terça-feira, 14 de julho de 2009

Por Fábio de Castro, de Manaus

Em julho de 2007, pesquisadores que atuam no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) – o principal experimento no mundo dedicado ao estudo dos efeitos da fragmentação em florestas tropicais – já alertavam que aquela verdadeira floresta laboratório estava seriamente ameaçada pela política de colonização da área.

Dois anos depois, apesar do apelo dos cientistas, publicado na revista Nature, a situação permanece estagnada, segundo o coordenador científico do PDBFF, José Luís Camargo, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). “Desde então, a chegada de novos colonos à área do projeto praticamente cessou, graças à crise econômica. Mas nada foi feito para impedir que isso volte a ocorrer no futuro. Sem uma definição precisa da política de colonização da área, a pressão populacional de Manaus em breve se tornará uma ameaça real ao experimento”, disse Camargo à Agência FAPESP durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na capital amazonense.

Uma parceria entre o Inpa e o Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais, nos Estados Unidos, o PDBFF tem o objetivo de avaliar mudanças causadas no ecossistema da floresta tropical à medida que ela é fragmentada. Criado há 30 anos, o projeto já gerou mais de 500 artigos, além de 115 teses e dissertações.

Segundo Camargo, o projeto ocupa uma área de 1 quilômetro quadrado na qual há fragmentos comparáveis de 1, 10 e 100 hectares, ilhados em áreas desmatadas desde a década de 1970. Essa configuração permite o monitoramento comparativo antes mesmo de as áreas terem sido alteradas, o que confere ao projeto um valor científico incalculável. Mas a localização, a apenas 80 quilômetros de Manaus, representa um risco iminente. “O acesso é relativamente fácil e a pressão urbana tende a aumentar. Manaus já dobrou a sua população nos últimos 20 anos, o que caracteriza uma explosão habitacional. Com os investimentos que serão trazidos à cidade com sua escolha para ser uma das sedes da Copa do Mundo de futebol, essa pressão populacional poderá se tornar incontrolável”, afirmou.

Camargo explica que o projeto se localiza no Distrito Agropecuário da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A Suframa, segundo ele, realizou, em associação com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), um plano de distribuição de pequenos lotes adjacentes às áreas de pesquisa. “Nos últimos dois anos a crise diminuiu essa movimentação, mas não houve iniciativas para uma definição política que impusesse, por exemplo, a criação de zonas-tampão que impedissem os assentamentos contíguos às áreas de pesquisa”, disse.

Para o cientista, o impacto não seria tão ameaçador se a instalação dos colonos estivesse associada a Sistemas Agroflorestais (SAF). “Mas não é o que vemos. As famílias que vão para lá estão se dedicando à produção de carvão. No entanto, aquelas áreas poderiam ser recuperadas, pois hoje temos técnicas de enriquecimento de capoeiras capazes de recuperar a floresta”, destacou.

Entender a floresta

O norte-americano William Laurance, do Instituto Smithsonian – que em 2007 assinou em coautoria com Regina Luizão, do Inpa, o artigo na Nature alertando para os riscos corridos pelo PDBFF –, afirmou que a própria Suframa realizou há cerca de cinco anos um projeto de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) no distrito, concluindo que a área é um hotspot de biodiversidade (uma das áreas prioritárias para a conservação global). “O estudo foi extraordinariamente bem feito mas, aparentemente, os autores ficaram sentados em cima dele, porque nunca chegou a ser lançado oficialmente. Achamos preocupante a atitude da Suframa em relação à colonização. Os colonos estão queimando a floresta para fazer carvão e vender em Manaus. E essa devastação, ainda por cima, rende muito pouco a essa população”, disse.

Segundo Laurance, as pesquisas realizadas no PDBFF têm contribuído de forma contundente para o conhecimento dos impactos da fragmentação florestal. “Graças aos estudos feitos nesse experimento pudemos verificar que o tamanho dos fragmentos tem uma correlação com a vulnerabilidade da floresta: quanto menor o fragmento, maior a mortalidade de árvores e a suscetibilidade aos impactos das mudanças climáticas, da exploração de madeira e queimadas”, disse.

A partir desses estudos, os pesquisadores tentam entender que fatores causam as mudanças ecológicas detectadas em fragmentos florestais, como a alta mortalidade de árvores. “Foi identificado, por exemplo, que a mortalidade é muito maior perto das bordas dos fragmentos, já que os ventos são mais intensos, expondo especialmente as árvores maiores. Outro fator é o efeito das matrizes adjacentes: as pastagens em torno do fragmento, por exemplo, causam mudanças microclimáticas importantes, tornando as bordas mais secas e quentes”, disse.

Segundo Laurance, novos estudos realizados na área, que serão publicados em breve, têm feito a identificação botânica das árvores jovens, com diâmetro entre 1 e 10 centímetros.
“Estamos fazendo estudos fitodemográficos com essas árvores jovens para saber em que medida sua composição está sofrendo modificações e se determinadas espécies são mais ou menos vulneráveis à fragmentação. Já sabemos que entre as árvores adultas há muito mais mortalidade nas bordas dos fragmentos. Nos interessa entender agora a dinâmica das árvores jovens porque elas correspondem ao futuro da floresta”, afirmou.

Fonte: Agência Fapesp

terça-feira, 7 de julho de 2009

Vaga-lumes sinalizam impactos ambientais

Por Jussara Mangini

O Brasil é o país com maior diversidade de espécies luminescentes no mundo. A emissão de luz fria e visível por seres vivos é observada em organismos que vão de bactérias a peixes, incluindo vaga-lumes e as chamadas larvas “trenzinho”, que emitem luz em duas cores.

Entender como a luz é produzida nesses organismos pode iluminar o caminho para o diagnóstico e tratamento de doenças como câncer e infecções bacterianas. As enzimas responsáveis pela bioluminescência – as luciferases, que catalisam a reação que produz a luz nos animais, e as proteínas fluorescentes, que têm a propriedade de mudar a cor da luz – estão sendo aplicadas em biotecnologia e em bioimageamento de processos patológicos.

Dada a importância dos organismos bioluminescentes, sua conservação é prioridade para Vadim Viviani, professor do campus de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ele investiga, há mais de dez anos, o mecanismo de funcionamento da bioluminescência e as possibilidades de aplicação como agentes bioanalíticos, bioindicadores e biossensores.

Há dois anos, Viviani coordena o projeto de pesquisa “Vaga-lumes da Mata Atlântica – Biodiversidade e uso como bioindicadores”, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa – Regular e realizado no âmbito do programa Biota-FAPESP.
“Com os impactos ambientais, a riqueza desses organismos está se perdendo. Para utilizar espécies como o vaga-lume para essas finalidades, é necessário preservá-las, principalmente conservando seus ambientes naturais”, disse à Agência FAPESP.

Nesse estudo, a equipe orientada pelo pesquisador, que também é líder do grupo Bioluminescência e Biofotônica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), está catalogando a biodiversidade de vaga-lumes na Mata Atlântica do Estado de São Paulo, estudando sua evolução sob o aspecto molecular e avaliando algumas espécies-chave como indicadores ambientais de áreas palustres e ribeirinhas.

A Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais ricos em vaga-lumes no mundo. Em um único trecho, em Salesópolis (SP), por exemplo, foram catalogadas 50 espécies. Segundo Viviani, embora o Brasil concentre cerca de 25% das 2 mil espécies descritas, não se aproveita o potencial do vaga-lume como bioindicador de impacto ambiental.

Existem espécies que vivem em ambientes palustres (aquáticos). Quando a água está poluída desaparece o caramujo, que é o alimento do vaga-lume, e, com isso, a espécie some. Já em locais em que os cursos de água (brejo) estão preservados, o inseto permanece ou volta. “No Japão, vaga-lumes são muito usados como bioindicadores na recuperação de cursos de água”, comentou.

Tais insetos também são bons modelos para entender o impacto da poluição luminosa. Eles usam seu sinal luminoso para fins de reprodução – é um padrão de comunicação sexual. Quando o nível de iluminação de fundo aumenta, macho e fêmea não conseguem se localizar pelo sinal.

De acordo com Viviani, o impacto da poluição luminosa ocorre em diversos organismos, principalmente os noturnos. Pode afetar a relação predador-presa tornando um ou outro mais visível.

Os filhotes de tartarugas marinhas, por exemplo, quando os ovos eclodem, se orientam pela luz das estrelas a caminho do mar. Quando avistam luz da cidade seguem na direção contrária, comprometendo sua sobrevivência. “Infelizmente, nunca foi dada muita atenção para a poluição luminosa”, ressaltou. Conhecimento acumulado Há muito interesse em saber qual o mecanismo de funcionamento das enzimas relacionadas com a bioluminescência e, a partir disso, tentar modificá-las para torná-las ainda mais aplicáveis do que já são, inclusive na área ambiental. Existem, por exemplo, diversos biossensores que usam luciferases de vaga-lume, em nível molecular, para detectar agentes tóxicos na água. Recentemente, outro grupo orientado por Viviani comparou enzimas luciferases clonadas com uma proteína semelhante, mas fracamente bioluminescente – uma AMP-ligase, presente em todos os organismos e que desempenha variadas funções metabólicas.

O objetivo foi descobrir se e como a AMP-ligase pode adquirir a propriedade de produzir luz. Segundo o professor da UFSCar, esse tipo de informação pode ajudar a tornar mais eficientes as enzimas que já produzem luz e tornar enzimas que não produzem em luminescentes.
Durante o 15º Congresso Internacional de Fotobiologia, realizado em Dusseldorf, na Alemanha, de 18 a 23 de junho, Viviani coordenou o Simpósio de Bioluminescência, no qual importantes avanços científicos sobre a estrutura e função dessas enzimas e as crescentes aplicações em bioimageamento foram discutidos por cientistas de diferentes nacionalidades.

Em 2008, o conhecimento produzido por diversos especialistas da área de bioluminescência foi apresentado no livro Luciferases and fluorescent proteins: principles and biotechology and bioimaging (Luciferases e proteínas fluorescentes: princípios e avanços em biotecnologia e bioimageamento), editado por Viviani.

Fonte: Agência Fapesp

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Rebia promove debate sobre Comunicação e Educação Ambiental durante o VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental

O Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, que está em sua sexta edição, é um evento de âmbito nacional que se constitui no grande encontro dedicado a esta temática no Brasil. Sob a responsabilidade da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea), coletivo que reúne os educadores ambientais do país, os fóruns vêm se consolidando como um espaço de destaque que congrega e articula os mais diversos atores e segmentos da Educação Ambiental (EA).

As três primeiras edições do evento aconteceram em São Paulo. Esse ano o VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental será sediado pela cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 22 a 25 de julho. A expectativa da organização do evento é contar com mais de cinco mil participantes.
No dia 24 de julho a Rebia (Rede Brasileira de Informação Ambiental), estará oferecendo aos participantes do Fórum uma oficina de Comunicação para Sustentabilidade, ministrada pelos jornalistas Efraim Neto e Fabrício Ângelo. Além disso, irá promover o I Encontro de Educação e Informação Ambiental, que será realizado no dia 25.

A instituição terá um stand instalado na área do evento para que os participantes do Fórum possam conhecer os produtos da Rebia, que levam informação sobre meio ambiente a mais de 30 mil enredados e assinantes de seu boletim informativo.

Segundo o jornalista e escritor Vilmar Berna, fundador da Rebia e da Revista do Meio Ambiente, a Comunicação e a Educação Ambiental são indispensáveis no processo de formação e fortalecimento da cidadania socioambiental. De acordo com Berna, uma sociedade ambientalmente mais bem informada será capaz de fazer escolhas melhores rumo a uma sociedade de baixo carbono, ambientalmente sustentável e socialmente mais justa. “Entretanto, sem uma educação ambiental que contribua para a formação de novos valores, a simples democratização da informação ambiental pode provocar um efeito inverso, como o aumento da corrida consumista e predatória a recursos naturais em risco de extinção, por pessoas movidas por valores gananciosos e egoístas.”

O escritor e editor do Portal do Meio Ambiente ressaltou que a Rede Brasileira de Informação Ambiental – REBIA vem apoiando as Redes de Educação Ambiental no Brasil e de Educomunicação, principalmente quando compreendem e divulgam a importância desta convergência entre Comunicação e Educação Ambiental, “como é o caso deste VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental e também do II Simpósio de Educação Ambiental Empresarial do Rio de Janeiro (II SEARJ), que ocorrerá em outubro de 2009”, disse.

O jornalista Efraim Neto, coordenador do Núcleo de Juventude da Rebia, informou que a oficina “Comunicação para Sustentabilidade” objetiva proporcionar aos participantes um embasamento teórico e prático sobre as diferentes visões de mundo e modelos de desenvolvimento, a partir do papel exercido pela comunicação. “Pretendemos mostrar aos participantes como podem exercitar a visão sistêmica, promover a alfabetização ecológica e o entendimento mais amplo do que seja a sustentabilidade e seus múltiplos desdobramentos”, concluiu.
Mais informações em : http://forumearebea.org e www.rebia.org.br

* Vilmar Berna é autor do livro e curso à distância na UFF (Universidade Federal Fluminense), “Como Fazer Educação Ambiental” – mais informações: www.escritorvilmarberna.com.br.