sexta-feira, 30 de março de 2007

Proteína de bactéria tem potencial ação antimicrobiana

Grace Soares

Não é de hoje que o consumo de proteínas é considerado uma exigência por parte dos nutricionistas e dos adeptos da alimentação saudável e equilibrada. Mas, nos últimos anos, a biologia molecular introduziu um novo olhar sobre o papel da proteína, apresentando-a como matriz do desenvolvimento de novos produtos com aplicação biotecnológica.

Em Manaus, as lentes dos microscópios estão voltadas para a bactéria Chromobacterium violaceum. O estudo do genoma da espécie acusou possível ação antimicrobiana, com potencial emprego no combate a doenças como leishmaniose, malária, dengue e enfermidades causadas por fungos. Além disso, análises laboratoriais demonstraram a facilidade com a qual a espécie se adapta aos diferentes ambientes extremos. Os pesquisadores crêem que existam mecanismos moleculares de fonte protéica responsáveis pela façanha.“O trabalho em torno das proteínas desenvolvido pelo nosso grupo concentra-se na identificação do nível dos estágios nos quais se encontram as substâncias para identificar cada uma delas. Assim, poderemos direcionar as ações contra os agentes patogênicos específicos”, explica Patrícia Orlandi, do Centro de Pesquisas Leônidas e Maria Deane (CPqLMD), unidade da Fiocruz no Amazonas. Patrícia é doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e integra a Rede Proteômica do Amazonas, da qual fazem parte o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a Fundação de Medicina Tropical (FMTAM) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O uso da palavra proteoma na literatura científica é novo. Ela significa “conjunto de proteínas expressas por um genoma” (conjunto de toda a informação hereditária de um organismo, codificada em seu DNA). O seqüenciamento dos DNAs das espécies é um passo importante no estudo geral das funções e formas das proteínas, pois nesse processo deduz-se a seqüência de aminoácidos, ou seja, a estrutura primária das proteínas. No entanto, ele revela pouco sobre o desempenho de suas funções, individual ou coletivamente, e não consegue identificar com precisão quais proteínas atuam, de fato, numa determinada célula, num momento específico. Por isso, estudos mais detalhados, por meio de análises de proteomas, tornam-se necessários.“As proteínas sofrem modificações qualitativas e quantitativas, dependendo do estado fisiológico da célula ou do efeito de fatores físicos e químicos (drogas, doenças etc). É o proteoma que indica esse estado da célula ou do fluído biológico num determinado tempo.

Muitas informações moleculares necessárias para o funcionamento da célula só estão disponíveis em nível de proteínas, nunca no genoma (DNA) ou transcriptoma (RNA)”, explica o coordenador da Rede Proteômica do Amazonas, Jorge Luis López Lozano, que também é professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Como explica Lozano, o nível de informação no DNA é relativamente “constante” durante todo o ciclo de vida de uma espécie, independentemente de variações no meio ambiente. Já o fluxo da informação em nível de proteínas, qualitativa e/ou quantitativamente, muda no tempo e no espaço (na membrana celular, organelas etc). O mesmo tipo de célula é capaz de expressar proteomas distintos, se ambas forem expostas à ação de drogas ou até mesmo estresse. “Um exemplo simples: compare uma foto sua de dez anos atrás com uma atual. O que aconteceu? Mudaram as suas proteínas, mas a sua informação genética ainda é a mesma”, esclarece Lozano.

Metodologia

O passo inicial no desenvolvimento de um projeto de proteoma é identificar o máximo de proteínas possível num determinado meio de cultura celular. Esse é o objetivo primário e a partir dele são definidas outras ações: a catalogação computacional e os estudos analíticos. Esses dados formam os mapas de proteomas, muitos dos quais se encontram disponíveis na internet, facilitando o trabalho de pesquisadores do mundo inteiro. Mas, para identificar, o pesquisador ainda precisa obter uma grande quantidade de material da bactéria. “Colocamos a bactéria em um meio próprio, denomidado LB, para acionar seu crescimento in vitro. A uma temperatura de 35º C criamos um meio considerado ótimo para a secreção das diversas proteínas. Desse ciclo, extraímos uma curva de crescimento, formada por etapas. A primeira é a exponencial, caracterizada pela fase de maior pico da secreção. A segunda é a fase estacionária. Atingindo uma densidade ótica de 2.0, estancamos o crescimento”, analisa Patricia.

O resultado, como revelou a pesquisadora, são aproximadamente três litros de meio de cultura. O material passa por uma centrífuga, onde é extraída a massa bacteriana. Em um terceiro momento é feito um tratamento laboratorial destinado à “estourar” (lisar) as paredes celulares da bactéria, liberando as proteínas. Nesse momento, o cuidado é extremo, para não causar mudanças na estrutura da substância. Em mãos, ainda existe uma grande sopa de proteínas, agora, pronta para ser analisada. A pesquisa em torno da C. violaceum encontra-se nessa fase. A eletroforese bidimensional em gel de poliacrilamida é o método usado pelo grupo para separar as complexas misturas. A base do sistema, em suma, é a migração das moléculas que têm carga em função de um campo elétrico. O sucesso do procedimento também está ligado à existência de outros métodos sensíveis o bastante para identificar as proteínas separadas. “Na busca por peptídeos (fragmentos de proteína) e/ou proteínas com atividades antimicrobianas (contra leishmania, pelo Inpa, fungos fitopatogênicos, pela Embrapa do Amazonas, e contra malária e dengue, pelo CPqLMD), também utilizamos técnicas cromatográficas”, revela Lozano.

As técnicas cromatográficas são um alargado campo de métodos físicos usados para separar e/ou analisar misturas constituídas por diversos tipos de compostos. Quando uma amostra contendo uma mistura de vários componentes entra num processo cromatográfico, os diferentes compostos migram através do sistema a diferentes velocidades.

Geração de produtos

Para Patrícia Orlandi, o interesse pela composição química da bactéria converge para a possibilidade de criação de novos compostos quimioterápicos, com ação eficaz contra agentes patogênicos. A animação emana dos resultados preliminares dos testes biológicos feitos nos extratos protéicos da C. violaceum, que estão confirmando as hipóteses de trabalho. “O uso indiscriminado de remédios pela população contribui, hoje, para o aumento da resistência por parte das bactérias e parasitas aos efeitos da droga. A busca por novos produtos a partir do estudo de espécies da biodiversidade brasileira, é uma alternativa interessante”, salienta.

O coordenador da Rede Proteômica no estado, Jorge Luis López Lozano, entende a necessidade e a importância dos estudos na área, mas alerta para a cautela no processamento dos dados. “O desenvolvimento de produtos com aplicação biotecnológica é um processo de longo prazo. Embora existam dados promissórios que sugerem a aplicação biotecnológica na área da saúde e da agricultura, ainda existe muita pesquisa pela frente”, conlcui.

Amazonas destaca-se em cenário nacional

Laboratórios do mundo todo fazem pesquisas em torno da C. violaceum, no entanto, na área de estudos proteômicos o Amazonas é pioneiro. O próximo passo da Rede Estadual é coordenar o estudo do proteoma da semente e do fruto do guaranazeiro, planta de interesse econômico para o estado. O projeto foi encomendado pela Rede Proteômica Nacional. “Uma das características da Rede Proteômica Nacional na escolha do tema de estudo corresponde ao interesse da Rede em uma espécie brasileira da qual já se tenha a informação genômica ou transcriptômica (RNA), já que ambas as informações facilitam as análises proteômicas”, destaca Lozano.
Segundo ele, para fazer os estudos os laboratórios que formam a Rede Estadual compartilham a plataforma proteômica já instalada e quando necessário solicitam o apoio tecnológico aos Laboratórios Centrais da Rede Proteômica Nacional. Um laboratório central é aquele que têm instalado um sistema de espectrometria de massa, tecnologia necessária para a identificação das proteínas. A Rede Proteômica do Amazonas ainda não conta com esse equipamento, porém estão sendo firmados programas colaborativos com outras redes que o possuam. “Esperamos que no final deste ano nós possamos contar com espectrômetro de massa instalado em algum dos laboratórios da nossa Rede”, observa

Fonte: Fiocruz

Mentes brilhantes

Thiago Romero

Para compreender detalhes sobre o funcionamento do cérebro humano, um caminho viável é a análise de proteínas cerebrais de modelos biológicos mais simples. Pensando nisso, cientistas da Universidade de Brasília (UnB) resolveram estudar proteomas (conjunto de proteínas) cerebrais de abelhas por acreditarem que esses insetos, de maneira semelhante ao homem, agem para atingir resultados e aprendem com as conseqüências de suas ações.

Em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), um grupo de pesquisadores do Departamento de Biologia Celular da UnB analisou o comportamento e identificou proteínas cerebrais de operárias das abelhas Apis mellifera e Melipona quadrifasciata. “Um dos desafios da ciência moderna é compreender como o ser humano aprende e memoriza. Assim, por meio do estudo de estruturas tridimensionais das proteínas presentes no cérebro dessas abelhas e suas relações com funções bioquímicas, talvez possamos um dia colaborar no entendimento do cérebro humano”, explicou o coordenador dos trabalhos, o bioquímico Marcelo Valle de Sousa, à Agência FAPESP.

De acordo com Sousa, as abelhas são insetos sociais: vivem organizadas em colônias nas quais os indivíduos se dividem em castas e contam com papéis bem definidos. Os pesquisadores compararam o cérebro de nutridoras de Apis mellifera, que são operárias responsáveis por alimentar as larvas e realizar a limpeza da colméia, com o cérebro de abelhas campeiras, que se deslocam grandes distâncias para coletar alimentos como o pólen e o néctar. Os pesquisadores extraíram proteínas dos cérebros das abelhas e, com o auxílio de uma técnica chamada eletroforese bidimensional, separaram as proteínas de acordo com sua carga elétrica e massa molecular para, em seguida, identificá-las por meio de outra técnica denominada espectrometria de massa. “Já conseguimos identificar cerca de 1,2 mil proteínas no cérebro das nutridoras e mais 1,2 mil no das campeiras. Desse total, apenas 50 proteínas são diferentes. Com isso, o próximo passo do estudo será analisar detalhadamente as estruturas tridimensionais dessas proteínas e suas interações com outras proteínas cerebrais para tentar propor funções bioquímicas e identificar semelhanças com proteínas do cérebro humano”, explica Sousa.

A identificação das proteínas foi facilitada pela disponibilidade do genoma seqüenciado da abelha Apis mellifera, inseto que é utilizado como modelo para estudos de memória, aprendizagem, comunicação e sociabilidade. O seqüenciamento completo do genoma da abelha foi concluído no final do ano passado por um consórcio de cientistas de diferentes países.
O trabalho de determinação das estruturas tridimensionais das proteínas da Apis mellifera está sendo realizado em colaboração com o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, no interior paulista. A primeira a ser analisada é a MRJP1, por ser uma proteína encontrada em maior concentração nos cérebros das abelhas.

Fonte: Agência Fapesp

Arroz com feijão pode proteger contra câncer oral

Um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) afirmou que a combinação arroz com feijão pode reduzir a chance de adquirir câncer oral, doença que responde por quase 3% de todos os tumores malignos no Brasil.

Segundo informações da Agência Fapesp, a pesquisa investigou as associações entre a doença e a dieta de 835 habitantes da capital paulista, sendo 366 pacientes com câncer oral e 469 indivíduos sem histórico da doença. Segundo a coordenadora do trabalho, a nutricionista Dirce Maria Marchioni, a pesquisa constatou uma tendência significativa de diminuição do risco de câncer oral com o aumento do consumo de arroz e feijão. "Quanto mais as pessoas do estudo consumiram arroz e feijão, menor foi a probabilidade de elas pertencerem ao grupo dos indivíduos com a doença", disse a pesquisadora. Segundo ela, 14 porções de feijão por semana representou um risco 60% menor de ter a doença. No caso do arroz, o índice foi de 40%.
No entanto, ainda não estão claros os motivos que podem explicar a proteção que esses alimentos oferecem contra o câncer oral.

Os pesquisadores acreditam que o baixo teor de gordura saturada e de colesterol desses alimentos pode ser um dos fatores. Quando comparados às pessoas sem câncer oral, os indivíduos com a doença relataram, em geral, consumo menor de arroz, feijão, massas, vegetais crus e saladas, informou a Fapesp.

Fonte: Redação Terra

Lula diz que ameaça ambiental de etanol é mito

Em artigo assinado nesta sexta-feira no diário Washington Post, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende a parceria Brasil-Estados Unidos para produção de etanol, e diz que o dilema entre biocombustíveis e preservação ambiental é um "mito".

"É um primeiro passo importante no sentido de comprometer nossos países a desenvolver fontes de energia limpas e renováveis (garantindo) a proteção ambiental", afirma Lula.
O artigo é publicado um dia antes da visita que Lula fará ao seu colega americano, George W. Bush, em Camp David, e um dia depois de o líder cubano Fidel Castro ter criticado a iniciativa no jornal oficial do Partido Comunista cubano, Granma. Lula disse que a parceria "é uma receita para aumentar a renda, criando empregos e reduzindo a pobreza entre os vários países em desenvolvimento onde colheitas de biomassa são abundantes". "Essas fontes alternativas (de energia) ajudam a reduzir a dependência global em relativamente poucos países fornecedores."
Aludindo à intenção dos dois presidentes de anunciar investimentos para produção de etanol no Haiti, Lula acrescentou que "o acordo entre o Brasil e os Estados Unidos permite a diversificação da produção de biocombustíveis através de alianças triangulares em países terceiros".

O presidente brasileiro aproveitou o espaço para criticar os subsídios agrícolas americanos: "o etanol, e depois, o biodiesel só se tornarão commodities globais se o comércio de biocombustíveis não for obstruído por políticas protecionistas", escreveu.

'Mito'

Lula rejeitou a tese de que a produção de cana-de-açúcar para uso em biocombustíveis ameaça as florestas tropicais, afirmando que se trata de um "mito"."O solo amazônico é altamente inapropriado para o plantio da cana-de-açúcar. Além do mais, no contexto do compromisso inabalável do Brasil com a proteção ambiental, o desflorestamento caiu 52% nos últimos anos", justificou. No artigo, o presidente brasileiro rejeita ainda a acusação - feita por críticos como os presidentes venezuelano, Hugo Chávez, e cubano, Fidel Castro - de que as plantações de cana-de-açúcar para fabricação de etanol impedirão a criação de alimentos que poderiam ser utilizados no combate à fome. "Menos de um quinto dos 340 milhões de terras aráveis do Brasil é utilizado para colheitas. Apenas 1%, ou 3 milhões de hectares, é usado para cana-de-açúcar para etanol", escreveu Lula.

"Em contraste, 200 milhões de hectares são pastagens, onde a produção de cana está começando a se expandir. O desafio real de prover segurança alimentar está em superar a pobreza dos que regularmente têm fome." Mas o presidente brasileiro disse que as condições de trabalho dos plantadores de cana, normalmente bóias-frias, precisam ser melhoradas no Brasil. "A agricultura provê não apenas alimento, mas uma maneira de vida para milhões de pequenos produtores em todo o mundo." "A disseminação da cana-de-açúcar, soja e outras colheitas de oleaginosas para uso em biocombustíveis vai assegurar que as famílias em necessidade tenha os meios financeiros para se sustentar."

Na quinta-feira, a produção de etanol foi criticada pelo presidente cubano, Fidel Castro, em artigo no jornal oficial cubano. Nele, Fidel afirma que 3 bilhões de pessoas serão "condenadas à morte prematura por fome e sede no mundo".

BBC Brasil

Muito além da feijoada


Um dos principais agentes poluidores no estado de Santa Catarina, o porco pode ser agora uma nova fonte de energia alternativa. (Foto: Artur Milani Bento)


Célio Yano

Nova tecnologia permite obter energia elétrica a partir de dejetos suínos

Sempre associados a sujeira e falta de higiene, os porcos podem ser agora a mais nova fonte de energia alternativa, limpa e renovável. É que um grupo de cientistas do Centro de Pesquisas em Energias Alternativas e Renováveis (CPEAR), da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), acaba de desenvolver um novo processo que permite obter energia elétrica a partir de dejetos suínos sem liberação de gases poluentes. Além de oferecer uma opção a mais de acesso à energia, a técnica ajudará a reduzir a poluição de solos e mananciais, um problema cada vez mais grave no Sul do Brasil, onde a suinocultura é uma das principais atividades em pequenas e médias propriedades rurais.

O engenheiro João Luiz Alkaim, coordenador do CPEAR, conta que a geração de energia a partir de agentes poluentes já é realizada há muito tempo, por meio da combustão do gás metano liberado pelo lixo orgânico em decomposição. “A novidade é que agora não há queima”, explica. “O sistema extrai gás hidrogênio do dejeto suíno e, a partir desse hidrogênio, é possível construir uma célula combustível, espécie de bateria altamente eficiente.” O Biogás-H, como é chamado o sistema, funciona em três etapas. Primeiro, os dejetos são lançados em um biodigestor anaeróbico, que decompõe a matéria orgânica digerível por bactérias e a transforma em biogás. O efluente que sobra desse processo pode ser usado para fins agrícolas, como adubo. A segunda etapa é a de limpeza do biogás. Dali sai o gás metano puro, que vai para um reformador, misturado a vapor d’água. O reformador é o equipamento que extrai o gás hidrogênio, que poderá, finalmente, ser injetado em uma célula combustível. A célula combustível é capaz de gerar eletricidade a partir de uma reação química, usando como reagentes apenas hidrogênio e oxigênio. “Por ser muito eficiente e não emitir substâncias poluentes, será a fonte de energia do futuro”, prevê Alkaim. Como subproduto, a célula gera água pura, que, misturada a sais minerais, se torna potável.

Suinocultura

Estaria aí a solução para um sério problema enfrentado em Santa Catarina. O estado detém o maior rebanho de porcos do país, com aproximadamente 4,5 milhões de cabeças (17% da população nacional de suínos). Esse número parece ainda maior se correlacionado à pequena extensão territorial do estado, que ocupa apenas 1,12% do território brasileiro. Mas os órgãos ambientais consideram a suinocultura uma atividade potencialmente causadora de degradação do meio ambiente, por causa dos dejetos produzidos pelos animais. O crescimento acelerado da atividade trouxe consigo a produção de grande quantidade de matéria fecal, que, por falta de tratamento adequado, se transformou na maior fonte poluidora dos mananciais de água nas áreas onde é praticada. Foi daí que surgiu a idéia de utilizar o dejeto suíno na produção de energia. “Além de reduzir a poluição, é possível, com o rebanho que temos, abastecer pequenas cidades com energia proveniente de células combustíveis”, diz o engenheiro. Alkaim conta que a energia gerada pelos dejetos produzidos por um rebanho de mil suínos foi estipulada em 2,5 kW (quilowatts) por hora, em média – o suficiente para atender à demanda de uma escola ou três casas. Ele conta ainda que o mesmo processo pode ser realizado com dejetos de outros animais. O projeto, que conta com a parceria da Eletrosul e da iniciativa privada, deve colocar o primeiro protótipo em funcionamento ainda neste semestre. “Em breve, será possível a produção em larga escala”, diz.

Fonte: Ciencia Hoje

Proteção do solo e do solo e áreas contaminadas serão debatidas em oficina

Rafael Imolene

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) vai coordenar na próxima semana uma oficina que reunirá, em Brasília, especialistas de diferentes regiões do país para debater estratégias de proteção do solo e gerenciamento de áreas contaminadas. A oficina, de 2 a 4 de abril no auditório da Organização Panamericana de Saúde (Opas/OMS), contará com a participação de 70 técnicos e especialistas da área do governo federal e de entidades de várias regiões do País, bem como de técnicos brasileiros com experiência em traatamento de solo nos Estados Unidos e na União Européia.

De acordo com a assessora ambiental do Conama, Cleidemar Batista Valério, na oficina serão debatidas diretrizes para se chegar a valores orientadores do solo em diferentes regiões do Brasil. Ou seja, definir os parâmetros de qualidade dos solos encontrados no país. "Como temos uma diversidade muito grande, os solos de cada região devem ser conhecidos e tratados de forma independente", afirma Cleidemar. O tema "contaminação de solo" tem ampliado seu espaço na agenda ambiental em decorrência da preocupação mundial com o abastecimento de água. Como solo e água doce têm uma relação direta, então governos de países em todos os continentes estão investindo em pesquisas para evitar e corrigir problemas de contaminação.
Os maiores riscos ocorrem em áreas urbanas, principalmente relacionados a depósitos de lixo e postos de combustível. A contaminação desce até os leitos subterrâneos de água doce, comprometendo os recursos hídricos em poços e rios. "Como ainda temos lacunas de conhecimento em relação às características dos solos brasileiros e suas propriedades, é preciso uma discussão para definir os critérios de elaboração dos parâmetros de qualidade", explica Cleidemar.

A programação diária da oficina será dividida em dois turnos. Durante a manhã haverá palestras técnicas e, à tarde, discussões em grupos de trabalho. As palestras técnicas serão abertas à participação de qualquer interessado. As reuniões de discussão, no entanto, serão restritas a um número de 20 membros previamente inscritos. A palestra conta com apoio da Petrobras, da Cetesb e da Embrapa.

Fonte: MMA

Um arco-íris em você


Verde e castanho são algumas das inúmeras cores que os olhos humanos podem apresentar em decorrência de fatores genéticos e ambientais (fotos: Wikipedia)

Jerry Carvalho Borges

Colunista destrincha o complexo problema da determinação genética da cor dos olhos

Todo professor de biologia tem, durante as aulas de genética, que responder ao inevitável questionamento sobre como é herdada a cor dos olhos. Contudo, muitos ainda tratam erroneamente essa característica genética como um tipo de herança mendeliana simples, cuja ocorrência é influenciada por um único par de genes associados com a produção de olhos castanhos ou azuis.


É verdade que a hereditariedade de diversas características é determinada por duas cópias – ou alelos – dos genes herdados de nossos pais. Esses alelos estabelecem entre si uma relação de dominância e, segundo esse ponto de vista, a versão castanha para a cor dos olhos (B) seria dominante sobre a variante para a cor azul (b). A dominância, nesse caso, significaria que, se pelo menos um dos alelos para a coloração dos olhos de uma pessoa fosse B, seus olhos seriam castanhos. Geneticamente falando, portanto, indivíduos com olhos castanhos poderiam ser ou BB ou Bb, enquanto aqueles que têm olhos azuis seriam obrigatoriamente bb.


Ainda segundo esse ponto de vista, se um casal com olhos castanhos quisesse ter uma criança de olhos azuis, tanto o homem quanto a mulher teriam que apresentar uma cópia do gene b, ou seja, seriam heterozigotos (Bb) para essa característica. Nesse caso, haveria apenas uma chance em quatro de que esse casal tivesse um filho com olhos azuis (bb). Essa explicação simplista, porém, não mostra como surge toda a imensa variedade de cores presente nos olhos e não esclarece por que pais de olhos castanhos podem ter filhos com olhos castanhos, azuis, verdes ou virtualmente de qualquer outra tonalidade. A cor dos olhos é, portanto, uma característica cuja herança é complexa (ou poligênica) e, para entendermos como ela ocorre, devemos nos aventurar na biologia de um trio de genes.


Mecanismos associados com a coloração


O que chamamos de “cor dos olhos” é na verdade primariamente a cor da íris, pois outras regiões dos olhos, como a córnea e a esclera, são transparentes ou primariamente brancas. A íris é um disco colorido que, como o diafragma de uma máquina fotográfica, controla a quantidade de luz que entra nos olhos através da abertura ou fechamento de seu orifício central – a pupila. Seu nome vem de uma divindade da mitologia grega, que personificava o arco-íris e que era a mensageira dos deuses.


A definição da coloração de nossos olhos é um processo complexo, que depende de uma combinação de fatores genéticos associados com as características do tecido fibroso e vasos sangüíneos presentes na íris. Fatores epigenéticos (relacionados com a organização espacial do material genético e com as influências do ambiente nessas moléculas) também determinam a cor de nossos olhos.

A grande variedade de cores que observamos entre os vertebrados está associada primariamente com a produção dos pigmentos melanina (negro) e feomelanina (amarelo avermelhado). A presença desses pigmentos confere uma proteção valiosa contra os efeitos nocivos da radiação solar sobre o genoma celular. As diversas colorações observadas entre os vertebrados são possíveis devido aos diferentes padrões de deposição desses pigmentos na pele, pêlos e penas. A ocorrência de outras cores deve-se à deposição extracelular de outros pigmentos, como porfirinas, carotenóides, purinas e cobre (veja mais em A paleta da natureza ). Portanto, é incorreto considerar que a cor dos olhos está associada somente com a deposição de melanina e feomelanina nos olhos. Se isso fosse verdadeiro, nossos olhos (como nossa pele) apresentariam uma coloração que variaria apenas entre o negro e o castanho-amarelado. Esses pigmentos são produzidos por células com características mioepiteliais (que possuem características epiteliais e musculares) presentes na região posterior da íris. A região mediana desse tecido (estroma) também contribui para a coloração dos nossos olhos. Essas células são conhecidas como melanócitos e também estão associadas com a coloração de nossa pele e cabelos.


Genes modificadores


A cor dos olhos é um tipo de variação contínua controlada por genes denominados modificadores, pois os alelos de vários genes influem na coloração final dos olhos. Isso ocorre por meio da produção de proteínas que dirigem a proporção de melanina depositada na íris. Outros genes produzem manchas, raios, anéis e padrões de difusão dos pigmentos. Mamíferos albinos não possuem pigmentos em suas íris e os vasos sangüíneos na parte posterior de seus olhos refletem a luz, fazendo com que esses órgãos pareçam rosados.


Se uma grande quantidade de melanina (em relação à proporção de feomelanina e outro pigmentos) estiver presente na íris, os olhos serão negros ou castanhos. Se pouca melanina estiver presente, a íris parecerá azul. Concentrações intermediárias produzirão cores cinza, verde e diversas tonalidades de castanho. O primeiro dos genes envolvidos com a coloração da íris, conhecido como Bey2 (do inglês brown eye – olho castanho) ou EYCL3 (do inglês eye color – cor do olho), situa-se no cromossomo 15 e possui dois alelos: um castanho e outro azul. Cada um deles gera respectivamente uma coloração castanha (alta quantidade de melanina) ou azul (baixa quantidade de melanina) na íris de seus portadores. Porém, a coloração dos olhos de uma pessoa não é definida de forma tão simples assim: outros dois genes, conhecidos como Gey (do inglês green eye – olho verde) ou EYCL1 e Bey1 (ou EYCL2 ), estão também envolvidos no processo. Embora a biologia dos genes EYCL1 e EYCL3 seja bem conhecida, a função do EYCL2 ainda é muito pouco compreendida. Sequer se conhece com certeza sua localização (acredita-se que ele também esteja situado no cromossomo15)!


O conhecimento atual, entretanto, não explica a existência de olhos de outras cores ou de gradações diferentes. Também não esclarece como a cor dos olhos muda com o decorrer do tempo. Essas questões podem ser respondidas se considerarmos que existem outros genes, além do trio EYCL1, 2 e 3 , que controlam a deposição de lipofuscina (lipocromo) na íris, determinando, assim, a presença de cores âmbar, verde e violeta nos olhos. O gene EYCL1 , localizado no cromossomo 19, apresenta alelos azul e verde, ligados à presença de pigmentos de gordura na íris. O alelo verde desse gene é dominante em relação aos alelos azuis presentes tanto no gene EYCL1 quanto no EYCL3 . Contudo, esse alelo comporta-se como recessivo em relação ao alelo castanho presente em EYCL3 . Há, portanto, uma ordem de dominância entre esses dois genes. Uma pessoa que possui um alelo castanho no gene EYCL3 apresenta olhos castanhos. Por outro lado, pessoas de olhos verdes possuem um alelo verde em EYCL1 associado com alelos azuis nesse gene e em EYCL3 . Os olhos azuis são mais raros e ocorrem somente se os genes EYCL3 e EYCL1 apresentarem alelos azuis.

Alterações nos genes EYCL3 e EYCL1 estão associadas com a heterocromia – problema causado por um agrupamento anormal de melanossomos que pode fazer com que a pessoa tenha parte ou ambos os olhos de cores diferentes. A heterocromia é bastante incomum e pode acontecer ainda em decorrência de lesões oculares ocorridas após batidas, derrames, inflamações ou doenças que causem a perda de melanina. No entanto, não costuma causar maiores complicações além da questão estética. A cor dos olhos varia ainda com a idade e com o estado de saúde. Em algumas pessoas, os olhos mudam de cor dependendo do humor, disposição e mesmo com a cor das roupas. No entanto, os mecanismos associados com esse processo não são bem compreendidos. Estamos ainda tateando para tentar entender todos os fatores envolvidos na definição da coloração de nossos olhos. O que não deixa de causar surpresa: afinal, essa característica atrai muito interesse público e movimenta anualmente verdadeiras fortunas relacionadas com tratamentos estéticos e reparadores, venda de produtos etc. No entanto, o entendimento pleno de seu fundamento biológico ainda está por ser obtido.


Fonte: Ciência Hoje

Território desordenado

Washington Castilhos

O sociólogo e demógrafo Daniel Hogan vê com preocupação a forma como a cidade de Campinas, no interior paulista tem crescido: nos últimos anos se tem observado a ocupação da área rural pelo crescimento urbano de forma radiocêntrica (do centro em direção à periferia).
“Tem sido criado um crescimento descontínuo. Processos naturais de reprodução da fauna e da flora precisam de grandes áreas, e esses pedaços do urbano dentro do rural interrompem as áreas de reprodução de espécies de plantas e animais”, disse o pesquisador nascido nos Estados Unidos e radicado há 38 anos no Brasil, 25 dos quais como professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – é chefe do Departamento de Demografia e pesquisador dos Núcleos de Estudos de População (Nepo) e de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam).

O problema, segundo ele, é que, em busca de uma melhor qualidade de vida, as pessoas têm se deslocado em direção ao campo e, com isso, criado outros problemas, com impactos sociais e ambientais. “Esse modelo de ordenamento do território gera o uso individual dos carros, isto é, leva mais carros à rua, aumentando as emissões de carbono”, disse à Agência FAPESP. Segundo Hogan, o padrão radiocêntrico de expansão da cidade foi configurado nos anos 70 – na década, a região metropolitana de Campinas cresceu mais de 6% ao ano. “É uma taxa incrivelmente alta, que gera problemas que estamos tentando resolver até hoje, como a questão do saneamento básico e tratamento de esgoto”, afirmou.
Hogan lembra que apenas 35% do esgoto da cidade é tratado, e que existe uma perspectiva de aumento para 50% até o fim de 2007. “Isso em uma das regiões mais desenvolvidas do Estado do São Paulo e do país. O problema é que o resto do esgoto, que não é tratado, ainda é despejado nos rios, em uma região não muito rica em água”, criticou.

A questão, para o pesquisador, vai ainda mais longe, e pode criar um conflito entre Campinas e a capital. “A região metropolitana de São Paulo, com 18 milhões de habitantes, precisa dessa água. Campinas está desviando uma água que não tem de sobra. Os rios principais da região estão poluídos pelo esgoto e isso é grave”, observou o sociólogo. Formado em sociologia pela Universidade de Cornell, em 1972, Hogan afirmou não ser fácil para um cientista social do meio ambiente – como se denomina – levantar esse debate, mas espera que pesquisas sobre urbanização e uso da terra possam contribuir para a questão das mudanças climáticas e ambientais.

Fonte: Agência Fapesp

quinta-feira, 22 de março de 2007

Marina Silva recebe documento para defesa da água

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, recebe hoje, Dia Mundial da Água, em Foz do Iguaçu, a Carta de Princípios Cooperativos pela Água, que será assinada no final da tarde por representantes de órgãos gestores dos recursos hídricos do governo federal e estadual, grandes consumidores e organizações não-governamentais, o chamado terceiro setor.
O ato é o início da campanha nacional SOS H2O. No documento todos se comprometerão a promover o uso eficiente da água em todos os segmentos da sociedade, mobilizando para isso o conhecimento e a experiência de cada instituição.

A celebração de hoje, que tem como tema "A procura de solução para a escassez da água" está sendo coordenada em todo o mundo pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e alimentação (FAO), também interessada na distribuição da água no globo terrestre. O encontro em Foz do Iguaçu foi organizado em conjunto com a Hidrelétrica de Itaipu e Fundação Roberto Marinho. De acordo com estudos da ONU, mantendo-se os padrões atuais de consumo, em 2050 mais de 45% da população mundial não poderá contar com a porção mínima individual de água para as necessidades básicas. Atualmente cerca de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. A projeção da ONU indica agravamento da situação quando a população mundial atingir os cerca de 10 bilhões de habitantes, com a continuação das mudanças climáticas.
Em seu conjunto o documento estabelece "bases indispensáveis para a construção de um mundo melhor, fundado no compromisso coletivo de respeitar e defender os princípios da dignidade humana, da igualdade e da eqüidade em escala mundial". Lembra que o uso dos recursos naturais "constitui compromissos assumidos por todos os 191 Estados-Membros das Nações Unidas e que se constituem nos "Objetivos de Desenvolvimento do Milênio", a serem cumpridos até o ano de 2015".

O documento tipifica a escassez de água por categorias e aponta solução para cada uma delas. Em primeiro lugar, informa que a água disponível nos rios e lagos seria suficiente para atender à demanda, mas não chega às casas das pessoas por falta de um sistema de abastecimento, com estações de tratamento, adutoras e rede de distribuição. "No Brasil, aproximadamente 8% dos domicílios urbanos estão nessa situação. Em cerca da metade dos 92% dos domicílios atendidos com água, o esgoto resultante é coletado e conduzido de volta aos rios, em geral sem a necessária remoção da carga poluidora", revela o estudo. Em segundo lugar, o documento afirma que a quantidade de água que flui pelos rios ou está estocada nos reservatórios é "insuficiente para atender ao consumo doméstico e à produção agrícola, industrial e energética sendo preciso otimizar o uso, principalmente na agricultura, que é o segmento responsável por cerca de 70% da água retirada dos rios". O documento também informa que a quantidade de água nos rios é suficiente, mas de tão má qualidade, que não pode ser usada.

Fonte: Redação Terra

OMS: falta de água limpa atinge mais de um bilhão


Uma mãe banha sua filha com a água de um caminhão-pipa em Nova Délhi, na Índia. Atualmente, 2,6 bilhões de pessoas vivem sem condições de saneamento


A falta de acesso à água limpa atinge mais de um bilhão de pessoas, de acordo com alerta feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quinta-feira, o Dia Mundial da Água.

A organização alerta que esse número pode dobrar até 2025, quando dois terços da população mundial pode estar sofrendo com problemas ligados à escassez de água limpa. Atualmente, 2,6 bilhões de pessoas - metade da população dos países em desenvolvimento - vivem em locais sem condições básicas de saneamento. Os problemas relacionados à falta de acesso à água adequada matam mais de 1,6 milhões de pessoas todos os anos. Segundo a OMS, 90% das mortes ocorrem entre crianças menores de cinco anos, principalmente em países mais pobres. "Para cada criança que morre, inúmeras outras sofrem de problemas de saúde, produtividade reduzida e perda de oportunidades de educação", disse a diretora-geral da OMS, Margareth Chan.


Doenças

A água contaminada pode causar doenças com febre tifóide, cólera, malária, dengue e febre hemorrágica. Segundo Chan, muitas das doenças e mortes poderiam ser prevenidas com o uso de conhecimentos e tecnologias básicas que já existem há anos. "A melhoria da administração ambiental pode tornar mais difícil a sobrevivência e reprodução de transmissores de doenças, como mosquitos", disse. "A água é um assunto de todos. Nós deveríamos aprender uns com os outros." A OMS alerta também que as mudanças climáticas podem piorar ainda mais a situação, ao aumentar os períodos de seca, alterar os padrões de chuva e derreter parte das geleiras do planeta. "No (hemisfério) norte, a quantidade de chuva está aumentando, enquanto no sul os períodos de seca estão ficando mais longos", disse a OMS. Conflitos relacionados à água podem surgir em áreas atingidas entre a comunidade local e também entre países, porque dividir um recurso essencial e limitado é extremamente difícil."

Fonte: BBC Brasil

NOTICIA DE NÚMERO 1000 EM MIDIA, CIENCIA E SUSTENTABILIDADE

Caos nas partes, coerência no conjunto


Pesquisa realizada no Inpe ajuda a compreender turbulências atmosféricas sobre a Amazônia – que afetam o clima global – e comprova conjectura feita pelo criador do “efeito borboleta” em 1991


Fábio de Castro

Uma pesquisa de mestrado realizada no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deverá facilitar a compreensão do fenômeno da turbulência sobre a floresta amazônica – cuja interação com a atmosfera afeta o clima global – e ajudar a criar modelos meteorológicos mais eficazes. Como se fosse pouco, a dissertação encerrou uma polêmica científica que permanecia há 15 anos.

O trabalho de Andriana Campanharo, apresentado no Laboratório Associado de Computação e Matemática Aplicada do INPE em 2006, será publicado numa edição especial da revista inglesa Philosophical Transactions of the Royal Society of London - Mathematical and Physical Sciences, o mais antigo periódico científico do mundo, editado desde 1665. Num sistema caótico, o bater de asas de uma borboleta pode influenciar sutilmente as condições iniciais de um processo atmosférico, fazendo-o convergir para um dia de sol ou para uma tempestade. O “efeito borboleta” formulado na década de 60 pelo matemático norte-americano Edward Lorenz, é uma das mais conhecidas bases da teoria do caos. O mesmo Lorenz conjecturou, em 1991, que as conexões entre caos e clima, observadas por diversos autores, resultariam da existência de subsistemas caóticos simples, imersos e acoplados a um sistema maior, mais complexo e não-caótico, a atmosfera.


A conjectura de Lorenz, que permanecia controversa até 2006, foi corroborada pela pesquisa de Andriana, orientada por Fernando Manuel Ramos e co-orientada por Elbert Macau, ambos pesquisadores do Inpe. “A idéia de trabalhar sobre a Amazônia surgiu porque havia sido observada a presença de estruturas coerentes sobre a floresta – isto é, grandes vórtices formados pelo atrito entre a copa das árvores e a atmosfera superior. A floresta é permeável e o vai-e-vem destas estruturas através da copa gera um mecanismo semelhante à respiração, que favorece a troca de gases e de energia com a atmosfera. Percebemos que este sistema – estruturas coerentes imersas na atmosfera - coincidia com aquele intuído por Lorenz”, disse Ramos à Agência FAPESP.
De acordo com o orientador, a pesquisadora utilizou séries temporais turbulentas de temperatura e velocidade de vento obtidas pelo projeto Experimento de Grande Escala de Interação Biosfera-Atmosfera na Amazônia, medidas em uma torre micrometeorológica acima da copa da floresta amazônica, com o objetivo de verificar a existência ou não de caos determinístico nos dados. “Depois procuramos selecionar, dentre o conjunto de séries disponíveis, uma que apresentasse sinais nítidos da presença de estruturas coerentes do tipo rampa”, disse Ramos. Andriana realizou uma filtragem dos dados usando a técnica de wavelets de Haar, que permite separar a contribuição das estruturas coerentes do sinal turbulento de fundo. A série foi dividida em dois componentes – a série coerente, basicamente formada de estruturas em rampa – e a série turbulenta de alta freqüência. Separadas a parte coerente e a não-coerente, a existência de caos foi testada com as técnicas apropriadas.
“Construímos os espectro de potência das três séries – a original, a coerente e a incoerente – e verificamos que todas reproduziam, como esperado, a lei da turbulência de Kolmogorov. Depois usamos uma série de algoritmos para analisar as características caóticas das três séries”, disse Andriana à Agência FAPESP. Com o procedimento, a pesquisadora verificou que tanto a série original quanto a coerente tinham uma dimensão de correlação que convergia para um valor finito – o primeiro indício para existência de caos. Em seguida, ela constatou que o expoente de Lyapunov dominante em ambas as séries era positivo – mais um indício para a existência de caos. Finalmente, Andriana fez uma série de testes para verificar robustez dos resultados, como por exemplo, um embaralhamento das séries. “Isso foi necessário, já que, em geral, os algoritmos trabalham com séries sintéticas. Nesses casos, já se sabe de antemão, a partir do modelo empregado, se tratam-se de séries caóticas ou não”, declarou Andriana.
Os resultados, de acordo com a pesquisadora, indicam que a dinâmica caótica encontrada está associada à presença das estruturas coerentes na camada limite atmosférica acima do topo da copa das árvores, e não à turbulência atmosférica em si mesma, confirmando a conjectura de Lorenz. “Compreender como a Amazônia interage com a atmosfera circundante é importante porque este processo afeta o clima globalmente. Para isso é imprescindível entender as características da turbulência atmosférica que permanece sobre a floresta. O trabalho da Andriana deu uma grande contribuição nesse sentido e ajudará a tornar mais simples a modelagem de sistemas meteorológicos”, disse o orientador.


Fonte: Agência Fapesp

sábado, 17 de março de 2007

Variação surpreendente


O mapa representa a amplitude das variações sazonais do índice de área foliar na Amazônia. Os trechos em verde escuro são aqueles em que a variação sazonal foi maior (imagem: Boston University/Nasa/PNAS).


Bernardo Esteves


A area total de folhas da Amazônia é 25% maior na seca em relação à estação chuvosa

Uma flutuação importante na superfície total de folhas da Amazônia ao longo do ano foi identificada por pesquisadores norte-americanos. Dados colhidos por satélite mostram que, na seca, quando a radiação solar é mais intensa, a área total de folhas é 25% maior do que durante a estação chuvosa, quando há mais nuvens e uma menor incidência do Sol. Essa variação sazonal tem um papel determinante no clima local, pois as folhas regulam as trocas de carbono e água entre a floresta e a atmosfera.

O estudo mediu a evolução ao longo do ano do chamado índice de área foliar na Amazônia. Esse índice estabelece a relação entre a superfície ocupada por folhas e a área de solo ocupada pela floresta. Os dados foram colhidos pelo satélite Terra, da agência espacial norte-americana (Nasa), entre 2000 e 2005. “O satélite mede a radiação solar refletida pelas folhas verdes nas árvores e abaixo delas”, explica à CH On-line o biólogo Ranga Myneni, da Universidade de Boston, autor principal do estudo publicado esta semana pela revista PNAS . “Usamos um modelo físico-matemático da interação da radiação solar com as folhas verdes para estimar a área das folhas.” Uma variação sazonal de 25% na área foliar total foi identificada em cerca de 60% da Amazônia.


As flutuações coincidem com a evolução ao longo do ano da incidência da radiação solar e das precipitações na Amazônia. O resultado é coerente com a hipótese segundo a qual, em florestas tropicais úmidas, o aumento da radiação solar na seca intensifica a produção de novas folhas. Nessa estação, há uma maior queda de folhas velhas, que são substituídas por um grande número de folhas novas, mais eficientes para fazer a fotossíntese. Amplitude inesperada A variação ao longo do ano na área total de folhas na Amazônia era prevista, mas nunca havia sido medida antes – e a amplitude do fenômeno chamou a atenção dos pesquisadores. “Esperávamos encontrar alguma variação sazonal na área de folhas, mas uma diferença tão grande foi surpreendente”, conta Myneni. “Isso confirma que a floresta é realmente limitada pela luz e pela água.” A hipótese foi ratificada ainda por medições na área total de folhas do cerrado, na fronteira com a Amazônia. Nesse bioma, foi constatado o fenômeno inverso: a área de folhas diminui na seca e aumenta na estação chuvosa. “Savanas [como o cerrado] são realmente dependentes de água”, explica Myneni. “Na seca, diante da limitação desse recurso, a área de folhas diminui. Na estação chuvosa, ela aumenta, devido à abundância de água.” As variações sazonais na área total de folhas têm um papel importante na regulação do clima local.


Segundo os autores, o aumento dessa área na seca poderia atuar como um elemento desencadeador do início da estação chuvosa. “Com uma maior área de folhas, as árvores são capazes de evaporar mais água para a atmosfera”, explica Myneni. “Isso aumenta a convecção atmosférica e, portanto, a precipitação.”


Fonte: Ciência Hoje

sexta-feira, 16 de março de 2007

Manifestantes entram com ação popular contra transposição do São Francisco

Os integrantes de movimentos sociais acampados há uma semana em Brasília contra a transposição do Rio São Francisco protocolam hoje (16), às 11h30, no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação popular contra as obras. Às 15 horas, haverá coletiva no acampamento, com a presença do bispo de Barra (BA), Dom Luiz Flávio Cappio, um dos principais opositores do projeto. Logo em seguida, será feito ato de encerramento da manifestação.

Fonte: Agência Brasil

Embrapa articula criação de plataforma de Mudanças Climáticas

Vitor Moreno

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, está articulando, através de seu Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), a criação de uma plataforma para organizar as discussões e atividades que acontecerão na empresa sobre o tema.

Segundo a diretora executiva Tatiana Deane de Abreu Sá, a idéia é “coordenar o que a empresa já realiza nessa área e orientar ações para os segmentos em que devemos atuar continuamente, considerando a diversidade do território brasileiro”. Tatiana explica que a preocupação da Embrapa, neste momento, é entender qual seria o espaço diferencial de contribuição da instituição. “Não vamos trabalhar apenas levantando os riscos que a mudança climática acarreta em termos amplos. Há várias outras instituições atuando com competência no tema. Vamos trazer isso para o cenário agrícola e ver o quanto isso vai afetar os cultivos e a pecuária. Qual o impacto dos diferentes cenários de aumento de temperatura e variação de chuva apontados pelo IPCC [Painel Intergovernamental em Mudança do Clima] nos sistemas de produção?”, exemplifica.

A partir dessa plataforma, serão realizados projetos nas diferentes unidades da Embrapa. Alguns poderão receber recursos de instituições interessadas no tema, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que já manifestou interesse em parcerias que envolvam o assunto. Algumas idéias são novos sistemas de produção, manejo e o desenvolvimento de cultivares tolerantes a seca, alagamentos e pragas, cenários que poderão surgir com as mudanças climáticas que o planeta enfrenta. Muitas dessas idéias foram discutidas durante o 1º Simpósio Brasileiro de Mudanças Ambientais Globais, que aconteceu nos dias 11 e 12 de março. O evento também serviu para que os pesquisadores que atuam com Mudanças Climáticas, lotados em diversas unidades da Embrapa, se reunissem no Rio de Janeiro. Foi a oportunidade também para promover a integração dos novos contratados às ações estratégicas da área. Em seu último concurso, realizado no ano passado, a instituição abriu 14 vagas para a área de Mudanças Climáticas, distribuídas em 13 unidades, das quais dez já foram preenchidas.

Rede

Como uma das instituições que vêm demonstrando sensibilidade ao tema das mudanças ambientais, a Embrapa foi convidada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para integrar a Rede Brasileira de Mudanças Climáticas. Em fase de montagem, a rede irá juntar os esforços de diversas entidades. A Embrapa deverá ter forte protagonismo na sub-rede que irá estudar os impactos na atividade agrícola.

Fonte: Embrapa

A boticária da Caatinga


Perereca produz secreção rica em compostos capazes de eliminar bactérias e reduzir a pressão arterial (foto: Eduardo Cesar)

Iracema Corso

Uma perereca verde com listras negras e alaranjadas ao lado do corpo produz uma secreção cutânea que mantém sua pele úmida mesmo sob o sol intenso da Caatinga do Rio Grande do Norte, onde vive a maior população dessa espécie na América Latina.

É uma gelatina viscosa e transparente que protege a Phyllomedusa hipocondrialis da desidratação e a torna uma refeição indigesta para seus predadores por conter uma mistura de proteínas tóxicas. Analisando sua composição, biólogos de São Paulo e Minas Gerais descobriram que ela pode ser útil também para os seres humanos. Eles identificaram na secreção da Phyllomedusa hipocondrialis peptídeos (fragmentos de proteína) capazes de eliminar bactérias causadoras de diarréias ou infecções hospitalares e até mesmo de reduzir a pressão arterial. A equipe coordenada por Daniel Pimenta, do Instituto Butantan, em São Paulo, coletou amostras de secreção de 12 exemplares da Phyllomedusa capturados em Angicos, no Rio Grande do Norte. Ao diluí-la em diferentes solventes, os pesquisadores conseguiram separar três peptídeos que ainda não haviam sido identificados.

Testes em laboratório mostraram que dois deles – a filosseptina-7 e a dermasseptina-1– são potentes bactericidas, capazes de eliminar quatro espécies de bactérias ligadas a problemas de saúde que afetam os seres humanos: a Micrococcus luteus, que provoca lesões de pele conhecidas como impetigo; a Staphylococcus aureus, causadora de infecção hospitalar; a Escherichia coli, associada à diarréia; e a Pseudomonas aeruginosa, comum nas infecções respiratórias. Tanto a filosseptina-7 como a dermasseptina-1 atuam da mesma forma. Abrem pequenos poros na parede celular das bactérias, matando-as, como descreveu a equipe de Pimenta, formada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Ezequiel Dias, em Minas Gerais, em um artigo na Peptides de dezembro de 2006.

Outra descoberta amplia o interesse sobre o potencial farmacológico dessas moléculas. Misturadas ao sangue humano, a filosseptina-7 e a dermasseptina-1 não danificam as hemácias, responsáveis pelo transporte de oxigênio. “Essa é uma indicação de que provavelmente essas moléculas não sejam tóxicas para os seres humanos”, explica Pimenta, que há cinco anos investiga as propriedades medicinais de compostos encontrados na secreção de anfíbios. Clique aqui para ler o texto completo na edição 133 de Pesquisa FAPESP.

Fonte: Agência Fapesp

Ministro da Educação quer implementar centro de formação em ciência e tecnologia

Mylena Fiori

A criação de um Instituto Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, com unidades em todas as cidades-pólo do país, foi um dos anúncios feitos hoje (15) pelo ministro da Educação, Fernando Haddad.

Segundo ele, a formação de profissionais nas áreas de ciência e tecnologia é uma demanda antiga de entidades como Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Academia Brasileira de Ciências. “Havia uma reclamação geral de que o poder público estava devendo muito ao país no que diz respeito a isso”, justificou Haddad, sem dizer a previsão de funcionamento e operação do instituto e os custos envolvidos no projeto.
O ministro disse que a nova instituição ofereceria ensino médio e educação de jovens e adultos integrados à educação profissional, além de cursos de graduação e pós-graduação, especializações com foco na produção e licenciatura com vista à formação de professores para educação básica, sobretudo nas áreas de ciência e matemática.

De acordo com Haddad, 50% do orçamento do instituto seria destinado à educação básica; 20% à formação dos professores da educação básica; e 30% para as demais áreas.Outro anúncio na área de educação profissional refere-se à regulamentação da lei do estágio, que tem 30 anos e, na avaliação do ministro, "contribui muito para a acumulação de lucros, mas para a educação contribui muito pouco”. A idéia, segundo ele, é determinar, entre outras questões, a jornada máxima do estudante e o papel da instituição de ensino, do ofertante do estágio e do poder público.“Estágio e aprendizagem são formas de educação, uma com vínculo empregatício e outra sem, mas que hoje não estão devidamente regulamentadas. O estágio virou uma forma de precarização de mão-de-obra, e não uma forma de educar os jovens matriculados no ensino médio e superior”, destacou.Ele acrescentou que hoje em dia é comum haver empresas constituídas basicamente por estagiários. "O patrão não paga o ISS [Instituto Nacional do Seguro Social] nem férias e às vezes paga menos que o salário mínimo. É uma coisa horrorosa o que está acontecendo neste país”.O ministro assegurou que o projeto de regulamentação, que está parado desde 2003, agora será discutido com o Ministério do Trabalho e remetido à Casa Civil.

Ainda na área de educação profissional, Haddad anunciou que as escolas técnicas oferecerão formação a distância para escolas de ensino médio, via internet. “Pretendemos, a partir do ano que vem, atender 100 mil jovens ao ano”.

Fonte: Agência Brasil

Menos arroz com feijão

Pesquisa mostra como tendências de consumo com alimentação variam devido a fatores socioeconômicos e demográficos, como o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e a intensificação do processo de urbanização

Thiago Romero


Nos últimos 30 anos, o padrão alimentar das famílias brasileiras se modificou: o consumo domiciliar de itens que demandam maior tempo de preparo diminuiu enquanto aumentou a demanda por refeições prontas ou consumidas fora de casa. O assunto foi analisado por Ana Lúcia Kassouf, professora titular do Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba (SP), e por Madalena Maria Schlindwein, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, em Francisco Beltrão (PR), em artigo publicado na Revista de Economia e Sociologia Rural.


Segundo as pesquisadoras, de 1974 a 2003 houve uma redução de 46% na aquisição domiciliar de arroz e 37% na de feijão. Em contrapartida, foi verificado um aumento significativo na aquisição de alimentos preparados (216%), refrigerantes (490%) e iogurtes (702%). Segundo Ana Lúcia Kassouf, as alterações no padrão de consumo alimentar se devem a mudanças socioeconômicas e demográficas, como a intensificação do processo de urbanização e o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho. “Quanto maior é o grau de escolaridade das mulheres, que é quem geralmente prepara as refeições, menor é o consumo de alimentos que demoram mais tempo para ficar prontos, como arroz, feijão e carnes”, disse ela à Agência FAPESP. “A opção por alimentos prontos aumenta com a possibilidade de melhores salários por parte das mulheres ou por conta delas ficarem muito tempo fora de casa, trabalhando”, apontou.

As pesquisadoras analisaram dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgados em 2003 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A POF mensura estruturas de consumo, gastos e rendimentos das famílias para traçar um perfil das condições de vida da população brasileira. Foram entrevistados moradores de 48.470 domicílios das áreas urbanas e rurais de todo o país na edição da POF utilizada no estudo de Ana Lúcia e Madalena.

Carnes em consumo per capita

O consumo per capita de carnes também foi analisado, ficando em 17 quilos (bovina), 13 quilos (frango) e 4 quilos (suína), levando em consideração tanto o meio urbano quanto o rural. Neste último, o consumo de carne suína ficou em 7 quilos. “O maior consumo de carne suína nas áreas rurais pode estar relacionado com a criação de porcos, ainda comum em pequenas propriedades. Esse tipo de consumo é menor nas cidades devido aos mitos de que a carne de porco é extremamente gordurosa, além de que há uma tendência voltada para as comidas mais saudáveis”, disse Ana Lúcia. A região Norte foi constatada como a maior consumidora per capita de carne bovina e de frango entre todas as regiões do país. O Sul liderou na carne suína. O Sudeste teve o menor consumo de carne bovina, enquanto o Nordeste ficou em último em carne suína e o Centro-Oeste foi o que menos consumiu frango. O gasto médio mensal familiar no Brasil com carne bovina é de R$ 26, maior que os dispêndios com frango (R$ 12) e carne suína (R$ 5). “A renda domiciliar também confirmou a sua importância tanto no consumo como nos gastos familiares com alimentação. O aumento da renda eleva a probabilidade de consumo dos alimentos”, disse a professora da Esalq.

Para ler o artigo Análise da influência de alguns fatores socioeconômicos e demográficos no consumo domiciliar de carnes no Brasil, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme), clique aqui.

Fonte: Agência Fapesp

Controle Ambiental atende diariamente das 12h às 18h para licenciamento

Rio

Para abrir, anexar documentos ou consultar a tramitação de processos de licenciamento ambiental, a Coordenadoria de Controle Ambiental atende de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h, na Secretaria Municipal de Ambiente (Rua Afonso Cavalcanti 455, 16º andar), na Cidade Nova.

No caso de abertura de processos, o atendimento é feito exclusivamente no protocolo da Coordenadoria ou com agendamento pelo telefone 2503-3185. As audiências técnicas podem ser agendadas de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h, no protocolo ou pelo mesmo telefone.

Fonte: Secom Prefeitura

Inpe apóia seminário sobre várzeas do Paraíba do Sul

A organização não-governamental Centro de Amigos da Natureza (ONG CAMIN) realiza no próximo dia 21, na Câmara Municipal de São José dos Campos (SP), o seminário Várzeas do Paraíba do Sul: Futuro Incerto".

O objetivo do evento é estudar os impactos decorrentes pela ocupação nas várzeas como mudanças climáticas e cenário previsto para o caso de uma várzea urbanizada, além de mostrar qual é a real importância dos serviços ambientais.O seminário, que contará com palestras e mesa-redondas, tem o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), do Ministério Público do Estado de São Paulo, da Câmara Municipal de São José dos Campos e do Comitê da Bacia do Rio Paraíba do Sul.

Fonte: Assessoria de Imprensa do INPE

Técnicos estudam adoção do pinhão-manso para produção de biodiesel em Pernambuco

Fabiana Galvão

Dois pesquisadores do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) farão visitas técnicas aos municípios de Montes Claros e Janaúba (MG) e a Petrolina (PE), para avaliar a adoção da cultura do pinhão-manso em áreas do Agreste e Sertão pernambucanos. A idéia é utilizar o óleo do pinhão-manso como insumo para a produção de biodiesel na Unidade Experimental de Produção de Biodiesel de Caetés (PE), que atualmente usa apenas o óleo de algodão.

Os pesquisadores Almir Monteiro e Marcelo Andrade irão observar campos experimentais de produção da planta e conversar com pesquisadores. Eles seguem, no próximo dia 25, para o norte de Minas Gerais, onde visitarão os campos experimentais de produção do pinhão-manso da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). No dia 29, eles estarão em Petrolina, em visita ao Centro Nacional de Pesquisa do Semi-Árido, vinculado à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “A planta é altamente promissora para a produção de óleo para biodiesel”, afirmou Almir Monteiro. “A produtividade é muito boa e o teor do óleo também”. De acordo com ele, a oleaginosa em estudo tem demonstrado boa adaptação ao solo e clima do Nordeste, apresentando nos aspectos agronômicos resistência satisfatória à seca. Almir Monteiro disse que já foi desenvolvida pesquisa sobre a produção de biodiesel a partir do óleo de pinhão-manso em nível experimental de bancada no Laboratório de Combustíveis (LAC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Há, ainda, uma empresa privada realizando experimentos de cultivo da planta em seis hectares irrigados e de sequeiro no município de Garanhuns (PE). A Unidade Experimental de Produção de Biodiesel de Caetés está localizada às margens da BR-424, que faz a ligação entre os municípios de Caetés e Garanhuns, no Agreste Meridional pernambucano. No momento, não processa as oleaginosas. Está capacitada para produzir o biodiesel a partir de óleo bruto de oleaginosas como o algodão, oiticica, soja, pinhão-manso, amendoim, girassol e mamona, ou a partir de gordura animal, material que é submetido ao processo de transesterificação. A capacidade de produção é de 2 a 4 mil litros/dia de biodiesel.

Fonte: Assessoria de Imprensa do MCT

Canal Saúde mostra como a poluição das águas compromete a sobrevivência

Marcelo Neves

Boa parte da programação do Canal Saúde deste mês é dedicada ao tema da água, e por uma boa razão – em 22 de março comemora-se o Dia Mundial da Água, instituído pela ONU. Em programa especial, o projeto Canal Saúde da Fiocruz dará ênfase ao problema da poluição de rios e mananciais das regiões metropolitanas de São Paulo, Vitória e Rio de Janeiro. O destaque é o documentário Água na terra dos pomeranos que mostra como pesquisadores da Fiocruz colaboram na gestão dos recursos hídricos e ambientais de Santa Maria do Jetibá, a 80 quilômetros de Vitória. O monitoramento é feito na área do afluente do Rio Santa Maria da Vitória. O rio abastece a capital capixaba, região que concentra metade da população do estado. O documentário vai ao ar nesta sexta-feira (16/03), às 12h05, com reprise na segunda-feira (19/03), a partir das 13h.

Água na terra dos pomeranos é fruto de pesquisa desenvolvida a partir do edital temático 2003 – Qualidade de vida e gestão de recursos hídricos: água, caminhos para garantir a vida, do programa institucional de pesquisa em saúde e meio ambiente da Vice-presidência de Serviços de Referência e Ambiente da Fiocruz. O documentário contou com a coordenação do Departamento de Endemias Samuel Pessoa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca e produção da Cooperativa de Produção de Audiovisuais de Saúde, Saneamento e Meio Ambiente (Coopas).

O programa Canal Saúde faz parte de um projeto de mesmo nome formado por oito programas de produção própria e cinco captados por meio de parcerias, todos voltados para assuntos relacionados às políticas públicas em saúde, ciência & tecnologia, comportamento, serviço, meio ambiente, qualidade de vida e atualização profissional. Conheça o projeto aqui.
O Canal Saúde é veiculado pela parabólica - polarização horizontal - 3.930 Ghz ou 1.220 Mhz. A programação completa de abril do Canal Saúde está aqui. Caso haja dificuldades em sintonizar o Canal Saúde, ou para obter outras informações sobre a programação, os telefones do Serviço de Atendimento ao Telespectador (SAT) são 0800-7018122 ou (21) 2598-2752/2703.

Fonte: Agência Fiocruz

Câmara Técnica do Conama aprova redução de metais pesados em pilhas e baterias

Foi dado o primeiro passo para baixar os índices de metais pesados em pilhas e baterias produzidas e distribuídas no Brasil. Em reunião realizada nesta quinta-feira (15) no Ministério do Meio Ambiente, a Câmara Técnica de Saúde, Saneamento Ambiental e Gestão de Resíduos aprovou proposta de resolução que estabelece novos índices de mercúrio, chumbo e cádmio, deixando-os a níveis equivalentes às pilhas e baterias usadas por países da União Européia.

A resolução ainda tem de ser apreciada pelo plenário do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), isso deverá ocorrer provavelmente em maio. Composta por sete integrantes representantes de governos federal, estaduais e municipais, do setor produtivo e da sociedade civil, a Câmara Técnica de Saneamento Ambiental integra o Conama, cujo plenário é formado por 103 conselheiros com direito a voz e a voto. De acordo com o texto da resolução, tanto as pilhas "comuns" - usadas em rádios e em brinquedos - quanto as baterias industriais e automotivas terão seus índices reduzidos. O mercúrio, por exemplo, vai ser praticamente zerado. Isso vai evitar a possibilidade de contaminação e facilitar o destino das baterias usadas.
A resolução estabelece que os produtores de pilhas e baterias terão de apresentar um plano de gerenciamento do material. Haverá a possibilidade, por exemplo, de que as pilhas "comuns" sejam depositadas em aterros sanitários licenciados. Sobre as baterias industriais, deverão ser especificados como se dará a coleta do material.

A diretora de Gestão de Riscos Ambientais do MMA, Marília Marreco, lembrou que a resolução será benéfica para os produtores de pilhas e baterias. "A resolução vai contribuir para aumentar o controle de qualidade do material produzido pelas empresas", afirmou. Marília ressalta, contudo, a participação da população na coleta e reciclagem das pilhas para que, cada vez mais, diminuam as possibilidades de contaminação. "É fundamental o compromisso do consumidor", disse a diretora de Gestão de Risco Ambientais. Presidente da Câmara Técnica de Saneamento e diretor-geral da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Bertoldo Silva Costa, comemorou a aprovação da resolução. "Acho que é um grande avanço para a regulamentação e o destino deste tipo de resíduo", disse.

Fonte: MMA

quinta-feira, 15 de março de 2007

Licença para transpor São Francisco respeita normas técnicas, diz ministra

Rafael Imolene

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse nesta quarta-feira (14), em Brasília, que a concessão da licença ambiental prévia para transpor o Rio São Francisco obedeceu a normas exclusivamente técnicas. Tratou-se de um posicionamento oficial do MMA em resposta a representantes de movimentos sociais contrários à transposição. Durante reunião com Marina, eles solicitaram que o ministério não conceda a licença para a execução das obras. "Nossa decisão não é política. Não é a favor do governo ou dos movimentos. É uma decisão exclusivamente técnica sobre um processo de licenciamento transcorrido com absoluta isenção e independência", afirmou a ministra.

Marina explicou aos líderes de movimentos sociais que a equipe do Ibama/MMA justificou tecnicamente a viabilidade ambiental da transposição, desde que respeitadas alterações como a redução da retirada de água, de 146 metros cúbicos por segundo para 26 metros cúbicos por segundo. Ainda segundo a ministra, agora está sendo elaborada a licença de instalação e, somente depois de concluída, terá início o processo para conceder a licença de operação. "Estamos respeitando a legislação ambiental brasileira. É um processo complexo, realizamos audiências públicas em toda a região e conduzimos todo o processo com isenção", disse Marina. Ainda de acordo com a ministra, a revitalização do Rio São Francisco é uma prioridade para o Ministério do Meio Ambiente. Ela disse aguardar para as próximas semanas a aprovação no Congresso de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que cria o Fundo de Revitalização do Rio São Francisco. Assim, haverá recursos entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões por ano somente para essa finalidade. "A revitalização é um processo contínuo, levará um tempo até aparecerem os resultados, e precisamos investir mais recursos. É uma de nossas prioridades", afirmou Marina.

O MMA tem dialogado continuamente com os movimentos sociais contrários à transposição há quatro anos. Nesta quarta-feira estiveram presentes no ministério líderes do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), do MST, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Conselho Pastoral dos Pescadores. Também participaram da reunião o Movimento Cáritas Brasileiro, a Articulação do Semi-Árido Brasileiro(ASA) e o Fórum Permanente de Defesa do Rio São Francisco, entre outros.

Fonte: MMA

Manifestantes invadem ministério e um é detido

Cerca de 500 pessoas, que estão em Brasília para protestar contra o projeto de integração do Rio São Francisco, invadiram o Ministério da Integração Nacional manhã de hoje. Durante a manifestação, uma das portas de vidro foi quebrada por um dos manifestantes, que foi detido. "Há dano ao patrimônio. Uma reivindicação tão ordeira, quanto a deles não pode terminar assim", disse o major Moretto, da Polícia Militar de Brasília. Segundo ele, o manifestante foi detido por dano ao patrimônio.

O advogado do movimento Isac Tolentino acompanha o caso. O rapaz, Roney Vagner da Silva Fonseca, feriu a mão durante o protesto e foi levado para a Polícia Federal por ter danificado prédio de um órgão federal. Ele é morador de Taguatinga, uma região administrativa do Distrito Federal. O destino final da caminhada foi a Câmara dos Deputados, onde os ribeirinhos participam de audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Na terça-feira, o Ministério da Integração Nacional publicou no Diário Oficial da União o aviso de licitação para a execução da primeira etapa das obras de transposição do Rio São Francisco, com as bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional.

De acordo com os manifestantes, há uma série de argumentos jurídicos, ambientais e sociais para que a obra seja embargada. Integrante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Alexandre Gonçalves, disse que o grupo acredita que o projeto de transposição "é uma falsa solução para um falso problema". "O problema da região do semi-árido não é a falta de água, mas a má gestão dos recursos disponíveis. Na região Nordeste, por exemplo, existem mais de 70 mil açudes destinados ao armazenamento de água, mas grande parte da população não tem acesso à água". O grupo acusa o projeto de destinar a maior parte da água que será transposta para o agronegócio. "Mais de 70% irão para os grandes perímetros irrigados, para a fruticultura, o plantio de cana-de-açúcar, a criação de camarões e o pólo siderúrgico da região de Pecem (CE). Ou seja, o custo vai ser alto e poucos serão beneficiados", disse Gonçalves.

Fonte: Agência Brasil

Alemanha quer disseminar benefícios ecológicos

O ministro de Meio Ambiente da Alemanha, Sigmar Gabriel, espera convencer os países emergentes dos benefícios econômicos da proteção do clima. Numa entrevista à emissora de rádio Südwestrundfunk, Gabriel, que hoje presidirá a reunião de ministros de Meio Ambiente do G8 e de cinco países emergentes, em Potsdam, afirmou que sem a "transferência de tecnologias ecológicas" as economias em desenvolvimento ficarão "sem oportunidades".

Além dos oito grandes (Alemanha, EUA, França, Reino Unido, Itália, Japão, Canadá e Rússia), participam da reunião, pela primeira vez, os ministros dos emergentes China, Índia, México, Brasil e África do Sul.
Grandes emissores de gases poluentes, como China e Índia, defendem a posição de que suas emissões de CO2 per capita são relativamente baixas. Por isso, não acham que uma redução seja urgente. "O problema das negociações do clima não será conseguir a adesão dos Estados Unidos, que virá mais cedo ou mais tarde", disse Gabriel, e sim a de outros grandes emissores.

A reunião começará esta noite com um jantar e se prolongará até no sábado. Em princípio não serão tomadas decisões. A expectativa é de um amplo debate que possa servir de preparação para a cúpula do G8, em junho, em Heiligendamm, no litoral alemão. Na agenda desta reunião estarão a mudança climática, a política energética e a biodiversidade.

Prefeitos se reúnem em Paris para debater clima

Mais de 200 prefeitos dos cinco continentes se reúnem hoje em Paris para tratar dos efeitos da mudança climática na vida urbana. Segundo a associação Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), 22 das 55 maiores cidades do mundo estão "seriamente ameaçadas" pelos efeitos da mudança climática, seja pelo aumento do nível dos oceanos ou pela seca.

A reunião será liderada pelos três co-presidentes das CGLU, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë; o de Quito, Paco Moncayo Gallegos; e o ex-prefeito de Pretória Smangaliso Mkhatshwa. Moncayo apresentará um relatório sobre a situação e as medidas que devem ser tomadas diante dos problemas de abastecimento de água que a capital equatoriana pode sofrer em virtude do derretimento das geleiras, que representam atualmente a principal fonte de fornecimento.Também será apresentado o plano de Londres contra inundações. "A reunião de Paris será uma ocasião para analisar e trocar conhecimentos e experiências para estar mais preparados" para a mudança climática, afirmaram os organizadores. Também participarão da reunião o prefeito de San José, Johnny Araya Monge; o da cidade mexicana de Naucalpan, José Luis Durán Reveles, que preside a associação de municípios de seu país; e o secretário-geral da Associação de Municípios do Equador, Guillermo Tapia Nicola.

Além dos efeitos da mudança climática, o encontro de Paris vai debater o relatório sobre o fortalecimento dos governos locais e regionais que será apresentado na ONU em abril. "Os membros das CGLU defendem a adoção deste texto de importância crucial para os governos locais e regionais do mundo", afirmaram os organizadores. Estabelecer um "diálogo estruturado" com as diferentes instituições para coordenar a ajuda ao desenvolvimento e preparar o 2º Congresso Mundial das CGLU, previsto para outubro na localidade sul-coreana de Jeju, são outros dos pontos da agenda da reunião de Paris, que será encerrada amanhã.

Fonte: EFE

Aula Inaugural

O aquecimento global será o tema do debate na abertura do ano letivo do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no Campus de Manguinhos na cidade do Rio de Janeiro. Para o encontro, o Instituto convidou o deputado federal Fernando Gabeira, além do vice-diretor de Informação e Comunicação do Icict, Umberto Trigueiros, e o chefe do Laboratório de Informação em Saúde, Christovam Barcellos. Antes do debate será exibido o documentário Uma verdade inconveniente, do diretor Davis Guggenheim.

Horário: 8h30

Local: Auditório do Museu da Vida

Fonte: Fiocruz

Enganos e catastrofismos

Washington Castilhos

Cerca de 10% da área do planeta Terra é coberta de gelo e 90% desse volume está na Antártica. Mas, diferentemente do que se tem noticiado, a Antártica não está derretendo e o continente contribui minimamente para o aumento no volume das águas marinhas observado nos últimos anos.

A observação foi feita por Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no domingo (11/3), durante o 1º Simpósio Brasileiro de Mudanças Ambientais Globais, que termina nesta segunda-feira no Rio de Janeiro, promovido pela Academia Brasileira de Ciências, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). Estimativas feitas nos últimos anos destacam que até o ano 2100 o nível do mar poderá se elevar de 60 centímetros a 1 metro. “Mas é bom ressaltar que é uma parte muito pequena do gelo do planeta que está derretendo – exatamente 0,7% do volume total do gelo – e a participação do gelo antártico nesse percentual é mínima”, afirmou Simões à Agência FAPESP.

Geólogo, com doutorado em glaciologia pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra – é um dos três únicos glaciólogos brasileiros – Simões coordena o Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas do Departamento de Geografia da UFRGS, onde estuda a questão do gelo do planeta e o descongelamento. “As pessoas confundem gelo marinho – mar congelado – com gelo de geleiras. O mar congelado, como o iceberg, não afeta o nível do mar. Tem impactos ambientais climáticos significativos, mas não no nível do mar. O aumento no nível das águas do mar está relacionado em 70% ao derretimento das geleiras e em 30% à expressão térmica do mar”, observou o pesquisador. Outro equívoco comum, segundo ele, é o uso da expressão “calotas polares”. “Elas não existem. O que há são áreas cobertas de gelo, como os mantos de gelo da Groenlândia e da Antártica”, disse. Segundo ele, o descongelamento que mais contribui para o aumento das águas oceânicas no mundo ocorre ao sul da Groenlândia, nas calotas de gelo das ilhas árticas. Outra contribuição vem do derretimento das geleiras de montanhas localizadas em regiões temperadas e tropicais.
“Toda essa água vai para os rios e, então, toma o caminho do mar. Na Bolívia, as geleiras estão derretendo rapidamente. Na cidade de La Paz, 70% das águas vêm das geleiras”, afirmou.

O derretimento das geleiras nos Andes tem, segundo Simões, impactos no Brasil, causado aumento do volume das águas tanto na bacia do Paraná quanto na Amazônica. O pesquisador também chamou a atenção para a diminuição do gelo na Patagônia. Simões criticou ainda a postura catastrofista e muitas vezes sensacionalista em relação às mudanças ambientais globais. “Mudanças no clima sempre ocorreram. Não há motivo para pânico. O que preocupa é a velocidade com que esse processo tem ocorrido. O exemplo clássico é que em 12 mil anos, entre a última idade do gelo e o presente, a temperatura média da Terra aumentou 7º C. Em comparação, nos 140 anos, tivemos um décimo desse aumento”, disse. “Na velocidade em que ocorrem essas mudanças do clima, os organismos não têm tempo suficiente para se adaptar e se desenvolver. Quando os processos são mais lentos, nós mesmos nos adaptamos. Uma coisa é absorver as mudanças internamente, tanto do ponto de vista biológico, no caso dos animais, quanto sob o aspecto cultural e tecnológico, no caso da humanidade”, afirmou.

Fonte: Agência Fapesp

Condutores e passageiros do câncer


Projeto Genoma do Câncer anuncia seqüenciamento de 518 genes de 210 tipos de câncer que atingem os seres humanos. Maior trabalho do gênero já feito identificou mais de mil mutações diferentes (foto: Sanger Institute)

Cientistas do Projeto Genoma do Câncer, do Instituto Wellcome Trust Sanger, no Reino Unido, e de diversos outros centros de pesquisa na Europa, nos Estados Unidos, Austrália e China, acabam de anunciar um trabalho pioneiro no estudo do câncer.

Os pesquisadores conseguiram seqüenciar 518 genes ligados a 210 tipos de câncer que atingem os seres humanos. O maior trabalho do gênero até o momento identificou ainda mais de mil mutações diferentes. Os resultados estão na edição de 8 de março da revista Nature. O levantamento destaca que o número de genes responsáveis pelo desenvolvimento dos diversos tipos da doença é muito maior do que se imaginava. Além disso, cada uma dessas células transporta muitas outras mutações. Segundo os autores, o estudo coloca em evidência um grande desafio para a pesquisa do câncer: distinguir entre as células transportadoras e as mutações.

O câncer, no momento em que é diagnosticado, soma bilhões de células que carregam anormalidades genéticas que deram início à proliferação maligna e muitas outras lesões genéticas adicionais adquiridas pelo caminho. Algumas dessas mutações secundárias se devem à pressão seletiva durante a formação de tumores (que os pesquisadores chamaram de “condutoras”), enquanto outras podem ser casuais (os “passageiras”).
“Essas últimas podem resultar da exposição a mutações, de instabilidade genômica ou simplesmente do grande número de multiplicações celulares desde uma única célula modificada até o câncer detectável clinicamente”, explicaram Daniel Haber e Jeff Settleman, da Escola Médica Harvard, em comentário sobre o seqüenciamento na mesma edição da Nature. O grupo internacional de cientistas estudou mais de 500 genes da quinase, uma enzima que regula outras proteínas por meio da adição de resíduos de fosfato. Sabia-se que algumas das proteínas analisadas estariam implicadas em alguns tipos de câncer, como o gene Braf, cuja mutação está presente em mais de 60% dos casos de melanoma.

O novo estudo destaca a divisão das mutações em condutoras e passageiras. O primeiro tipo seria aquele que estimula o crescimento de células cancerígenas, enquanto o outro não contribuiria para o desenvolvimento da doença. Os pesquisadores identificaram 120 condutores possíveis, a maioria até então desconhecida. “A maior parte das mutações em cânceres é do tipo passageiro. Entretanto, escondido entre eles há um número de condutores muito maior do que antecipávamos. Isso sugere que há um número de genes envolvido com o desenvolvimento de câncer muito superior ao que se poderia imaginar”, disse Andy Futreal, um dos líderes do Projeto Genoma do Câncer no Instituto Sanger. O artigo Patterns of somatic mutation in human cancer genomes, de Christopher Greenman, Michael Stratton e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Fonte: Agência Fapesp

Pinheiros são plantados em massa na China

Iniciativa ameaça seriamente ecossistemas chineses, afirmam ambientalistas. Nos últimos três anos, mais de 2 bilhões de árvores foram plantadas na China

A plantação em massa de coníferas está se tornando uma grave ameaça aos frágeis ecossistemas chineses, segundo o relatório da ONG Amigos da Terra, uma das principais organizações ambientalistas chinesas, divulgado nesta quarta-feira (14). "As áreas verdes cresceram em tamanho, mas isso é superficial e só aprofunda a crise ecológica", diz o relatório anual da ONG. Nos últimos três anos, 550 milhões de pessoas participaram da plantação de mais de 2 bilhões de árvores na China. Foi uma das mais populares campanhas do país, em que líderes políticos apareceram de enxada na mão.

Com 50 bilhões de árvores plantadas nos últimos 50 anos, a China se tornou o país com maior superfície de florestas "artificiais" do mundo. São 53 milhões de hectares, a metade da sua área florestal. O relatório de ontem da Organização da ONU para a Agricultura e a Alimentação (FAO), afirmou que o mundo reduziu a perda anual de superfície florestal graças, entre outros fatores, à atuação da China, compensando o elevado desmatamento em outros lugares.No entanto, diz a ONG chinesa, em algumas províncias do país as coníferas são até 95% das árvores plantadas, causando níveis de erosão do solo sem precedentes.

Fonte: Globo.com

Gatilho da enxaqueca


Estudo identifica proteína que pode estar relacionada a crises de enxaqueca. Substância estimula resposta do sistema nervoso a neuropeptídeo com papel importante nos episódios de dor (foto: divulgação)

Um grupo da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, acaba de identificar uma potencial candidata para responder a uma velha questão: por que algumas pessoas têm enxaqueca e outras não. Os pesquisadores verificaram que o excesso de uma proteína conhecida como Ramp-1 aparentemente estimula a resposta de um receptor do sistema nervoso ao neuropeptídeo CGRP. Estudos anteriores haviam mostrado que o CGRP, sigla em inglês para “peptídeo relacionado ao gene da calcitocina”, tem um papel importante nas dores de cabeça durante crises de enxaqueca.

Sabe-se que níveis de CGRP no sangue se elevam durante as crises e tem se verificado que medicamentos que reduzem as quantidades do peptídeo ou que bloqueiam a sua ação contribuem significativamente para a redução das dores. Em outros experimentos, ao injetar CGRP em indivíduos suscetíveis à enxaqueca, o resultado foi a indução de episódios severos de cefaléia. O novo estudo aponta que a proteína Ramp-1 é uma das chaves para a regulagem do CGRP. “Os resultados sugerem que pessoas com enxaqueca têm níveis mais elevados de Ramp-1”, disse Andrew Russo, um dos autores da pesquisa, em comunicado da Universidade de Iowa. A pesquisa foi publicada na edição de 7 de março do Journal of Neuroscience.

A Ramp-1 é parte fundamental do receptor de CGRP. Os pesquisadores descobriram que o excesso da proteína em células nervosas aumentou a sensibilidade e a resposta dos receptores de CGRP ao neuropeptídeo. Ou seja, mais Ramp-1 fez com que os receptores reagissem a concentrações muito menores de CGRP do que o normal, e de modo muito mais vigoroso. Os cientistas utilizaram camundongos geneticamente modificados para expressar Ramp-1 humana em seu sistema nervoso central, além da própria versão do animal para a proteína. O resultado foi que os camundongos apresentaram duas vezes mais inflamação em resposta ao CGRP do que o grupo de animais comuns. Os autores da pesquisa sugerem que portadores de enxaqueca possam ter pequenas diferenças no gene da Ramp-1, que resultam em níveis maiores da proteína do que o normal. “Há claramente uma diferença genética entre pessoas que têm enxaqueca e outras que não têm e achamos que essa diferença pode ser a Ramp-1. O estudo fornece um motivo para que busquemos variações no DNA que expressem essa proteína em humanos”, disse Russo.

O artigo Sensitization of calcitonin gene-related peptide receptors by Receptor Activity-Modifying Protein-1 in the trigeminal ganglion, de Andrew Russo e outros, pode ser lido por assinantes do Journal of Neuroscience em www.jneurosci.org.

Fonte: Agência Fapesp

Brasil se prepara para atestar qualidade do biodiesel

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, está investindo R$ 12 milhões na capacitação de uma rede de 32 laboratórios que vão atestar a qualidade do biodiesel produzido no País. Os recursos serão utilizados para a compra dos equipamentos necessários à realização dos ensaios e testes do novo produto. Hoje, um dos entraves para a disseminação do uso do biocombustível é a inexistência no Brasil de uma rede de instituições capacitadas a emitir essa certificação, que deverá ser feita de acordo com os parâmetros estabelecidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O programa do governo incentiva a produção do biodiesel a partir de diversas espécies de oleaginosas fornecidas por agricultores familiares de todas as regiões. Com isso, as usinas passarão a utilizar, no processo de obtenção do biocombustível, óleos com características físico-químicas diferenciadas, o que exigirá um controle maior da qualidade do produto final. "A idéia é que em um ano muitos desses laboratórios já estejam em condições de fazer os primeiros testes", afirma o analista da Finep, Laércio de Sequeira. Ele adianta, no entanto, que algumas instituições vão precisar de um tempo maior para se preparar. "Os equipamentos são importados e para operá-los será necessário treinamento", explica. Das instituições que receberam apoio da Finep, a maioria fica em universidades públicas e já trabalha no controle de qualidade dos combustíveis de origem fósseis, caso da gasolina e do diesel. As regiões Nordeste e Sudeste têm o maior número de laboratórios. Serão 10 e oito, respectivamente. O Sul e o Norte foram contemplados com cinco laboratórios cada e a região Centro-Oeste com quatro.

Fonte: Finep

Sem solução simples

Washington Castilhos

Na semana passada, os presidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, assinaram um memorando de cooperação tecnológica para a produção de biocombustíveis, como o álcool e o biodiesel. A idéia é que os dois países ajudem a democratizar o acesso aos biocombustíveis e a ter um mundo menos poluído no futuro.

O assunto foi discutido por especialistas de diferentes áreas, reunidos no Rio de Janeiro no 1º Simpósio Brasileiro de Mudanças Ambientais Globais, que termina nesta segunda-feira (12/3). O encontro é promovido pela Academia Brasileira de Ciências, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). “O acordo para o uso da tecnologia do álcool nos Estados Unidos é uma ótima oportunidade para o Brasil, que irá vender tecnologia. Mas não será bom se o país virar uma grande monocultura de cana-de-açúcar por conta desse acordo”, avaliou o engenheiro agrônomo Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Segundo ele, a produção da cana-de-açúcar em larga escala poderá resultar em graves impactos sociais e ambientais. “Pensando-se somente no ponto de vista energético e econômico pode-se ter conseqüências ambientais sérias”, disse em entrevista à Agência FAPESP. Para o pesquisador, é importante avançar na bioenergia, mas sem dissociar o etanol e o biodiesel.

Agência FAPESP - Como o sr. avalia, do ponto de vista agronômico, o termo de cooperação tecnológica entre Brasil e Estados Unidos para a produção de biocombustíveis?

Eduardo Assad - Não existe solução simples. O acordo do uso da tecnologia do álcool nos Estados Unidos é uma ótima oportunidade para o Brasil, mas, a partir daí, temos de pensar se queremos transformar o país em um grande canavial. Não podemos correr o risco da monocultura. Esse acordo já deveria ter sido assinado há 30 anos, mas o etanol tem que ser pensado e discutido junto ao biodiesel, sem dissociar um do outro. O biodiesel é um combustível produzido a partir de óleos vegetais extraídos de diversas matérias-primas, como palma, mamona, soja, girassol, dendê e algodão, entre outras. O leque de recursos naturais no Brasil é muito grande. Temos que produzir cana-de-açúcar, mas não somente usá-la como uma oportunidade de mercado. É necessário levar em conta os aspectos da adaptabilidade e mitigação. Por que plantar cana-de-açúcar em regiões onde se cultiva o dendê, por exemplo?

Agência FAPESP - Quais as regiões mais propícias para o cultivo da cana-de-açúcar? Fala-se em aproveitar terras não cultivadas na Amazônia e no Pantanal?

Assad - A primeira questão a se avaliar é a aptidão da região. Nem todas as regiões estão prontas para o plantio da cana-de-açúcar. São Paulo e Pernambuco são os Estados onde mais se planta. Tocantins, Goiás e o sul do Maranhão também têm condições climáticas favoráveis. Por outro lado, o Pantanal é uma região de regime climático frágil. Mesmo coberto de rios, conta com uma deficiência hídrica muito grande. Já a Amazônia precisa desse déficit hídrico. É uma região onde há excesso de água e altas temperaturas e muita umidade, características que também dificultam o cultivo da cana. O excesso de umidade reduz a produção de sacarose.

Agência FAPESP - A questão da mudança climática e o superaquecimento do planeta são fatores importantes e que devem ser levados em conta?

Assad - Já existe um acordo entre o Ministério da Agricultura e a Casa Civil no sentido de fazer o zoneamento de risco climático do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil. Esse zoneamento, no entanto, não tem levado em conta a questão da mudança climática. Mas temos que incorporar essa discussão para saber, por exemplo, até quando a cultura da cana será sustentável. O aquecimento global já chegou a 1 grau. O problema é saber quando vai atingir os 3 graus.

Agência FAPESP - Mas, do ponto de vista econômico, o Brasil não está fazendo um bom negócio?

Assad - Sim, mas temos de pensar nos impactos que as culturas vão trazer do ponto de vista econômico, social, ambiental e energético. Pensando-se somente no energético, pode-se ter conseqüências ambientais sérias.

Fonte: Agência Fapesp