A observação foi feita por Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no domingo (11/3), durante o 1º Simpósio Brasileiro de Mudanças Ambientais Globais, que termina nesta segunda-feira no Rio de Janeiro, promovido pela Academia Brasileira de Ciências, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). Estimativas feitas nos últimos anos destacam que até o ano 2100 o nível do mar poderá se elevar de 60 centímetros a 1 metro. “Mas é bom ressaltar que é uma parte muito pequena do gelo do planeta que está derretendo – exatamente 0,7% do volume total do gelo – e a participação do gelo antártico nesse percentual é mínima”, afirmou Simões à Agência FAPESP.
Geólogo, com doutorado em glaciologia pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra – é um dos três únicos glaciólogos brasileiros – Simões coordena o Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas do Departamento de Geografia da UFRGS, onde estuda a questão do gelo do planeta e o descongelamento. “As pessoas confundem gelo marinho – mar congelado – com gelo de geleiras. O mar congelado, como o iceberg, não afeta o nível do mar. Tem impactos ambientais climáticos significativos, mas não no nível do mar. O aumento no nível das águas do mar está relacionado em 70% ao derretimento das geleiras e em 30% à expressão térmica do mar”, observou o pesquisador. Outro equívoco comum, segundo ele, é o uso da expressão “calotas polares”. “Elas não existem. O que há são áreas cobertas de gelo, como os mantos de gelo da Groenlândia e da Antártica”, disse. Segundo ele, o descongelamento que mais contribui para o aumento das águas oceânicas no mundo ocorre ao sul da Groenlândia, nas calotas de gelo das ilhas árticas. Outra contribuição vem do derretimento das geleiras de montanhas localizadas em regiões temperadas e tropicais.
“Toda essa água vai para os rios e, então, toma o caminho do mar. Na Bolívia, as geleiras estão derretendo rapidamente. Na cidade de La Paz, 70% das águas vêm das geleiras”, afirmou.
O derretimento das geleiras nos Andes tem, segundo Simões, impactos no Brasil, causado aumento do volume das águas tanto na bacia do Paraná quanto na Amazônica. O pesquisador também chamou a atenção para a diminuição do gelo na Patagônia. Simões criticou ainda a postura catastrofista e muitas vezes sensacionalista em relação às mudanças ambientais globais. “Mudanças no clima sempre ocorreram. Não há motivo para pânico. O que preocupa é a velocidade com que esse processo tem ocorrido. O exemplo clássico é que em 12 mil anos, entre a última idade do gelo e o presente, a temperatura média da Terra aumentou 7º C. Em comparação, nos 140 anos, tivemos um décimo desse aumento”, disse. “Na velocidade em que ocorrem essas mudanças do clima, os organismos não têm tempo suficiente para se adaptar e se desenvolver. Quando os processos são mais lentos, nós mesmos nos adaptamos. Uma coisa é absorver as mudanças internamente, tanto do ponto de vista biológico, no caso dos animais, quanto sob o aspecto cultural e tecnológico, no caso da humanidade”, afirmou.
Fonte: Agência Fapesp
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