Por Alex Sander Alcântara, Agência FAPESP
Como e por que algumas espécies se adaptam de maneira notável a um meio ambiente em constante mudança? E por que algumas respondem de modo diferente às alterações ambientais?
Apesar de a ciência ainda não ter respostas precisas a essas questões, a filogeografia – associada a áreas como biogeografia, biologia e geociência – tem fornecido ferramentas importantes que têm ajudado a elucidar aspectos relacionados à biologia da evolução.
Além dos desafios da filogeografia, essas questões marcaram o Simpósio Internacional sobre Filogeografia, organizado pelo Programa Biota-FAPESP.
Lacey Knowles, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, destacou o interesse crescente no mundo acadêmico com relação ao uso de dados genéticos para distinguir espécies.
“Os dados genéticos podem oferecer um instrumento valioso para identificar espécies. Contudo, o caminho pelo qual esses dados são interpretados pode levar a conclusões enganosas e, especificamente, a um fracasso em reconhecê-las”, afirmou.
A pesquisadora falou sobre consequências genéticas de mudanças induzidas pela alterações no clima. Os estudos conduzidos por seu grupo pretendem analisar macropadrões genéticos e a adaptação potencial das espécies em determinadas condições.
Para Nuno Ferrand, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio) da Universidade do Porto, em Portugal, o desenvolvimento e a diversificação da biologia, da genética molecular e da genômica, além do advento dos métodos de análise associado à crescente capacidade dos computadores, tornam possível o aumento do conhecimento a respeito de como as espécies se adaptam.
Segundo ele, uma das dificuldades atuais da filogeografia é tentar explicar por que algumas espécies se adaptam e reagem de formas diferentes em relação às mudanças e alterações ambientais.
“Já temos hipóteses consistentes para algumas espécies – como anfíbios, répteis e mamíferos como coelhos –, mas precisamos ampliar de forma substancial a amostragem do número de espécies”, disse à Agência FAPESP.
Em sua palestra no simpósio, Ferrand falou sobre padrões filogeográficos em anfíbios, répteis e em espécies europeias de coelhos como modelo em biologia evolutiva.
“Estudamos esses organismos por serem especialmente adequados para a reconstrução da biogeografia histórica de uma região. A Península Ibérica é um refúgio biológico importante. É um lugar único na Europa para se estudar a dinâmica da diversidade biológica”, afirmou.
Ferrand apresentou um panorama das pesquisas desenvolvidas no Cibio, ligadas à biologia da evolução, em particular à documentação dos padrões de diversidade genética das populações naturais e à compreensão dos processos evolutivos que lhes deram origem.
O biólogo explicou que múltiplos processos evolutivos recentes – como fragmentação, expansão, hibridização, invasões e especiação – desenharam a arquitetura genética de anfíbios e répteis na Península Ibérica, resultando em uma diversidade “complexa e fascinante”.
Um exemplo dessa diversificação são os coelhos da ilha de Porto Santo, próximo à ilha da Madeira, em Portugal, espécie-modelo para estudos evolucionários e utilizados pelo grupo do Cibio há mais de 20 anos.
A multiplicação de coelhos na ilha dificultou a agricultura na região, uma vez que os animais devoraram as plantações. “Depois de se fazer uma análise das variantes genéticas da população de coelhos na ilha, verificamos que toda ela descende de um só casal”, disse.
Segundo ele, os estudos indicam que a coelha-mãe era uma coelha não domesticada. No século 19, já se defendia que esses animais teriam evoluído para uma espécie própria, denominada Lepus huxley. “Mas os estudos genéticos que conduzimos apontaram que não são uma espécie diferente, mas sim a mesma espécie adaptada às condições insulares”, disse.
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