Por Fabio Reynol, da Agência FAPESP
O Brasil precisa aumentar o número de pesquisadores que atuam em modelagem climática. Essa é a opinião de Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), que considera esse o maior desafio para que o país continue crescendo na área.
O Brasil precisa aumentar o número de pesquisadores que atuam em modelagem climática. Essa é a opinião de Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), que considera esse o maior desafio para que o país continue crescendo na área.
Nobre, que também é coordenador executivo do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas, falou sobre os desafios e obstáculos para o desenvolvimento de modelos climáticos no país no Faculty Summit 2010 América Latina, evento promovido pela FAPESP e pela Microsoft Research em maio, no Guarujá (SP).
Ele destacou a complexidade das pesquisas climáticas, que envolvem variadas áreas do conhecimento – como física, química, biologia e hidrologia –, além de detalhes como influências do solo, da vegetação, dos oceanos e da própria atmosfera, entre outros.
“Desenvolver um modelo computacional para simulações climáticas que considere cenários futuros e projeções para vários anos é uma tarefa muito complexa. Envolve uma imensa quantidade de variáveis e depende de capacidade de processamento igualmente grande”, disse à Agência FAPESP.
Diante desses desafios, por que o Brasil decidiu desenvolver um modelo próprio, quando há muitos já prontos em outros países? “O primeiro motivo é que precisamos desenvolver a capacidade do país nessa área”, disse.
Segundo Nobre, formar novas gerações de pesquisadores em clima e ter autonomia nessa área é estratégico para um país que baseia boa parte de sua economia em agricultura e lidera a produção de bioenergia, com destaque para o etanol da cana-de-açúcar.
Outro motivo é se manter na vanguarda da modelização do clima. “Precisamos desenvolver também as novas gerações de modelos climáticos”, apontou.
A autonomia brasileira na área também beneficia outros países, especialmente os latino-americanos vizinhos, que partilham de sistemas climáticos próximos. A troca de informações seria útil também para nações africanas. Esses fatos justificariam a defesa de um aumento na colaboração entre pesquisadores do “Sul”, incluindo a Índia.
No entanto, o desenvolvimento brasileiro na modelagem climática está limitado ao número de pesquisadores que se dedicam à área. Atualmente, o país conta com pouco mais de meia centena de profissionais especializados na construção de modelos climáticos.
“O que temos hoje é uma massa crítica mínima. Queremos triplicar esse número dentro de dez anos”, disse Nobre. O pesquisador indica que deveremos dobrar esse número dentro dos próximos cinco anos. Outros centros avançados de modelagem climática de países desenvolvidos em pesquisa em clima contam com um mínimo de 150 especialistas, número que esse esforço nacional em modelagem climática pretende alcançar por volta do ano de 2020.
Supercomputador climático
Com exceção do número de pesquisadores, o Brasil já conta com fatores que o colocam em um lugar privilegiado na pesquisa climática. “Temos quase 20 anos de experiência no assunto, nossos modelos produzem previsões de tempo e da tendência climática sazonal com bons índices de acerto, e agora temos também infraestrutura computacional”, disse Nobre.
O pesquisador se refere ao supercomputador recém-adquirido pelo Inpe com apoio da FAPESP, que tem velocidade efetiva de 15 teraflops na aplicação de modelagem e que deverá entrar em operação até o fim do ano.
Nobre explica que a modelagem climática envolve milhares de variáveis – simulações repetidas que podem chegar, cumulativamente, a centenas de milhares de anos –, considera diferentes cenários e ainda deve apresentar boa resolução. Todos esses fatores exigem uma alta capacidade de processamento, um trabalho que só é possível para os supercomputadores.
O novo sistema de supercomputação custou R$ 50 milhões, sendo R$ 15 milhões da FAPESP e R$ 35 milhões do Ministério da Ciência e da Tecnologia, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). “Esse computador está entre os cinco maiores do mundo voltados à modelagem climática”, disse Nobre.
Com a infraestrutura adequada, o Inpe pretende desenvolver nos próximos anos modelos climáticos de quinta geração, que integram ainda mais processos relevantes ao clima e que são, por conta disso, muito mais complexos.
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