quarta-feira, 13 de maio de 2015

Musa: espaço de contemplação e conhecimento na Amazônia

Por Fabrício Ângelo

Um local onde as pessoas tenham o contato direto com a biodiversidade amazônica e conheçam sobre as diversas dinâmicas que mantém a floresta viva. Desde uma semente de breu-branco a uma onça parda. Um museu vivo, dentro do bioma, onde adultos e crianças possam aprender e ser sensibilizados sobre a importância de cada espécie que ali cresce.


A cada empreendimento imobiliário erguido em Manaus, um pedaço da floresta amazônica desaparece.  O município vem crescendo desenfreadamente e, infelizmente, a cultura das invasões permanece. Por isso é tão necessária a criação de espaços que preservem um pouco do que resta desse bioma.

Localizada na Zona Leste de Manaus, a Reserva Florestal Adolpho Ducke foi criada em 1962 pelo Governo do Amazonas e é administrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Com uma área de 10.000 hectares (100km²), o local ainda abriga o Jardim Botânico de Manaus e o Museu da Amazônia (Musa).

De acordo com o site do Inpa, as atividades de pesquisa na Reserva iniciaram-se em 1963. Desde sua criação, centenas de estudos sobre a biodiversidade foram realizados na reserva, gerando um volume de conhecimento científico que coloca a Ducke entre os mais produtivos sítios de estudo nos trópicos. Atualmente, cerca de 50 pesquisadores e 40 estudantes de pós-graduação trabalham na área.

O museu nasceu de um projeto do Governo do Estado por meio SECTI-AM, UEA e da Fapeam. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTAMUSEU VIVO E METRÓPOLE
Em janeiro de 2009, foi criado o Museu da Amazônia (Musa) em uma área de 100 hectares, dentro do Jardim Botânico de Manaus. Segundo o diretor geral da instituição, Prof. Ênio Candotti, o museu nasceu de um projeto do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (SECTI-AM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), financiado pelo Fundo Amazônia e Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas (Fapeam). “A ideia foi  criar um museu vivo na floresta, um passeio com informações sobre o bioma e suas características”, disse.

Segundo Candotti, existem espaços em cidades como Paris e Nova York que apresentam um pouco da biodiversidade amazônica, mas são amostras não naturais. “O nosso mote é conhecer para conservar, para que possamos mostrar à população que é preciso valorizar a floresta e assim contribuir para sua conservação”, afirmou.

Outro ponto destacado pelo professor é que em sua visão a preservação não deve ser considerada um problema de polícia, de punição, mas sim de educação. “O conhecimento a respeito da dinâmica da importância da floresta é muito reduzido, só conseguiremos apoio para sua proteção quando as pessoas se derem conta, por meio da pesquisa e do conhecimento básico, de quanto ela é fundamental para a vida humana”.

Conforme a bióloga Carla Araki, coordenadora dos monitores do Musa, a  cidade vem crescendo muito e chegando dentro dos limites da Reserva  Ducke. “Preocupados com isso, em 2000, o Inpa e a prefeitura de Manaus  criaram o Jardim Botânico com o intuito de trabalhar o conceito de  educação ambiental, principalmente com a população do entorno”,  esclareceu.
Por não ser cercada o risco de invasão da área é iminente e preocupante.  De acordo com Carla, isso precisa ser alertado à sociedade. “É uma área que  é  estudada há mais de 50 anos e não conhecemos nem 10% de suas  potencialidades. Por ser um local de mata primária e contínua existe um  grande fluxo de fauna, como onça e gavião real, e diversidade de flora, e isso  precisa ser preservado”, alertou.

O Musa conta com alguns atrativos que trazem a população local e turistas  para a visitação. “Contamos com três quilômetros de trilhas e iremos  inaugurar uma torre de observação de 42 metros onde é possível ter a visão  de toda a área da reserva acima da copa das árvores”.
Outras atrações estão sendo construídas como um borboletário e um serpentário que devem ficar prontos em breve.

FLORESTA VISTA DE CIMA
A estrutura da torre tem 42 metros de altura, com três plataformas. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTA
A estrutura da torre tem 42 metros de altura,
com três plataformas.
Durante o período da Copa do Mundo, o museu abriu a sua torre de observação aproveitando o fluxo de turistas, principalmente estrangeiros, para compartilhar a experiência de observar a floresta.
Segundo o diretor operacional do Musa, Roberto Moraes, essa estrutura tem 42 metros de altura, com três plataformas, uma ao chegar aos 14 metros, outra aos 23 e a final, ao todo são 242 degraus. "Ela foi construída em Cuiabá e trazida a Manaus desmontada”.


A montagem da torre foi feita em 100 dias e “manualmente”, sem o auxílio de equipamentos de grande porte como guindastes, o que ajudou a reduzir ao máximo o impacto na área. “Agora estamos na parte final, que é a pintura, isso vai evitar problemas futuros com a corrosão do material. Ainda faremos pequenos ajustes para melhorar o conforto dos visitantes”, disse Moraes.
Da torre percebe-se a variação das alturas das árvores, da temperatura e também uma infinidade de frutos difíceis de identificar. A primeira plataforma aproxima o observador dos troncos e torna possível avistar pássaros e belas borboletas.
Com o auxílio do guia e estudante de Ciências Naturais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Andrews Gabriel, a visita envolve o aprendizado sobre as belezas e curiosidades do lugar, numa sensação que nem se percebes tão temidos duzentos degraus.

A última plataforma propicia duas visões totalmente diferentes, uma de rara beleza, imensidão e diversidade de árvores que compõem a mais bela paisagem de Manaus; a outra de proximidade dos bairros do entorno e a sensação de pressão que exercem sobre a reserva.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Rubens Gatto e sua esposa, a dentista Aelia Gatto, de São José dos Campos (SP), consideram extremamente importantes esses espaços de visitação, pois ajudam na manutenção e conhecimento de um bioma, além das belezas naturais. “Consideramos que pela quantidade de pessoas que visitam o museu o respeito quanto à limpeza e preservação é fantástico”, disse Rubens.

Visitando Manaus e a Amazônia pela primeira vez, o casal afirma que pretende retornar. “Gostaríamos de conhecer o interior do Estado que todos falam ser muito bonito e preservado”, quem sabe um dia ir à São Gabriel da Cachoeira, fazer um passeio de barco”, disse a dentista.

Fotos: Eduardo Gomes

Fonte: Portal Ciência em Pauta

Nenhum comentário: