quinta-feira, 15 de março de 2007

Condutores e passageiros do câncer


Projeto Genoma do Câncer anuncia seqüenciamento de 518 genes de 210 tipos de câncer que atingem os seres humanos. Maior trabalho do gênero já feito identificou mais de mil mutações diferentes (foto: Sanger Institute)

Cientistas do Projeto Genoma do Câncer, do Instituto Wellcome Trust Sanger, no Reino Unido, e de diversos outros centros de pesquisa na Europa, nos Estados Unidos, Austrália e China, acabam de anunciar um trabalho pioneiro no estudo do câncer.

Os pesquisadores conseguiram seqüenciar 518 genes ligados a 210 tipos de câncer que atingem os seres humanos. O maior trabalho do gênero até o momento identificou ainda mais de mil mutações diferentes. Os resultados estão na edição de 8 de março da revista Nature. O levantamento destaca que o número de genes responsáveis pelo desenvolvimento dos diversos tipos da doença é muito maior do que se imaginava. Além disso, cada uma dessas células transporta muitas outras mutações. Segundo os autores, o estudo coloca em evidência um grande desafio para a pesquisa do câncer: distinguir entre as células transportadoras e as mutações.

O câncer, no momento em que é diagnosticado, soma bilhões de células que carregam anormalidades genéticas que deram início à proliferação maligna e muitas outras lesões genéticas adicionais adquiridas pelo caminho. Algumas dessas mutações secundárias se devem à pressão seletiva durante a formação de tumores (que os pesquisadores chamaram de “condutoras”), enquanto outras podem ser casuais (os “passageiras”).
“Essas últimas podem resultar da exposição a mutações, de instabilidade genômica ou simplesmente do grande número de multiplicações celulares desde uma única célula modificada até o câncer detectável clinicamente”, explicaram Daniel Haber e Jeff Settleman, da Escola Médica Harvard, em comentário sobre o seqüenciamento na mesma edição da Nature. O grupo internacional de cientistas estudou mais de 500 genes da quinase, uma enzima que regula outras proteínas por meio da adição de resíduos de fosfato. Sabia-se que algumas das proteínas analisadas estariam implicadas em alguns tipos de câncer, como o gene Braf, cuja mutação está presente em mais de 60% dos casos de melanoma.

O novo estudo destaca a divisão das mutações em condutoras e passageiras. O primeiro tipo seria aquele que estimula o crescimento de células cancerígenas, enquanto o outro não contribuiria para o desenvolvimento da doença. Os pesquisadores identificaram 120 condutores possíveis, a maioria até então desconhecida. “A maior parte das mutações em cânceres é do tipo passageiro. Entretanto, escondido entre eles há um número de condutores muito maior do que antecipávamos. Isso sugere que há um número de genes envolvido com o desenvolvimento de câncer muito superior ao que se poderia imaginar”, disse Andy Futreal, um dos líderes do Projeto Genoma do Câncer no Instituto Sanger. O artigo Patterns of somatic mutation in human cancer genomes, de Christopher Greenman, Michael Stratton e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Fonte: Agência Fapesp

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