sexta-feira, 18 de maio de 2012

SBPC e ABC pedem vetos a novo Código Florestal


A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) entregaram ontem uma carta à presidente Dilma Rousseff criticando o texto aprovado na Câmara que muda o Código Florestal.

Por Giovana Girardi do jornal O Estado de S. Paulo

As organizações, que desde o final de 2010 vêm apresentando uma série de pesquisas ao governo e ao Congresso para ajudar a balizar a nova lei, queixam-se que essas sugestões - assim como os avanços conquistados no texto que havia saído do Senado - foram ignoradas. O resultado, dizem, é um texto que traz "riscos para o ambiente e para a própria produção agrícola" e não a concilia com a "sustentabilidade ambiental".

A carta esmiúça os perigos de vários pontos que foram inseridos no projeto da Câmara, lembra os riscos da exclusão de outros que estavam no texto original ou na proposta que saiu do Senado e sugere vetos a alguns artigos, incisos e parágrafos. Ao contrário do que vem sendo solicitado por outras entidades, porém, ele não fala em veto total.

"A SBPC e ABC entendem que é uma posição filosófica respeitar o trabalho feito pelo Congresso. Não se pede o veto total, mas citamos todos os problemas que estão no texto da Câmara. Uma leitura mais crítica apontaria para a necessidade do veto total", afirma o biólogo Carlos Joly, da Unicamp e um dos membros do grupo de trabalho criado para discutir o Código Florestal.

"O que não dissemos, mas gostaríamos de dizer, é que os vetos deveriam ser encaminhados junto com uma medida provisória porque, ao vetar determinados artigos, ficará um vácuo jurídico aumentando a incerteza", diz.

O documento dos cientistas pede, por exemplo, veto ao parágrafo que exclui das Áreas de Proteção Permanente (APPs) os apicuns e salgados, dois tipos de manguezais que são visados para a produção de camarão.

Reservas

A carta também questiona o artigo que possibilita a redução da Reserva Legal de 80% para 50% em alguns casos. "Esse dispositivo não é compatível com a política ambiental brasileira, diante dos compromissos internacionais de reduzir as emissões de gases de efeito estufa."

E pede que sejam retomados numa "nova proposta legal" pontos que saíram do Senado. É o caso do artigo que condicionava a obtenção de crédito agrícola à inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental Rural. Da lei em vigor, eles pedem a manutenção da proteção das matas ciliares. "As APPs nas margens de cursos d'água e nascentes devem ser preservadas e, quando degradadas, devem ter a vegetação integralmente restaurada." No texto atual, a obrigação caiu para 50% para os rios com menos de 10 metros de largura e não foram definidas para rios mais largos.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Manaus e as doenças relacionadas à água





Por Observatório Nacional de Clima e Saúde, da Fiocruz

Manaus, como as demais grandes metrópoles brasileiras, tem aumentado gradativamente sua participação na vida nacional, tanto do ponto de vista econômico quanto demográfico. Mas, ao contrário de outras metrópoles, Manaus não está interligada a outras cidades de médio porte, ou a grandes redes de suprimento de energia, alimentos, água. Essa característica torna a cidade singular no mundo. A cidade se tornou fortemente dependente do seu entorno mais próximo, que fornece alimentos, água e energia. O fluxo de mercadorias e circulação de pessoas tem alto custo, é lento e depende grandemente da rede de rios da região. Qualquer evento climático que suspenda o abastecimento ou interrompa as cadeias de suprimento da cidade pode produzir uma crise no setor saúde em grandes proporções. Além disso, a cidade tem atraído migrantes de toda a Amazônia Ocidental, bem como de outras regiões do Brasil e parte da América Latina, que recorrem à cidade no caso de crises ambientais, conflitos étnicos e conjunturas econômicas. Desse modo, a cidade não pode ser vista isoladamente, mas como parte de um sistema sócio-ambiental que abrange toda a bacia amazônica. As crises sociais e ambientais ocorridas na Amazônia Ocidental são sentidas particularmente na cidade de Manaus.

A cidade está localizada na confluência de grandes rios como o Negro, Solimões, Madeira e Purus, cada um destes com regimes diferentes, sujeitos a influência de chuvas na Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), entrada de vapor advindo do oceano Atlântico por ventos alíseos, os eventos do El Niño/Oscilação Sul (ENOS), as trocas de calor e unidade entre vegetação e atmosfera na própria região, além do derretimento sazonal ou permanente das geleiras dos Andes. A defasagem observada entre as curvas de precipitação e nível do rio Negro é uma conseqüência desse sistema climático complexo.

O nível da água do rio Negro é um forte regulador da dinâmica econômica e social da cidade, com o qual a cidade se habituou a conviver. A persistência de palafitas na cidade, como alternativa de habitação tradicional de baixo-custo, demonstra essa capacidade de adaptação da população local às variabilidades climáticas. Nesse e em diversos outros casos, as alterações de nível do rio são assimiladas pelos habitantes, se essas variações ocorrem dentro de uma faixa que não comprometa o funcionamento dos sistemas de transporte, de suprimento de água e alimentos, e do esgotamento sanitário. Maiores variações, tanto em situações de seca, quanto de enchentes extremas, podem provocar o colapso desses sistemas. Por exemplo, um período prolongado de seca pode impedir o transporte em pequenos rios da região, dificultando o suprimento de alimentos para cidade.


Por outro lado, a elevação do nível do rio acima da cota de lançamento dos esgotos, provoca a paralisação do fluxo de esgotos tanto no sistema geral de coleta de esgotos, quanto nos pequenos sistemas de esgotamento comunitários ou individuais. O retorno da carga de esgotos, nesse caso, pode provocar a contaminação da água usada para abastecimento na cidade. Ambos extremos de variação foram sentidos pela cidade no ano de 2009, durante o qual foram registrados períodos prolongados de seca e cheia.



Estes processos favorecerem o surgimento de surtos de doenças relacionadas à água, principalmente as doenças transmitidas por vetores, como a malária e dengue, bem como as doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose, as hepatites virais e as doenças diarréicas.



Foram observados aumentos de incidência de doenças associados ao nível do rio para a leptospirose, dengue e malária. Porém, a maior incidência dessas doenças ocorreu na fase ascendente da curva de nível do rio, o que pode evidenciar um ambiente mais favorável para a transmissão nessas ocasiões, com o alagamento de igarapés, comprometimento de redes de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

As alternativas de adaptação para as mudanças climáticas devem levar em consideração a variabilidade natural das chuvas e regime dos rios, bem como alterações nesses ciclos, de maior intensidade e duração.

Por uma junta científica


Maior integração entre a comunidade científica poderia auxiliar na resolução de importantes questões da sociedade. A mobilização dos cientistas nas discussões sobre o novo Código Florestal serve de exemplo para reflexão.

Por Gabriela Reznik, da Ciência Hoje On-line

Cientistas brasileiros devem se unir e estabelecer maior interação com a sociedade para resolver questões nacionais comuns, defende o ecólogo Jean Paul Metzger, da Universidade de São Paulo (USP). Apesar do aumento expressivo da produção científica brasileira na última década, o baixo aproveitamento do conhecimento produzido na formulação de políticas públicas é um sinal de que a ciência nem sempre ajuda a solucionar os grandes problemas do país.

Por uma junta científica
Ecólogos demonstram preocupação com florestas alagáveis que ficaram desprotegidas no novo Código Florestal. Pesquisadora defende mobilização maciça da comunidade científica para reverter situação. (foto: Fritz Rudolf Loewa/ CC BY-SA 3.0)

Alterar esse quadro, segundo Metzger, requer uma mudança de visão da comunidade científica, que tende a encarar a produção e a disseminação do conhecimento como processos lineares, ou seja, pesquisadores geram dados e produtos que são assimilados passivamente pelos indivíduos-usuários. Para o ecólogo, que participou da Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na semana passada, no Rio de Janeiro, cientistas e sociedade devem se organizar em torno de objetivos comuns, guiados por uma visão sistêmica e transdisciplinar. 
Como exemplo dessa abordagem sistêmica, Metzger menciona o estágio final do projeto Biota-Fapesp, iniciado em 1999 em São Paulo, cujo principal objetivo era a caracterização da biodiversidade do estado. “Após oito anos de trabalho, adotamos uma abordagem transdisciplinar a fim de direcionar diretrizes para conservação e restauração da biodiversidade na região; num espaço muito curto de tempo, a Secretaria do Meio Ambiente se apropriou daqueles dados científicos para estabelecer estratégias nessa linha”, conta o ecólogo.

Maior organização e diálogo entre a comunidade científica e outras instâncias sociais foi exigida recentemente em meio à proposta de reformulação da legislação florestal brasileira. A polêmica discussão do novo Código Florestal, aprovado em abril pela Câmara dos Deputados, provocou a manifestação em peso da academia em prol da manutenção de limites estabelecidos no marco legal de 1965. “A comunidade científica brasileira entrou nesse debate, ainda que tardiamente, com uma mobilização única”, lembra Metzger.

A partir do Grupo de Trabalho do Código Florestal – liderado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela ABC – foi elaborado um documento com propostas da comunidade científica a serem incorporadas à nova regulamentação. Apesar disso, Metzger lamenta que pouco ou nada dos dados contidos no documento tenha sido incorporado ao novo código, o que considerou “uma grande derrota para a ciência brasileira”. 


Amazônia fragilizada
A nova definição de Área de Proteção Permanente ao longo dos rios, lagos e nascentes – na qual a vegetação nativa terá como parâmetro o nível regular da água em vez da área de alagamento – é, na avaliação do ecólogo, uma das implicações negativas da recente legislação, principalmente para a região amazônica. “Além da perda de serviços ecossistêmicos com essas áreas desprotegidas, isso significa também risco de vida para as pessoas”, diz Metzger, uma vez que esses locais poderão ser ocupados e permanecer sujeitos a constantes alagamentos.
A ecóloga Maria Tereza Piedade, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), enfatiza a importância do ciclo hidrológico para a dinâmica florestal na região. “A versão atual deixa todas as florestas alagáveis fora do limite de proteção; 60% da população rural da Amazônia vive em várzeas e depende dos pulsos de inundação”, afirma.

Piedade alerta ainda que este ano, no período de cheia, o aumento do volume dos rios amazônicos será maior do que o habitual, o que já pode ser sentido pelas recentes enchentes noticiadas na região. As consequências das cheias sobre a população podem ser maiores com o desmatamento das várzeas. Segundo a ecóloga, o desmatamento é a ameaça mais imediata para a região, “mais urgente do que as mudanças climáticas”.  “Está na hora de fazermos juntas médicas de cientistas na Amazônia”, apela. 


Uma oportunidade de diálogo? 
Logo antes da Rio+20, entre 11 e 15 de junho, vai ocorrer na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) o Fórum Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável. O objetivo do encontro é reunir renomados cientistas, tomadores de decisão e sociedade para discutir o papel da ciência e da inovação na transição para o desenvolvimento sustentável, uma economia verde e a erradicação da pobreza.

124 anos após Lei Áurea, Brasil não consegue erradicar trabalho escravo

Constitucional 438, a chamada PEC do Trabalho Escravo, que prevê a expropriação das terras em que a prática for comprovada. A bancada ruralista foi quem deu a última palavra. O argumento é meramente ideológico: a defesa intransigente da propriedade. 

Por Najla Passos, da Carta Maior

As comemorações dos 124 da Lei Áurea, neste domingo (13), perderam o brilho. Mais uma vez, a Câmara dos Deputados adiou a votação da Proposta de Emenda Constitucional 438, a chamada PEC do Trabalho Escravo, que tramita há 11 anos na casa. Não bastaram a intensa mobilização da sociedade civil, os esforços do governo e o compromisso dos parlamentares mais progressistas. A bancada ruralista, que possui a maioria dos votos na casa, foi quem deu a última palavra, a exemplo do ocorreu na votação do novo Código Florestal. 
A votação estava prevista para ocorrer na noite de terça (8), em sessão extraordinária. 

Durante todo o dia, movimentos camponeses, militantes dos direitos humanos, representantes das centrais sindicais, artistas, intelectuais e políticos participaram de atos e manifestações em favor da matéria, que prevê o endurecimento da pena contra os proprietários das terras onde for comprovada a prática, inclusive com a expropriação das terras para fins de reforma agrária.

Embora nenhum parlamentar tenha chegado à ousadia de subir na tribuna para defender a prática, momentos antes do horário previsto para a votação, o quórum do plenário da Câmara permanecia baixo. As 16:30 horas, apenas 208 dos 513 deputados haviam assinado a lista de presença. Para a aprovação de uma mudança na constituição, são necessários pelo menos 308 votos favoráveis. O deputado Amauri Teixeira (PT-BA) que acompanhava de perto a mobilização em plenário, já denunciava: “Há partidos grandes, alguns deles da própria base aliada do governo, que estão com poucos deputados em plenário”. 

Na reunião dos líderes de bancadas, representantes dos partidos de oposição e da própria base aliada do governo explicaram porque não aprovariam a matéria. De acordo como líder o governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), os ruralistas reclamavam que a PEC não deixava claro o que é trabalho escravo e nem detalhava em quais circunstâncias se daria a expropriação. 

O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), ainda tentou um acordo: os parlamentares aprovavam a PEC como estava, e ele conversaria com o presidente do Senado, José Sarney, para que a casa revisora aprovasse uma lei complementar detalhando os pontos de discórdia. Os ruralistas concordaram. O presidente anunciou a votação para o dia seguinte e deu início às negociações com o Senado. A mobilização social se dispersou.


Entretanto, na quarta (9), pela manhã, os ruralistas se reuniram e decidiram pelo rompimento do acordo. Em documento divulgado, eles criticavam não só os pontos levantados na reunião de líderes do dia anterior, como vários outros. Segundo eles, a PEC implicaria em insegurança jurídica, o que ocasionaria a fuga de investidores do país. 
“Os argumentos são mentirosos. O conceito de trabalho escravo, por exemplo, já está tipificado no Código Penal e e muito bem difundido até no senso comum. Mas eles terão que acertar as contas com a história”, afirmou o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, deputado Domingos Dutra (PT-MA).

Ele criticou também a alegação dos ruralistas de que a expropriação poderia prejudicar, também, um proprietário que, porventura, arrendasse terras para alguém que compactuasse com prática do trabalho escravo. “Saber a quem arrenda um imóvel é dever do proprietário já previsto na Constituição”, rebateu. 

À noite, o quórum era de 338 deputados em plenário. Porém, sem conseguir negociar com os ruralistas, o presidente da Casa fez as contas e, ciente de que não conseguiria aprovar a matéria, adiou a votação para 22 de maio. 


Ferida aberta
Dados do relatório Conflitos no Campo Brasil 2011, divulgados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), na última segunda (7), já mostravam a dimensão atual do problema. Só em 2011, foram identificados 230 casos de ocorrência de trabalho escravo em 19 dos 27 estados do país, envolvendo 3.929 trabalhadores, inclusive 66 crianças. Destes, 2.095 foram de fato considerados em condições análogas à de escravidão, e libertados.

As ocorrências se deram, principalmente, nas atividades ligadas à pecuária (21%), ao corte de cana (19%), à construção civil (18%), a outras lavouras (14%), à produção de carvão (11%), ao desmatamento e reflorestamento (9%), à extração de minério (3%) e à indústria da confecção (3%).

“O trabalho escravo é um fenômeno majoritariamente rural, da fronteira agrícola, da invisibilidade, salvo as raras exceções em que ocorrem nas cidades, com a exploração de estrangeiros ilegais. O agronegócio brasileiro, que se diz pujante, moderno e altamente tecnológico, não precisa estar vinculado a esta prática. Por isso, acredito que a posição da bancada ruralista reflete mesmo é a questão ideológica da defesa intransigente da propriedade”, resumiu o ex-ministro dos Direitos humanos do governo Lula, Nilmário Miranda.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Fiocruz Amazônia promove ciclo de debates em divulgação científica





O ar que respiramos, a água que bebemos e até nossos pensamentos são provenientes de complexas reações químicas. Então porque algumas pessoas tem tanta dificuldade em entender esse tema? Até Herbert Viana exaltou que “gosto de educação sexual e eu odeio química”.
O jornalismo tem a função de informar a sociedade sobre os mais variados temas, não importando sua complexidade. E a Química é um tema atual, especialmente quando falamos de doenças, meio ambiente e novas tecnologias.
O Museu da Vida (Fiocruz / RJ), por meio do Programa de Educação e Divulgação Científica (PEDC) do Instituto Leônidas e Maria Deane – Fiocruz Amazônia, juntamente com a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e o Ministério da Ciência e Tecnologia trazem o ciclo de debates “A Química em Pauta”. O evento, que faz parte das comemorações do Ano Internacional da Química e do aniversário da Fundação Oswaldo Cruz, e é o primeiro passo do projeto Jornalismo e Ciência na Amazônia que tem por objetivo levar aos profissionais e estudantes de comunicação do Amazonas alguns temas mais específicos, principalmente nas áreas de saúde e ambiente.
O ciclo de debates terá a participação da vice-presidente da SBQ, Claudia Rezende, e de representantes do Museu da Vida, Ufam e Inpa, além da palestra do jornalista Sérgio Brandão, criador do programa Globo Ciência e curador da Mostra Internacional Ver Ciência na TV.
Segundo Julio César Schweickardt, vice-diretor de ensino, comunicação e informação do ILMD a instituição está empenhada em ampliar o debate sobre divulgação científica no Amazonas. “Além dos trabalhos que já realizávamos em difusão da ciência, a implantação da Especialização em Divulgação e Jornalismo Científico em Saúde, em conjunto com a Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas (Fapeam) foi fundamental e o PEDC é fruto dessas ações”.
Para a Profa. Luisa Massarani, chefe do Museu da Vida e que há 25 anos cobre temas sobre ciência e tecnologia, esse debate é de extrema importância para as novas pautas de ciência que estão surgindo. “Em geral, a gente pensa na Química como algo distante de nossa realidade e uma matéria difícil que todo adolescente precisa enfrentar; este evento visa mostrar que a química tem tudo a ver com nosso cotidiano e rende matérias instigantes para os jornalistas", ressaltou.
O coordenador do PEDC, Fabrício Ângelo, disse que os debates servem para ampliar o conhecimento dos jornalistas sobre temáticas que não fazem parte do dia a dia de uma redação. “Às vezes a informação sobre as ciências exatas ou biológicas pode render uma boa pauta, mas passa despercebida pelos editores que a considera difícil de ser trabalhada por quem não é da área”, disse. Ainda de acordo com Ângelo, o projeto pretende aproximar o comunicador dos pesquisadores, acabando assim com a tensão existente em alguns momentos dessa relação.
O ciclo de debates “A Química em Pauta” acontece no dia 22 de maio no auditório do Instituto Leônidas e Maria Deane.


Serviço
Projeto Jornalismo e Ciência na Amazônia
A QUÍMICA EM PAUTA
  • Onde: Auditório Canoas – Instituto Leônidas e Maria Deane / Fiocruz AmazôniaRua Teresina, 476 – Adrianópolis / Manaus
  • Quando: dia 22 de maio das 09h00 às 17h00
  • A quem se destina: Profissionais de comunicação e áreas correlatas ao tema
Inscrições pelo e-mail eventos@amazonia.fiocruz.br, colocar no Assunto: Química em Pauta e sua formação profissional. Mais informações: 3621-2443

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Conselho aprova regras ambientais para garimpos no AM

Pela primeira vez, Estado tem aprovada uma resolução estabelecendo normas para a atividade de extração mineral

Por Ana Celia Ossame, do jornal A Crítica

 
Com a exigência de Estudos de Impactos Ambientais (EIA) tanto para a área da atividade quanto no seu entorno, custeados pelo solicitante, além de exigências como o gerenciamento do uso de produtos como o mercúrio, o Conselho Estadual do Meio Ambiente do Amazonas (Cemam), aprovou nesta quarta-feira (9) uma resolução estabelecendo normas e procedimentos para o licenciamento ambiental da atividade de lavra garimpeira de ouro no Estado, atividade exercida desde a década de 1950 do século passado.

O objetivo, de acordo com a secretária de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS), Nádia Ferreira, é trazer para a legalidade quem, historicamente, vem trabalhando de forma ilegal. Segundo ela, com a resolução, a atividade será disciplinada e quem quiser exercê-la terá que se adequar às exigências discutidas amplamente pelo Conselho Estadual, formado por representantes de órgãos governamentais e não-governamentais.


Garimpo do Eldorado do Juma, em Novo Aripuanã, é um dos que poderão ter a lavra legalizada por órgãos do Estado
Garimpo do Eldorado do Juma, em Novo Aripuanã, é um dos que poderão ter a lavra legalizada por órgãos do Estado (Clovis Miranda/Arquivo-AC)


O referido estudo será composto por Plano de Controle Ambiental (PCA) elaborado por equipe técnica habilitada do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), contendo especificações técnicas do empreendimento e da localização geográfica, delimitação da área de influência direta e indireta, estudos a respeito dos meios físico, biótico e social e descrição dos programas de sociais e ambientais a serem desenvolvidos, tudo para garantir a minimização dos impactos ambientais.

Uma preocupação especial foi manifestada pelos integrantes do Cemam é em relação ao uso do mercúrio, tanto pelo potencial de risco à saúde de quem o manipula, quanto de poluição para o meio ambiente. Um dos artigos da resolução exige monitoramento periódico dessas questões. Há também a exigência da realização de pesquisas buscando reduzir ou eliminar o uso de mercúrio na atividade.

Outra exigência importante é a autorização para a lavra, assim como a comprovação de que os associados de cooperativas de garimpeiros têm estudos de boas práticas ambientais. Nesse aspecto, a resolução prevê que as cooperativas terão que estimular os seus associados a participarem desse tipo de curso.

Um item da resolução, que trata dos equipamentos utilizados nessa atividade como dragas e balsas, ainda depende de uma nota técnica para que sejam estabelecidas as especificações dos equipamentos a serem utilizados. Segundo Nádia, só após a avaliação de especialistas, o artigo será finalizado.

A secretária justificou a necessidade de trazer para a legalidade a atividade, diante da necessidade de o Estado monitorá-la. “Sabemos que é uma atividade familiar, que muitas vezes conta com crianças mexendo com substâncias como o mercúrio, perigoso se manipulado de forma incorreta, por isso precisa ser monitorada”, explicou ela.

Estudo apresentado pelo geólogo Frederico Cruz, do Departamento de Produção Mineral Nacional (DNPM), mostra que entre as substâncias minerais garimpáveis no Estado estão, além do ouro, a ametista, a tantalita e cassiterita sendo que as três primeiras são retiradas de áreas indígenas dos Alto rio Negro, enquanto a cassiterita produz-se no Município de Novo Aripuanã (Sudeste do Amazonas) e também na área dos índios da etnia Tenharin, na antiga mina de Igarapé Preto.

A resolução define ainda que a comercialização do produto mineral extraído deve ser legalizado e vinculado às instituições habilitadas para comercializar a substância mineral explorada.

Os casos omissos na Resolução serão resolvidos pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Cemam), órgão responsável pela aprovação e fiscaliza da Política Estadual de Meio Ambiente no Amazonas desde 2005.
Podem requerer licença do Departamento Nacional de Produção Minberal (DNPM) para a atividade pessoas físicas e jurídicas como cooperativas, as quais terão, no ato da licença, que apresentar a relação dos seus associados, assim como estudos do gerenciamento de resíduos e recuperação de áreas degradadas.

Fórum debaterá nova agenda científica internacional relacionada à RIO+20


Por Fábio de Castro, da Agência FAPESP 




A comunidade científica internacional já definiu que, depois da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), será preciso estabelecer uma agenda de pesquisa e tecnologia e inaugurar uma nova relação entre ciência e sociedade.

O caminho para isso será pavimentado na semana que antecede a RIO+20, no "Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development”, que será realizado entre os dias 11 e 15 de junho, também no Rio de Janeiro.

O fórum reunirá alguns dos principais cientistas e formuladores de políticas públicas com o objetivo de explorar o papel-chave da ciência interdisciplinar e inovadora na transição para o desenvolvimento sustentável, para a economia verde e para a erradicação da pobreza – as questões centrais que serão discutidas na RIO+20, entre 20 e 22 de junho.

O fórum será organizado pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU, na sigla em inglês), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Federação Mundial das Organizações de Engenharia (WFEO), o Conselho Internacional de Ciências Sociais (ISSC), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).

De acordo com Alice Abreu, coordenadora regional da Iniciativa RIO+20 da ICSU, o fórum – que será integralmente transmitido pela internet – discutirá temas centrais para o desenvolvimento sustentável inclusivo.

“O fórum será uma importante oportunidade para tentar gerar um diálogo entre a comunidade científica e a sociedade civil. Esperamos representantes governamentais, em nível internacional, para discutir temas que são absolutamente centrais para a RIO+20”, disse Abreu à Agência FAPESP.

Os objetivos do fórum estão alinhados com as conclusões da Declaração sobre o estado do planeta, que consolidou a posição da comunidade científica em relação aos debates da RIO+20. A declaração foi produzida depois de intensos debates envolvendo mais de 3 mil cientistas especializados em temas socioambientais, durante a reunião Planet Under Pressure, realizada em Londres (Inglaterra), na última semana de março.

A principal conclusão da declaração é que os sistemas terrestres estão passando por uma crise sem precedentes e, para evitar uma emergência humanitária de escala global, será preciso realizar ações que só serão viáveis com o estabelecimento de um novo pacto entre a ciência e a sociedade, com maior conectividade entre as lideranças de todos os setores.

Segundo Abreu, os organizadores do fórum propõem uma reflexão sobre como vai ser a transformação da relação entre ciência e sociedade depois da RIO+20.

“Fazemos um grande esforço para que os governos reconheçam a necessidade de basear em conclusões científicas suas políticas voltadas para o desenvolvimento sustentável. Mas achamos que a ciência também precisa fazer sua parte: aproximar-se da sociedade, privilegiar a interdisciplinaridade e engajar-se em buscar soluções para os problemas sociais, sem deixar de priorizar a ciência básica”, disse Abreu.

Além de discutir como a ciência poderia servir melhor a sociedade, fornecendo o conhecimento necessário para enfrentar o desafio do desenvolvimento sustentável, o fórum também deverá debater como garantir a sustentabilidade econômica e o bem-estar humano em um contexto de rápidas mudanças ambientais e sociais.

Outro eixo central do fórum será a discussão sobre como equilibrar a segurança alimentar e energética em um mundo em crescimento econômico e populacional, sem esgotar os recursos naturais, nem ultrapassar os limites planetários.

Essas discussões serão divididas em 11 temas: “Bem-estar humano e tendências populacionais”, “Consumo sustentável e produção”, “Mudanças climáticas e ambientais”, “Segurança alimentar”, “Segurança hídrica”, “Bem-estar urbano”, “Serviços ecológicos e biodiversidade”, “Saber indígena”, “Desastres”, “Energia” e “Economia verde”.

Segundo Abreu, o processo de escolha dos palestrantes, bastante complexo e descentralizado, garantiu a variedade e representatividade necessárias para que o evento tivesse um caráter global. Cada uma das seis instituições que organizaram o fórum em parceria indicou, para cada um dos temas, dois coordenadores de sessões que não pertenciam necessariamente aos seus quadros.

“Esses coordenadores foram escolhidos de forma balanceada entre Norte e Sul, mulheres e homens, países desenvolvidos ou em desenvolvimento e assim por diante. Eles foram responsáveis por propor uma lista de palestrantes que depois foi aprovada por um comitê internacional composto pelos seis reitores das universidades parceiras”, explicou. 

“Futuro da Terra” e sessões paralelas

Além das discussões, a programação do fórum inclui o lançamento de uma nova iniciativa global de dez anos: a Future Earth – research for global sustainability.

“O novo programa é resultado de uma iniciativa de dez organizações internacionais que tentarão inovar na maneira como a ciência é feita. O objetivo do Future Earth é estabelecer de fato um novo contrato entre ciência e sociedade no sentido de envolver todos os campos científicos – incluindo engenharias e ciências sociais – para buscar uma interlocução entre todos os atores da sociedade e estabelecer uma agenda de pesquisa”, disse Abreu.

Além das 11 sessões, o fórum terá 20 eventos paralelos, que terão acesso aberto. Um deles é o FAPESP Research Programs on Bioenergy, Biodiversity and Climate Change, que será organizado pela FAPESP no dia 12 de junho.

Na abertura da sessão, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, falará sobre o tema “Ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável na FAPESP”.

Em seguida, serão realizadas apresentações dos coordenadores de três grandes iniciativas da FAPESP: o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), o BIOTA-FAPESP e o Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

No dia 13 será a vez do “Symposium: Unanswered key questions for biodiversity conservation”, com a coordenação do programa BIOTA-FAPESP.

Outras sessões paralelas serão: “Belmont Forum Collaborative Research Actions to foster international environmental research most urgently needed to remove critical barriers to sustainability” (também coordenada pela FAPESP), “Global Change and Social Transformation”, “Oceans in Focus: Science and Governance for Global Sustainability” e “Science, Technology and Innovation for the Sustainable Development of Amazonia: a Brazilian Perspective”.

Inscrições para participar das sessões paralelas e dos outros eventos no fórum podem ser feitas por meio do endereço: www.icsu.org/rio20/science-and-technology-forum

Plano de manejo invade reserva extrativista.


“Nós, que sempre trabalhamos preservando a floresta, estamos sendo criminalizados; somos vítimas de uma política de extermínio”, denuncia o seringueiro.

A proposta de sustentabilidade defendida por Osmarino Amâncio e Chico Mendes, de gerar riquezas através da produção diversificada sem ameaçar a floresta, está sendo substituída pelo plano de manejo da madeira, que avança nos estados do Acre, Pará e Amazonas. De acordo com Osmarino, somente no Acre já existem quase 200 planos de manejo distribuídos em um milhão de hectares da floresta. “As madeireiras não estão respeitando sequer a técnica da extração do plano de manejo. De acordo com a regra, não é permitido retirar nenhuma árvore com menos de 40 cm de diâmetro. Hoje, eles estão tirando as varinhas finas e fazendo corte raso. Então, milhões de metros cúbicos estão saindo de forma legal e ilegal”, afirma.

Em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone, ele conta que a maioria dos seringueiros se opõe ao manejo da madeira, mas acabam aderindo ao projeto por causa da pressão governamental. “Quando um seringueiro não aceita participar do manejo, ele tem dificuldade de vender seu produto, de escoar sua produção”, informa. Os seringueiros que participam do manejo da madeira recebem um auxílio financeiro, o chamado programa Bolsa Verde, para não extraírem recursos da floresta. Somente em Brasileia, no Acre, mais de cem famílias já assinaram o Bolsa Verde. “Querem que os seringueiros e os índios se conformem com este programa. (...). No estado do Amazonas, a cada trimestre os seringueiros recebem 340 reais de bolsa e, no Acre, eles recebem 300 reais. Ou seja, cada um recebe em média 100 reais por mês para não interferir na floresta, não matar mais a nossa caça, não tirar mais a madeira para construir uma casa”, ressalta.

Ele também critica a Lei de Florestas Públicas, sancionada em 2006, quando Marina Silva era ministra do Meio Ambiente. “A Lei de Florestas Públicas está privatizando a floresta, porque mais de 50 milhões de hectares de áreas florestais são utilizadas para abastecer o mercado da economia verde através do manejo madeireiro, do REED, do mercado de carbono”, aponta.

Osmarino Amâncio (foto) nasceu no Seringal Bela Flor e há mais de cinquenta anos vive no Acre defendendo a preservação das reservas extrativistas. Colega de Chico Mendes, que foi assassinado em 1988, ele fala sobre a amizade com o seringueiro e das dificuldades enfrentadas por conta da defesa do meio ambiente. “Nós sonhávamos com educação de qualidade para o nosso povo, com o desenvolvimento de pesquisas para desenvolver os biomas. Mas nós fomos traídos por esse pessoal. Hoje, vamos ter que começar tudo de novo, mas agora o confronto é contra aqueles que criaram leis que criminalizam o nosso movimento, e que exportam os nossos meios de sobrevivência”, desabafa.


Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual a situação das reservas extrativistas? O que tem impedido a preservação delas?

Osmarino Amâncio – Hoje, a situação das reservas extrativistas é muito complicada por causa da nova política de economia verde implantada pelos governos do Acre, Amazonas e Pará. O grande projeto de extração de madeira no Acre é um dos principais empecilhos para que as reservas extrativistas possam se consolidar, já que o governo fez grandes empréstimos com bancos mundiais.

De acordo com esta política de economia verde, todos os produtos têm que ter selo de exportação, o chamado selo FSC, que foi criado através do Sistema Nacional de Unidade de Conservação e incentivado no ministério sob o comando de Marina Silva, quando ela criou a lei de Florestas Públicas. Essa lei dá uma concessão de uso de determinada área florestal por um período de 40 anos. No caso do Acre, se a pessoa pegar uma área de terra para fazer o manejo sustentável de 500 mil hectares, ela recebe uma concessão por 40 anos. Depois desse período, a concessão pode ser renovada por mais 30 anos. Então, a Lei de Florestas Públicas está privatizando a floresta, porque mais de 50 milhões de hectares de áreas florestais são utilizadas para abastecer o mercado da economia verde através do manejo madeireiro, do REED, do mercado de carbono.

Querem que os seringueiros e os índios se conformem com o Bolsa Verde. O seringueiro sempre viveu da pesca, da caça, e tira a madeira para a sua sobrevivência. Nós, que sempre trabalhamos preservando a floresta, estamos sendo criminalizados; somos vítimas de uma política de extermínio. No estado do Amazonas, a cada trimestre os seringueiros recebem 340 reais de bolsa e, no Acre, eles recebem 300 reais. Ou seja, cada um recebe em média 100 reais por mês para não interferir na floresta, não matar mais a nossa caça, não tirar mais a madeira para construir uma casa. A região da Amazônia virou um marketing, uma propaganda de exportação dos meios naturais. Já estão até vendendo o ar que respiramos.

IHU On-Line – Como avalia a atuação da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em relação às questões ambientais, considerando sua trajetória nos seringais?

Osmarino Amâncio – A Marina não só assinou a Lei das Florestas Públicas, mas também tentaram assinar a Lei dos Transgênicos na ocasião de sua gestão do Ministério do Meio Ambiente. A Lei de Florestas Públicas aprovou o plantio de monocultura para toda a nossa região e aprovou a soja transgênica. O Ministério do Meio Ambiente, junto com o governo Lula, institucionalizou e privatizou todo o potencial natural daquela região com as novas leis organizadas pelo agronegócio, pela Monsanto, pela Aracruz e pelo grande capital. É complicado, porque esse pessoal (Lula e Marina) veio do seio da luta operária. Marina entregou todo o patrimônio para ser detonado pelas multinacionais e por uma série de ONGs que, na época do conflito estavam do nosso lado, mas hoje brigam para oficializar o selo FSC para a exportação dos produtos. Todos os que estavam do nosso lado contra a depredação da Amazônia hoje entraram no mercado para mercantilizar o potencial da floresta, onde está o maior banco genético e biológico do planeta.

IHU On-Line – Que porcentagem da área de unidade de conservação já foi desmatada no Acre?

Osmarino Amâncio – Hoje, no Acre, um milhão de hectares da floresta está sofrendo o impacto do manejo madeireiro e já existem quase 200 planos de manejo. A política de mercado proposta pela economia verde é a principal responsável por essa situação, porque ela é fundamentada nos interesses das madeireiras, das barragens, do etanol, dos transgênicos.

IHU On-Line – Como está sendo feito o manejo comunitário?

Osmarino Amâncio – Ele é organizado pelo governo estadual, que credencia as madeireiras que vão comprar madeira. É o governo que determina para onde a madeira é exportada. Recentemente o governo do estado organizou setenta grandes marceneiros que fizeram parte de uma comitiva; ela foi para a Itália fazer uma turnê comercial para vender madeira brasileira na Europa. Tudo em nome do manejo sustentável.

IHU On-Line – Algum seringueiro participa desse manejo?

Osmarino Amâncio – Alguns participam. O governo deu cargo comissionado para parentes do Chico Mendes apoiarem o discurso do manejo sustentável. Mas a maioria dos seringueiros não aceita o manejo sustentável. Ninguém sabe até quando a nossa pressão será possível, porque eles estão nos privando de uma série de direitos humanos. Quando um seringueiro não aceita participar do manejo, ele tem dificuldade de vender seu produto, de escoar sua produção.

Fora das reservas existem os planos de assentamento extrativista, onde o governo implantou manejo em áreas que estão devolutas e são consideradas dos fazendeiros. Então, os fazendeiros retiram a madeira e, depois, fazem a fazenda, a pastagem.

IHU On-Line – Como os seringueiros de Brasileia têm se posicionado em relação à extração da madeira orientada pelo governo estadual?

Osmarino Amâncio – Muitos seringueiros estão aderindo ao plano de manejo, porque o governo diz que duzentas famílias da reserva extrativista terão de fazer o plano de manejo ou perderão a concessão. Como nós não temos nenhuma assistência técnica para fazer o plano de manejo, o governo quer nos convencer a conceder a nossa concessão para as madeireiras. Assim, elas ficariam responsáveis pelo manejo. Apesar de haver uma resistência muito grande, seringueiros desinformados assinam o Bolsa Verde. No município onde eu moro, mais de cem famílias assinaram o termo do programa Bolsa Verde. Esse documento determina que, a partir desse ano, ninguém poderá fazer um roçado, ninguém poderá pescar sem ter permissão, ninguém poderá derrubar uma árvore. Ocorre que, de acordo com o documento, o Bolsa Verde será distribuído somente durante dois anos, e os seringueiros não têm direitos adquiridos. Teremos de cumprir várias determinações, mas nós nunca cometemos crimes ambientais; basta ver que a floresta está de pé. O seringueiro resistiu e foi contra a destruição da floresta. Quando criamos a reserva extrativista, determinamos que ninguém poderia desmatar mais do que 10% daquela área. Então, o estado do Acre só tem 90% das florestas em pé por conta dessa determinação.

Quando fizeram o manejo madeireiro, nós perdemos o controle da floresta, porque não temos mais o direito de entrar na área. Quando percebemos, já era um deserto o que antes foi floresta. Os engenheiros florestais argumentam que a floresta se recompõe em 30 anos. Recentemente um pessoal foi à floresta medir a idade das árvores, e a árvore mais nova tem duzentos anos de existência. Nós já encontramos um Cumaru Ferro que tem mil anos de existência. A Engenharia Florestal está confundindo a ciência com a disciplina educacional, está arriscando. Eu perguntei para um técnico se ele acreditava nessa questão da sustentabilidade com a mercantilização da natureza, e ele disse que era um risco, mas que precisávamos arriscar. Temos que nos opor a essa política de mercado, porque todo o potencial da floresta está sendo leiloado pelas empresas que hoje se instalam ao longo da estrada do Pacífico [1].

IHU On-Line – Em que consiste a política de reservas extrativistas que o senhor ajudou a elaborar junto com o Chico Mendes?

Osmarino Amâncio – Nossa proposta era reaproveitar a madeira que caia por causa do vento. Nosso objetivo era desenvolver pesquisas e tecnologias que pudessem modernizar o processo produtivo. No Brasil, ainda exportamos a castanha porque não existem usinas desse tipo. Já foram feitos mais de vinte estudos com a castanha, e se comprovou que os nutrientes de três castanhas equivalem a um bife de 300 gramas. Entretanto, não existe um trabalho para introduzir a castanha na merenda escolar, por exemplo. Nós comemos qualquer porcaria e deixamos de comer um alimento saudável, sem agrotóxicos, totalmente orgânico. 95% do açaí é perdido porque não tem uma tecnologia para aproveitar as polpas da fruta. O açaí combate o colesterol e uma série de doenças. Assim como a castanha e o açaí, existem mais de cem produtos que podem ser comercializados sem risco de ameaçar as fontes de renda e sem ameaçar as gerações futuras. Mas esse projeto não é implantado pelo governo. Como não dá lucro para o grande empresário, não é viável.

Antes de morrer, Chico Mendes escreveu um sonho dizendo que em 2020 iriamos comemorar o aniversário da primeira Revolução Socialista Mundial. Nessa sociedade não iria existir explorados nem exploradores; ninguém destruiria o grande potencial natural; todos seriam solidários e companheiros. Ele encerrou o texto dizendo: “Vocês me desculpem, pois eu estava sonhando quando escrevi esses acontecimentos que eu mesmo não verei, mas tenho o prazer de ter sonhado”. Ele escreveu isso quando ajudamos a fundar o PT, quando tinha a esperança de que o governo Lula chegaria ao governo e faria a reforma agrária e lutaria para que a Amazônia não fosse privatizada. Nós sonhávamos com educação de qualidade para o nosso povo, com o desenvolvimento de pesquisas para desenvolver os biomas. Mas nós fomos traídos por esse pessoal. Hoje, vamos ter que começar tudo de novo. Mas agora o confronto é contra aqueles que criaram leis que criminalizam o nosso movimento e que exportam os nossos meios de sobrevivência.

IHU On-Line – Qual a situação da reserva extrativista Chico Mendes?

Osmarino Amâncio – De um milhão de hectares da reserva extrativista Chico Mendes, 3% foi desmatado. Nós tínhamos o direito de desmatar 10%, de acordo com o plano de utilização. Hoje, se as 600 famílias aderirem ao plano de manejo, vivendo com 100 reais por mês, não podemos afirmar que percentual da floresta irá ser mantido em pé. Estou sendo condenado pelo ICMBio a pagar uma multa de 63 mil reais, porque retirei madeira para fazer uma casa para eu morar. Para você ter uma ideia, eu tenho mil e duzentos hectares de floresta, e as árvores têm mais de cem anos. Conheço pessoas que estão com noventa anos e ocupam aquela área muito antes de mim. Eu vivo da castanha, do látex, da caça, dos produtos que vendo. Não preciso desmatar a área para sobreviver. Se eu vivo de ovos, por que vou matar a galinha? Sustentabilidade é isso: diversificar a produção de uma região, fazer ela gerar riqueza, gerar economia sem ameaçar a fonte de renda. Só que o manejo da madeira e a construção das hidrelétricas estão destruindo a fonte de renda de muitas pessoas e ameaçando a vida de gerações futuras.

IHU On-Line – Como vêm acontecendo a exploração da madeira e o avanço do agronegócio na cidade de Brasileia, onde o senhor vive?

Osmarino Amâncio – O agronegócio precisa continuar destruindo a floresta para plantar cana- de-açúcar e produzir etanol. Hoje, a China já comprou 500 mil hectares para trabalhar a soja não transgênica em terras brasileiras. Ora, eles já são donos de quatro milhões de hectares na Amazônia! Para piorar a situação, ainda existem projetos como o Carajás, que visa a exploração mineral nessa área.

Todos os projetos voltados para a Amazônia, como a construção das barragens, o avanço das madeireiras, da mineração, o projeto de agricultura, vão acabar com os recursos naturais.

IHU On-Line – Quantas toneladas de madeira saem ilegalmente do Acre? Como os governos federal e estadual se manifestam diante da exploração ilegal de madeira na região?

Osmarino Amâncio – Eles oficializam o que é ilegal. Até dez anos atrás era ilegal retirar a madeira da floresta. Então, o que o governo fez? Criou um selo. Quem o compra pode retirar a madeira de qualquer forma. As madeireiras não estão respeitando sequer a técnica da extração do plano de manejo. De acordo com a regra, não é permitido retirar nenhuma árvore com menos de 40 cm de diâmetro. Eles estão tirando as varinhas finas e fazendo corte raso. Então, milhões de metros cúbicos estão saindo de forma legal e ilegal.

Quem fiscaliza esse processo é o governo. O correto seria ter uma fiscalização independente, pois o governo não vai punir ele próprio. O pior é que não sabemos para onde está indo o dinheiro dessa madeira. Além de haver um processo de corrupção, há desvio de dinheiro.

Outro problema é que, hoje, o governo não está mais criando reserva extrativista, porque encontram dificuldades de implantar o plano de manejo. Por isso investem em outras modalidades, como o Projeto de Desenvolvimento Sustentável – PDS, criam florestas nacionais e estaduais. O bioma extrativista é a única área que não é desmatada, porque o seringueiro e o índio não destroem a floresta, visto que precisam dela e estão acostumados a conviver na sombra.

No ano passado, o governo deu dinheiro para as pessoas comprarem arame e gado. Então, é difícil tentar manter uma cultura quando o agronegócio vem com tudo, dizendo que a saída é o criame de gado, plantação da soja transgênica, a produção de etanol, a exportação da madeira. Temos que responsabilizar o Estado por esses crimes ambientais.

Nesse sentido, a Rio+20 apenas irá consolidar o mercado da economia verde na floresta. Temos de participar do evento para denunciar todas essas questões e para dizer que as agências financiadoras estão contribuindo com seus subsídios para o aquecimento global, para a destruição de culturas que têm o potencial de curar várias doenças, como o câncer.

IHU On-Line – O senhor já sofreu três atentados e sua casa já foi incendiada cinco vezes. Como se sente em relação à segurança por conta desta luta, considerando que vários líderes que reivindicam melhorias no campo e denunciaram irregularidades já foram assassinados?

Osmarino Amâncio – O seringueiro não tem outra opção. Ele tem que criar um mecanismo de sobrevivência e é isso o que fazemos. Quando viajo, fico tenso, porque não sei o que vai acontecer com a minha família, com a minha casa. Os agressores fazem terrorismo psicológico. Eu já sofri pressão psicológica durante muito tempo. Já tive seguranças da Polícia Federal por mais de dois anos. Consegui sobreviver a tudo isso, mas alguns companheiros não conseguiram, como o Chico Mendes e Wilson Pinheiro.

Não consigo sobreviver num centro urbano. Já recebi propostas para sair do Acre, mas só sou feliz se ficar lá. Minha mãe está sempre angustiada. Eu saí de casa com quatorze anos de idade para evitar que meus familiares fossem agredidos, para evitar que eles sofressem qualquer problema. Entretanto, temos que lutar, mesmo sabendo das consequências. Todo mundo que foi assassinado naquela região tinha consciência do perigo que estava sofrendo. A Ir. Dorothy Stang sabia que isso iria acontecer com ela, o Chico Mendes sabia, e eu sei que pode acontecer comigo. Agora, o que vou fazer? Entrar num mosteiro, virar um monge e ficar orando? Eu tenho que ajudar a mobilizar os meus companheiros, as minhas companheiras e tentar ver se criamos condições de fazer uma aliança entre os moradores do campo e da cidade, já que agora a responsabilidade é de todos.

IHU On-Line – O senhor sempre morou no seringal?

Osmarino Amâncio – Eu nasci e me criei na floresta; nasci no Seringal Bela Flor e cresci na colocação Revolta. Atualmente moro no Seringal Humaitá, na colocação Pega Fogo. Estou com 54 anos e, se eu pudesse, nunca tinha me encontrado com essa tal de civilização.

IHU On-Line – Pode nos falar sobre sua convivência com o Chico Mendes?

Osmarino Amâncio – Para mim é muito forte falar da minha convivência com o Chico Mendes, porque eu ficava na casa dele em Xapuri, no Acre. Ele foi o primeiro secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Éramos tão amigos que se eu namorava uma menina do Seringal e o Chico Mendes namorava com a irmã dela.

Ele tinha uma sabedoria ímpar. Era um dirigente que nasceu para organizar as pessoas, para analisar a conjuntura. Falar do Chico Mendes é como falar da minha vida. Lá no Acre temos um ditado que é utilizado para falar de uma pessoa muito amiga. Chama-se de txai, que quer dizer “o que me completa”, “a outra metade”. Então, o Chico Mendes era um tipo de “outra metade”, o movimento sabia disso. Todos os amigos que perdemos tinham qualidades, e um complementava a qualidade do outro.

O Chico Mendes foi uma árvore frondosa, como Wilson Pinheiro, como a Ir. Dorothy, que morreram pela nossa causa. Mesmo sem ter uma formação catedrática, essas pessoas tinham uma sensibilidade, eram humildes. Hoje sinto o Chico Mendes junto comigo, sinto Wilson Pinheiro, sinto todo esse pessoal. Para mim eles não morreram; estão nas coisas que defendenderam, estão nas nossas conquistas.

IHU On-Line – Quais são hoje as principais lutas dos seringueiros?

Osmarino Amâncio – Hoje, gostaríamos de ter uma educação de qualidade no seringal, porque lá as pessoas só terminam a quarta série do ensino fundamental. Gostaríamos de ter um projeto educacional para que as pessoas compreendessem a importância daquele potencial biológico. Uma das nossas principais lutas é conseguir instalar uma escola de Ensino Fundamental completo dentro da floresta.

Outro objetivo é tentar interromper o manejo madeireiro daquela região. Precisamos organizar as oposições sindicais, porque hoje o movimento sindical na área rural é coordenado pela CUT, que vive em “lua de mel” com o governo e esquece que a função do movimento sindical é reivindicar investimentos do governo.

Nota:
[1] Estrada do Pacífico ou Rodovia Interoceânica é uma estrada binacional que liga o noroeste do Brasil ao litoral sul do Peru através do estado brasileiro do Acre. A parte da Estrada do Pacífico que fica dentro do território brasileiro é identificada como BR-317, enquanto no Peru é chamada apenas de Carretera Interoceanica (em espanhol).


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

Ficção científica para problematizar o mundo


Professor defende em estudo que livros e filmes sobre ciência são mais benéficos ao aluno se o estimulam a questionar o contexto em que a obra foi feita, em vez de fazê-lo abraçar, de modo acrítico, o conhecimento científico.

Por Thiago Camelo, da Ciência Hoje online

No começo, o professor de física do ensino médio Adalberto Anderlini estava animado com a ideia de usar obras de ficção científica para estimular os seus alunos a entender e se interessar por ciência. Estava tão empenhado que resolveu estudar o assunto mais a fundo em mestrado do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
Uma outra estratégia do físico em sala de aula é pedir para que os alunos escolham alguma obra de ficção científica e formulem perguntas sobre elas; dúvidas que serão discutidas durante o curso. 

Ficção científica para problematizar o mundo
Representação cinematográfica do personagem de ‘Eu, robô’, renomada novela apocalíptica do escritor de ficção científica Isaac Asimov. (foto: Teymur Madjderey/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)

Uma última atividade – "Essa mais ousada", afirma Anderlini – consiste em pedir para que os alunos escrevam seus próprios contos. "Fiquei impressionado com a qualidade dos escritos,  valeu a pena, é legal ver até que ponto os estudantes absorveram a linguagem científica", diz o professor, enfatizando que talvez esse tipo de exercício não fosse possível caso ele não desse aula em uma escola Waldorf, baseada na pedagogia desenvolvida pelo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925). Esse método, entre diversas características, detém-se às potencialidades de cada aluno e estimula atividades extracurriculares.

"Tudo é diferente na escola, os horários, a forma como o conteúdo é passado, então atividades como as que faço são estimuladas, não são rechaçadas de cara", conta Anderlini. No final de sua tese, ele defende: "Devemos abordar na escola justamente aquelas questões que limitam sua (nossa) forma de pensar, para que ele [o aluno], reconhecendo-as como tal, atue conscientemente: busque compreendê-las para delas libertar-se". 

No decorrer do trabalho, no entanto, o barco virou e a premissa de usar a ficção científica 'apenas' como forma de cativar o aluno esmaeceu. No estudo, Anderlini defende que "por meio do cientificismo da ficção científica", leva-se o estudante a "adorar a ciência, persuadindo-o a venerá-la, em uma devoção submissa". 

Para ele, essa fascinação debilitaria a autonomia do estudante frente ao mundo. Acreditar na  'verdade' do discurso científico poderia, muitas vezes, gerar insegurança no aluno diante daquele admirável, mas inalcançável, universo.

Anderlini quer a ficção científica "como uma forma de apresentar e discutir os mitos culturais que recheiam nosso imaginário". 

Com ideias assumidamente freirianas, o físico defende o despertar do aluno para "uma visão crítica de mundo". Deseja que o estudante se pergunte: por que este livro ou aquele filme tratam o alienígena e o robô desta e não daquela maneira? Qual seria o fundo cultural por trás das escolhas do autor da obra? 

O físico buscou apoio nos estudos da professora estadunidense Mary Elizabeth Ginway, que pesquisou a literatura fantástica brasileira e fez alegorias com o tipo de obra que era produzida no Brasil e a natureza social do país.

Segundo Anderlini, Ginway explica que, enquanto a ficção científica dos Estados Unidos geralmente abraça a tecnologia e a mudança, mas teme rebeliões ou invasões por robôs e alienígenas, a ficção científica do Brasil tende a rejeitar a tecnologia, mas abraça os robôs e tem uma visão indiferente ou exótica dos alienígenas. 

Para Ginway, continua o físico, essa visão menos alarmista de robôs e alienígenas reflete a experiência colonial brasileira,  que tornou o país menos propenso a rejeitar ou temer aquilo que é diferente.


Teoria, mas com contexto

Em conversa com o Alô, Professor, Anderlini aponta as relações que tenta estabelecer com os seus alunos:
"Tento tratar mais de questões interdisciplinares, que envolvem história e sociologia. É importante haver algum contexto, como num conto de Asimov em que ele cita, com todas as letras, a Lei da Gravitação de Newton", diz o professor, referindo-se ao escritor estadunidense nascido na Rússia Isaac Asimov (1920-1992) e ao seu conto O cair da noite.

A ficção científica é usada, por exemplo, para ensinar aos alunos do último ano do ensino médio bases de física moderna. "Leio com eles As aventuras do Sr. Tompkins, obra em que o personagem visita mundos regidos por outras leis, mundos em que a velocidade da luz pode ser baixíssima", diz Anderlini, citando o livro do escritor russo George Gamow (1904-1968).

"Essa história com a velocidade da luz alterada ajuda a compreender a teoria da relatividade, que se torna algo mais palpável", completa.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Pesquisadores vão estudar chuvas na Bacia Amazônica


Durante os próximos quatro anos, cerca de 30 pesquisadores do Laboratório Misto Internacional Franco-Brasileiro Observatório das Mudanças Climáticas (LMI-OCE) se dedicarão ao estudo dos regimes de chuvas na Bacia do Rio Amazonas. O projeto Clim-Amazon quer saber como o clima da região se comportou nos últimos 10 milhões de anos.


O estudo é financiado exclusivamente pela União Europeia (€ 2 milhões). Os pesquisadores vão observar os sedimentos encontrados no leito e no fundo de várias partes do Rio Amazonas, desde a nascente nos Andes até a foz no Oceano Atlântico.
 Os dados coletados pela observação dos sedimentos poderão indicar se houve variação climática no período. “Será que o regime de chuva na Bacia Amazônica permaneceu constante nos últimos 10 milhões de anos ou será que houve mudanças?”, pergunta o diretor de geologia e recursos minerais do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e professor do Laboratório de Geocronologia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ventura Santos.

Essas informações podem ser relevantes em projeções sobre o comportamento futuro das chuvas na região. A pesquisa utilizará material coletado em estudos anteriores, novas coletas de água barrenta ou amarelada no Rio Amazonas (sedimento em suspensão) e material obtido em perfurações de 300 a 400 metros de profundidade, além de material de satélite que pode, por exemplo, trazer imagens sobre as áreas com erosões.

 Além de cientistas franceses e brasileiros, participam do Clim-Amazon pesquisadores alemães e holandeses. A expectativa é que em breve cientistas de outros países, inclusive da região amazônica, sejam envolvidos no projeto entre doutores, pós-doutores e pesquisadores visitantes.

Fonte: Fapeam