Thiago Romero
Nos últimos 30 anos, o padrão alimentar das famílias brasileiras se modificou: o consumo domiciliar de itens que demandam maior tempo de preparo diminuiu enquanto aumentou a demanda por refeições prontas ou consumidas fora de casa. O assunto foi analisado por Ana Lúcia Kassouf, professora titular do Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba (SP), e por Madalena Maria Schlindwein, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, em Francisco Beltrão (PR), em artigo publicado na Revista de Economia e Sociologia Rural.
Segundo as pesquisadoras, de 1974 a 2003 houve uma redução de 46% na aquisição domiciliar de arroz e 37% na de feijão. Em contrapartida, foi verificado um aumento significativo na aquisição de alimentos preparados (216%), refrigerantes (490%) e iogurtes (702%). Segundo Ana Lúcia Kassouf, as alterações no padrão de consumo alimentar se devem a mudanças socioeconômicas e demográficas, como a intensificação do processo de urbanização e o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho. “Quanto maior é o grau de escolaridade das mulheres, que é quem geralmente prepara as refeições, menor é o consumo de alimentos que demoram mais tempo para ficar prontos, como arroz, feijão e carnes”, disse ela à Agência FAPESP. “A opção por alimentos prontos aumenta com a possibilidade de melhores salários por parte das mulheres ou por conta delas ficarem muito tempo fora de casa, trabalhando”, apontou.
As pesquisadoras analisaram dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgados em 2003 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A POF mensura estruturas de consumo, gastos e rendimentos das famílias para traçar um perfil das condições de vida da população brasileira. Foram entrevistados moradores de 48.470 domicílios das áreas urbanas e rurais de todo o país na edição da POF utilizada no estudo de Ana Lúcia e Madalena.
Carnes em consumo per capita
O consumo per capita de carnes também foi analisado, ficando em 17 quilos (bovina), 13 quilos (frango) e 4 quilos (suína), levando em consideração tanto o meio urbano quanto o rural. Neste último, o consumo de carne suína ficou em 7 quilos. “O maior consumo de carne suína nas áreas rurais pode estar relacionado com a criação de porcos, ainda comum em pequenas propriedades. Esse tipo de consumo é menor nas cidades devido aos mitos de que a carne de porco é extremamente gordurosa, além de que há uma tendência voltada para as comidas mais saudáveis”, disse Ana Lúcia. A região Norte foi constatada como a maior consumidora per capita de carne bovina e de frango entre todas as regiões do país. O Sul liderou na carne suína. O Sudeste teve o menor consumo de carne bovina, enquanto o Nordeste ficou em último em carne suína e o Centro-Oeste foi o que menos consumiu frango. O gasto médio mensal familiar no Brasil com carne bovina é de R$ 26, maior que os dispêndios com frango (R$ 12) e carne suína (R$ 5). “A renda domiciliar também confirmou a sua importância tanto no consumo como nos gastos familiares com alimentação. O aumento da renda eleva a probabilidade de consumo dos alimentos”, disse a professora da Esalq.
Para ler o artigo Análise da influência de alguns fatores socioeconômicos e demográficos no consumo domiciliar de carnes no Brasil, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme), clique aqui.
Fonte: Agência Fapesp
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