Um dos principais agentes poluidores no estado de Santa Catarina, o porco pode ser agora uma nova fonte de energia alternativa. (Foto: Artur Milani Bento)
Nova tecnologia permite obter energia elétrica a partir de dejetos suínos
Sempre associados a sujeira e falta de higiene, os porcos podem ser agora a mais nova fonte de energia alternativa, limpa e renovável. É que um grupo de cientistas do Centro de Pesquisas em Energias Alternativas e Renováveis (CPEAR), da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), acaba de desenvolver um novo processo que permite obter energia elétrica a partir de dejetos suínos sem liberação de gases poluentes. Além de oferecer uma opção a mais de acesso à energia, a técnica ajudará a reduzir a poluição de solos e mananciais, um problema cada vez mais grave no Sul do Brasil, onde a suinocultura é uma das principais atividades em pequenas e médias propriedades rurais.
O engenheiro João Luiz Alkaim, coordenador do CPEAR, conta que a geração de energia a partir de agentes poluentes já é realizada há muito tempo, por meio da combustão do gás metano liberado pelo lixo orgânico em decomposição. “A novidade é que agora não há queima”, explica. “O sistema extrai gás hidrogênio do dejeto suíno e, a partir desse hidrogênio, é possível construir uma célula combustível, espécie de bateria altamente eficiente.” O Biogás-H, como é chamado o sistema, funciona em três etapas. Primeiro, os dejetos são lançados em um biodigestor anaeróbico, que decompõe a matéria orgânica digerível por bactérias e a transforma em biogás. O efluente que sobra desse processo pode ser usado para fins agrícolas, como adubo. A segunda etapa é a de limpeza do biogás. Dali sai o gás metano puro, que vai para um reformador, misturado a vapor d’água. O reformador é o equipamento que extrai o gás hidrogênio, que poderá, finalmente, ser injetado em uma célula combustível. A célula combustível é capaz de gerar eletricidade a partir de uma reação química, usando como reagentes apenas hidrogênio e oxigênio. “Por ser muito eficiente e não emitir substâncias poluentes, será a fonte de energia do futuro”, prevê Alkaim. Como subproduto, a célula gera água pura, que, misturada a sais minerais, se torna potável.
Estaria aí a solução para um sério problema enfrentado em Santa Catarina. O estado detém o maior rebanho de porcos do país, com aproximadamente 4,5 milhões de cabeças (17% da população nacional de suínos). Esse número parece ainda maior se correlacionado à pequena extensão territorial do estado, que ocupa apenas 1,12% do território brasileiro. Mas os órgãos ambientais consideram a suinocultura uma atividade potencialmente causadora de degradação do meio ambiente, por causa dos dejetos produzidos pelos animais. O crescimento acelerado da atividade trouxe consigo a produção de grande quantidade de matéria fecal, que, por falta de tratamento adequado, se transformou na maior fonte poluidora dos mananciais de água nas áreas onde é praticada. Foi daí que surgiu a idéia de utilizar o dejeto suíno na produção de energia. “Além de reduzir a poluição, é possível, com o rebanho que temos, abastecer pequenas cidades com energia proveniente de células combustíveis”, diz o engenheiro. Alkaim conta que a energia gerada pelos dejetos produzidos por um rebanho de mil suínos foi estipulada em 2,5 kW (quilowatts) por hora, em média – o suficiente para atender à demanda de uma escola ou três casas. Ele conta ainda que o mesmo processo pode ser realizado com dejetos de outros animais. O projeto, que conta com a parceria da Eletrosul e da iniciativa privada, deve colocar o primeiro protótipo em funcionamento ainda neste semestre. “Em breve, será possível a produção em larga escala”, diz.
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