terça-feira, 30 de novembro de 2010

PD em mudanças ambientais com Bolsa da FAPESP

Da Agência FAPESP 

O Projeto Temático "Crescimento urbano, vulnerabilidade e adaptação: dimensões ecológicas e sociais de mudanças climáticas no litoral de São Paulo", coordenado por Lúcia da Costa Ferreira, no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e submetido ao Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, tem uma oportunidade para bolsista de pós-doutorado.

A vaga se refere ao subcomponente do projeto "Conflitos entre expansão urbana e a cobertura vegetal e suas consequências para as mudanças ambientais globais: um estudo no litoral de São Paulo".

O selecionado desenvolverá pesquisa sobre inter-relação entre mudanças sociais e ambientais, focando sua análise nos processos sociais locais relacionados a dinâmicas ambientais mais amplas, em especial as mudanças climáticas.

Os pré-requisitos do candidato à bolsa são:
Ser doutor em ciências sociais;
Experiência em sociologia ambiental, em especial temas relacionados a processos de conflitos e reordenamentos socioambientais envolvendo uso e ocupação de áreas naturais alvos de interesses conservacionistas;
Experiência em pesquisa de campo envolvendo metodologias sociológicas e antropológicas;
Experiência em grupos de pesquisa interdisciplinares;
Familiaridade com a perspectiva construcionista da questão ambiental, teoria da ação, teóricos do conflito e teoria antropológica: análise situacional, dramas sociais, observação direta e participante.
As inscrições deverão ser feitas até o dia 10 de dezembro de 2010 pelo email: luciacf@unicamp.br. A divulgação do resultado final ocorrerá em 5 de janeiro de 2011.
A vaga está aberta a brasileiros e estrangeiros. O selecionado receberá Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP, no valor de R$ 5.028,90 mensais.
Outras vagas de Bolsas de Pós-Doutorado, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em http://www.oportunidades.fapesp.br/.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Biodiversidade norte-americana vigiada

Por Elton Alisson, da Agência FAPESP

Os Estados Unidos devem iniciar em 2011 a montagem de uma das maiores redes de observatórios ecológicos do mundo. Trata-se da National Ecological Observatory Network (Neon), que tem como objetivo reunir dados de experimentos e de observações ecológicas e climáticas feitas em todo o país.

Será a primeira rede do tipo projetada especialmente para identificar e prever mudanças ecológicas em uma escala de décadas. Com custo estimado de US$ 433 milhões, financiados pela National Science Foundation (NSF), a rede terá participação de diversas outras agências e instituições e está em fase final de planejamento.

“O presidente Barack Obama solicitou a inclusão da Neon no orçamento do país para 2011 e a NSF já autorizou a concessão da verba para o projeto. Só estamos esperando ela ser aprovada no Congresso para iniciar a construção, que deve levar cinco anos”, disse Michael Keller, ex-cientista-chefe da rede, à Agência FAPESP.

Keller, que participou da fase de desenho do projeto e teve que se desligar dele há cerca de um mês para assumir um novo posto no Serviço Florestal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, esteve no International Workshop on Long-Term Studies on Biodiversity, promovido pelo programa Biota-FAPESP no dia 23 de novembro.

“A ideia do projeto é reunir informações que costumam estar muito dispersas e ter extensão espacial limitada, disponibilizando-as o mais rapidamente possível e da melhor forma aos pesquisadores para que eles possam testar seus modelos”, disse o cientista que foi pesquisador visitante na Universidade de São Paulo e integrou o Programa da Grande Esfera-Atmosfera da Amazônia (LBA).

As informações integradas pelo sistema de monitoramento serão disponibilizadas em um site na internet no qual poderão ser acessadas gratuitamente por cientistas de qualquer país.

“Os dados de longo prazo e em escala continental, coletados e fornecidos pela Neon, possibilitarão compreender melhor e fazer previsões em grande escala dos impactos das mudanças climáticas, do uso do solo e da ação de espécies invasivas na biodiversidade”, apontou.

Keller explicou que, para realizar a coleta de dados que abastecerão a Neon, o território dos Estados Unidos foi dividido por meio de uma técnica multigeográfica em 20 partes, batizadas de “domínios ecoclimáticos”.

Nesses locais, que representam diferentes tipos de vegetação, geografia, clima e ecossistemas, serão coletadas informações referentes a mais de 500 variáveis definidas pelos cientistas da rede, entre as quais temperatura, pluviometria e diversidade de organismos.

“Em função das restrições orçamentárias do projeto, teremos que medir um grande número de variáveis em poucos lugares. A rede Neon não é um programa de monitoramento tradicional que tem diversas instâncias espaciais”, disse.

Dados abertos
A coleta de dados representará o maior trabalho a ser feito pela rede de observatórios ecológicos. Reunidos, eles formarão um conjunto de 130 mil amostras, entre organismos individuais, partes deles ou tecidos.

As informações serão coletadas por meio de 20 estações de observação fixas e 40 realocáveis, distribuídas pelos 20 domínios ecoclimáticos do país.

Compostas por torres com instrumentos de observação como sensores remotos, as estações fixas permitirão realizar observações sobre os impactos das mudanças climáticas nos ecossistemas. Já as realocáveis, que mudarão de posição em períodos de cinco a dez anos, serão focadas na observação de alterações promovidas na biodiversidade pelo uso da terra e por espécies invasivas.

Para complementar as observações realizadas pelas 60 estações de observação terrestres também serão utilizadas três plataformas de observação aérea. Os dispositivos medirão propriedades bioquímicas e biofísicas e o tipo de cobertura de vegetação, entre outras características, por meio de instrumentos como espectrômetro de massa.

“Instalaremos três conjuntos desses instrumentos em aeronaves, que realizarão medições nas estações de observação da Neon e em seu redor, em um raio de até 200 ou 300 quilômetros”, disse Keller.

Os dados coletados pelas estações de observação serão analisados em campo ou em um dos dez laboratórios móveis que também integrarão a infraestrutura da Neon. E, de acordo com Keller, deverão ser disponibilizados rapidamente no site do projeto.

“Todos os dados serão abertos e fornecidos gratuitamente a cientistas de qualquer região do mundo. Queremos que as informações geradas pela Neon sejam utilizadas e analisadas pelo maior número de pesquisadores para que as previsões ecológicas possam ser as mais exatas possíveis”, afirmou.

Mais informações: http://www.neoninc.org/

Obstáculo para o desenvolvimento

Por Fábio de Castro, da Agência FAPESP 

A Amazônia legal brasileira tem um território que corresponde ao de 32 países da Europa ocidental, mais de 20 milhões de habitantes e concentra a maior parte da biodiversidade do planeta. Mas a grandiosidade da região não corresponde, nem de longe, à estrutura de pesquisa científica e tecnológica ali existente.

De acordo com Adalberto Luís Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), estima-se que apenas 4 mil doutores atuem em toda a Amazônia nas diversas áreas de pesquisa. Um efetivo menor do que o da Universidade de São Paulo (USP), que possui mais de 5 mil doutores em seus quadros.

Em entrevista à Agência FAPESP, Val falou sobre a magnitude da carência de recursos humanos na área de ciência e tecnologia na Amazônia, que, segundo ele, é um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da região.

A solução para o problema, segundo ele, passa pelo incremento da estrutura científica na região e pelas políticas de atração e fixação de mão de obra científica, que, por sua vez, estabelecerá a base para a formação de novos quadros na própria Amazônia. Esse círculo virtuoso, no entanto, exigirá vontade política e uma articulação interministerial bem planejada.

Biólogo, Val pesquisa no Inpa, desde 1981, a respiração e as adaptações dos peixes da Amazônia às modificações do meio ambiente, tanto aquelas de origem natural como as causadas pelo homem. Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e do corpo editorial de várias revistas científicas, tem mais de 80 artigos publicados em periódicos do Brasil e exterior.


Amazônia tem demanda “imensa e urgente” de recursos humanos para pesquisa, de acordo com Adalberto Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) (Foto: ABC)


Agência FAPESP – Qual a dimensão da carência de recursos humanos em ciência na Amazônia?
Adalberto Luís Val – Em 2009, coordenei o grupo que montou o documento Amazônia: Desafio brasileiro do século 21, lançado pela Academia Brasileira de Ciências, que continha proposta para um novo modelo de desenvolvimento da região. Ali, foi feito um dimensionamento da carência de mão de obra científica na Amazônia, que foi considerado um dos entraves fundamentais para o desenvolvimento. Para se ter uma ideia, o Brasil está formando a cada ano cerca de 11 mil doutores, mas toda a região amazônica tem atualmente apenas 4 mil doutores trabalhando em pesquisa. É muito pouco, infelizmente, considerando que os nove estados da Amazônia correspondem a 60% do território nacional e a 10% do PIB nacional. A USP, sozinha, tem mais de 5 mil doutores. A demanda na região amazônica é imensa e urgente.

Agência FAPESP – Qual seria a melhor alternativa para reverter esse quadro?
Val – Temos convicção de que há várias alternativas para resolver essa questão. No entanto, nenhuma delas isoladamente pode dar conta do problema. O primeiro ponto em que temos que pensar é na montagem de uma estrutura de capacitação de mão de obra na própria Amazônia. É preciso capacitar e fixar pessoal na região. Não podemos, por outro lado, relegar a Amazônia à sua própria sorte. Temos que montar um sistema nacional capaz de atender a toda essa demanda. Uma campanha para inserir a Amazônia no Sistema de Ciência e Tecnologia do Brasil de forma efetiva.

Agência FAPESP – O ideal é trazer gente de outras regiões para a Amazônia, ou é preciso formar pessoal no próprio contexto regional?
Val – Os dois pontos são importantes. Aumentar a quantidade de gente formada na Amazônia é essencial para facilitar a fixação de pessoal. Por outro lado, temos que trazer recursos humanos de fora para acelerar a formação dessa mão de obra local.

Agência FAPESP – É preciso levar mais recursos financeiros para a região também?
Val – Sem dúvida é necessário investir, mas – isso é muito importante – não adianta despejar uma determinada quantidade de recursos na região e achar que o problema vai se resolver só com isso. Porque falta gente. Sem gente qualificada, não conseguiremos dar conta da demanda por pesquisa na região, mesmo que tenhamos recursos financeiros. É preciso fazer as duas coisas. Como eu disse, não há nenhuma ação capaz de resolver o problema isoladamente.

Agência FAPESP – É possível fazer isso em pouco tempo?
Val – Sim, contanto que exista um modelo de desenvolvimento bem planejado. Temos que fazer a coisa da forma correta. Por exemplo: é preciso evitar ações pontuais, que não se perenizam. Uma das nossas maiores necessidades é atrair e fixar recursos humanos na Amazônia. Mas, para fazer isso, esses recursos devem ser atraídos para uma estrutura organizada em grupos. Não temos nenhum programa na Amazônia, por exemplo, na área de farmacologia. Seria importante trazer, digamos, dez excelentes fármacos, que pudessem capacitar projetos na região. Isso teria que ser feito dentro de um programa.

Agência FAPESP – Existem políticas públicas sendo implementadas nesse sentido?
Val – Na questão da formação, sim. As políticas estão sendo implantadas. A Capes e o CNPq têm programas para isso. Mas é necessário fixar os recursos humanos com estratégias mais amplas. Não adianta apenas distribuir bolsas, porque, quando a bolsa acaba, o pesquisador quase sempre vai embora. Para contornar essa situação, temos que abrir concursos públicos e contratar pessoal. Caso contrário, o pesquisador que completou o período da sua bolsa acaba passando em concursos em outros centros com mais oferta e vai embora. É em consequência dessa dinâmica que temos tão poucos doutores na Amazônia. Isso só vai mudar se houver vontade política.

Agência FAPESP – Que impactos a carência de recursos humanos tem nas atividades do Inpa, por exemplo?
Val – No Inpa, temos desenvolvido várias alternativas para pesquisa associada à inclusão social e geração de renda com base em produtos da floresta. Com isso, conseguimos gerar renda para a população e, assim, manter a floresta em pé. Por exemplo, desenvolvemos piscicultura em canais de igarapé, novas tecnologias para diagnósticos de doenças tropicais – como a leishmaniose –, a produção de pigmentos para tingir couro de peixe que não agridem o meio ambiente e uma série de outras atividades. Desenvolvemos essas tecnologias para disponibilizar para o mercado. Você pode ver no site do Inpa que conseguimos muitas patentes e muitos produtos. Mas, para que essa experiência seja multiplicada, necessitamos de mais pesquisadores. De modo geral, a Amazônia tem uma grande carência de conhecimento. Precisamos, por exemplo, planejar alternativas para produção de energia elétrica com redução de danos ambientais. Os programas brasileiros para isso envolvem a construção de muitas hidrelétricas. Mas onde construí-las? Com mais pesquisa científica, poderíamos saber onde os impactos ambientais seriam menores. Há infinitos exemplos.

Agência FAPESP – De quem deveria partir a iniciativa para organizar essas políticas públicas que ainda fazem falta?
Val – Na realidade, isso passa por vários ministérios. O mais importante é que precisa ser uma ação integradora, capaz de articular ações em vários ministérios: Ciência e Tecnologia, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Exército, Minas e Energia... O que precisamos é ter um órgão que centralize as ações de todos esses ministérios para formular uma ação conjunta, única. Caso contrário, cada um dos ministérios vai puxar as iniciativas para um caminho diferente. Os interesses são bastante divergentes e é preciso ter um espaço definido para dialogar.


Agência FAPESP – A Reunião da SBPC de 2009, realizada em Manaus, concluiu que investir em ciência na Amazônia é uma prioridade e, para isso, seria preciso estabelecer parcerias entre comunidade científica, institutos de pesquisas, sociedade civil organizada, setor privado, governo e cidadãos. Desde então houve avanços nesse aspecto?
Val – Desde a Reunião da SBPC tivemos algum progresso, mas um progresso ainda tímido, porque o tamanho da necessidade é descomunal, muito maior do que tudo o que fizemos. Tivemos um resultado prático, que foi a criação da Universidade Federal do Leste do Pará, com a contratação de novos professores, com gente nova que veio de fora, seguindo a diretriz que estamos comentando. Acredito que a solução passa por aí, mas precisamos de várias dessas universidades e de uma grande quantidade de Institutos de Tecnologia na região – que teriam a função de transformar em novos produtos e processos a informação científica produzida na universidade. Por enquanto, a evolução está sendo muito tímida.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Biota-FAPESP lança nova chamada de propostas

Da Agência FAPESP 

O programa Biota-FAPESP lança chamada de propostas com o objetivo de promover o avanço do conhecimento nas áreas relacionadas à taxonomia, sistemática e filogeografia de grupos de organismos que ocorram no Estado de São Paulo.

A chamada visa também as Unidades de Gerenciamento Hídrico do Estado identificadas como pouco estudadas no Science Plan and Strategies for the next decade (disponível em www.fapesp.br/biota/10scienceplan.pdf) e as áreas insulares.

O foco da chamada inclui, entre outros: revisões taxonômicas de grupos; morfologia e anatomia; sistemática e filogenética; inventários biológicos; formação de recursos humanos nas áreas de taxonomia e sistemática e projetos na área de educação visando à produção de material didático para os ensinos fundamental e médio.

Será considerado relevante para a análise o uso de estratégias experimentais inovadoras. Embora sejam esperadas propostas de estudo da biota paulista, a chamada não se restringe às fronteiras do Estado de São Paulo.

Os inventários devem ser cuidadosamente planejados por especialistas, incluindo coletas, obtenção de amostras para análise molecular, quando possível, técnicas de preservação e depósito em museus/herbários ou coleções indexadas internacionalmente para assegurar sua fixação.

Projetos com potencial de aplicação na área de conservação e recuperação da biodiversidade, utilizando os conhecimentos gerados, principalmente pela determinação de espécies novas e ameaçadas e de hot-spots de biodiversidade, também são estimulados.

As propostas devem ser apresentadas nas linhas de fomento de Auxílio à Pesquisa – Regular, Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático e no Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.

Para propostas do Programa Jovens Pesquisadores, poderão ser consideradas propostas enviadas por pesquisadores residentes em outros estados brasileiros ou no exterior (brasileiros ou não) que desejam desenvolver pesquisa no Estado de São Paulo. As propostas serão recebidas até o dia 14 de fevereiro de 2011.

Mais informações sobre a chamada: www.fapesp.br/materia/5945

Instituto Virtual da Biodiversidade
Os objetivos do programa Biota-FAPESP são inventariar, mapear e caracterizar a biodiversidade do Estado de São Paulo, incluindo fauna, flora e microrganismos, avaliar as possibilidades do uso sustentável de plantas, animais ou outros organismos com potencial econômico e subsidiar a formulação de políticas de conservação.

O Programa foi denominado Instituto Virtual da Biodiversidade por sua forma de organização, integrando pesquisadores de várias instituições e estudantes por meio da internet. Envolve mais de 1,2 mil profissionais (900 pesquisadores e estudantes das principais universidades públicas paulistas, institutos de pesquisa e organizações não-governamentais, 150 colaboradores de outros estados brasileiros e 80 do exterior).

Além do avanço do conhecimento fundamental e aplicado sobre a caracterização, conservação e uso sustentável da biodiversidade do Estado de São Paulo, o Biota-FAPESP vem contribuindo significativamente para a formação de recursos humanos altamente qualificados em pesquisa e desenvolvimento nessas áreas.

Mais informações sobre o Biota-FAPESP: www.fapesp.br/biota

Distantes da produção científica

Por Alex Sander Alcântara, da  Agência FAPESP 

As principais fontes de informação para professores do ensino básico que trabalham com educação ambiental são revistas e livros didáticos e o conhecimento produzido nas universidades não atinge diretamente esses profissionais. A constatação é de uma pesquisa feita na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O estudo avaliou as fontes de informação sobre educação ambiental dos professores de educação básica em 14 municípios de São Paulo que pertencem à bacia hidrográfica do médio Tietê, tendo como polo regional a cidade de Bauru.

De acordo com Marília Freitas de Campos Tozoni Reis, professora do Instituto de Biociências de Botucatu e docente credenciada na Pós-Graduação da Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru, o estudo procurou entender por que o conhecimento produzido nas universidades nessa área não atinge diretamente os profissionais na educação básica.

“Nossa hipótese era que não conhecemos o formato das publicações e o material que esses professores utilizam para a formação contínua. Na universidade publicamos em revistas especializadas, mas há uma limitação por não se atingir diretamente os docentes do ensino básico”, disse à Agência FAPESP .

Marília coordenou a pesquisa “Fontes de informação dos professores da educação básica: subsídios para a divulgação dos conhecimentos acadêmicos e científicos sobre educação ambiental”, com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, desenvolvida no Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental (GPEA), que atua junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Unesp-Bauru.

Em 2008, o estudo mapeou escolas e professores em 13 municípios, excluindo Bauru. No ano seguinte, os pesquisadores fizeram a coleta de dados por observações e entrevistas naquele município. No total, foram identificados 277 professores que trabalham com educação ambiental.

A pesquisa apontou que a maioria dos professores busca informações em revistas (23%) e livros didáticos (16%), seguidos da internet (14%) e jornais (10%). Aparecem em menor número materiais paradidáticos (6%), cursos, palestras e panfletos (4%), apostilas (4%), vídeos, filmes e músicas (4%), programas de televisão (3%), material acadêmico (3%) e projetos e práticas educativas (2%), entre outros.

Entre as revistas mais citadas, a Nova Escola aparece no topo das indicações, seguida de Veja, Superinteressante e Época. A Nova Escola oferece descontos para professores e muitos recebem a publicação gratuitamente em suas escolas. “O que nos chamou a atenção é que são revistas de grande circulação nacional, nas quais muitas matérias simplificam as questões teóricas e pedagógicas”, afirmou Marília.

“Com relação ao resultado para a internet, o que nos preocupa é que os professores não mencionaram nenhum procedimento de busca mais sistematizado. É invariavelmente algo muito genérico e sem critério de seleção”, disse.

Segundo Marília, outro ponto a se ressaltar é a dificuldade dos professores em separar o material usado com os seus alunos em aula com o que eles próprios usam para se informar.

Os pesquisadores do GPEA pretendem elaborar uma cartilha de educação ambiental para professores das séries iniciais do ensino fundamental para ser distribuída em todo o Estado de São Paulo.

“Nosso objetivo é orientar o professor para a inserção da educação ambiental de 1ª a 5ª série. Mas não queremos fazer apenas uma distribuição da cartilha pelo correio. A ideia é que os membros do grupo realizem minicursos com os professores em cada escola visitada”, disse.

CO2 ainda em alta

Da Agência FAPESP

Mesmo com o mundo em meio a uma importante crise econômica e financeira, as emissões de dióxido de carbono (CO2), principal personagem do aquecimento global, não caíram como se esperava.

A conclusão está em um estudo feito por um grupo de pesquisadores do Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e França e publicado neste domingo (21/11) como carta ao editor na revista Nature Geoscience.

O texto é uma atualização anual do Global Carbon Project e destaca que as emissões de CO2 não dão sinais de que estejam caindo globalmente e poderão atingir um nível recorde em 2010.

Os autores concluíram que as emissões de dióxido de carbono em 2009 foram apenas 1,3% menores do que as do ano anterior, mesmo com a crise. A queda é menos da metade do que se estimava há um ano.

A crise financeira afetou diversos países, levando a reduções na emissão de CO2. No Reino Unido, por exemplo, a queda foi de 8,6% em 2009 com relação ao ano anterior. Quedas semelhantes ocorreram na maioria dos países industrializados.

Entretanto, diversas economias emergentes tiveram crescimento elevado, mesmo com a crise. Isso se refletiu no aumento das emissões do gás. Na China, houve uma elevação de 8%, e na Índia de 6,2%.

“A queda nas emissões de CO2 em 2009 foi de menos da metade do que o antecipado há um ano. Isso ocorreu porque a queda no produto interno bruto (PIB) mundial foi menor que o previsto e a intensidade de carbono com relação ao PIB mundial – a quantidade de CO2 liberada por unidade de PIB – melhorou apenas 0,7% em 2009, muito menos do que a média de longo prazo de 1,7% ao ano”, disse Pierre Friedlingstein, da Universidade de Exeter, principal autor do estudo.

A pesquisa aponta que, se o crescimento econômico continuar como previsto, as emissões globais de combustíveis fósseis aumentarão em mais de 3% em 2010, aproximando-se das elevadas taxas observadas entre 2000 e 2008.

Mesmo com a crise econômica mundial, emissões globais de dióxido de carbono não caíram como se esperava, indica estudo (Wikimedia)


O texto Update on CO2 emissions, de Pierre Friedlingstein e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com/naturegeoscience.

Meio Ambiente regulamenta cogestão de unidades de conservação

Por Vania Alves, da Agência Câmara

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável aprovou na quarta-feira (17) o Projeto de Lei 4573/04, do deputado Sarney Filho (PV-MA), que regulamenta a gestão compartilhada – entre o Poder Público e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) – das unidades de conservação ambiental. A cogestão foi estabelecida pela Lei 9.985/00, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, mas ainda não havia sido regulamentada.

O relator na comissão, deputado Paes Landim (PTB-PI), recomendou a aprovação da proposta, por considerá-la importante para a preservação da biodiversidade do País. Segundo ele, a transferência de atribuições para as Oscips permitirá ao governo concentrar-se nas funções estritamente estatais essenciais à gestão das unidades de conservação, como a aprovação dos planos de manejo e a formulação de políticas públicas para o setor. “Além disso, compartilhar a responsabilidade pelas áreas protegidas é uma forma de aproveitar a capacidade técnica de entidades não governamentais ligadas ao meio ambiente”, observou.

O deputado afirmou ainda que a proposta se tornou ainda mais relevante após a publicação, em 2008, de relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) que avaliou a gestão governamental da Amazônia. O documento aponta a baixa efetividade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na gestão das unidades de conservação sustentáveis da região.

Regras
De acordo com o projeto, as Oscips que firmarão parceria com o governo serão escolhidas por processo público de seleção. Essas organizações deverão estar em conformidade com a legislação vigente e ter como finalidade social a defesa do meio ambiente e a promoção do desenvolvimento sustentável.

O texto estabelece que a Oscip parceira poderá administrar completa ou parcialmente os programas previstos no plano de manejo da unidade de conservação. O modelo de cogestão a ser adotado será definido pelo órgão público responsável, conforme as peculiaridades da área protegida. A Oscip, por sua vez, deverá encaminhar, anualmente, relatórios de suas atividades para análise do órgão ambiental e do conselho deliberativo da unidade de conservação.

Emendas
O relator apresentou uma emenda ao projeto para que a Oscip “possa” ser a executora de programas de exploração de produtos, subprodutos e serviços na unidade de conservação. O texto original previa que a organização deveria ser “preferencialmente” a responsável por essas atividades. “Assim, dependendo das características locais, o órgão ambiental pode decidir se a exploração dos recursos da unidade de conservação fica a seu cargo ou da instituição parceira na cogestão”, explicou.

Landim também alterou a proposta original para que a administração pública dê preferência, no processo de seleção das Oscips parceiras, para organizações que representem comunidades tradicionais das áreas preservadas.

Tramitação
A proposta, que tramita em caráter conclusivo e em regime de prioridade, ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. O texto já foi aprovado pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público.

Íntegra da proposta:

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pesquisa sobre clima e saúde será apresentada no Japão

Cristiane d'Avilla do Icict

O pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde Christovam Barcellos, vice-diretor de Pesquisa, Ensino e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), apresentará, no Fórum Global sobre Urbanização e Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS), os resultados da pesquisa "Fatores de vulnerabilidade relacionados às variações climáticas em Manaus". O fórum acontecerá de 15 a 17/11, em Kobe, no Japão.

Com o objetivo de identificar possíveis relações entre mudanças nos regimes dos rios e doenças relacionadas à água, promover o debate intersetorial sobre clima, vulnerabilidade e saúde e identificar atores sociais e estratégias para implementar planos de adaptação às mudanças, os pesquisadores da equipe de Barcellos selecionaram Manaus como "sítio sentinela", lugar crítico em que se observou, em 2010, estreita relação entre o regime dos rios e o aparecimento de casos de malária, hepatite, leptospirose e salmonelose.

Barcellos é também coordenador do Observatório de Clima e Saúde, projeto em desenvolvimento desde maio de 2009 pelo Icict, em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), fruto de uma solicitação do Ministério da Saúde (MS) e da Organização Panamericana de Saúde (Opas). O observatório identifica e analisa situações, tendências e padrões climáticos e as condições de saúde das regiões brasileiras, fornece informações aos sistemas nacionais de alerta, acompanha as situações de emergência associadas a eventos climáticos e observa as relações entre mudanças ambientais e clima, bem como seus efeitos sobre a saúde da população. Em dezembro próximo será lançado uma versão preliminar do site do projeto, em Belém.

Oportunidade no desconhecido

Por Fábio de Castro,  Agência FAPESP

Conseguir dados mais abundantes e precisos de forma mais rápida e eficiente é uma necessidade fundamental para o avanço de vários ramos das ciências ambientais. Exatamente por isso, as pesquisas relacionadas ao meio ambiente são também uma oportunidade para estimular o desenvolvimento da ciência computacional.

Esse foi o enfoque dado ao Workshop de Ciência Ambiental, promovido pelo Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research na semana passada, na sede da Fundação.

O evento reuniu um grupo de pesquisadores do Brasil e do exterior com o objetivo de identificar problemas de pesquisa na área ambiental que possam ser enfrentados com o desenvolvimento de novas tecnologias computacionais. O encontro também foi o primeiro passo para o planejamento de um experimento multidisciplinar de pesquisas ambientais.

De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, que abriu as discussões no último dia do workshop, os avanços no campo da e-science, ao aumentar a capacidade de processar dados e reunir competências, têm permitido realizações que não seriam possíveis em um passado recente.

“Essas oportunidades para grandes avanços científicos surgiram graças ao desenvolvimento de novos instrumentos, que permitem observar coisas menores, ou maiores, ou mais complexas ou mais distantes do que no passado”, disse.

Essa noção foi aplicada no âmbito da parceria entre FAPESP e Microsoft Research (MSR), em um projeto piloto realizado na Mata Atlântica que consistiu na instalação de uma rede de 50 sensores para coletar dados ambientais em grande escala. Trata-se da base para o desenvolvimento de um projeto que instalará sensores em vastas áreas da Amazônia, a fim de monitorar e compreender o funcionamento da floresta.

“Além disso, achamos que essa experiência abre caminho para outras possibilidades. Um dos desafios para desenvolver projetos de pesquisa e utilizar tais instrumentos consiste em reunir pesquisadores de áreas tão diferentes. Todos tendem, naturalmente, a querer fazer o que sempre fizeram muito bem em suas especialidades, por isso a cooperação não é algo trivial”, afirmou.

Para Brito Cruz, a ciência ambiental é um desses grandes campos nos quais existe a possibilidade de encontrar um terreno comum entre as várias especialidades científicas. “A floresta, em particular, parece ser um foco especialmente rico para essa interação”, disse.

Mas, além da floresta, segundo Brito Cruz, a FAPESP pode considerar também a extensão dessa colaboração científica para outros tipos de questões ambientais, como as emissões de carbono e de gases de efeito estufa.

“Há controvérsias, por exemplo, em relação à quantidade das emissões relacionadas à cana-de-açúcar. Os métodos para essas medições poderiam ser aprimorados e esse é certamente um campo em que a ciência se beneficiaria muito dessas novas capacidades computacionais. Há espaço para trazer algo interessante cientificamente e importante em termos de políticas relacionadas a biocombustíveis – um tema central para o Brasil”, disse.

Brito Cruz também destacou que, além do projeto em conjunto com a MSR, a FAPESP também tem importantes acordos com conselhos de pesquisa do Reino Unido para a área de ciência ambiental – entre eles o National Environment Research Council.

“Sabemos que a MSR também tem cientistas trabalhando no Reino Unido nessas áreas. Estamos avaliando como podemos estabelecer um diálogo entre todos esses projetos, a fim de unir interesses comuns e firmar colaborações”, afirmou.

Clima na Amazônia
Durante o workshop, Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador executivo do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), resumiu o estado atual das pesquisa sobre o clima na Amazônia, justificando a necessidade de desenvolver sensores de alta performance e baixo custo, a serem espalhados em larga escala na região.

De acordo com Nobre, o conjunto de estudos realizados na região amazônica até agora aponta que, se mais de 40% da floresta for desmatada, o sistema climático atingirá um tipping point, isto é, um ponto de saturação que tornaria a mudança ambiental irreversível, favorecendo a savanização do bioma.

Do ponto de vista do aquecimento global, os modelos indicam que o tipping point é um aumento médio da temperatura acima de 2º C. Para que a temperatura não ultrapasse essa média, estima-se que seja necessário manter as emissões de gases de efeito estufa no limite de 400 partes por milhão (ppm).

“O desmatamento no Brasil aumentou muito rapidamente até 2006, chegando a até 25 mil quilômetros quadrados por ano. Se esse ritmo continuar, até 2050 cerca de 50% da Amazônia estaria devastada, ultrapassando o tipping point e tornando impossível a recuperação do bioma”, indicou.

No entanto, segundo Nobre, as políticas públicas implementadas para deter o desmatamento parecem estar surtindo efeito. Desde 2006, a devastação começou a declinar e em 2009 caiu para 7 mil quilômetros quadrados.

“Se essa tendência persistir, o cenário em 2050 vai se manter abaixo do tipping point. As políticas para reduzir o desmatamento, que dependem do Brasil, aparentemente estão surtindo efeito nos últimos cinco anos. No entanto, a emissão de CO2 a partir de combustíveis fósseis continua subindo expressivamente – e o controle dessas emissões não depende das políticas brasileiras. Já atingimos o patamar dos 400 ppm e, se seguirmos nessa tendência, o tipping point será amplamente ultrapassado em breve”, explicou.

Segundo o cientista, nesse contexto será preciso desenvolver modelos climáticos brasileiros a fim de compreender com precisão a dinâmica climática na Amazônia e estabelecer medidas de mitigação. Para isso, o Inpe está instalando o supercomputador Tupã, adquirido com apoio da FAPESP e do Ministério da Ciência e Tecnologia.

O www.agencia.fapesp.br/materia/12874 equipamento – um sistema Cray com desempenho de 244 trilhões de operações de ponto flutuante por segundo – será o sexto computador mais poderoso do mundo aplicado às ciências do clima.

“O que precisamos agora, além de produzir o modelo brasileiro, é compreender os processos complexos envolvidos com a funcionalidade dos sistemas climáticos e biológicos da Amazônia. Para isso, será preciso espalhar, em vastas áreas, sensores capazes de trazer dados muito detalhados de forma muito eficiente”, disse.

Uma questão central, segundo Nobre, é de quantas espécies o ecossistema precisa para manter o nível adequado de transpiração e troca de gases com a atmosfera.

“Para ter essa resposta, teremos que monitorar individualmente cada espécie na floresta. No laboratório, podemos controlar um grande número de variáveis, mas fazer esse tipo de estudo na natureza é mais difícil. Precisaremos de uma grande rede de geossensores e biossensores”, afirmou.

Geossensores para estudar a Amazônia

Projeto de pesquisa pretende utilizar sensores para entender melhor a relação entre floresta, clima e atmosfera (Wikimedia)

Por Alex Sander Alcântara, da Agência FAPESP 

O desenvolvimento e a aplicação de redes de geossensores para monitoramento ambiental, em particular na Floresta Amazônica, poderá contribuir para a melhor compreensão de como a floresta interage com a atmosfera e como ela influencia o clima e, de outro lado, como o clima afeta a floresta e o ecossistema.

O destaque foi feito por Celso Von Randow, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no Workshop de Ciência Ambiental, promovido pelo Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research nos dias 11 e 12 de novembro, na sede da FAPESP.

Segundo Von Randow, um dos desafios para se colocar em prática a rede de geossensores esbarra na tecnologia a ser desenvolvida para a região amazônica.

“Como tornar os sensores mais baratos o suficiente para podermos dispor de milhares deles é um desafio tecnológico a ser superado. Outro é como manejar uma quantidade imensa de dados. Precisamos desenvolver softwares melhores e mais avançados”, disse à Agência FAPESP.

O pesquisador apresentou no workshop um projeto de geossensores cujo objetivo é medir a variabilidade espacial da temperatura e umidade na Floresta Amazônica e na atmosfera. O projeto tem apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.

A pesquisa, feita em parceria com cientistas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), buscar entender melhor aspectos relacionados ao microclima da floresta.

“Do ponto de vista tecnológico, colocar sensores na Amazônia é muito mais complicado por causa da temperatura, da umidade, das chuvas e pela própria complexidade da floresta. Nosso projeto pretende medir os fluxos de dióxido de carbono e de água entre a floresta e a atmosfera, entre outros aspectos”, explicou.

O projeto se baseia no experimento piloto realizado pelo IAG na Mata Atlântica no Parque Estadual da Serra do Mar, localizado entre os municípios de São Luiz de Paraitinga e Ubatuba, em São Paulo.

“Com esse experimento piloto, conseguimos entender características de como a floresta tropical e a temperatura variam”, disse Humberto Ribeiro da Rocha, professor titular do IAG/USP, outro palestrante no workshop.

O experimento utilizou cerca de 200 sensores que coletaram dados a cada 30 segundos em média. No caso da Amazônia serão precisos milhares de sensores. A previsão é que entre julho e agosto de 2011 o modelo estará pronto para teste. Os pesquisadores esperam que grupos de divesas áreas do conhecimento sejam agregados para o estudo de aspectos relacionados à biologia e ecossistema da região.

Física da biosfera

Por Fábio de Castro, da  Agência FAPESP 

Cientistas brasileiros e alemães se reuniram nesta terça-feira (16/11), na sede da FAPESP, em São Paulo, para discutir os rumos da pesquisa ambiental nos dois países.

O workshop sobre o tema “Física da biosfera” abriu o primeiro dia do programa científico do Ano Brasil-Alemanha de Ciência Tecnologia e Inovação, promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Academia Leopoldina, da Alemanha.

Além do tema discutido em São Paulo, a programação inclui mais dois workshops nesta quarta-feira (17/11), “Materiais avançados”, na sede da ABC, no Rio de Janeiro, e “Gerontologia e doença cronodegenerativas”, no Instituto do Coração (InCor), na capital paulista.

Os coordenadores do workshop “Física da biosfera” foram Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), e Meinrat Andreae, diretor do Departamento de Biogeoquímica do Instituto Max Planck de Química, na Alemanha.

De acordo com Artaxo, o objetivo do evento foi identificar temas de interesse científico comum e fomentar iniciativas de pesquisa colaborativa entre os dois países.

“Esse evento de cooperação entre o Brasil e a Alemanha reconhece que hoje não se faz mais ciência de forma isolada, nem em um único país, nem em uma única disciplina. A cooperação internacional é absolutamente fundamental para o sucesso de ciência de alta qualidade”, disse à Agência FAEPSP.

Segundo o físico, ao longo dos últimos 20 anos, várias parcerias de sucesso surgiram entre Brasil e Alemanha na área de ciências ambientais. “Percebendo isso, a ABC e a Academia Leopoldina resolveram programar essa série de eventos, a fim de intensificar ainda mais cooperações científicas – em especial na área ambiental. O objetivo é que essa aproximação gere grandes projetos internacionais de longo prazo que serão implementados ao longo dos próximos anos”, explicou.

No workshop foram escolhidas três áreas centrais das ciências ambientais: mudanças climáticas globais, poluição atmosférica urbana e processos que regulam o funcionamento de ecossistemas de florestas tropicais como a Amazônia.

“Essas três temáticas foram selecionadas por serem as áreas críticas nas quais precisamos aumentar o conhecimento científico para resolver questões que são estratégicas tanto para o Brasil como para a questão ambiental global”, afirmou Artaxo.

Durante a reunião, os participantes propuseram e discutiram ideias científicas, identificando questões críticas e mais urgentes para serem trabalhadas. “É fundamental discutir conceitualmente em que direção podemos trabalhar para avançar nesses campos”, disse.

Na primeira sessão, Artaxo e Alfred Wiedensohler, do Instituto Leibniz de Pesquisas Troposféricas, da Alemanha, discutiram a questão de poluição do ar urbana. “Essa questão tem relação com o tema dos biocombustíveis, área na qual o Brasil tem uma liderança mundial e na qual a Alemanha tem um grande interesse estratégico”, indicou Artaxo.

Doenças da poluição
De acordo com Artaxo, cada vez se torna mais importante avaliar a questão da poluição nas diversas escalas: urbana, regional e global. Na América Latina, a poluição urbana se concentra especialmente em megacidades com grandes populações e elevado número de automóveis.

Os dois problemas mais graves se encontram em São Paulo – com 18 milhões de habitantes na área metropolitana e 6,5 milhões de carros – e na cidade do México, com 19 milhões de habitantes e 5 milhões de automóveis. “Em geral, o transporte é um fator significativo e bastante óbvio em termos de contribuição para a poluição do ar. Certamente, é o setor que deve merecer a maior atenção”, disse Artaxo.

A variabilidade das emissões de PM10 – partículas inaláveis de diâmetro inferior a 10 micrômetros, que causam diversas doenças respiratórias – é muito dinâmica na capital paulista, segundo o pesquisador.

“As taxas sobem muito entre 8 e 10 horas da manhã, caem drasticamente ao meio dia e começam a subir rapidamente no fim da tarde. O sistema responde muito ao tráfego de veículos”, explicou. Estudos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) indicam que as emissões veiculares correspondem a 37% da poluição da cidade. Outros 30% são provenientes de aerossóis também associados às emissões veiculares.

“Os aerossóis são partículas sólidas ou líquidas suspensas em um gás. Desse ponto de vista, a própria atmosfera é, por definição, um aerossol. A atmosfera contém partículas que vão de 1 nanômetro a 100 micrômetros de diâmetro”, explicou Wiedensohler.

Os processos de formação de partículas, segundo o cientista alemão, podem se dar por emissão direta – os aerossóis primários –, ou por condensação de gases – os aerossóis secundários. “Na atmosfera, predominam as partículas com menos de 0,1 micrômetro. Os aerossóis urbanos antropogênicos em geral são uma mistura de aerossóis primários e secundários, formados por material condensado”, disse.

As variações da concentração de partículas, no entanto, são grandes. Em áreas polares, a concentração geralmente fica entre uma e 100 partículas por centímetro cúbicos. Sobre os oceanos, entre 100 e mil. Em regiões continentais, normalmente a concentração varia entre 500 e 5 mil por centímetro cúbico. Nas grandes cidades e áreas poluídas, passa dos 100 mil.

Segundo Wiedensohler, as partículas de aerossóis atmosféricos com mais de 0,1 micrômetro podem influenciar diretamente o balanço radiativo da atmosfera, espalhando e absorvendo a luz solar. “As partículas escuras sobre as regiões polares brancas levam ao aquecimento da atmosfera. Por outro lado, partículas claras sobre a superfície escura dos oceanos provocam um efeito de esfriamento”, explicou.

Ciclos naturais exacerbados
Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador executivo do PFPMCG, ressaltou no workshop questões relacionadas às mudanças climáticas globais. Meinrat Andreae abordou questões acerca de processos relacionados à sociodinâmica da interação entre a população amazônica e o funcionamento do ecossistema da região – que precisam ser melhor compreendidos.

Nobre afirmou que os modelos climáticos globais ainda são insuficientes para estudar com precisão a dinâmica climática em áreas como a Floresta Amazônica. Segundo ele, há quatro fatores principais a serem considerados: a mudança climática, os eventos climáticos extremos, o desflorestamento e os incêndios.

“O que traz grande complexidade a esse sistema é que todos esses fatores interagem de forma contínua e simultânea. Cada fator influencia o outro, exacerbando-o. A aposta que fazemos é que os eventos extremos serão mais comuns no futuro – isso é mais plausível do que imaginar que tudo irá simplesmente secar. Basta considerar que, em 2005, a Amazônia teve sua terceira maior seca da história. Em 2009, a maior inundação da história. E, em 2010, a maior seca de que já se teve registro. Há uma clara exacerbação dos ciclos naturais”, disse.

Segundo Nobre, as mudanças climáticas, as emissões de carbono e a variação de temperatura são fatores primários que induzem às secas. A mudança do uso do solo, o desmatamento e a degradação da floresta são os fatores primários que levam ao fogo que, por sua vez, é um fator secundário.

As respostas do ecossistema a esses fatores, segundo Nobre, são o ponto sobre o qual há mais necessidade de pesquisas atualmente. As principais respostas identificadas são a secundarização – que ocorre depois de duas ou três vezes que a floresta cresce depois de incêndios sucessivos, mudando sua estrutura –, as mudanças na composição das espécies e a mudança do balanço entre mortalidade e crescimento das árvores. O resultado desses processos pode ser a savanização.

Tudo está conectado
Andreae destacou que a Amazônia funciona como um grande “reator tropical” operado pela biosfera, com interações entre a atividade humana, a ecologia, o clima e a a química do ecossistema e da atmosfera.

“Para compreender os processos e fatores que operam nesse grande reator, precisamos ter uma visão ampla e, além do regime de chuvas, da dinâmica hídrica, da biodiversidade e de outras características da floresta, temos que levar em conta a atividade humana na região”, disse.

Uma alta do preço do petróleo, por exemplo, pode ter uma influência importante na dinâmica ambiental da Amazônia, segundo Andreae. “Tudo está conectado. Com um preço mais alto do petróleo, o preço do etanol tende a aumentar. Isso faz com que os Estados Unidos produzam mais milho e menos soja, o que acarreta um aumento do preço da soja, tornando esse produto mais atrativo para o produtor brasileiro, cujas plantações poderão avançar sobre a Amazônia”, disse.

A desconexão entre as análises biogeofísicas e o retorno socioeconômico do sistema, segundo Andreae, é um desafio para os programas de pesquisa que investigam o sistema terrestre, como o Programa da Grande Esfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), do qual ele e Artaxo participam.

Mais informações sobre os eventos da programação científica do Ano da Alemanha no Brasil: http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=831

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Agência de notícias da Uerj: preparando profissionais para o jornalismo científico

Por  Elena Mandarim, da Agência Faperj

Aproveitando a passagem nesta quarta, dia 10 de novembro, do Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) apresentou uma análise sobre o desenvolvimento mundial da ciência. O Brasil, que em 2009 subiu para a 13 posição do ranking global da produção científica, foi o único país da América do Sul a ser contemplado com um capítulo exclusivo, o que destaca a influência e importância brasileira neste campo. Em sintonia com esse panorama, a Faculdade de Comunicação Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/Uerj), aposta no treinamento em jornalismo científico de seus alunos de graduação. Sob coordenação do professor João Pedro Dias Vieira e editoria da professora Ilana Polistchuck, funciona, desde 2000, a Agência Uerj de Notícias Científicas (Agenc), pela qual se divulga a produção científica desenvolvida pelos pesquisadores das diferentes unidades de ensino e pesquisa da universidade. “Ao agregar teoria e prática, a Agenc funciona como uma verdadeira experiência laboratorial. A peculiaridade é que ela é vinculada ao curso de jornalismo e não à assessoria de comunicação da Uerj”, diz Ilana.  


A professora conta que, com os recursos obtidos com o edital Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia – 2007, da FAPERJ, foram adquiridos computadores mais avançados, impressoras, máquinas fotográficas, filmadoras e softwares de manutenção de site e de banco de fotos, de matérias e imagens. “Os recursos foram importantíssimos para modernizar nossos laboratórios”, diz Ilana, lembrando que todo material disponível, tanto de texto quanto fotos, tem copyright, ou seja, pode ser usado, desde que lhe seja dado o devido crédito.

A editora destaca que o principal objetivo da Agenc é formar alunos mais aptos para as exigências do jornalismo contemporâneo, que se baseia cada vez mais em dados, pesquisas, estatísticas e estudos. Para ela, a Agenc tem uma função pedagógica relevante, visto que recebe em torno de12 estagiários, por ano. “O Departamento de Jornalismo tem um grande índice de bolsistas por número de alunos, na Uerj, o que mostra o engajamento de professores e pesquisadores com a formação integral de alunos”, fala.

Segundo Ilana, mais do que promover a divulgação científica da universidade, a Agenc abrange o desenvolvimento de pesquisas na área de jornalismo científico, teoria da comunicação e tecnologias digitais. “Esses estudos são importantes porque o conhecimento produzido é aplicado diretamente na formação dos estudantes do curso de jornalismo da Uerj”, diz.

Ilana ressalta que, antes de passar para outras agências da Faculdade de Comunicação Social, como a Ajesportes, Notícias da Vila e Uerjviu, que, respectivamente, oferecem treinamento na editoria de esportes, cidade e cultura, os estagiários obrigatoriamente têm que ficar um período na Agenc. “A exigência surgiu ao observamos que, pelo fato de abordar temas mais complexos e exigir maior rigor tanto na apuração da informação quanto maior precisão na hora da redigir, o estágio em jornalismo científico cria um profissional mais bem preparado em todas as etapas da rotina da profissão: entrevista, apuração de dados e redação de matéria”, esclarece.
 Diferenciais da Agenc

Ilana afirma que a Agenc permite o treinamento do jornalismo científico em diversas mídias. Ela explica que, na Agenc, os alunos aprendem a trabalhar principalmente no âmbito do jornalismo on-line e suas principais ferramentas, como Internet, sistema de indexação de artigos e banco de dados. Os estudantes se deparam também com os desafios de produzir notícias científicas com linguagem para televisão e para o rádio. "Fica faltando o treinamento fundamental em banco de dados, ferramenta que não conseguimos implementar ainda por falta de recursos humanos e tecnológicos, o que, do ponto de vista da atualidade, é um problemas para a formação do profissional de comunicação”, diz

Outro diferencial, segundo a professora, é que a Agenc atua dentro da lógica de que a imprensa, na contemporaneidade, tem um papel preponderante na divulgação científica e nas ideias que o público constrói sobre a sociedade e as ciências. Para ela, é preciso ter cuidado porque matérias de conteúdo científico estão em expansão em todas as mídias e, diferente dos outros gêneros jornalísticos, o discurso do jornalismo científico se legitima pela própria veracidade da ciência.  

Ilana explica que as matérias editadas na Agenc procuram revelar os eventuais equívocos ou problemas da pesquisa científica. Outro objetivo é a busca pela pluralidade de enfoques para um mesmo tema. “Procuramos evitar o efeito impressionista dos fatos, como o observado, por exemplo, na questão do aquecimento global: alguns meios noticiosos brasileiros e internacionais só dão espaço para os pesquisadores que afirmam que a causa do aquecimento global é antropológica, sendo que há outros que defendem a tese da causa natural”, exemplifica.

Ilana lembra que a partir da pesquisa nacional sobre “Percepção Pública da Ciência e Tecnologia”, promovida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em parceria com Academia Brasileira de Ciências, ficou demonstrado que esses temas são de grande interesse público e, portanto, mercadorias midiáticas valiosas nos tempos modernos. “Acrescentando o fato de que a produção cientifica brasileira está em constante crescimento, pode-se afirmar que o ambiente é favorável para a Agenc, que busca o desenvolvimento prático e teórico do jornalismo científico”, conclui. 

Origem épica da Amazônia

Da Agência FAPESP

A biodiversidade extraordinária encontrada na Floresta Amazônica é mais antiga do que se estimava. Dois artigos publicados na edição desta sexta-feira (12/11) da revista Science ampliam o conhecimento a respeito da dramática evolução do ecossistema mais rico em biodiversidade no planeta

O artigo de revisão de Carina Hoorn, da Universidade de Amsterdã, e colegas destaca recentes descobertas que reconhecem a lenta elevação da cordilheira dos Andes como a principal força propulsora da extraordinária biodiversidade da região. O artigo tem a participação de pesquisadores brasileiros das universidades federais do Acre e de Uberlândia e da Petrobras.
Extraindo informações de uma ampla gama de disciplinas, entre as quais filogenia molecular, ecologia, geologia estrutural e paleontologia, os autores oferecem uma visão geral dos antigos habitantes e dos clássicos processos geológicos da Floresta Amazônica ocorridos durante a era Cenozoica, que abrangeu os últimos 65,5 milhões de anos.
Eles explicam como a elevação dos Andes desencadeou um complexo processo geológico que gradualmente deu origem ao hotspot de biodiversidade que hoje constitui a maior floresta tropical do planeta.


No segundo artigo, Carlos Jaramillo, do Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical no Panamá, e colegas expõem os efeitos de um dos eventos de aquecimento global mais repentinos dos últimos 65 milhões de anos – o Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (MTPE) – nas florestas tropicais da Colômbia e da Venezuela.

Os resultados demonstram que as florestas tropicais prosperaram nas condições de altas temperaturas e elevadas concentrações de dióxido de carbono que dominavam a região há 55 milhões de anos.
Os pesquisadores apresentam dados de pólen, esporos e outras matérias orgânicas fossilizadas de três locais tropicais que revelam um claro aumento na diversidade das plantas (na sua maioria, entre espécies de plantas frutíferas) durante o MTPE. Suas conclusões contrastam com o antigo pressuposto de que o estresse térmico afeta negativamente os ecossistemas tropicais.


Os artigos Amazonia Through Time: Andean Uplift, Climate Change, Landscape Evolution, and Biodiversity (doi: 10.1126/science.1194585), de Carina Hoorn e outros, e Effects of Rapid Global Warming at the Paleocene-Eocene Boundary on Neotropical Vegetation (10.1126/science.1193833), de Carlos Jaramillo e outros, podem ser lidos por assinantes da Science em www.sciencemag.org
  

Amazônia debaterá plano de prevenção a secas e cheias de rios

A Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional vai realizar audiência pública para debater um plano de prevenção permanente contra os efeitos das secas e das cheias nos rios da região.

A iniciativa do debate é da deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB). Segundo a parlamentar, a prioridade agora é mobilizar os representantes dos setores governamentais e científicos para realizar a audiência ainda no mês de novembro.

Participantes
Devem ser convidados para participar do debate representantes de órgãos como Superintendência do Serviço Geológico do Brasil (CPRM); Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); Associação Amazonense dos Municípios (AAM); do governo do Amazonas; e do Ministério da Integração Nacional.

A audiência não tem data definida.

Fonte: Agência Câmara

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mudança e evolução

Por Alex Sander Alcântara, Agência FAPESP

Como e por que algumas espécies se adaptam de maneira notável a um meio ambiente em constante mudança? E por que algumas respondem de modo diferente às alterações ambientais?

Apesar de a ciência ainda não ter respostas precisas a essas questões, a filogeografia – associada a áreas como biogeografia, biologia e geociência – tem fornecido ferramentas importantes que têm ajudado a elucidar aspectos relacionados à biologia da evolução.

Além dos desafios da filogeografia, essas questões marcaram o Simpósio Internacional sobre Filogeografia, organizado pelo Programa Biota-FAPESP.

Lacey Knowles, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, destacou o interesse crescente no mundo acadêmico com relação ao uso de dados genéticos para distinguir espécies.

“Os dados genéticos podem oferecer um instrumento valioso para identificar espécies. Contudo, o caminho pelo qual esses dados são interpretados pode levar a conclusões enganosas e, especificamente, a um fracasso em reconhecê-las”, afirmou.

A pesquisadora falou sobre consequências genéticas de mudanças induzidas pela alterações no clima. Os estudos conduzidos por seu grupo pretendem analisar macropadrões genéticos e a adaptação potencial das espécies em determinadas condições.

Para Nuno Ferrand, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio) da Universidade do Porto, em Portugal, o desenvolvimento e a diversificação da biologia, da genética molecular e da genômica, além do advento dos métodos de análise associado à crescente capacidade dos computadores, tornam possível o aumento do conhecimento a respeito de como as espécies se adaptam.

Segundo ele, uma das dificuldades atuais da filogeografia é tentar explicar por que algumas espécies se adaptam e reagem de formas diferentes em relação às mudanças e alterações ambientais.

“Já temos hipóteses consistentes para algumas espécies – como anfíbios, répteis e mamíferos como coelhos –, mas precisamos ampliar de forma substancial a amostragem do número de espécies”, disse à Agência FAPESP.

Em sua palestra no simpósio, Ferrand falou sobre padrões filogeográficos em anfíbios, répteis e em espécies europeias de coelhos como modelo em biologia evolutiva.

“Estudamos esses organismos por serem especialmente adequados para a reconstrução da biogeografia histórica de uma região. A Península Ibérica é um refúgio biológico importante. É um lugar único na Europa para se estudar a dinâmica da diversidade biológica”, afirmou.

Ferrand apresentou um panorama das pesquisas desenvolvidas no Cibio, ligadas à biologia da evolução, em particular à documentação dos padrões de diversidade genética das populações naturais e à compreensão dos processos evolutivos que lhes deram origem.

O biólogo explicou que múltiplos processos evolutivos recentes – como fragmentação, expansão, hibridização, invasões e especiação – desenharam a arquitetura genética de anfíbios e répteis na Península Ibérica, resultando em uma diversidade “complexa e fascinante”.

Um exemplo dessa diversificação são os coelhos da ilha de Porto Santo, próximo à ilha da Madeira, em Portugal, espécie-modelo para estudos evolucionários e utilizados pelo grupo do Cibio há mais de 20 anos.

A multiplicação de coelhos na ilha dificultou a agricultura na região, uma vez que os animais devoraram as plantações. “Depois de se fazer uma análise das variantes genéticas da população de coelhos na ilha, verificamos que toda ela descende de um só casal”, disse.

Segundo ele, os estudos indicam que a coelha-mãe era uma coelha não domesticada. No século 19, já se defendia que esses animais teriam evoluído para uma espécie própria, denominada Lepus huxley. “Mas os estudos genéticos que conduzimos apontaram que não são uma espécie diferente, mas sim a mesma espécie adaptada às condições insulares”, disse.

Consea e Fórum Brasileiro reúnem pesquisadores em encontro sobre mudanças climáticas

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) realizam nesta quinta e sexta-feira (11 e 12 ), em Brasília, o seminário Mudanças Climáticas: Adaptação e Vulnerabilidade . O evento acontece no Auditório do Anexo I do Palácio do Planalto, partir das 9 horas.

O encontro busca discutir as diversas questões relacionadas às mudanças climáticas, como as fragilidades, a adaptação e especialmente os impactos sobre a segurança alimentar e nutricional. O seminário também visa reforçar o tema nas agendas públicas dos governos, nas suas três esferas, e da própria sociedade civil.

O seminário terá a participação de Integrantes dos Grupos de Trabalho (GT) Mudanças Climáticas, Pobreza e Desigualdade do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, além de representantes do Consea, da Rede de Mobilizadores Sociais (Coep), e de universidades envolvidas em pesquisas sobre o tema.

Nesta quinta-feira (11), o painel com o tema O necessário enfrentamento da questão climática terá entre os debatedores o presidente do Consea, Renato S. Maluf, a partir das 10h30. Já o professor Luís Pinguelli Rosa, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, será um dos debatedores do painel intitulado Desafio do diálogo do governo com a sociedade no âmbito das mudanças climáticas , a partir das 14h30 desta quinta-feira.

Ainda na tarde de quinta-feira serão abordadas Iniciativas para o fortalecimento da justiça ambiental e climática , com a participação de cinco expositores. São eles: Renato Maluf e Teresa da Silva Rosa, que integram a coordenação do subprojeto Populações Vulneráveis , do Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional (Ceresan) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Marcelo Firpo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); André Spitz e Celso Marcatto, do Coep.

Serviço
Seminário Mudanças Climáticas: Adaptação e Vulnerabilidade
Dias: 11 e 12 de novembro (quinta e sexta-feira)
Horário: a partir das 9 horas
Local: Auditório do Anexo I do Palácio do Planalto, Brasília DF
Informações para imprensa: (61) 3411 2576

Fonte: Consea

Governo vai propor novas regras para uso da biodiversidade

Por Ana Raquel Macedo, da Rádio Câmara
O governo deve encaminhar à Câmara, até o fim do ano, um projeto de lei para adequar a legislação brasileira aos resultados da 10ª Conferência das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, encerrada no fim de outubro, no Japão. A principal conquista do Protocolo de Nagoya, aprovado pelos 193 países participantes, é a criação de regras para a repartição dos lucros obtidos com produtos que utilizam biodiversidade de outros países.
O texto determina regras básicas para o acesso ao material genético. De acordo com o documento, o uso de substâncias ou genes de qualquer espécie nativa de determinado país (planta, animal ou micróbio, por exemplo) depende do consentimento do governo desse país, que deverá ser recompensado com lucros da venda do produto ou com benefícios não financeiros, como transferência de tecnologia.
Caso a substância - como o princípio ativo de um novo remédio - também seja utilizada tradicionalmente por uma comunidade ou povo indígena, esse grupo também terá de autorizar seu uso e receber as compensações.
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, afirma que a Casa Civil já possui uma minuta de projeto de lei sobre o assunto. Mas, com a aprovação do Protocolo de Nagoya, o texto passará por ajustes.
"O protocolo obriga todos os países a designar instituições nacionais que vão servir comocheckpoints: pontos para conferir se o recurso genético recebido de outros países foi obtido legalmente, se existe um documento autorizando aquele acesso e se foi assinado um contrato de repartição de benefício. Isso não estava previsto na minuta de projeto de lei que a gente vem discutindo", explica Dias.
Propostas em tramitação
Quando chegar à Câmara, o projeto do governo deve se juntar a outras nove propostas. O projeto de lei mais antigo, apresentado no Senado em 1995, pela ex-senadora Marina Silva, chegou à Câmara em 1998. O texto, que prevê sanções penais para os crimes contra o patrimônio genético, tramita em conjunto com outras oito propostas. Todas aguardam a criação de uma comissão especial para analisar o tema.


Além de examinar os projetos de lei, o Congresso também terá que ratificar o Protocolo de Nagoya, quando o Brasil assinar o documento. O texto ficará disponível para assinatura dos países entre fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012.
Para o deputado Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), não deve haver problema para complementar a legislação brasileira e confirmar o protocolo. "Isso nos interessa, interessa ao País", afirma, sobre as compensações pelo uso de material genético.
Legislação atual
No Brasil, o acesso aos recursos da biodiversidade e a repartição dos benefícios advindos desse uso são regulados atualmente pela Medida Provisória 2.186, de 2001, até hoje não votada pelo Congresso.


"Vários países estabeleceram legislação nacional, como o Brasil. Mas a falta de um protocolo internacional, que definisse as regras para relação entre países, tem dificultado muito”, afirma Bráulio Dias. “Uma vez que esses recursos genéticos ou conhecimentos saem do País, a nossa legislação não alcança mais."


O acordo, alcançado no Protocolo de Nagoya, era negociado há quase 20 anos, desde a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro.

Batalha entre floresta e gado na Amazônia

A criação das Resex foi a vitória daqueles que se opunham ao desmatamento

Por Mario Osava, da IPS
“Agarre na mão de Deus”, disse sua mãe ao falecer. Só mais tarde compreendeu que ela, enquanto agonizava com falência dos rins, o exortava a continuar seu trabalho de evangelização católica.
Era 1980, e viviam isolados no seringal de Iracema, como uma grande família formada por dezenas de adultos, meninos e meninas, sobrevivendo do que a selva amazônica oferecia e da venda de látex natural extraído da seringueira.
Aldeci Cerqueira Maia, o “Nenzinho”, tinha 18 anos e havia se casado há pouco quando sua mãe morreu. Extrator de borracha desde os nove anos, guarda até hoje, “como um talismã”, uma das primeiras pelotas que fez com esse produto. Seus avós foram “soldados da borracha”, levados do Nordeste para a Amazônia durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para abastecer de borracha os exércitos aliados.
Mais tarde, o Estado do Acre começou a receber novos visitantes interessados, não nos frutos da floresta, mas em derrubá-la e implantar a pecuária e alguma plantação. Os assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) restringiam o seringal. Quando, em 1986, o Incra se preparava para ocupar parte dos seringais para assentar os agricultores, os cultivadores de borracha ameaçados de expulsão uniram-se no “empate”, uma forma de resistência pacífica que levou multidões a se opor ao desmatamento.
“Conseguimos parar a expropriação do Incra”, disse Nenzinho, mas foi preciso uma longa luta até que o triunfo se formalizasse na criação da Reserva Extrativista (Resex) Cazumbá-Iracema, em 2002. Resex é uma área de proteção ambiental onde seus moradores tradicionais têm direito ao uso sustentável dos recursos naturais e benefícios como subsídios ao preço da borracha. Esta foi a vitória do “empate”, um invento de Chico Mendes, herói dos povos da floresta amazônica, no qual os seringueiros formavam barreiras humanas para impedir o corte da floresta.
Mas a criação dessas reservas custou sangue e conflitos. Chico Mendes foi assassinado em 1988 por pecuaristas em Xapuri, cidade do leste do Acre. Oito anos antes, já haviam matado Wilson Pinheiro, outro líder de seringueiros e trabalhadores rurais. O primeiro legado de ambos foi a criação, em 1990, da Resex Chico Mendes, com 970.570 hectares, onde vivem hoje cerca de 1.800 famílias.
Nenzinho sobreviveu a duas ameaças de morte, uma delas por ter denunciado um delegado por caça ilegal. Mas sempre contou com a proteção e o apoio do padre Paolino Baldassari, cura italiano já octogenário mas ativo, que formou gerações de ativistas católicos e animou todas as lutas dos pobres em Sena Madureira, município sede da Resex Cazumbá-Iracema.
O sucesso da resistência do seringal Iracema e de sua própria liderança, Nenzinho atribui à pregação religiosa iniciada por sua mãe e seguida por ele, sempre sob orientação de padre Paolino. “O ser humano não vive apenas de pão, e tampouco só de oração”, disse ter aprendido Nenzinho, que decidiu também cuidar da saúde de seus vizinhos, capacitando-se como agente sanitário e depois enfermeiro.
As visitas frequentes a todas as famílias locais o fizeram padrinho de meninos e meninas de 56 famílias. “Era compadre de todos”, contou. Porém, uma brutal queda no preço da borracha na década de 1990 ameaçou desfazer sua comunidade. Muitos abandonavam o seringal. Os persistentes criaram uma cooperativa e Nenzinho, com as facilidades de agente de saúde da prefeitura, transportava a produção de todos para vender na cidade, fazendo com que economizassem custos e tempo.
O transporte por animais demorava quase um dia inteiro, já que não havia estradas, apenas caminhos escorregadios quando chovia. Em 1992, o preço caiu mais ainda e “não havia compradores”. Nenzinho decidiu salvar um mínimo da comunidade convidando dez famílias a se somarem à extração de castanha com o que ele e seus parentes conseguiam alguma renda, graças à sorte de viver junto a um grande castanhal. Como a colheita de castanha se limita ao primeiro trimestre, também recorreu ao cultivo de arroz, feijão, banana e outros alimentos no restante do ano.
“Foi difícil” mudar os hábitos de extratores acostumados à carne de caça. “Tivemos que aprender a comer outras coisas. Eu mesmo precisei me domesticar”, admitiu Nenzinho. Outro triunfo foi a abertura de um ramal viário até a Resex, “uma missão impossível, mas realizada”. Em 1997, chegou o primeiro automóvel, entre choros “de emoção”, contou. “O transporte é tudo”, afirmou, embora a terra escorregadia impeça o tráfego de veículos a maior parte do ano.
Cazumbá-Iracema também foi a “primeira comunidade extrativista a ter ensino médio no Acre”, destacou orgulhoso. São 15 alunos no secundário e 96 no ensino primário, informou a professora Algecida Cerqueira, em sua casa de madeira, no povoado principal da Resex. “Nasci aqui e fundei a escola em 1993”, contou, dizendo que a juventude “quer ficar aqui”, ao contrário dos filhos de camponeses assentados nos arredores. Um exemplo é Ronaldo Santos, de 18 anos, que pensa em estudar biologia em alguma cidade e depois voltar para pesquisar “a floresta cheia de mistérios”.
Finalmente, em 2002, o governo federal decretou a criação da desejada Resex Cazumbá-Iracema, com 750.975 hectares. Isso lhes dá subsídios que elevam para R$ 3,20 a renda obtida por um quilo de borracha, 2,7 vezes o preço do mercado, mas equivalente a apenas um terço do poder de venda de 1980, segundo Nenzinho. O seringueiro hoje cuida de sua Resex como funcionário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do Ministério do Meio ambiente encarregado das unidades de conservação, como Resex, Parques e Florestas Nacionais.
A população local aumentou para 320 famílias que, para melhorar sua renda, tentam diversificar a produção. Além da castanha e da pequena agricultura, desenvolvem o artesanato, especialmente com o emborrachado, de látex com o qual fazem grandes pinturas e mouse pads em forma de árvores amazônicas. Na Resex Chico Mendes já se usa o látex para fabricar camisinha e a “folha defumada”, espécie de couro vegetal usado para fazer calçados.
Contudo, parece insuficiente. Há dois anos foram descobertas milhares de cabeças de gado e uma grande área desmatada na reserva, violando os objetivos da área protegida. O Incra executou no Acre projetos de “colonização” e criou assentamentos causando um amplo desmatamento ao longo das estradas nas décadas de 1970 e 1980, mas depois mudou sua forma de atuar, incorporando a dimensão ambiental e aproximando-se do espírito das Resex, explicou João Ricardo de Oliveira, chefe de Planejamento do Instituto no Estado.
O objetivo do regime militar da época era ocupar a Amazônia, com a filosofia de “integrar para não entregar” a soberania da região, e também assentou milhares de deslocados por projetos hidrelétricos no sul, sem nenhuma preocupação ambiental, explicou. No Acre chegaram menos deslocados do que no vizinho Estado de Rondônia, que foi um exemplo negativo do amplo desmatamento e disseminação da malária.
Agora, procura-se criar uma Zona Econômica Ecológica no Acre, e os assentamentos evitam áreas de floresta nativa ou são feitos de forma sustentável, assegurou. O novo modelo será testado logo no assentamento dos “basivianos”, camponeses brasileiros expulsos da faixa fronteiriça com a Bolívia. “Temos uma lista de 417 famílias”, disse João Ricardo.