sexta-feira, 16 de março de 2007

A boticária da Caatinga


Perereca produz secreção rica em compostos capazes de eliminar bactérias e reduzir a pressão arterial (foto: Eduardo Cesar)

Iracema Corso

Uma perereca verde com listras negras e alaranjadas ao lado do corpo produz uma secreção cutânea que mantém sua pele úmida mesmo sob o sol intenso da Caatinga do Rio Grande do Norte, onde vive a maior população dessa espécie na América Latina.

É uma gelatina viscosa e transparente que protege a Phyllomedusa hipocondrialis da desidratação e a torna uma refeição indigesta para seus predadores por conter uma mistura de proteínas tóxicas. Analisando sua composição, biólogos de São Paulo e Minas Gerais descobriram que ela pode ser útil também para os seres humanos. Eles identificaram na secreção da Phyllomedusa hipocondrialis peptídeos (fragmentos de proteína) capazes de eliminar bactérias causadoras de diarréias ou infecções hospitalares e até mesmo de reduzir a pressão arterial. A equipe coordenada por Daniel Pimenta, do Instituto Butantan, em São Paulo, coletou amostras de secreção de 12 exemplares da Phyllomedusa capturados em Angicos, no Rio Grande do Norte. Ao diluí-la em diferentes solventes, os pesquisadores conseguiram separar três peptídeos que ainda não haviam sido identificados.

Testes em laboratório mostraram que dois deles – a filosseptina-7 e a dermasseptina-1– são potentes bactericidas, capazes de eliminar quatro espécies de bactérias ligadas a problemas de saúde que afetam os seres humanos: a Micrococcus luteus, que provoca lesões de pele conhecidas como impetigo; a Staphylococcus aureus, causadora de infecção hospitalar; a Escherichia coli, associada à diarréia; e a Pseudomonas aeruginosa, comum nas infecções respiratórias. Tanto a filosseptina-7 como a dermasseptina-1 atuam da mesma forma. Abrem pequenos poros na parede celular das bactérias, matando-as, como descreveu a equipe de Pimenta, formada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Ezequiel Dias, em Minas Gerais, em um artigo na Peptides de dezembro de 2006.

Outra descoberta amplia o interesse sobre o potencial farmacológico dessas moléculas. Misturadas ao sangue humano, a filosseptina-7 e a dermasseptina-1 não danificam as hemácias, responsáveis pelo transporte de oxigênio. “Essa é uma indicação de que provavelmente essas moléculas não sejam tóxicas para os seres humanos”, explica Pimenta, que há cinco anos investiga as propriedades medicinais de compostos encontrados na secreção de anfíbios. Clique aqui para ler o texto completo na edição 133 de Pesquisa FAPESP.

Fonte: Agência Fapesp

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