Washington Castilhos
O assunto foi discutido por especialistas de diferentes áreas, reunidos no Rio de Janeiro no 1º Simpósio Brasileiro de Mudanças Ambientais Globais, que termina nesta segunda-feira (12/3). O encontro é promovido pela Academia Brasileira de Ciências, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). “O acordo para o uso da tecnologia do álcool nos Estados Unidos é uma ótima oportunidade para o Brasil, que irá vender tecnologia. Mas não será bom se o país virar uma grande monocultura de cana-de-açúcar por conta desse acordo”, avaliou o engenheiro agrônomo Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Segundo ele, a produção da cana-de-açúcar em larga escala poderá resultar em graves impactos sociais e ambientais. “Pensando-se somente no ponto de vista energético e econômico pode-se ter conseqüências ambientais sérias”, disse em entrevista à Agência FAPESP. Para o pesquisador, é importante avançar na bioenergia, mas sem dissociar o etanol e o biodiesel.
Agência FAPESP - Como o sr. avalia, do ponto de vista agronômico, o termo de cooperação tecnológica entre Brasil e Estados Unidos para a produção de biocombustíveis?
Eduardo Assad - Não existe solução simples. O acordo do uso da tecnologia do álcool nos Estados Unidos é uma ótima oportunidade para o Brasil, mas, a partir daí, temos de pensar se queremos transformar o país em um grande canavial. Não podemos correr o risco da monocultura. Esse acordo já deveria ter sido assinado há 30 anos, mas o etanol tem que ser pensado e discutido junto ao biodiesel, sem dissociar um do outro. O biodiesel é um combustível produzido a partir de óleos vegetais extraídos de diversas matérias-primas, como palma, mamona, soja, girassol, dendê e algodão, entre outras. O leque de recursos naturais no Brasil é muito grande. Temos que produzir cana-de-açúcar, mas não somente usá-la como uma oportunidade de mercado. É necessário levar em conta os aspectos da adaptabilidade e mitigação. Por que plantar cana-de-açúcar em regiões onde se cultiva o dendê, por exemplo?
Agência FAPESP - Quais as regiões mais propícias para o cultivo da cana-de-açúcar? Fala-se em aproveitar terras não cultivadas na Amazônia e no Pantanal?
Assad - A primeira questão a se avaliar é a aptidão da região. Nem todas as regiões estão prontas para o plantio da cana-de-açúcar. São Paulo e Pernambuco são os Estados onde mais se planta. Tocantins, Goiás e o sul do Maranhão também têm condições climáticas favoráveis. Por outro lado, o Pantanal é uma região de regime climático frágil. Mesmo coberto de rios, conta com uma deficiência hídrica muito grande. Já a Amazônia precisa desse déficit hídrico. É uma região onde há excesso de água e altas temperaturas e muita umidade, características que também dificultam o cultivo da cana. O excesso de umidade reduz a produção de sacarose.
Agência FAPESP - A questão da mudança climática e o superaquecimento do planeta são fatores importantes e que devem ser levados em conta?
Assad - Já existe um acordo entre o Ministério da Agricultura e a Casa Civil no sentido de fazer o zoneamento de risco climático do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil. Esse zoneamento, no entanto, não tem levado em conta a questão da mudança climática. Mas temos que incorporar essa discussão para saber, por exemplo, até quando a cultura da cana será sustentável. O aquecimento global já chegou a 1 grau. O problema é saber quando vai atingir os 3 graus.
Agência FAPESP - Mas, do ponto de vista econômico, o Brasil não está fazendo um bom negócio?
Assad - Sim, mas temos de pensar nos impactos que as culturas vão trazer do ponto de vista econômico, social, ambiental e energético. Pensando-se somente no energético, pode-se ter conseqüências ambientais sérias.
Fonte: Agência Fapesp
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