, são exemplos de alguns poluentes orgânicos persistentes encontrados nos plásticos.

As aves marinhas estão entre os animais mais afetados pela poluição dos oceanos. São animais com alta freqüência de ingestão de plásticos, em especial o grupo dos albatrozes e petréis que são capazes de acumular os plásticos no trato digestório por longos períodos.

Da mesma maneira, problemas causados por poluentes orgânicos persistentes em aves marinhas são bastante conhecidos, sendo associados com a diminuição do sucesso reprodutivo e declínio de populações destes animais. Em um estudo recentemente realizado no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, foram encontrados PCBs e pesticidas organoclorados em plásticos retirados do trato digestório de albatrozes e petréis. Observou-se que tanto as concentrações destes contaminantes nos plásticos como o grupo de compostos encontrados eram bastante similares aos encontradas nos tecidos das mesmas aves. As investigações continuam em diversos centros de pesquisa em busca de maiores evidências sobre a transferência de poluentes dos plásticos para os animais marinhos.

A mortalidade de animais marinhos causada pelos plásticos pode ser facilmente observada em diversas partes do mundo. Entretanto, a poluição por plásticos pode causar problemas além daqueles que os nossos olhos podem ver como o transporte de poluentes orgânicos e a transferência destes contaminantes para os animais marinhos.

Por serem leves e capazes de flutuar na superfície da água, os plásticos são carregados pelas correntes marinhas e são encontrados até em lugares remotos do planeta, distantes de áreas industrializadas e poluídas, o que mostra que este não é apenas um problema local. A grande quantidade de plásticos presentes no ambiente marinho e os prejuízos causados ao ecossistema por este tipo de poluição é um alerta de que este é um problema que merece a atenção de todos.

* É doutoranda da Universidade de São Paulo

terça-feira, 15 de junho de 2010

Campus Sustentável: Desafios e Oportunidades

Da Agência FAPESP

A Universidade de São Paulo (USP) realizará no dia 17 de junho, em São Paulo, o debate “Campus Sustentável: Desafios e Oportunidades”.

O evento – que é organizado por meio do Programa em Ciência Ambiental (Procam) e pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP – pretende debater o papel da universidade no desenvolvimento de tecnologias e práticas inovadoras e sustentáveis.

Representantes de programas da universidade, como USP Recicla, Programa para Uso Eficiente de Energia na USP (Pure) e do Programa de Uso Racional de Energia e Fontes Alternativas (Purefa), entre outros, serão os principais debatedores do encontro.

O evento será realizado no auditório professor Francisco Romeu Landi, no Prédio de Administração da Escola Politécnica da USP, Cidade Universitária.

Mais informações: www.usp.br/procam/documentos%20downloads/cartaz_CampusSustentavel.pdf ou (11) 3091-3496 , (11) 3091-3496 .

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Documentário denuncia desastre ambiental em ilha fluminense

Por Talita Rodrigues, da Fiocruz

As agressões ambientais ocorridas na Ilha da Madeira, em Itaguaí (RJ), e as consequências disso na vida dos pescadores do local são o tema central do documentário ‘Território de Sacrifício ao Deus do Capital: o caso da Ilha da Madeira’. O vídeo foi produzido por pesquisadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e mostra como a vida dos moradores da ilha foi afetada com a chegada de grandes empreendimentos econômicos à região do Porto de Itaguaí.

Considerada estratégica economicamente por estar localizada entre os maiores centros industrias do país e sediar um dos maiores portos do Brasil, a região sofreu grandes impactos ambientais a partir da década de 1950. Além das indústrias que se instalaram na própria Ilha da Madeira, as empresas do entorno também geram vários poluentes industriais que trazem consequências para a vida, o trabalho e a saúde dos moradores da localidade.

O nome do documentário é uma referência ao termo ‘Zona de Sacrifício’, utilizado por alguns autores para definir áreas determinadas pelo poder público para receber empreendimentos econômicos. Normalmente, são regiões vulneráveis socialmente, com população de baixo nível socioeconômico. “No caso da Ilha da Madeira, os moradores e pescadores foram coagidos pelo poder público a aceitar as indenizações e imposições das empresas.

Eles minam as resistências da população para que ela aceite coisas como se mudar de suas casas, por exemplo, para abrir espaço para a instalação das indústrias”, conta Marcelo Bessa, coordenador do projeto de pesquisa ‘A construção compartilhada de cenários exploratórios e prospectivos entre atores envolvidos em conflitos socioambientais – o caso do passivo ambiental da Companhia Mercantil e Industrial Ingá’, que gerou o filme.

A ideia de produzir o documentário foi dos próprios moradores que participaram da pesquisa e queriam dar mais visibilidade à situação que enfrentam. “Muitos relatam que se sentem invisíveis e sem identidade. Eles dizem que o poder público mudou até o nome da Ilha da Madeira, que é muito associada a conflitos ambientais, e passaram a chamar de Porto de Itaguaí”, diz Marcelo.

No filme, moradores e pescadores da ilha fazem relatos sobre o conflito ambiental e como isso afeta suas vidas. Eles contam como era a ilha antes da chegada das indústrias e falam sobre as pressões feitas pelo poder público para que os moradores deixem suas casas e abram espaço para a instalação das empresas.

“Todo o filme foi feito com a colaboração dos moradores, que participaram de diversas oficinas durante a produção do documentário e ajudaram a elaborar o roteiro do vídeo”, disse Marcelo, acrescentando que será realizada uma sessão especial para que os moradores possam assistir ao resultado final. O documentário foi dirigido por Fabiana Melo Sousa, do Laboratório Territorial de Manguinhos (LTM) e teve o apoio do Núcleo de Tecnologias Educacionais (Nuted) da EPSJV.

O documentário estará disponível, em breve, no site da EPSJV (www.epsjv.fiocruz.br) e também poderá ser solicitado por pessoas ou instituições que tenham interesse no vídeo gerado pela pesquisa.

Ilha da Madeira e Ingá
A Ilha da Madeira é um bairro do município de Itaguaí (RJ), reduto tradicional de pescadores, que hoje tem cerca de três mil habitantes. Inicialmente, a localidade foi habitada por portugueses que a batizaram com o mesmo nome da ilha portuguesa. Na década de 1950, a ilha foi ligada ao continente por meio de um aterro, para facilitar o acesso ao local.

A Companhia Mercantil e Industrial Ingá, que era beneficiadora de Zinco para exportação, se instalou na Ilha da Madeira na década de 1950 e encerrou suas atividades no final dos anos 1980, quando faliu. Durante esse período, a Ingá criou um grande passivo ambiental para a localidade, pois, para a produção do Zinco, que é extraído da Calamina (um tipo de minério), há um processo industrial que gera subprodutos como Zinco, Cádmio e Níquel, entre outros.

Esses resíduos, que chegaram a 3,5 milhões de toneladas, eram depositados em uma lagoa artificial, criada pela empresa e ligada à Baía de Sepetiba, e causaram a contaminação do solo, da água subterrânea, da água do mar, dos manguezais e da própria Baía. “A relação entre a Ingá e os pescadores sempre foi conflituosa e, com o passar dos anos, só piorou. São duas atividades difíceis de conciliar: uma é industrial e poluente e a outra é extrativa e artesanal”, explica Marcelo.

A Ingá chegou à Ilha da Madeira antes da criação da Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente), atual Inea (Instituto Estadual do Ambiente), o que aconteceu na década de 1970. “A empresa se instalou antes de existir uma política estadual de controle ambiental. Depois, a Ingá foi notificada várias vezes pela Feema, mas continuou poluindo”, destaca Marcelo.

Com a falência da Ingá e o fim de suas operações na Ilha da Madeira, o poder público elegeu um síndico para administrar a massa falida e o passivo ambiental da empresa, incluindo as indenizações dos moradores prejudicados pela atividade industrial. Em 2008, a Usiminas arrematou a massa falida da Ingá em um leilão. Com isso, a Usiminas teria, entre outras coisas, que indenizar os moradores, mas esse leilão gerou ainda mais conflitos e é questionado por diversas ações judiciais.

Projeto
O projeto de pesquisa ‘A construção compartilhada de cenários exploratórios e prospectivos entre atores envolvidos em conflitos sócio-ambientais – o caso do passivo ambiental da Companhia Mercantil e Industrial Ingá’ foi iniciado no ano passado e concluído em 2010, financiado com recursos da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde (CGVAM/SVA/MS).

Os pesquisadores do Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde (Lavsa) da EPSJV trabalharam em conjunto com as associações de pescadores da localidade – Aplim (Associação de Pescadores e Lavradores da Ilha da Madeira) e Apaim (Associação de Pescadores Artesanais da Ilha da Madeira). “O objetivo do projeto era desenvolver uma metodologia participativa, que possibilitasse aos moradores da região uma melhor capacidade de denúncia e de organização em seu território. Nossa intenção era conhecer os interesses, preocupações e percepções dos envolvidos no conflito ambiental da Ilha da Madeira”, explica Marcelo.

Por meio de entrevistas semi-estruturadas, grupos focais, oficinas de planejamento local e pesquisa documental, os moradores foram estimulados a falar sobre sua realidade e seu futuro, reconhecendo seus problemas e propondo soluções. Nas falas, os pescadores identificaram como principais problemas da ilha as transformações acontecidas no território, com a instalação das empresas e do porto, e a degradação do ecossistema marinho e do ambiente urbano.

Uma das consequências diretas no cotidiano dos moradores é que, com a instalação do Porto de Itaguaí e, futuramente, do Porto Sudeste e de um estaleiro da Marinha, a área de navegação é cada vez mais restrita, reduzindo o espaço de trabalho dos pescadores. “Além da contaminação, que diminui a qualidade e a quantidade do pescado, ainda há a restrição da produção. Alguns tipos de frutos do mar, como as ostras, mariscos e camarões são altamente vulneráveis à contaminação. O mangue também está totalmente contaminado porque o sedimento poluente se deposita no leito dos rios”, observa Marcelo.

O não pagamento das indenizações devidas aos moradores por causa do passivo ambiental da Ingá também é apontado pelos moradores como um dos principais problemas. Como soluções para os problemas identificados, os moradores indicam a maior mobilização da comunidade, maior publicização dos problemas, a revisão dos processos de indenização e a implantação de projetos para cultivo de mexilhões e criação de algas marinhas, para gerar renda para os habitantes do local.

Estiagem no Sul

Da Agência FAPESP
 Um mapeamento realizado por pesquisadores do Centro Regional Sul do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CRS/Inpe), em Santa Maria (RS), aponta que a região Sul do país tem enfrentado períodos de estiagem com intensidade e frequência acima do normal.

Os pesquisadores do Núcleo de Aplicação e Pesquisa de Geotecnologias em Desastres Naturais e Eventos Extremos (Geodesastres) utilizaram imagens de satélites para mapear as áreas atingidas pela estiagem no Sul brasileiro no período de dezembro de 2000 a junho de 2009.

O levantamento aponta que, nos verões de 2005 e 2009, foram comprometidas por intensa estiagem áreas correspondentes a 187.726 km² e 198.857 km², respectivamente, o que corresponde a 33,3% e 34,3% da região Sul. Os resultados mostram que os estados do Paraná e do Rio Grande do Sul foram os mais afetados.

As imagens EVI (Enhanced Vegetation Index, ou Índice de Vegetação Melhorado), obtidas pelos sensores Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (Modis), a bordo dos satélites Aqua e Terra, permitem identificar as variações no verdor da vegetação (estado de sanidade) causadas por eventos climáticos, como a estiagem.

Para a análise, foram utilizadas 392 imagens e gerados 196 mosaicos, considerando as quatro estações do ano. As imagens de anomalias de vegetação foram calculadas pelo índice de vegetação padronizado para cada estação do ano no período estudado.

Segundo o Inpe, os resultados da análise das imagens foram integrados com dados de precipitação média, por estação do ano e dados de índice de precipitação padronizada mensal.

O mapeamento realizado teve como objetivo propor uma metodologia para monitorar a ocorrência de estiagem na região Sul do Brasil utilizando imagens índice de vegetação melhorado.

Após testada a metodologia, o Núcleo Geodesastres está criando o Laboratório de Estiagem da região Sul do Brasil (LESul) com a colaboração do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, com o objetivo de realizar pesquisas nessa área.

Mais informações: http://www.inpe.br/

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Biota-FAPESP é destaque na Science

Por Fabio Reynol, da Agência FAPESP 
O balanço da primeira década do programa Biota-FAPESP é um dos destaques na edição desta sexta-feira (11/6) da revista Science.

O artigo Biodiversity Conservation Research, Training, and Policy in São Paulo, assinado pelos coordenadores do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (Biota), destaca como a pesquisa em biodiversidade pode combinar o avanço do conhecimento e a formação de especialistas com o aperfeiçoamento de políticas públicas, de modo a ampliar o seu impacto.

“Trata-se de um reconhecimento internacional da qualidade da pesquisa brasileira”, disse Carlos Alfredo Joly, coordenador geral do programa e professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, à Agência FAPESP.

O texto faz um breve histórico do programa e descreve a sua abrangência multidisciplinar, que percorre diversas áreas do conhecimento, como a taxonomia, a filogenia, a biogeografia, a ecologia e a bioprospecção, além de efetuar estudos sobre a restauração, a preservação e o uso sustentável da biodiversidade no Estado de São Paulo.

Desde março de 1999, quando foi lançado oficialmente, os cientistas ligados ao Biota já conduziram 94 projetos de pesquisa, descreveram mais de 1,8 mil novas espécies e levantaram informações sobre outras 12 mil.

“A publicação do artigo na prestigiosa revista Science reitera o sucesso da FAPESP em seu trabalho de apoio à pesquisa, sua visão estratégica e sua autonomia administrativa, que permite investimentos em projetos de longo prazo e ampla abrangência”, disse Joly.

Outro motivo para o sucesso do programa apontado no artigo é o fato de o Biota ser um programa totalmente embasado na pesquisa científica, sendo 100% planejado, executado e coordenado por cientistas, o que é algo positivo e raro, segundo Joly. “Certamente a avaliação externa do programa por um comitê internacional também contribuiu positivamente para o nosso desempenho”, ressaltou o pesquisador.

Além dele, assinam o texto quatro membros da atual coordenação do programa – os professores Célio Fernando Haddad e Vanderlan Bolzani, da Universidade Estadual Paulista, e Luciano Martins Verdade e Mariana Cabral de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP). Assinam também os professores Ricardo Ribeiro Rodrigues, que coordenou o Biota de 2004 a 2008, e Jean Paul Metzger, ambos da USP, que juntos coordenaram o trabalho de identificação e mapeamento das áreas prioritárias para conservação e restauração da biodiversidade do estado.

O artigo destaca a influência do Biota no aperfeiçoamento e na elaboração de políticas públicas para o Estado de São Paulo. Até o momento quatro decretos e 11 resoluções estaduais citam textualmente o programa como fonte de seu embasamento. Links para esses documentos também foram anexados ao artigo da Science como material suplementar.

Entre as contribuições do Biota nesse sentido está a delimitação da área de expansão da cana-de-açúcar em São Paulo, base para o zoneamento agroambiental para o setor sucroalcooleiro do Estado, por meio de uma Resolução Conjunta das Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura.

Joly ressalta que a preservação de vegetação nativa auxilia a atividade agrícola. “Para exportar etanol para a Europa, por exemplo, os produtores precisam obter uma certificação ambiental que exige a preservação e, se for o caso, a restauração das Áreas de Preservação Permanente (APP), no entorno de corpos d’água e da Reserva Legal”, explicou.

A formação de recursos humanos altamente qualificados é outro fruto importante do Biota. “Muitos pesquisadores formados na esfera do programa passaram a ocupar postos-chave em órgãos do governo e em organizações não-governamentais”, disse, ressaltando que isso tem ampliado a colaboração do programa com essas instituições.

Modelo internacional
O sucesso do Biota-FAPESP tem inspirado o lançamento de programas semelhantes no Brasil e em outros países. Em dezembro, por exemplo, a National Science Foundation (NSF) dos Estados Unidos lançou o “Dimensions of Biodiversity”.

De acordo com Joly, a internacionalização do Biota é facilitada pelo fato de o programa ter base na Convenção da Diversidade Biológica, documento lançado na Conferência Rio 92 e reconhecido internacionalmente como diretriz para legislações ambientais.

O artigo na Science também cita a revista científica eletrônica Biota Neotropica, lançada em 2001 com o objetivo de disseminar trabalhos científicos sobre a biodiversidade da região neotropical.

Outro destaque é a Rede Biota de Bioprospecção e Ensaios (BIOprospecTA), criada em 2002 com o objetivo de encontrar e organizar componentes bioativos que possam apresentar interesse científico ou econômico. “A rede já gerou três depósitos de patentes, uma das quais já está na fase de testes pré-clínicos como uma nova droga para o tratamento de Alzheimer”, disse Vanderlan.

Os membros do Biota-FAPESP também salientam no artigo os desafios e projetos futuros do programa, entre os quais estão: a) a ampliação das regiões estudadas para os limites naturais da Mata Atlântica e do Cerrado; b) o foco nas bacias pouco estudadas do Estado de São Paulo; c) a biodiversidade marinha; d) o risco potencial das espécies invasoras; e e) estudos focados nas dimensões humanas da conservação da biodiversidade. Outra área de alta prioridade para o programa é a produção de material didático para escolas de ensino médio e fundamental.

“Temos realizado eventos específicos de modo a contemplar esses desafios”, indicou Joly, que citou os workshops internacionais Ecologia Aplicada e Dimensões Humanas em Conservação Biológica, realizado em novembro de 2009, Metabolômica no Contexto da Biologia de Sistemas, em fevereiro de 2010, e o Simpósio Internacional sobre DNA Barcoding, organizado em dezembro de 2009, todos na sede da FAPESP.

O programa também lançou, em novembro de 2009, uma chamada de projetos voltada especificamente para biodiversidade marinha, que recebeu 25 projetos, e está preparando outras chamadas para o segundo semestre de 2010.

Para o coordenador geral do Biota, a publicação do artigo na Science representa uma divulgação importante do programa e auxiliará no estabelecimento de novas parcerias internacionais. “Pesquisadores da área certamente lerão também o material suplementar e entrarão em contato conosco em áreas de mútuo interesse”, disse.

“Em um mundo em que se disputa cada milímetro de página em periódicos científicos de alto impacto, a publicação na íntegra do Science Plan & Strategies for the next decade, plano estratégico e metas do Biota para 2020, como material suplementar do artigo na revista Science, é uma honra imensa para toda a comunidade de pesquisadores e instituições que participam do programa”, afirmou.

O artigo Biodiversity Conservation Research, Training, and Policy in São Paulo, de Carlos A. Joly e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org/.

Universidade Rural apoia desenvolvimento de agronegócios no estado

Vinicius Zepeda, da Agência Faperj

Setor responsável por um terço de toda a riqueza do Brasil, o agronegócio é o principal motivo do superávit da balança comercial brasileira e, consequentemente, do crescimento da economia. Segundo especialistas, o setor está vivendo um período de modernização tecnológica e continuará a ser o principal indutor do crescimento nacional nos próximos anos. Entre as principais causas da expansão agropecuária está o investimento nos chamados spin offs acadêmicos – empresas de base tecnológica, originadas de pesquisas aplicadas e desenvolvidas no ambiente universitário por professores e alunos.

No campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no município de Seropédica, a 73 km da capital fluminense, está situada a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Agronegócios (Ineagro) que, com auxílio do edital Apoio a Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica no Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, está desenvolvendo desde 2008 um projeto de modernização e ampliação de sua infraestrutura, o que permitiu aumentar o número de empresas incubadas.

O projeto, desenvolvido pela coordenadora de projetos da Ineagro, Stella Regina Reis da Costa, professora da Rural – como é popularmente conhecida a UFRRJ –, já está em fase de conclusão e os resultados têm sido animadores. A principal consequência da reforma do espaço – a ampliação de infraestrutura local, com reforma e padronização das salas, ambientes harmonizados para adequar-se a um ambiente de criação e inovação – foi a ampliação em 50% do número de empresas incubadas, que passaram de oito para doze empresas. "Antes a Ineagro funcionava em salas improvisadas no Instituto de Tecnologia da Rural, a conexão de internet era de má qualidade e o espaço não estava adequado para o desenvolvimento de um ambiente de inovação", recorda Stella. "Hoje temos uma conexão de internet de alta velocidade, as salas estão padronizadas, reformadas e adequadas à criação e inovação", acrescenta.

"Antes do apoio da FAPERJ tínhamos sete estações de trabalho, que abrigavam por vezes até oito empresas no espaço compartilhado. Agora, abrigamos dez estações, que compartilham as doze empresas atuais", explica Stella. Também foi montado um planejamento estratégico com ações de marketing para ampliar a comunicação da Ineagro com a sociedade e com a universidade, que já está em fase final de conclusão. "Capacitamos nossos alunos para o empreendedorismo.

Ano passado fomos contemplados com um projeto do Serviço Brasileiro de Apoio à Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) para capacitação das empresas residentes, que já está em andamento. Também estamos em fase de captação de recursos para a elaboração do plano diretor para instalar um parque tecnológico numa área de setecentos mil metros quadrados, já reservada pela UFRRJ, onde também ficará a incubadora", recorda. Stella ainda destaca o impacto social das empresas residentes, que atualmente oferecem cerca de 35 vagas para estagiários de nível técnico e superior e para administradores e engenheiros.

"Além disso, alguns projetos desenvolvidos pela empresa incubada Poranga estão ajudando na capacitação de 10 a 15 trabalhadores sem-terra lotados em assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) da região para desenvolverem em suas comunidades, projetos em agricultura familiar e processamento de frutas, legumes e verduras orgânicas", complementa.
 
Stella destaca que, graças ao projeto apoiado pela Fundação, as empresas incubadas foram estimuladas a acompanhar a execução de projetos para órgãos de fomento e iniciativa privada. Como consequência, a empresa Agribio Defensivos Alternativos (produtos à base de microorganismos e substâncias naturais para controle de pragas e doenças de plantas, que sejam menos agressivos ao homem e o meio ambiente) foi contemplada com Programa Prime, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com o projeto
 
"Microemcapsulação de um agente de biocontrole em matriz polimérica", e também recebeu recursos dos editais Apoio à Inovação Tecnológica no Estado do Rio de Janeiro e Pensa Rio, ambos da FAPERJ, para desenvolver os projetos "Microemcapsulação de Trichoderma spp em matriz polimérica" e "Produção de morango na região serrana do RJ: Diagnóstico da diversidade microbiana e seleção de insumos para redução de agroquímicos".

A BMT Referencial (Geoprocessamento e referenciamento de imóveis rurais, mapas geográficos digitais para mapeamento da economia rural) também foi contemplada pelo Programa Prime da Finep com o projeto "Sistema de Informações Geográficas (SIG) associado à tecnologia da informação, aplicado ao ambiente organizacional".
 
Com outro projeto de SIG, desta vez, para região metropolitana do Rio de Janeiro, a empresa recebeu recursos do edital de Apoio ao Desenvolvimento à Tecnologia da Informação, da Fundação. Com os projetos "Mapeamento digital e monitoramento das áreas de mangue do litoral fluminense, através de tecnologias digitais de geoprocessamento" e "Diversidade biológica na Ilha Grande: uma análise sintética dos processos e base para pesquisas de longa duração", também foi contemplada com apoio dos programas Prioridade Rio e Pensa Rio, também da FAPERJ.
 
Com apoio do Programa Prime, a Casa Barbinotto (cachaças artesanais de alambique) recebeu auxílio para aperfeiçoamento de sua produção artesanal. A Poranga (sementes e mudas certificadas) também recebeu apoio do Programa Prime para produzir sementes e mudas de espécies nativas da Mata Atlântica em Seropédica.
 
Com o edital Auxílio ao Desenvolvimento Tecnológico (ADT1), da FAPERJ, recebeu recursos para desenvolver o projeto "Inventário florístico e fitossociológico da reserva de preservação de produtos naturais dos Sítios Poranga, Angaba e Porangaba, em Itaguaí". Já a Gomes e Brito (licenciamento ambiental, produção de mudas, silvicultura, medições) foi outra que ganhou apoio do Programa Prime para seu projeto de utilização de matéria orgânica do lixo para a produção de mudas de espécies florestais.

A coordenadora do projeto de ampliação da Ineagro explica que, segundo levantamento feito pela empresa de consultoria Instituto Inovação, 40% dos grupos de pesquisa em biotecnologia do País procuram soluções para o agronegócio. "Neste setor, o Brasil compete de forma igualitária com as maiores potências econômicas mundiais.
 
Com investimentos, poderemos ser referência em inovação tecnológica na área agropecuária para os países tropicais", afirma Stella. Para concluir, ela acrescenta outro resultado promissor do projeto. "Estamos firmando um convênio para transferência de tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Alimentos) para uma empresa a ser incubada pela Ineagro, com assessoria da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). Com isso, esperamos disponibilizar a tecnologia desenvolvida nos laboratórios como inovação acessível à sociedade", conclui.

Lei americana impede trabalho de voluntários na limpeza de vazamento de óleo

Por Talita Boros, do UOL Notícias

O trabalho de limpeza e remoção do óleo no golfo do México é realizado e autorizado somente por pessoas contratadas pela própria BP (British Petroleum), responsável pela plataforma "Deepwater Horizon", causadora do acidente no fim de abril. Segundo Leonardo Viana, integrante da ONG norte-americana Ocean Conservancy, o trabalho voluntário não é permitido pela lei americana em casos de derramamento de óleo.


“Embora muitos voluntários queiram ajudar, isso não é permitido pela lei. A responsável pelo desastre (BP) é quem contrata, treina e paga pessoas para fazerem esse trabalho”, afirmou. Segundo Viana, a única forma das ONGs e de voluntários participarem do processo de limpeza é na realização de um trabalho “pré-chegada do óleo nas praias”.

“Nós recrutamos voluntários e limpamos o lixo das praias que ainda podem ser atingidas pelo óleo. Com a remoção de plásticos, garrafas pet e outros tipos de objetos, nós evitamos que os materiais se tornem lixo tóxico com a chegada do óleo, o que complicaria ainda mais o processo de limpeza da região afetada”, disse.


Viana explica que em casos de desastres ambientais como o do golfo do México, os primeiros contratados para o trabalho de limpeza são as pessoas mais afetadas pelo acidente, como pescadores e desempregados, moradores da região atingida.

Segundo a “Times”, a BP contratou cerca de 4.000 pessoas nos quatro Estados do golfo do México afetados para realizar a limpeza.

O acidente com a plataforma da “Deepwater Horizon” é o pior vazamento de petróleo na história dos EUA, superando o acidente de 1989 com o navio Exxon Valdez no Alasca. Os milhões de litros de óleo já derramados estão causando graves prejuízos ambientais e econômicos.

Ecoturismo, qualidade de vida e artesanato de renda irlandesa em Sergipe

Por * Érika Santana Melo Martins e Maria Rosane Prado Almeida

O município de Divina Pastora, no estado de Sergipe, é marcado pela atividade do artesanato. Por tradição, várias artesãs bordam a renda irlandesa. Originada na Idade Média, no continente europeu, ela foi trazida para a localidade pelas missionárias irlandesas. Desse modo, se fez necessário analisar a importância da atividade das rendeiras, o convívio e a organização desse grupo, as tipologias das rendas, sua forma de produção e confecção. Busca-se conhecer os ganhos provenientes dessa atividade e também a importância e influência desse artesanato no modo de vida da comunidade, assim como a produção desse artesanato como uma alternativa para o desenvolvimento do ecoturismo no município.

O ecoturismo, é importante ressaltar, utiliza o patrimônio natural e cultural de forma sustentável, incentivando sua conservação e buscando a formação de uma consciência ambientalista. O turismo gera movimentação de divisas e desperta a população para a busca de conhecimentos, a valorização, a conservação, o beneficiamento e o crescimento da autoestima.

Sergipe é um estado com quase 22 mil km² de área e com 75 municípios divididos em 13 microrregiões econômicas. Dentre elas, encontra-se a microrregião do Cotinguiba, composta por onze municípios, na qual está inserido o município de Divina Pastora, que faz parte do polo turístico dos Tabuleiros Costeiros, sendo a principal região da renda irlandesa. Esse é um dos cinco polos turísticos criados pela Secretaria do Estado de Turismo para melhor divisão dos recursos advindos do Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste (Prodetur-NE). Divina Pastora está localizada a 39 km da capital sergipana. As mulheres que habitam o município bordam variadas rendas, principalmente a renda irlandesa.

As missionárias irlandesas que aportaram no estado de Sergipe trouxeram a arte do saber fazer a renda e difundiram-na para três mulheres e irmãs que se transformaram em matriarcas no ensinar a renda na cidade. Dona Sinhá (Ercília), Marocas (Maria Engrácia) e Dina (Berenice) aprenderam a técnica e transmitiram-na, segundo relatos das próprias rendeiras, para as mulheres da cidade. Hoje essas mulheres oferecem um artesanato rico em detalhes e tiram renda dessa renda, na busca de uma melhor qualidade de vida, mas percebem que os gestores municipais e a maior parte da população pouco conhecem tal riqueza cultural.

Contudo, o ecoturismo, na sua essência, desperta a comunidade para o aprimoramento da suas competências e habilidades na arte, valoriza, preserva, conserva, beneficia e faz crescer a autoestima no local. Por isso, a pretensão deste artigo é ser mais um instrumento de estudos e de promoção desse artesanato que tem beleza, é único e tem originalidade.

O artesanato é algo próprio do turismo cultural, pois está presente em um grande acervo das culturas locais. Trata-se de trabalho manual, da produção de objetos pertencentes à chamada cultura popular. Portanto, fazendo uma ligação entre o ecoturismo e o artesanato, surge a questão da qualidade de vida na comunidade proporcionada pela renda gerada pelo turismo e, consequentemente, pelo artesanato. A qualidade de vida está relacionada ao ambiente em que se vive, ou seja, uma infraestrutura social, principalmente pública, capaz de atuar em benefício do bem comum.

O intuito de estudar sobre esse assunto é contribuir de alguma forma para a diminuição da desvalorização e da falta de reconhecimento desse artesanato e propor um espaço de continuidade para essa atividade, garantindo às rendeiras ganhos mais condinzentes com a riqueza e a delicadeza dos trabalhos que executam com maestria e perfeição, num mundo que se globaliza mais a cada instante.

Esse trabalho artesanal é tão importante para a cidade e para o país que no dia 27 de novembro de 2008 a renda irlandesa foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O modo de fazer a renda irlandesa produzida em Divina Pastora foi incluído no Livro de registro dos saberes , e o município surge como principal território da renda irlandesa no país. Nesse local se econtraram os elementos que culminaram com a adaptação do ofício (vinculado, originalmente, à aristocracia) pelas rendeiras sergipanas, que normalmente são mulheres humildes e que reinventaram a técnica, o uso e o sentido desse saber fazer.

A história da renda irlandesa começa muitos antes do que imaginam as rendeiras que difundiram essa técnica na cidade. Seus primeiros registros datam do século XV. Quando o bordado estava se tornando repetitivo, houve inovação por parte das artesãs medievais, que começaram a alterar a forma de fazê-los, levando à descoberta da renda de agulha. Foi na Itália que surgiu, além de outras rendas, a irlandesa, que apesar de ser assim chamada, foi repassada pelas missionárias da Itália às missionárias da Irlanda, que posteriormente chegaram ao Brasil e difundiram a técnica em Divina Pastora.

Segundo relatos das rendeiras, quem introduziu a renda irlandesa em Sergipe foi Dona Ana Rolemberg, já falecida, que aprendeu com Dona Violeta Sayão Dantas e a ensinou a Júlia Franco. Esta, por sua vez, a transmitiu a Marocas, Ercília e Sinhá. Estas duas primeiras são tias de Dona Alzira, que aprendeu a arte de rendar aos dez anos de idade, ao mesmo tempo que sua prima, Dona Lourdes. As duas, Alzira e Lourdes, até hoje ensinam as mulheres jovens da cidade.

A renda irlandesa é uma das modalidades da renda de agulha, sendo o instrumento básico para transformação dos cordões de lacê e das linhas mercerizadas em peças deslumbrantes, que mais parecem obras de arte. Além da agulha, as rendeiras usam uma almofada ou qualquer objeto que dê suporte para o feitio da peça, uma tesourinha para cortar os alinhavos, e um dedal – embora este último artefato seja o menos utilizado, porque elas dizem que com ele, não sentem a renda sendo feita por suas mãos.

Qual a importância de se trabalhar as dimensões do artesanato, sua inserção na comunidade e seu papel na qualidade de vida dessas pessoas? No Brasil, segundo o artista paraibano Raul Córdula, existem dois tipos de política do desenvolvimento do artesanato: a da disseminação de mercados turísticos de artesanato e a tentativa de inserir o artesão no mercado formal de trabalho. Córdula acredita que ambas são devastadoras, pois tirariam do artesão a autonomia e a força de sua atividade, drenariam a economia e fariam o artesão desacreditar de seu futuro.

Os defensores do ecoturismo , por outro lado, o veem como uma iniciativa que visa o desenvolvimento das comunidades locais, e estas, por sua vez, o percebem como um meio para melhorar sua qualidade de vida . O ecoturismo é mais uma alternativa de renda para essas rendeiras que, ao longo da história, já substituiram o trabalho na roça e nos canaviais pela agulha e o lacê. Substituir o trabalho pesado por um trabalho delicado como o fazer renda irlandesa se tornou algo prazeroso para elas.

Na cidade, não há alternativas de divertimento ou atrativos naturais. Então, a confecção de renda irlandesa veio pra ocupar esse espaço ocioso e, por isso, é comum ver as mulheres produzindo suas peças em plena calçada das casas ou na praça principal da cidade debaixo da árvore, conversando com as colegas que também rendam, ou até mesmo na associação onde se encontram para conversar, enquanto outras, do lado de fora, observam as idas e vindas das pessoas que transitam pela cidade.

Por causa da globalização e da necessidade de se adequar às modernidades impostas pelo capitalismo, as rendeiras tiveram que recriar seu trabalho e criar algumas peças para auferir ganhos um pouco maiores. Antigamente, as peças eram feitas apenas com duas cores de cordão de lacê: o branco e o dourado. Hoje, elas aproveitam outras cores para fazer artigos que impressionam todos os tipos de públicos, como o vermelho, variadas tonalidades do rosa e amarelo, o verde escuro, entre outras. Com elas, produzem peças que estão em evidência, como capinha de celular, colares, broches, brincos, vestidos, pulseiras, apliques de roupa, golas de blusa, arranjos de cabeça, bolsa-carteira, entre outras peças que estão agradando muito variados públicos, principalmente estilistas da região Sudeste.

Um levantamento realizado nos locais onde são comercializadas as peças de renda de Divina Pastora mostrou que o turista, na maioria das vezes, desconhece a origem da renda e como ela é confeccionada. Muitos comerciantes atuam como atravessadores, que compram as peças diretamente das rendeiras a preços baixos e as revendem em seus espaços com grandes lucros.

Poucos são os turistas que têm a oportunidade de presenciar uma rendeira trabalhando em sua renda. Não há um roteiro oficial que englobe a cidade de Divina Pastora e que inclue visitas às suas rendeiras. Os roteiros oficiais de turismo cultural existentes no estado são apenas o de Laranjeiras, o de São Cristóvão e o dos cânions de Xingó – que abrange a visitação ao Museu Arqueológico de Xingó –, os quais recebem toda a atenção e recursos advindos das esferas estaduais e federais. Porém, mesmo sem essa atenção oficial, a renda irlandesa pôde ser vista por milhares de brasileiros, quando a atriz Ana Paula Arósio apareceu no primeiro capítulo da minissérie Mad Maria , transmitida pela Rede Globo: seu vestido era todo em renda irlandesa e foi confeccionado pelas rendeiras de Divina Pastora.

O ecoturismo poderia vir como uma nova alternativa de preservação e promoção desse patrimônio cultural do Brasil. Através de sugestões e medidas sustentáveis, como a criação de um roteiro cultural ou de um roteiro integrado com Laranjeiras e/ou São Cristóvão, o poder público poderia contribuir para uma maior divulgação da arte da rendeira de Divina Pastora. Outro ponto seria o fortalecimento do associativismo entre as rendeiras. Estratégias para tornar mais eficazes as vendas das peças e a compra de matéria-prima, e para consolidar as bases contábeis e administrativas de suas atividades, o que poderia proporcionar um aumento da clientela, auxiliariam também no desenvolvimento sustentável desse patrimônio.

É preciso que, agora, com o reconhecimento como patrimônio cultural do Brasil pelo Iphan, os gestores públicos e a população sergipana valorizem mais esse artesanato e deem condições melhores para as rendeiras trabalharem. Elas precisam ser respeitadas. A comercialização desses produtos deve ser intesificada através de um projeto em que elas não precisem vender as rendas através de atravessadores e que haja venda não só por encomendas, mas sim diretamente para turistas e por outros mecanismos que fortaleçam a economia das rendeiras. É preciso também visar a busca de estratégias de divulgação da renda e da associação das rendeiras, de melhorias das condições de trabalho e de ampliação da geração de renda, para que, assim, a renda irlandesa realmente gere renda para essas rendeiras.

* Érika Santana Melo Martins e Maria Rosane Prado Almeida são formadas no Curso Superior de Tecnologia em Ecoturismo do Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe e foram orientadas, na pesquisa com as rendeiras, por Amâncio Cardoso Santos Neto

Estado de SP decide vender mata nativa

Por Maria Teresa Costa, do Correio Popular

O governador Alberto Goldman (PSDB) decidiu vender 486,7 mil metros quadrados de matas, córregos e cachoeira às margens da Estrada Velha São Paulo-Campinas, na região do Parque Jambeiro. A área, com densa vegetação, equivale a praticamente metade do Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim. Ela integra a antiga Fazenda Serra d’Água, adquirida pelo Estado em 1939 e que teve parte doada ao Exército para a instalação de criação de cavalos — a corporação também tenta, há anos, vender sua parte nas terras. Segundo o governador, a área está desocupada e sem qualquer perspectiva de utilização.

Na Assembleia Legislativa, onde tramita projeto de lei para autorizar a venda, e no Ministério Público, teve início um movimento para convencer o governador a retirar a proposta e dar outra destinação à área, uma vez que existe interesse da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), uma das unidades da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em utilizá-la. O secretário de Agricultura, João Sampaio, informou, em ofício ao promotor José Roberto Albejante, que a secretaria deseja assumir as terras.

Mais de 80% da área está coberta com vegetação. Há uma significativa área de proteção permanente (APP) nos dois córregos que atravessam a propriedade, seguida de uma mata contígua, além de áreas com tipuana formando sub-bosque. Há também mata nativa em regeneração

Estado
A venda foi recomenda ao governador pelo Conselho do Patrimônio Imobiliário, órgão responsável pela formulação da política patrimonial do Estado. Até o final do ano, o governo planeja arrecadar R$ 170 milhões com a venda de bens que estão ociosos ou subutilizados. No projeto que enviou à Assembleia Legislativa, Goldman não estipulou o valor das terras remanescentes da Fazenda Serra d’Água. Diz apenas que no edital de licitação deverá constar o valor atualizado do imóvel.

Procurado pela reportagem, o conselho não se manifestou sobre o assunto.

O promotor José Roberto Albejante oficiou os deputados de Campinas sobre a necessidade de uma discussão sobre a venda da antiga fazenda porque aquela área, na divisa com Valinhos, é a última terra que vem impedindo a conurbação das duas cidades, com o avanço das áreas urbanas. O deputado Jonas Donizette (PSB) disse que está falando com os deputados de Campinas para tentar reverter a decisão.

“Por enquanto, paralisamos a tramitação do projeto na Assembleia e vamos até o governador para pedir a retirada da proposta de venda. É uma área muito bonita, com cachoeira, mata e que poderia ser utilizada pela cidade como um parque”, disse. O deputado Davi Zaia (PPS) afirmou que somente ontem tomou conhecimento do projeto e que irá avaliar suas implicações.

Exército
O Exército também tenta vender a parte da Fazenda Serra d´Água que recebeu em doação do Estado em 1940. Batizada de Fazenda Remonta, ocupa uma área de 7,12 milhões de metros quadrados, dos quais 1,8 milhão está em Valinhos. Ali funcionou a Coudelaria de Campinas, uma das nove unidades do Exército espalhadas pelo Brasil com a função de garantir permanente um plantel de cavalos para fornecer animais às tropas nacionais. Fundada em 1938, a Fazenda Remonta servia especialmente para a criação dos cavalos de tropas de elite, como os Dragões da Independência.

MP mantém ação para conter obra na região
A mobilização do Ministério Público (MP) para garantir a preservação do meio ambiente na divisa de Valinhos com Campinas já resultou em ação civil pública impedindo a duplicação da Rodovia Visconde de Porto Seguro (SP-332) tanto em Valinhos como em Campinas, porque estava ocorrendo sem o devido licenciamento ambiental. As obras foram paralisadas, até que saiu um acordo entre o MP e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para implantação de um projeto urbanístico com calçamento suficiente para abrigar trânsito de pedestres e bicicletas, sem prejuízo do reflorestamento que será necessário.

O acordo, no entanto, não estava sendo cumprido. A Prefeitura havia autorizado empreendedores a ampliarem a Estrada Velha de Campinas (SP-332) para 15 metros de largura, contrariando decisão judicial sobre ação civil pública impetrada pelo MP, que mantém em sete metros a largura da via.

Depois que o MP informou à Justiça sobre a definição de diretrizes fixando dimensões e acessos à estrada, a Prefeitura suspendeu os alvarás de aprovação e execução de obras de 16 empreendimentos habitacionais em fase de implantação na região do Parque Jambeiro. (MTC/AAN)

SAIBA MAIS - Propriedade histórica
O nome Serra d’Água dado à área deve-se ao desvio de água que foi feito na época do Império para movimentar uma serra da antiga fazenda.

As terras são refúgio de uma grande quantidade de fauna e, no período imperial, a fazenda recebia a denominação de Vista Alegre.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Rebia debate sobre o papel do cinema na Comunicação Ambiental

Durante os dias 19 e 20 de junho, a Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) promoverá uma Oficina de Comunicação Ambiental durante o Cine Sul Ambiental, mostra temática que faz parte da programação oficial do Festival Ibero-Americano de Cinema e Vídeo (Cinesul).

A oficina será ministrada pelo editor científico e coordenador do Fórum Nacional da Rebia, jornalista Fabrício Ângelo, que é mestre em Ciência Ambiental.

Segundo uma das organizadoras do Cinesul, Claudia Duran, os filmes de temática ambiental sempre marcaram presença no festival, mas de maneira tímida a princípio.

“Mas desde 2007, ano em que entrei pra produção do evento, estamos percebendo um número crescente deste tipo de produção, assim como o tema meio ambiente, que vem conquistando espaço em todas as outras mídias também”.

A parte ambiental do evento tem a curadoria do produtor Washington Carvalho. Para Claudia a intenção de divulgar produções com temática ambiental não é só levar entretenimento com bonitas imagens de natureza, mas acima de tudo trazer reflexões. “E por isso incluímos a oficina na programação, é necessário termos um espaço de integração e debate com o público, fortalecendo a ideia de que o melhor caminho para o homem é viver de maneira sustentável”, disse.

A mostra será realizada no Centro de visitantes do Jardim Botânico que fica à rua Jardim Botânico, 1008, bairro Jardim Botânico. Mais informações pelos telefones 2232-2044 e 3874 1808 ou pelo email claumarduran@gmail.com

O Cinesul
O Cinesul - Festival Ibero-Americano de Cinema e Vídeo foi criado, em 1994, no Rio de Janeiro como uma mostra de cinema e vídeo dos países do Mercosul, a partir de iniciativa do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, tendo ampliado seus alcance já em sua terceira edição. Ao longo desses anos, cresceu e se estabeleceu definitivamente como uma vitrine da produção cinematográfica latino-americana. Desde a edição de 2006 passou a aceitar nas mostras competitivas trabalhos da Península Ibérica e este ano, trabalhos em todos os suportes. O Cinesul é fruto do trabalho da pesquisadora e jornalista Ângela José do Nascimento (1956-2007) e do produtor e pesquisador Leonardo Gavina.

Conforme Gavina, esse ano houve um aumento significativo no número de inscritos em relação a 2009. “Foram 977 filmes contra os 700 de 2009. Do Brasil vem mais da metade das produções, seguido da Espanha, Argentina e Venezuela. Tivemos até inscrições de países como França, Inglaterra e Canadá que versavam sobre algum tema ligado à latinidade. A comissão de seleção teve muito trabalho para selecionar o que vamos apresentar, não apenas os filmes da competição mas também o que será exibido em mostras paralelas. A qualidade é o principal requisito e temos certeza que o público vai ficar satisfeito com o que verá”, destacou.

PROGRAMAÇÃO DO CINESUL AMBIENTAL

Dia 18 de junho - Sexta feira

A partir da 15h00

El morichal
Chamado de atenção sobre as antigas políticas de exploração petroleira na Venezuela e suas consequências na Comunidade Kariña de Tascabañas, que convive com um escape de gás Metano na sua principal fonte de água.
Venezuela/Cuba, 2009/ 28 min.
Direção: Manuela Blanco

Os mangues e nós
Uma canoa andarilha nos convida a experienciar uma viagem por rios de mangues do ceará, e nesse percurso nos apresenta os espaços, os tempos, as relações e a vida nos manguezais.
Brasil, 2009/54 min
Direção: Sabina Nunes Colares

Dia 19 de junho - Sábado

A partir das 10h30

Oficina de Comunicação Ambiental (parte I)

12h30 – Almoço

A partir das 15h

Entre rios
Propõe um resgate à história da cidade de São Paulo tendo como foco a relação da cidade com seus rios. Aqueles que foram a base para fixação da vila nesse território hoje se encontram escondidos subterraneamente ou encurralados por avenidas.
Brasil, 2009 / 25min.
Direção: Caio Silva Ferraz

Outras margens
Aos caiçaras do litoral sul de São Paulo, e a nós todos, foram-nos concedidos todos estes tesouros, abundância das águas, de pescado, de frutos, de verde... de beleza. Águas que, correndo há milhares de anos, moldaram, e continuam moldando, o meio físico e a vida dos homens que nele co-habitam.
Brasil, 2009 / 56min.
Direção: Felipe Scapino

Dia 20 de junho - Domingo

10h30 às 12h00 - Oficina de Comunicação Ambiental (parte II)

Dia 24 de junho – Quinta-feira

A partir das 15h

Dias de caiçara
Documento único que, pela primeira vez, registra a música, o jeito de viver e de ser dos caiçaras. Uma vibração que sem as circunstâncias do passado, jamais se reproduzirá nas novas gerações. Mais do que o registro, um tributo aos caiçaras que trouxeram até os dias de hoje este legado encantador.
Brasil 2009 / 45min.
Direção: Luis Scarabel Junior

La moneda (LP)
Reflexão sobre episódios como a Guerra do Pacífico (século XIX), e o período da Unidade Popular do então presidente Salvador Allende. Nos dias atuais, o projeto da mineradora canadense Barrick Gold choca ambientalistas ao propor remover glaciais andinos para extrair ouro da mina de Pascua Lama.
Brasil/Chile, 2009/ 94 min.
Direção: Pedro Dantas

Dia 25 de junho – Sexta-feira

A partir das 15h

Huanacache, tierra huarpe (LE)
Lagoas de Huanacache é uma região geográfica que compreende o nordeste de Mendoza e sudeste de San Juan, Argentina. Ali se refugiaram os huarpes. Em outros tempos, estas Lagoas, cheias de água e abundancia davam vida a um povo que navegava em suas balsas. Hoje são poços cheios de areia e desolação.
Argentina, 2010 / 36min.
Direção: Silvina Cuman y Javier Orradre

Seguir remando
Narra, a través de seus três protagonistas, a transformação de sua cotidianidade, como a de milhares de danificados na cidade de Santa Fe de la Vera Cruz, após sofrer a dor e as perdas materiais durante as enchentes acontecidas nos anos 2003 e 2007 na referida cidade.
Argentina, 2009 / 52 min
Direção: María Langhi

Dia 26 de junho - Sábado

A partir das 15h00

O olhar de João
Como é pensar como a natureza pensa, se a gente não a percebe e a despreza? O documentário mostra como que o fotógrafo João Caetano vê faces e formas ocultas em pedras, troncos, flores e frutos. Um alerta através da fotografia.
Brasil, 2010 / 21min
Direção: Mariley Carneiro

Maré – refúgio da lua
No Subúrbio Ferroviário de Salvador vivem mulheres que se sustentam com a pesca de mariscos, são as Marisqueiras. Elas aprenderam esse ofício com seus pais; contam como era e como é sobreviver só de mariscos, quais as consequências para essa atividade com a poluição aumentando a cada dia.
Brasil, 2009 / 11`25min
Direção: Raiane Vasconcelos

Dr. Ruy, um plantador de águas
Nos anos 70, quando a economia local desenvolvia atividades de extração de madeira, produção de carvão e pecuária de corte, o Dr. Ruy Brandão Caldas suspendeu em sua propriedade toda atividade que agredisse o meio ambiente e iniciou um sério trabalho de recuperar matas e nascentes e de proteger fauna e flora
Brasil, 2009/ 58min.
Direção: Alexandre Toscano

Dia 27 de junho – Domingo

A partir das 15h00

Qué puedo hacer yo?
Este documentário oferece um pouco mais de compreensão do problema ambiental global e como se relaciona com cada um de nós, motivando uma mudança cultural que nos convide a estar atentos e identificar os impactos ambientais de nossos atos cotidianos.
Argentina, 2008/ 82min.
Direção: Víctor Cruz y Edgardo Trevisan