segunda-feira, 25 de maio de 2015

Agricultores promovem qualidade de vida com proteção ao meio ambiente

Por Aline Dias

A transição agroecológica é o processo gradual de mudança de práticas e manejo convencionais. Fazer a transformação significa deixar de utilizar produtos químicos, que oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente, e investir em práticas sustentáveis que trarão mais qualidade de vida ao agricultor. E para conscientizar os consumidores, o Governo Federal promove, de 24 a 31 de maio, a Semana dos Alimentos Orgânicos - evento realizado em 21 estados do Brasil e no Distrito Federal simultaneamente.
A conscientização do consumidor é um dos fatores que ajuda a aumentar o número de produtores orgânicos, sendo a maioria constituída por agricultores familiares. E para adotar práticas agroecológicas, o agricultor conta com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que, para garantir a segurança alimentar e promover o desenvolvimento rural sustentável disponibiliza políticas públicas que valorizam e fortalecem a agricultura familiar.
O agricultor familiar que opta pela transição agroecológica e passa a cultivar alimentos orgânicos, pode ter acesso à Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), ao crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), nas linhas Agroecologia, Eco e Floresta e aos programas que auxiliam na comercialização, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Fonte: MDA

Passo a passo
Quando o agricultor decide fazer a transição agroecológica, caso ainda não possua um acompanhamento técnico, deve procurar uma instituição que ofereça Ater para fazer um planejamento da área onde produz. Assim, será possível verificar quais as condições do solo e quais as práticas que tem utilizado para que sejam definidos os ajustes que devem ser realizados. O técnico, então, vai orientar sobre como adequar o plantio e como produzir adubos orgânicos e insumos para tratar a produção, além de auxiliar na escolha de sementes adequadas. Gradualmente, o agricultor vai aprendendo como fazer o manejo do solo da forma correta e como produzir alimentos livres de agrotóxicos.
Para que seja possível fazer a transição, o produtor pode acessar o Pronaf, que disponibiliza crédito para investimento nas técnicas de base agroecológica. Após realizar todo o processo, o agricultor tem a oportunidade de ampliar a comercialização de seus produtos, vendendo para o PAA e Pnae. Além disso, o agricultor familiar que produz orgânicos pode obter o selo de certificação e se inscrever no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. Tendo seu produto reconhecido, o agricultor poderá participar de feiras agroecológicas ou orgânicas, tendo a possibilidade de gerar ainda mais renda.
Com a adoção de práticas agroecológicas, a saúde do agricultor e de sua família é a mais beneficiada. Mas o meio ambiente também ganha. Além da melhora na alimentação, a produção de alimentos orgânicos permite a recuperação do solo e de fontes de água. Optar pela transição agroecológica é produzir com segurança e investir na saúde e valorização da agricultura familiar.
Brasil Agroecológico
A necessidade de produzir alimentos mais saudáveis com a conservação dos recursos naturais fez com que o Governo Federal instituísse, em 2012, a Política Nacional de Agroecologia (Pnapo). Com a implementação da política e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Agroecológica – Brasil Agroecológico, os agricultores familiares que ainda não adotaram a produção de base agroecológica, mas que desejam produzir alimentos mais saudáveis, têm a opção de fazer a transição agroecológica e contribuir com o desenvolvimento rural sustentável.

Fonte: MDA

Projeto Murucututu recupera aves vítimas de maus tratos

Iniciativa tem o objetivo de preservar a fauna e proteger aves de rapina, como corujas e gaviões

Preservar a fauna da reigão e protegar as aves de rapina é o principal objetivo do projeto Murucututu, que se dedica à recuperar pássaros maltratados e devolvê-los de volta à natureza ou a locais adequados para a sobrevivência dos animais. O projeto surgiu de uma parceira da ONG No Olhar com a Universidade Federal Rural da Amazônia e empresta o nome de uma simpática espécie de coruja.

Um exemplar da espécie Murucututu está entre os beneficiados da parceria, que conseguiu recursos para revitalizar o solário, espaço mais amplo e arejado para tentar reduzir os estresses do cativeiro e oferecer mais conforto aos animais em recuperação.
"Precisamos respeitar eles, já que não é possível mais levar estes animais silvestres de volta ao habitat dele é preciso haver harmonia entre eles e o homem", afirma Marcos Wilson, coordenador da ONG No Olhar.

As aves representam a maioria dos pacientes do Ambulátorio de Animais Silvestres da UFRA, que tem 21 pássaros em tratamento. Um deles é o papagaio apelidado de "Carequinha", que se recupera de uma queimadura. "Ele ficou careca por causa disso. As penas estão nascendo, ele ficou cego e é bastante agressivo por causa disso, mas está se recuperando", conta Leila Menezes, veterinária da UFRA.

Projeto Murucututu recupera aves vítimas de maus tratos (Foto: Reprodução/TV Liberal)
Veterinária Leila Menezes cuida de aves atendidas no projeto. (Foto: Reprodução/TV Liberal)

Leila conta que acaba se apegando aos animais que recebem cuidados no ambulatório, como o araçari que se tornou o xodó da veterinária. Ele e mais três tucanos devem ganhar um criadouro para morar em breve.

Maus tratos
Segundo o biólogo Felipe Furtado, a maioria das ocorrências de violência com animais silvestres envolve aves como gaviões e falcões. "Eles são tidos como agressivos e as pessoas maltratam eles". Furtado explica ainda que as vítimas de agressão podem ser reabilitadas com a falcoaria, técnica há cerca de seis mil anos para treinar e cuidar de aves de rapina.

As corujas também são alvos frequentes de maus tratos. "Por causa de mitos populares, muitas pessoas maltratam a coruja, queimam ninhos inteiros, acham que ela está relacionada com azar, mal agouro", conta o cientista ambiental César Silva.
Além de uma jibóia de quase dois metros, César adquiriu por meio de licença ambiental uma coruja da espécie suindara, conhecida popularmente como "rasga mortalha". Os animais são usados pelo cientista em suas palestras e aulas sobre educação ambiental, e já se tornaram parte da vida dele.

Fonte: G1

Sistema de agroflorestas é mais vantajoso na produção de orgânicos

Andreia Verdélio, da Agência Brasil

A produção de alimentos orgânicos no sistema de agroflorestas vem ganhando destaque entre produtores rurais e pode ser mais vantajoso a longo prazo. Segundo o extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Rafael Lima de Medeiros, a agrofloresta é um ambiente mais equilibrado do ponto de vista biológico e também um sistema mais vantajoso para o agricultor que sempre vai ter lucro com alguma colheita da área.

Para produzir alimentos orgânicos não é permitido ao agricultor o uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e transgênicos na lavoura, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. E mais que isso, o processo de produção deve respeitar as relações sociais e culturais e seguir os princípios agroecológicos, com o uso sustentável dos recursos naturais.
A produtora rural Silvia Pinheiro adotou o sistema agroflorestas em sua propriedade, e, segundo Silvia, a biodiversidade é tão grande que evita muitas pragas e dá mais saúde para os vegetais (Antonio Cruz/Agência Brasil)
A produtora rural Silvia Pinheiro  disse que  a biodiversidade é tão grande que evita muitas pragas e dá mais saúde para os vegetais  Antonio Cruz/Agência Brasil

A produtora rural Silvia Pinheiro dos Santos adotou esse sistema em sua propriedade de 21 hectares no Núcleo Rural Alexandre Gusmão, na região de Brazlândia, no Distrito Federal. As verduras, frutas e madeiras de lei estão plantadas juntas, em consórcio, e, segundo Silvia, a biodiversidade é tão grande que evita muitas pragas e dá mais saúde para os vegetais. No terreno crescem, entre outras plantas, a hortelã, que afasta os insetos, e o feijão-guandú, capaz de fixar o nitrogênio no solo.

“Horta é a atividade que menos dá dinheiro, a que dá mais é a fruta e o mais rentável é a madeira. Então a ideia é aposentar com aquilo ali”, diz Silvia, apontando para as árvores. “Conforme a madeira vai crescendo vamos escolhendo o que vai ficando. As hortaliças são de imediato e é o que nós comemos”, completou.

Silvia conta que a propriedade está há mais de 40 anos na família e que até dez anos atrás a área era toda de pasto para o gado. “Hoje temos gado, ovelha e agrofloresta. O gado não é problema, o problema é tirar tudo para colocar o pasto. Nós fizemos a agrofloresta de um jeito que daqui a um tempo vamos criar o gado lá, porque plantamos inclusive a fruta que o gado gosta de comer”, disse.

Para Silvia, o sistema agroflorestal é uma evolução do orgânico. “No orgânico há ainda quem plante como na cultura tradicional, uma só espécie, e o produto fica mais caro porque não se pode aplicar nada, então precisa de muita gente para fazer a limpeza. No agroflorestal, você só induz a natureza, então vai poder ter um preço mais competitivo”, disse, acrescentando que utiliza a própria poda das árvores e o húmus produzido no sítio como adubos para as plantas.

O engenheiro agrônomo da Emater-DF, Rafael Lima de Medeiros, conta que o mercado de orgânicos está crescendo e a Emater já trabalha o programa de agroecologia como prioritário. “No Distrito Federal, a produção está crescendo, mas as propriedades orgânicas ainda são uma parcela muito pequena. Temos mais de 5 mil propriedades rurais e pouco mais de 150 são orgânicas. Mas o número de feiras orgânicas está crescendo e mais agricultores querem aderir a essa venda”, observou.

O engenheiro agrônomo conta ainda que a Emater trabalha também para atingir o agricultor convencional, para que ele passe a utilizar práticas mais sustentáveis, diminuindo o uso de agrotóxicos. “Eles começam a se adequar e, no futuro, isso pode servir de incentivo para que passem definitivamente para a produção orgânica”, completou.

De 24 a 31 de maio é celebrada a Semana Nacional dos Alimentos Orgânicos em todo país. A Emater-DF disponibiliza uma lista com os pontos de venda de alimentos orgânicos no Distrito Federal.

Fonte: EBC

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Indústria moveleira amazonense pode ser destaque com pesquisa e investimentos

Por Fabrício Ângelo

manejo florestal é uma promissora alternativa de renda para as comunidades rurais, ao mesmo tempo em que alia o uso eficiente e racional das florestas ao desenvolvimento sustentável local, regional e nacional.
Somente no Amazonas em 2013, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) autorizou o manejo de mais de 550 milhões de metros cúbicos de floresta em 32 municípios. Uma das incentivadoras dessa forma de obtenção de melhores índices sociais e econômico por meio da preservação da floresta deveria ser a indústria moveleira. Mas não é isso que ocorre na Região Norte, segundo dados da Organização Não Governamental (ONG) Imazon, o setor ainda é incipiente representando apenas 2,6% do nicho produtivo.
No Amazonas também não é diferente. “Temos um polo moveleiro que ainda trabalha de forma artesanal e com baixa lucratividade”, diz o professor doutor, Fernando Cardoso Lucas Filho, chefe do Laboratório de Estruturas e Secagem, localizado no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Segundo ele, por possuir um grande potencial de exploração de recursos madeireiros, o Estado deveria ser um dos principais fornecedores de móveis do País, mas isso não acontece. “A perda de matéria-prima e baixa utilização de tecnologia faz com que os empresários tenham pouco lucro com o empreendimento”, observa.
Fernando Cardoso e seu orientando, Álefe Lopes Viana, mestre em Ciências Florestais e Ambientais, realizaram pesquisas junto a fabricantes de móveis no Amazonas e também em outras regiões. Para Aléfe, que defendeu o ponto de vista em sua dissertação de mestrado “Aplicação do Método de Custeio baseado em atividades (abc) na Produção de Artefatos de Madeira”, entre os principais problemas na fabricação de móveis pelos amazonenses estão a utilização de tecnologias obsoletas nos processos de industrialização e ausência de design.
“Existe um manejo florestal que pode ser bem utilizado para a produção de matéria-prima, mas ainda falta organização ao setor. O processo produtivo ainda é feito de maneira arcaica, o que resulta em um baixo valor agregado ao bem”, disse.
PRESERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Produção pequena, mercado reduzido e altos custos são apontados pelos pesquisadores como o cenário atual da indústria moveleira no Amazonas. “No trabalho, tentamos identificar quais as falhas que encarecem tanto o produto e o deixam fora do mercado externo e até interno, pois mesmo em Manaus, poucos móveis locais são consumidos”, ressalta Viana.
Pesquisadores Prof. Dr. Fernando Cardoso Lucas Filho e Msc. Àlefe Lopes Viana. Foto: Fabrício Ângelo

Outro importante ponto destacado por Fernando Cardoso é a falta de motivação dos produtores rurais para investir em manejo florestal. “O manejo só é sustentável se agregar valor social e econômico à região. Hoje, verificamos que existem políticas públicas para o setor, mas ainda não é perceptível o desenvolvimento gerado por isso, principalmente quanto à geração de empregos. Temos uma produção madeireira, mas ainda não temos uma indústria forte de beneficiamento e produto final”, alerta.
A demora no retorno financeiro com o manejo faz com que a indústria pecuária continue crescendo de forma avassaladora no Estado. “Sabemos que a abertura de pasto é a principal causa do desmatamento na Amazônia e logo depois vem o cultivo de soja. Isso porque os grandes e pequenos produtores rurais ainda não veem o manejo como uma forma permanente de rendimento”, analisa o professor.
USO DE TECNOLOGIAS
Ser produtor de madeira não significa que não pode ser competitivo no setor. Um dos exemplos é a Itália, país europeu com limitadas áreas florestais, que desde a década de 70 lidera o mercado mundial de produção de móveis.
Conforme Aléfe Viana, mesmo importando madeira de vários países, inclusive o Brasil, os italianos têm um alto valor agregado em seus produtos. “A madeira representa cerca de 10% do valor de um móvel que poderá ser comercializado por dez ou vinte vezes do seu valor de produção, mas para isso é importante utilizar as tecnologias corretas e melhorar o aspecto estético do produto”.
Apesar de longo, há um caminho que pode ser percorrido pelos empresários do setor. “Hoje somos apenas fornecedores de madeira, mas isso pode mudar com investimento na capacitação dos empresários, de mais pesquisas na área e também do apoio de agências de fomento, pois temos o que há de mais importante, os recursos naturais, que podem e devem ser preservados ajudando a gerar desenvolvimento nas localidades que dependem da floresta’, finalizou Viana.
Fonte: CIÊNCIAemPAUTA

Purificador de água é implantado em aldeia indígena Yanomami, no Amazonas

Inicativa tem o objetivo de reduzir mortes de crianças por doenças causadas pelo consumo de água poluída


Unidade demonstrativa do purificador de água montada no bosque do Inpa, em Manaus.
Foto: Divulgação/Inpa

MANAUS – Uma aldeia Yanomami, localizada no município de Santa Isabel do Rio Negro (distante 630 quilômetros de Manaus), no Amazonas, ganhará um purificador de água sustentável. O equipamento, chamado Ecolágua, beneficiará cerca de 150 indígenas que enfrentam problemas graves de saúde por causa do consumo de água poluída. O aparelho deve ser implantado pelo Instituto Nacional de pesquisas da Amazônia (Inpa), no segundo semestre de 2015.


A aldeia beneficiada ainda não foi escolhida. De acordo com informações do Inpa, o critério de escolha será o local com situação mais crítica em acesso à água potável entre as 12 aldeias do povo Yanomami na região do Alto Rio Negro.“Estamos interessados em ajudar os indígenas da aldeia Yanomami que estão morrendo por causa do consumo de água poluída. Por isso, vamos instalar o mais rápido possível uma unidade experimental do purificador de água na aldeia”, diz o inventor do equipamento e pesquisador do Inpa, Roland Vetter.

Como é o processo?

O inventor explica que o purificador é capaz de desinfectar a água contaminada, porque os micro-organismos em contato com os raios ultravioleta tipo C perdem a capacidade de se multiplicarem. A luz provoca um dano fotoquímico instantâneo no material genético das microbactérias, o que causa o efeito desinfectante. O equipamento de tamanho compacto pesa 13 quilos, purifica até 400 litros de água por hora, utiliza energia solar e bateria, e a vida útil da lâmpada ultravioleta é de 10 mil horas, o equivalente a três anos de duração.

O coordenador do Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya), associação civil e sem fins lucrativos, Silvio Cavuscens e a enfermeira Sylvie Petter visitaram o Inpa para conhecer a tecnologia. Para Cavuscens, a expectativa de instalar o purificador de água em uma das aldeias Yanomami é muito grande. “Outros problemas de saúde estão afetando a saúde dos Yanomami por conta da má qualidade da água consumida pelos indígenas”, diz o coordenador da associação. “Para nós, este invento do Inpa é um achado, porque é uma solução de baixo custo e de fácil implantação, o que permitirá aos indígenas ganharem qualidade de vida”, acrescentou.
Há quatro anos a Secoya iniciou um programa de educação em saúde junto à população dos Yanomami no Amazonas que permite envolver a população na resolução preventiva dos problemas de saúde em comunidade indígena. Segundo Cavuscens, este programa vem sendo desenvolvido mediante três vertentes principais: trabalho de prevenção, controle social e valorização da saúde tradicional.
A tecnologia já foi implantada em 19 comunidades do município de Benjamim Constant, além de 10 equipamentos instalados em oito aldeias indígenas. No próximo dia 10 de julho, o Inpa instalará dois aparelhos em Nampula, no interior de Moçambique, na África.
Na opinião da coordenadora de Tecnologia Social do Inpa, Denize Gutierrez, esta é mais uma demanda de problema de saúde de veiculação hídrica por contaminação biológica que leva crianças a morte. “Por isso temos que interferir e dar a nossa contribuição”, disse.
Fonte: Portal Amazônia

O futuro das florestas brasileiras ainda é uma incógnita

Aprovação do Código Florestal completa três anos, mas persistem as incertezas e a difícil tarefa de cumpri-lo

Por Reinaldo Canto, da Carta Capital

Quem não se lembra dos tensos e acirrados confrontos no Congresso Nacional que há três anos convulsionava o País nas discussões sobre como deveria ser o novo Código Florestal? Parecia um barril de pólvora prestes a explodir. Na época, só não havia dúvida quanto à necessidade de atualiza-lo, já que a lei havia sido concebida ainda na ditadura, no ano de 1965. De lá pra cá, certamente o país mudou muito e, portanto, a lei de florestas também precisaria ser alterada.
Como sabemos, os ruralistas conseguiram, na ocasião, fazer passar boa parte de suas demandas, entre elas, algumas bastante questionáveis como a anistia aos desmatadores graças ao artifício das áreas consolidadas com produção antes de 22 de julho de 2008 e a redução nas áreas de proteção.

Pois bem, de lá pra cá, após tantas turbulências, era de se esperar que fosse um pouco mais suave o processo de implementação do Código. Mas, infelizmente, não é bem isso o que estamos assistindo. A importante meta de mapear e cadastrar todas as propriedades rurais brasileiras por meio do Cadastro Ambiental Rural ao longo desses três anos de vigência do Código está longe de ser alcançada.

As informações recentes fornecidas pelo governo federal dão conta de que em torno de 1,4 milhão de um total de 5,5 milhões de propriedades rurais já fizeram o CAR. Desse montante já regularizado, 87% são de pequenas propriedades.
Diante de um número tão pequeno e com tantos proprietários ainda em desacordo com a lei, o governo decidiu prorrogar o prazo por mais um ano, portanto até maio de 2016. Veremos então o que vai acontecer, pois a tarefa não parece ser das mais fáceis, não só pelo fato de muitos ainda precisarem se cadastrar, mas também pelos obstáculos a serem transpostos.

Podemos até dizer que possam existir proprietários que não estejam fazendo muito esforço para preencher o CAR, mas como ainda persiste a falta de informação é preciso também entender o problema desses agricultores.  
Técnicos da Iniciativa Verde, organização que atua em projetos de recomposição florestal, principalmente no estado de São Paulo, têm procurado ajudar produtores rurais a preencher o cadastro e, o que eles encontram com frequência, são muitas dúvidas e um desconhecimento generalizado.
Crise hídrica é apenas uma das muitas
razões para termos uma lei florestal capaz
 de proteger mananciais, nascentes e rios
Foto: 
Welington Pedro de Oliveira

Para Roberto Resende, presidente da Iniciativa Verde, uma das principais questões está relacionada ao Programa de Regularização Ambiental: “a falta de definição do PRA deixa sem diretrizes os processos legais, administrativos e econômicos para a enorme tarefa da recomposição florestal e da adequação ambiental de tantos imóveis. Em paralelo com a consolidação do CAR é fundamental definir as regras da próxima etapa”.

Ele compara: “é como se após a entrega da declaração do Imposto de Renda (o preenchimento do CAR) os contribuintes não soubessem como, quanto e quando devem pagar de imposto ou receber de restituição (a ausência de definições claras do PRA). Para resumir, se persistem dúvidas quanto ao preenchimento do Cadastro Ambiental Rural, são ainda mais obscuras as contrapartidas a que o proprietário rural terá de cumprir no Programa de Regularização Ambiental". 

A situação não é muito diferente Brasil afora, o Observatório do Código Florestal tem acompanhado a situação. Conforme afirma Aldem Bourscheit, da organização ambiental WWF-Brasil e membro do Observatório, questões políticas estão entre os principais fatores que emperraram o cadastro (CAR), um dos passos para a regularização ambiental das propriedades. “A lei florestal (12.651/2012) foi aprovada em um processo onde sociedade e academia foram pouco ouvidos e sua regulamentação ocorre em um processo lento e pouco claro, tanto em nível federal quanto estadual”.

Ele ainda destaca que “falta muita transparência, uma comunicação efetiva para disseminação da lei e a definição de incentivos econômicos. Sem eles, podemos ter aumento no desmatamento em propriedades com excedente florestal”. Todas questões que deixam os agricultores inseguros e confusos quanto ao que fazer. Para Aldem, será preciso também que, neste ano de prorrogação dos prazos de cadastramento de propriedades e posses rurais, Governo Federal e Estados trabalhem juntos e o setor produtivo incentive seus fornecedores a respeitar e aderir ao novo Código Florestal.

A atual crise hídrica enfrentada com maior gravidade por estados da região Sudeste, mas que aflige também outras localidades do País, é apenas uma das muitas razões para termos uma lei florestal capaz de proteger mananciais, nascentes e rios, além de nossa riquíssima biodiversidade. A convivência equilibrada entre preservação ambiental e produção agrícola é o que irá garantir o nosso futuro.

O Cadastro Ambiental Rural é fundamental para que tenhamos uma radiografia fidedigna do meio rural brasileiro. Um panorama preciso sobre as áreas de vegetação natural que deverão ser preservadas e também as terras a serem exploradas, o que irá contribuir para que o país saiba onde investir, o que priorizar e o que necessita ser recuperado e preservado. Enfim trazer luz para um setor que ainda possui muita sombra e pouca transparência.

*Nesta semana diversos eventos organizados pelo Observatório do Código Florestal em todo o país vão debater o atual estágio e o futuro da implantação do Código. Em São Paulo, um encontro no dia 21/05, próxima quinta-feira, vai reunir governo, iniciativa privada, organizações da sociedade civil e academia.


Fonte: Carta Capital


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Guia de Museus de Ciência tem nova edição, com informações sobre 268 instituições



Que tal visitar um museu de ciências no próximo fim de semana? O guia Centros e Museus de Ciência do Brasil 2015 tem dicas para todos os gostos: lá você encontra informações sobre 268 instituições espalhadas por todo o Brasil. São centros, museus, planetários, jardins botânicos, zoológicos, aquários, unidades de ciência móvel e associações que atuam na popularização da ciência e tecnologia no país. O Museu da Vida, da Fiocruz, é um deles.
Veja a publicação.

Essa é a terceira edição do guia, resultado de um esforço conjunto da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC), da Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Museu da Vida/Fiocruz. Na edição anterior, 190 instituições haviam sido registradas. Em 2015, esse número subiu 41% (268). Do total de espaços, 155 estão no Sudeste; 44, no Sul; 43 no Nordeste; 15, no Centro-Oeste; e 11 no Norte.

"A área de divulgação científica é muito efervescente, com novos museus de ciência surgindo constantemente”, afirmou a Luisa Massarani, pesquisadora do Museu da Vida que atuou no projeto. “Além de novas instituições, criadas recentemente, esta edição do guia traz espaços científico-culturais que já existiam à época das edições anteriores, mas que não haviam sido listadas. Na América Latina, o Brasil é o país que mais se destaca em iniciativas desse tipo, que visam mapear museus de ciência", explicou.

Procure o centro ou museu de ciência mais próximo da sua casa e faça uma visita. Indique a amigos, familiares, alunos e professores! Você também pode ajudar no mapeamento dessas instituições. Se conhece espaços de popularização da ciência que não constem desta publicação, envie sua sugestão ao e-mail secretaria@abcmc.org.br.

Fonte: Museu da Vida - Fiocruz

Musa: espaço de contemplação e conhecimento na Amazônia

Por Fabrício Ângelo

Um local onde as pessoas tenham o contato direto com a biodiversidade amazônica e conheçam sobre as diversas dinâmicas que mantém a floresta viva. Desde uma semente de breu-branco a uma onça parda. Um museu vivo, dentro do bioma, onde adultos e crianças possam aprender e ser sensibilizados sobre a importância de cada espécie que ali cresce.


A cada empreendimento imobiliário erguido em Manaus, um pedaço da floresta amazônica desaparece.  O município vem crescendo desenfreadamente e, infelizmente, a cultura das invasões permanece. Por isso é tão necessária a criação de espaços que preservem um pouco do que resta desse bioma.

Localizada na Zona Leste de Manaus, a Reserva Florestal Adolpho Ducke foi criada em 1962 pelo Governo do Amazonas e é administrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Com uma área de 10.000 hectares (100km²), o local ainda abriga o Jardim Botânico de Manaus e o Museu da Amazônia (Musa).

De acordo com o site do Inpa, as atividades de pesquisa na Reserva iniciaram-se em 1963. Desde sua criação, centenas de estudos sobre a biodiversidade foram realizados na reserva, gerando um volume de conhecimento científico que coloca a Ducke entre os mais produtivos sítios de estudo nos trópicos. Atualmente, cerca de 50 pesquisadores e 40 estudantes de pós-graduação trabalham na área.

O museu nasceu de um projeto do Governo do Estado por meio SECTI-AM, UEA e da Fapeam. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTAMUSEU VIVO E METRÓPOLE
Em janeiro de 2009, foi criado o Museu da Amazônia (Musa) em uma área de 100 hectares, dentro do Jardim Botânico de Manaus. Segundo o diretor geral da instituição, Prof. Ênio Candotti, o museu nasceu de um projeto do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (SECTI-AM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), financiado pelo Fundo Amazônia e Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas (Fapeam). “A ideia foi  criar um museu vivo na floresta, um passeio com informações sobre o bioma e suas características”, disse.

Segundo Candotti, existem espaços em cidades como Paris e Nova York que apresentam um pouco da biodiversidade amazônica, mas são amostras não naturais. “O nosso mote é conhecer para conservar, para que possamos mostrar à população que é preciso valorizar a floresta e assim contribuir para sua conservação”, afirmou.

Outro ponto destacado pelo professor é que em sua visão a preservação não deve ser considerada um problema de polícia, de punição, mas sim de educação. “O conhecimento a respeito da dinâmica da importância da floresta é muito reduzido, só conseguiremos apoio para sua proteção quando as pessoas se derem conta, por meio da pesquisa e do conhecimento básico, de quanto ela é fundamental para a vida humana”.

Conforme a bióloga Carla Araki, coordenadora dos monitores do Musa, a  cidade vem crescendo muito e chegando dentro dos limites da Reserva  Ducke. “Preocupados com isso, em 2000, o Inpa e a prefeitura de Manaus  criaram o Jardim Botânico com o intuito de trabalhar o conceito de  educação ambiental, principalmente com a população do entorno”,  esclareceu.
Por não ser cercada o risco de invasão da área é iminente e preocupante.  De acordo com Carla, isso precisa ser alertado à sociedade. “É uma área que  é  estudada há mais de 50 anos e não conhecemos nem 10% de suas  potencialidades. Por ser um local de mata primária e contínua existe um  grande fluxo de fauna, como onça e gavião real, e diversidade de flora, e isso  precisa ser preservado”, alertou.

O Musa conta com alguns atrativos que trazem a população local e turistas  para a visitação. “Contamos com três quilômetros de trilhas e iremos  inaugurar uma torre de observação de 42 metros onde é possível ter a visão  de toda a área da reserva acima da copa das árvores”.
Outras atrações estão sendo construídas como um borboletário e um serpentário que devem ficar prontos em breve.

FLORESTA VISTA DE CIMA
A estrutura da torre tem 42 metros de altura, com três plataformas. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTA
A estrutura da torre tem 42 metros de altura,
com três plataformas.
Durante o período da Copa do Mundo, o museu abriu a sua torre de observação aproveitando o fluxo de turistas, principalmente estrangeiros, para compartilhar a experiência de observar a floresta.
Segundo o diretor operacional do Musa, Roberto Moraes, essa estrutura tem 42 metros de altura, com três plataformas, uma ao chegar aos 14 metros, outra aos 23 e a final, ao todo são 242 degraus. "Ela foi construída em Cuiabá e trazida a Manaus desmontada”.


A montagem da torre foi feita em 100 dias e “manualmente”, sem o auxílio de equipamentos de grande porte como guindastes, o que ajudou a reduzir ao máximo o impacto na área. “Agora estamos na parte final, que é a pintura, isso vai evitar problemas futuros com a corrosão do material. Ainda faremos pequenos ajustes para melhorar o conforto dos visitantes”, disse Moraes.
Da torre percebe-se a variação das alturas das árvores, da temperatura e também uma infinidade de frutos difíceis de identificar. A primeira plataforma aproxima o observador dos troncos e torna possível avistar pássaros e belas borboletas.
Com o auxílio do guia e estudante de Ciências Naturais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Andrews Gabriel, a visita envolve o aprendizado sobre as belezas e curiosidades do lugar, numa sensação que nem se percebes tão temidos duzentos degraus.

A última plataforma propicia duas visões totalmente diferentes, uma de rara beleza, imensidão e diversidade de árvores que compõem a mais bela paisagem de Manaus; a outra de proximidade dos bairros do entorno e a sensação de pressão que exercem sobre a reserva.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Rubens Gatto e sua esposa, a dentista Aelia Gatto, de São José dos Campos (SP), consideram extremamente importantes esses espaços de visitação, pois ajudam na manutenção e conhecimento de um bioma, além das belezas naturais. “Consideramos que pela quantidade de pessoas que visitam o museu o respeito quanto à limpeza e preservação é fantástico”, disse Rubens.

Visitando Manaus e a Amazônia pela primeira vez, o casal afirma que pretende retornar. “Gostaríamos de conhecer o interior do Estado que todos falam ser muito bonito e preservado”, quem sabe um dia ir à São Gabriel da Cachoeira, fazer um passeio de barco”, disse a dentista.

Fotos: Eduardo Gomes

Fonte: Portal Ciência em Pauta

Recorde histórico de CO2

Por Cláudio Angelo

A notícia correu o mundo nesta semana: a concentração de dióxido de carbono na atmosfera ultrapassou em março a marca simbólica de 400 partes por milhão, segundo anunciou a Noaa (Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA). É a primeira vez que isso acontece desde que a agência começou a medir esse gás em 40 pontos diferentes do planeta, na década de 1980.


Da última vez que houve tanto CO2 na atmosfera, provavelmente 3,5 milhões de anos atrás, não existiam seres humanos, nem gelo no polo Norte. A temperatura média global era de cerca de 3oC mais alta do que no período pré-industrial. O nível do mar era 4 a 5 metros mais alto do que hoje.
O anúncio foi tratado pela imprensa internacional como um “alerta vermelho” no ano da conferência do clima de Paris, que deveria (mas tem gente que acha que não vai) apontar o início da solução do problema do aquecimento global. Embora o recorde seja em si importante, o problema real é a tendência que ele indica.
Quatrocentas partes por milhão, ou ppm, é um número pequeno. Significa que, em cada milhão de moléculas de ar, há 400 de gás carbônico (lembre-se de que a atmosfera é composta quase totalmente de nitrogênio e oxigênio; o CO2 é um dos “gases-traço”, daqueles que juntos formam 1% da composição do ar).
Acontece que o gás carbônico faz o melhor estilo “chiquitito, pero cumplidor”: ele é extremamente eficiente em reter na atmosfera o calor que a Terra irradia em forma de radiação infravermelha. Não satisfeito, ele ajuda a elevar, por evaporação, os níveis atmosféricos de outro gás-estufa muito potente: o vapor d’água. Isso mesmo: como sua mãe já deve ter dito, até água em excesso faz mal.
As medições da concentração de CO2 na atmosfera começaram a ser feitas em 1958 pelo americano Charles Keeling no alto do vulcão Mauna Loa, no Havaí. O local foi escolhido por estar bem longe de fontes de poluição que pudessem enviesar as amostras de ar. O Mauna Loa, a 4.000 metros de altitude e no meio do Oceano Pacífico, representa bem como o CO2 está misturado à atmosfera global.
Quando as medições de Keeling começaram, a concentração de CO2 no ar estava em 315 ppm. Em 2013 elas ultrapassaram 400 ppm no Mauna Loa pela primeira vez, para caírem em seguida e fecharem o ano em 393 ppm. Os dados da Noaa mostram que o mesmo sinal foi detectado não apenas em um ponto, mas em dezenas de lugares diferentes mundo afora.
Assim como aconteceu em 2013, o valor vai cair nos próximos meses e fechar o ano abaixo de 400 ppm. A oscilação acontece porque no final do inverno no hemisfério Norte, onde está a maior parte das terras (portanto, da vegetação) do mundo, há muito carbono no ar. Ele vem da da decomposição das folhas que caíram no outono. Na primavera, a rebrota sequestra esse CO2 e a concentração cai novamente.
A chamada "curva de Keeling", com o crescimento das concentrações de CO2 desde a década de 1950
O problema, claro, é que essa concentração vem subindo de forma acelerada ano após ano. Em todo o período pré-industrial, a concentração de CO2 na atmosfera jamais ultrapassou 280 ppm. Do surgimento da espécie humana até o ano em que Keeling começou a fazer suas medições, o aumento foi de 12,5%, no máximo. Da primeira vitória do Brasil numa Copa do Mundo até hoje, o aumento já foi de outros 27%. A velocidade anual de crescimento dobrou entre 2000 e 2010 em relação a 1960-1970. Metade do aumento verificado desde a aurora da humanidade aconteceu depois de 1980.

Nesse ritmo, o CO2 terá dobrado em relação à era pré-industrial antes do final do século. Os modelos climáticos apontam que, com duas vezes mais CO2 no ar, o aumento da temperatura da Terra seria de cerca de 3oC, valor muito superior ao limite considerado “seguro” (e, para alguns, já inatingível) de 2oC acima da média pré-industrial. Segundo o IPCC, o painel do clima da ONU, para ter uma chance de 50% de atingir os 2oC, os níveis de CO2 precisariam estacionar em 450 ppm e depois cair.
Os 400 ppm são um número bizantino, mas importante por isso: apenas 50 ppm separam a humanidade de entrar em um território climático nunca antes explorado – e, ao que tudo indica, de forma alguma agradável. (Observatório do Clima/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.
Fonte: Envolverde

Comitê de Zonas Úmidas reúne-se em Brasília

Na pauta estão as resoluções a serem debatidas durante a 12ª Conferencia das Partes de Ramsar, a se realizar em Punta Del Este, Uruguai, entre 1º e 9 de junho. Uma das principais resoluções é o planejamento estratégico de Ramsar para o período 2016-2021.

Por Rafaela Ribeiro e Luciene de Assis, da Ascom MMA
Parque Lagoa dos Peixes: um dos sitios Ramsar
Foto: Martim Garcia - MMA
O Comitê Nacional de Zonas Úmidas (CNZU) tem reunião marcada para a próxima quinta-feira (14/05), no Ministério do Meio Ambiente (MMA), em Brasília. Na pauta estão as resoluções a serem debatidas durante a 12ª Conferencia das Partes de Ramsar, a se realizar em Punta Del Este, Uruguai, entre 1º e 9 de junho.
A Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas visa a conservação e a utilização responsável das terras úmidas e seus recursos, seja por regulamentação nacional, seja por projetos de cooperação internacional. Para tanto, estabelece uma Lista das Zonas Úmidas de Importância Internacional, denominadas Sítios Ramsar. A Convenção foi firmada em 1971, na cidade iraniana de Ramsar, e entrou em vigor em 1975. Já conta com mais de 150 Estados-Partes, incluindo o Brasil, que a ratificou em maio de 1996.

Planejamento
Segundo o analista ambiental da Gerência de Biodiversidade Aquática e Recursos Pesqueiros do MMA, Maurício dos Santos Pompeu, uma das principais resoluções é o planejamento estratégico de Ramsar para o período 2016-2021. Trata-se de um documento orientador da implantação da Convenção em todos os países signatários.
Este planejamento foi elaborado com base em três pilares já existentes: uso racional por meio da implantação de planos nacionais, políticas e legislação; Lista Ramsar, que contém a relação dos sítios e áreas úmidas de importância internacional; e cooperação internacional, com a relação de projetos que promovam a conservação.

Dentro do planejamento convencionado, foram estabelecidas prioridades para os próximos seis anos. Considera-se essencial prevenir, parar e reverter a perda e degradação de áreas úmidas; estabelecer uma ciência baseada em aconselhamento e orientação; definir políticas voltadas para mudanças climáticas e áreas úmidas; divulgar informações sobre bens e serviços das áreas úmidas.

E mais: promover ações de comunicação sobre os bens e serviços das áreas úmidas; aumentar a cooperação; implantar a Convenção; estabelecer estratégias de proteção contra espécies exóticas invasoras; identificar e designar as mais importantes áreas úmidas como Sítios Ramsar; estimular o uso racional de áreas úmidas; conseguir novos financiamentos; definir mais perspectivas da bacia hidrográfica, entre outras possibilidades.

Candidaturas
Na 14ª Reunião do CNZU também serão apreciadas quatro candidaturas a novos Sítios Ramsar. “O Comitê Nacional de Zonas Úmidas aprova as candidaturas, que serão encaminhadas ao secretariado da Convenção para avaliação e designação final como Sítios Ramsar”, explica Maurício Pompeu.
E esclarece: “Nos últimos dois anos, fomentamos a ampliação do número de Sítios Ramsar no Brasil. Uma recomendação do Comitê elenca uma série de UCs prioritárias para se tornarem Sítios Ramsar e reitera a importância das demandas espontâneas no processo de aumento da representação destas áreas no Brasil.”
erão apreciadas na reunião de Brasília as candidaturas da Área de Proteção Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa, APA de Cananéia-Iguape e Peruíbe, Parque Nacional de Anavilhanas, e Estação Ecológica de Guaraqueçaba. Outras sete candidaturas, já aprovadas pelo CNZU, estão sob análise do Secretariado de Ramsar.

Saiba mais

Lista de Sítios Ramsar - É o principal instrumento adotado pela Convenção para implantar seus objetivos. É formada por áreas caracterizadas como ecossistemas úmidos importantes, selecionados pelos países e aprovadas pelo secretariado da Convenção. Uma vez aceitas, essas áreas recebem o título de "Sítios Ramsar".

Comitê Nacional de Zonas Úmidas - Coordenado pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF) do Ministério do Meio Ambiente, tem como funções propor diretrizes e ações para internalizar a Convenção de Ramsar no Brasil, avaliar a inclusão de novos Sítios Ramsar e subsidiar a participação do país nas Conferências das Partes de Ramsar, divulgar a Convenção e incentivar a participação da sociedade, dentre outras responsabilidades. O Comitê conta com a participação de entidades governamentais, membros da sociedade civil e meio acadêmico.

Fonte: MMA

Pressão dos frigoríficos reduziu desmatamento no Pará

Estudo do Imazon mostra que exigência dos grandes compradores e carne obrigou pecuarista a regularizar suas terras e reduzir o desmatamento


Por Thais Guerrero, da Revista Época

Desde que frigoríficos e redes varejistas passaram a ter critérios para selecionar seus fornecedores situados na Amazônia, a situação do setor da carne começou a melhorar no quesito impacto ambiental. Um estudo da Universidade Wisconsin e da National Wildlife Federation em coautoria com o Imazon, publicado no jornal cientifico Conservation Letters nesta terça-feira, mostra que hoje há mais fazendeiros em situação de legalidade e reduzindo os desmatamentos. Em 2009, 36% de propriedades avaliadas que forneciam carne, boi e couro tinham feito derrubadas recentes. Já em 2013, a taxa havia caído para 4%.

O estudo avaliou a situação de municípios onde há propriedades que fazem negócios com o maior frigorífico do mundo, a JBS. E compara as taxas de desmatamento antes e depois que redes de varejistas e frigoríficos assinaram o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal do Pará e um acordo de desmatamento zero com o Greenpeace. Em ambos os acordos, os compradores de boi, carne ou couro prometiam não adquirir nada de fazendas em municípios com índices de desmatamento recentes e que não tenham se inscrito do Cadastro Ambiental Rural (CAR). O CAR é uma espécie de Imposto de Renda em que se declaram os limites das propriedades e as áreas desmatadas. No Pará é uma exigência do governo estadual desde 2006, mas só ganhou força depois de 2009.

A análise se restringiu ao Pará, já que esse é o estado com o segundo maior rebanho do Brasil – 19,2 milhões de cabeças de gado – e foi responsável por 40% do desmatamento da Amazônia durante a última década. Mais de 39 mil propriedades foram incluídas no estudo, sendo 2.723 fornecedoras da JBS e 37.071 localizadas num raio de 10 quilômetros delas.

Os pesquisadores descobriram que o compromisso da JBS com o desmatamento zero contribuiu com uma corrida de inscritos no CAR. Vários fazendeiros interessados em vender para o frigorífico fizeram o cadastro e conseguiram fechar negócios, acirrando a concorrência entre as fazendas. Dos 56 fornecedores da JBS entrevistados, 85% declararam que registraram suas propriedades com a meta de vender ao frigorífico.  E se cadastraram no CAR, em média, 374 dias antes do que as propriedades que já vendiam gado para a JBS. Até o início de 2010, quase 60% das transações mensais dos frigoríficos da JBS foram feitas com fornecedores cadastrados no CAR. No fim de 2013, o índice era de 96%.

Do grupo de não fornecedores da empresa, quase metade só aderiu ao CAR em média três anos depois dos acordos serem assinados. E só aderiram porque foram pressionadas e tiveram apoio do governo estadual, especialmente para os pequenos agricultores.

Em relação ao desmatamento, o estudo mostra que os municípios tiveram reduções nas taxas de desmatamento nos três anos seguintes à assinatura dos acordos. E isso foi mais significativo entre as fazendas que se tornaram fornecedoras da JBS após 2009. Uma das razões, segundo o documento, é que as recém-contratadas tinham taxas de desmatamento muito altas e não possuíam estímulos para evitar as derrubadas fora da lei. 

Ao mesmo, as fazendas que pararam de vender os bois à JBS em 2009 desmataram 75% mais do que as que permaneceram como fornecedoras.Há um desafio para que os desmatamentos cheguem realmente a zero nas fazendas do Pará: o vazamento ou lavagem do gado ilegal. Como os acordos regulam apenas as compras diretas, sem considerar fazendas de cria e recria, os pecuaristas ilegais podem vender seus bois para os frigoríficos que não monitoram toda a cadeia (vazamento). Ou repassam o gado para fazendas regularizadas que fazem as vendas diretas aos frigoríficos (lavagem).

Segundo Paulo Barreto, pesquisador do Imazon e coautor do estudo, é preciso acabar com os “furos” que permitem o comércio de gado ilegal. “O acordo pelo desmatamento zero deve ser fiscalizado e ampliado para que todos os frigoríficos exijam gado de fazendas regularizadas. A pressão pode vir das duas fontes principais: dos compradores dos frigoríficos como supermercados, redes de restaurante e da indústria que compra couro, por exemplo, ou os gestores do acordo – no caso, o MPF e o governo do Pará”. Ele diz que o governo paraense contratou uma empresa para fazer auditorias e, em breve, irá revelar as empresas que não cumpriram integralmente o TAC e que devem ser punidas. Será o próximo passo para o elevar os critérios da pecuária na Amazônia.

FAPESP e UC Davis anunciam programa para fomentar pesquisa colaborativa

Por Karina Toledo, da Agência Fapesp

A FAPESP e a Universidade da Califórnia (UC) em Davis, nos Estados Unidos, anunciaram na terça-feira (12/05) o lançamento de um novo programa para estimular a pesquisa colaborativa nas áreas de Ciências Físicas, Engenharia, Ciências Biomédicas e Agricultura – no âmbito do acordo de cooperação firmado entre as duas instituições em 2012.
O anúncio foi feito durante a abertura da FAPESP Week UC Davis in Brazil, evento que reúne em São Paulo, até 13 de maio, 26 cientistas da universidade californiana e de instituições no Estado de São Paulo para apresentação de resultados de pesquisas em diversas áreas do conhecimento. O encontro dá sequência à FAPESP Week California, realizada em novembro de 2014, em Davis e em Berkeley, nos Estados Unidos.
“Mantemos uma forte colaboração com a FAPESP nas áreas de ciências sociais e humanidades e, devido a esse sucesso, decidimos expandir nossa parceria para outras áreas”, contou Harris Lewin, vice-reitor de Pesquisa da UC Davis.
De acordo com Lewin, serão financiados conjuntamente dez projetos com dois anos de duração. A primeira chamada de propostas deverá ser lançada até o fim de 2015.
Lewin ressaltou o forte caráter interdisciplinar da pesquisa realizada na UC Davis, um lugar onde “os muros existentes entre as disciplinas são facilmente quebrados”.
“Nossas principais áreas de interesse para os próximos anos são segurança alimentar, segurança hídrica, sociedade, saúde, energia, ambiente, transportes e ciência de materiais. Nossas disciplinas se interseccionam de forma que as pesquisas tenham impacto em todas essas áreas, que se relacionam com desafios globais e com muitos dos temas tratados nos centros financiados pela FAPESP em São Paulo. Há uma afinidade natural entre o que está ocorrendo na UC Davis e o que está se passando aqui em São Paulo”, destacou.
Na avaliação de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, o modelo de pesquisa interdisciplinar colaborativa da UC Davis é inspirador e mostra algumas características acadêmicas importantes, coerentes com a busca por maior impacto das universidades em São Paulo.
“Especialmente interessante é a forma como os centros de pesquisa são orientados para a resolução de problemas. É realmente interessante e será uma grande nova oportunidade para cientistas de São Paulo colaborarem com colegas da UC Davis”, destacou.
Também presente na mesa de abertura do evento, Paul Dodd, vice-reitor associado de Pesquisa Interdisciplinar e Iniciativas Estratégicas da UC Davis, ressaltou o “incrível trabalho que a FAPESP tem feito para colocar a ciência de São Paulo no mapa mundial”.
“Nós interagimos com muitas agências de fomento em todo o mundo, mas não conheço uma única que faça mais do que a FAPESP para projetar sua pesquisa em outras regiões”, disse Dodd.
O vice-presidente da FAPESP, Eduardo Moacyr Krieger, destacou que a FAPESP Week – evento já realizado diversas vezes nos Estados Unidos e também em países como Inglaterra, Alemanha, Espanha, Argentina, Canadá, Japão e China – tem sido um importante mecanismo para fomentar a colaboração dos cientistas paulistas com colegas de todo o mundo.
Krieger lembrou ainda que, pela primeira vez, o evento é realizado no Brasil e foi formalmente inaugurado na noite do dia 11 de maio com uma visita ao Museu do Futebol, localizado no Estádio do Pacaembu.
“Em termos de futebol, o Brasil é um top player, reconhecido mundialmente. Na ciência estamos começando, assim como os Estados Unidos ainda estão começando no futebol. Mas acredito que em poucos anos vocês possam se tornar vencedores da Copa do Mundo e nós um dos maiores da ciência”, disse Krieger.
Além dos pesquisadores que integram a delegação norte-americana, participaram da visita ao Museu do Futebol o presidente da FAPESP, Celso Lafer, Brito Cruz, Lewin, Dodd e Luiz Laurent Bloch, diretor executivo do IDBrasil, organização social de cultura que faz a gestão do Museu do Futebol.
“Estamos felizes com o fato de a primeira FAPESP Week sediada em São Paulo ser realizada em colaboração com a UC Davis, que mantém muitos contatos conosco e nos recebeu no ano passado em sua sede”, ressaltou Lafer.
“Também estamos felizes por iniciar o evento com esta visita ao Museu do Futebol, um exemplo de inovação na concepção de um museu e, ao mesmo tempo, um exemplo de como é possível usar novos recursos para passar uma mensagem. É algo que vem sendo feito em São Paulo e é parte do ambiente da FAPESP”, disse Lafer referindo-se ao apoio da Fundação para a estruturação do Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), que integra o Museu do Futebol e é composto por uma biblioteca, uma midiateca e por uma base de dados on-line para acesso ao acervo e demais conteúdos gerados por meio de pesquisas.