terça-feira, 31 de julho de 2012

Consulta pública sobre unidade de conservação pode ser regulamentada


Por Jaciene Alves, da Agência Cãmara

A Câmara analisa o Projeto de Lei 2974/11, do deputado licenciado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que regulamenta o processo de consulta pública para a criação de unidades de conservação da natureza. A proposta acrescenta dispositivo à Lei 9985/00, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

De acordo com a legislação atual é considerado unidade de conservação, por exemplo, o espaço territorial e seus recursos ambientais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivo de conservação e que recebe garantias de proteção.

Definição das consultas
O texto define a consulta pública como reuniões públicas promovidas pelo órgão ambiental competente para ouvir a população e outras partes interessadas. O edital de convocação para a audiência pública deverá ser publicado no Diário Oficial da União ou do Estado, nos principais jornais da região onde ocorrerá a consulta, afixado na prefeitura e na Câmara de Vereadores e veiculado no site da instituição federal, estadual ou municipal na internet, conforme o caso, com antecedência mínima de 45 dias da data de realização da audiência.

O edital de convocação para a audiência pública deverá conter a data e o local da reunião, informar a instituição responsável, o objetivo do encontro, o site na internet, endereço, fax e telefone que viabilizem a participação a distância, além de divulgar o prazo para o recebimento de sugestões.

Ainda de acordo com o projeto, a instituição que propuser a audiência deverá enviar correspondência às instituições públicas e privadas interessadas, convidando-as para a audiência. E ainda deverá fazer contato com as lideranças locais, os agentes comunitários e as instituições locais para divulgar e buscar apoio para a divulgação da audiência.

Divulgação
Caso a proposta se transforme em lei, os estudos técnicos que fundamentam a proposta de criação da unidade de conservação ambiental devem estar disponíveis na internet e no escritório local, regional ou na sede da instituição proponente, com antecedência mínima de 45 dias da data de realização da audiência pública.

O autor do projeto, hoje ministro das Cidades,  afirma que a lei que trata da criação de unidades de conservação não estabelece nenhum critério ou norma para a realização das consultas públicas, o que tem, segundo o deputado, gerado uma série de problemas, tanto para a população afetada pela criação de unidades de conservação quanto para os órgãos ambientais que propõem a criação dessas unidades.

Aguinaldo Ribeiro reclama que em muitos casos as populações locais não têm acesso aos estudos técnicos que fundamentam as propostas de criação das unidades em tempo hábil, antes das audiências públicas convocadas para a sua discussão. “Por outro lado, a ausência dessas normas tem motivado a proposição de ações judiciais que prejudicam o processo de criação dessas áreas”, argumentou.

Tramitação
O projeto tramita pelas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Constituição e Justiça e de Cidadania em caráter conclusivo.


Íntegra da proposta:

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Contribuição dos agentes polinizadores para a biodiversidade

Por Fábio de Castro, da  Agência FAPESP 

Por terem um papel crítico na conservação da biodiversidade e na agricultura, os agentes polinizadores são uma preocupação mundial. Sistematizar o conhecimento adquirido sobre o tema no Brasil, nos últimos anos, é o objetivo do livro Polinizadores no Brasil – Contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais, que será lançado nesta quinta-feira (26/07), durante o 10º Encontro sobre Abelhas de Ribeirão Preto, na cidade do interior paulista.

Resultado de Projeto Temático, livro que será lançado no dia 26 destaca preocupação com os polinizadores, cujo declínio tem consequências desastrosas tanto para a biodiversidade como para o agronegócio
Produzido pelo Grupo de Pesquisa de Serviços Ambientais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), o livro é resultado de pesquisas que envolveram 85 pesquisadores de 36 instituições científicas, com a finalidade de conhecer a situação dos polinizadores do Brasil, seu impacto na agricultura, na biodiversidade e no agronegócio.

A publicação deriva de estudos apoiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Fundo Setorial do Agronegócio. Essas pesquisas, por sua vez, tiveram base nos resultados do Projeto Temático “Biodiversidade e uso sustentável de polinizadores, com ênfase em abelhas Meliponini”, coordenado por Vera Lucia Imperatriz Fonseca e realizado no âmbito do programa BIOTA-FAPESP.

Coordenadora do Grupo do IEA, Fonseca também liderou a organização do livro. Os outros organizadores e vice-coordenadores do grupo são Antonio Mauro Saraiva, da Escola Politécnica da USP, e Dora Ann Lange Canhos, do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria). Fonseca atualmente é professora visitante sênior na Universidade Federal Rural do Semiárido.

“O Projeto Temático, encerrado em 2010, foi muito bem-sucedido e, além de possibilitar a formação de pessoal especializado, até hoje apresenta resultados na forma de publicações e teses. O livro é o primeiro documento em português que aborda o conhecimento atualizado sobre polinizadores no Brasil, tanto em áreas naturais como em agroecossistemas”, disse Fonseca à Agência FAPESP.

A qualidade da pesquisa realizada no Temático, segundo Fonseca, foi reconhecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ganhando uma menção honrosa da edição 2011 do Prêmio Capes de Tese Edição e duas indicações para a edição de 2012.

Segundo Fonseca, a preocupação mundial com os polinizadores tem aumentado, uma vez que o seu declínio tem consequências desastrosas tanto para a biodiversidade como para o agronegócio.

Os riscos de perda dos serviços de polinização são especialmente graves quando a agricultura é dependente de uma espécie de polinizador. “O livro está sendo publicado em um momento importante, no qual o desaparecimento das abelhas começa a ser notado também no Brasil”, disse Fonseca.

Segundo ela, o desaparecimento das abelhas foi detectado em 2007 no hemisfério Norte. Na América do Norte, a perda tem sido de 30% das colônias por ano, com necessidade de importação de abelhas para promover a polinização na agricultura. Na Comunidade Europeia, a perda também é expressiva e preocupante. No Brasil, os primeiros casos foram detectados em 2011.

“O livro tem o objetivo de apresentar o tema com foco no Brasil, mas com um resumo da situação global, incluindo uma proposta de estratégia de desenvolvimento da área para o Brasil”, disse Fonseca.

Ação humana
Segundo Fonseca, o livro não esgota o assunto, mas representa uma mobilização sem precedentes da comunidade brasileira de estudos sobre abelhas e polinizadores. “Além dos resultados das nossas pesquisas, o livro também tem o objetivo de formular uma política pública para polinizadores”, disse.

Temas como a importância da paisagem agrícola na manutenção dos serviços dos polinizadores e a necessidade de aumentar o número de coleções biológicas para o estudo da fauna de abelhas são alguns dos destaques do livro. A obra aborda também espécies invasoras e o efeito das ações antrópicas sobre a conservação e uso dos polinizadores.

“Outro destaque é a questão do desaparecimento das abelhas, que permeia todo o livro. O conhecimento começa a avançar nessa área e o livro mostra como esse desaparecimento pode ter ligação com alterações comportamentais humanas – como aumento do uso de pesticidas – e alterações climáticas que podem fragmentar populações desses animais”, explicou Fonseca.

A primeira parte do livro consiste em um estudo da conservação de biomas e as síndromes de polinização e polinizadores vertebrados, apresentando uma lista inédita desses agentes reunida por especialistas brasileiros.

“Nas partes subsequentes, temos uma série de artigos que tratam de polinizadores como besouros e mariposas, mas concentram-se nas abelhas, os polinizadores mais manejados para a agricultura”, disse Fonseca.

Os artigos tratam também de bases de dados de plantas e polinizadores, dos métodos de avaliação de biodiversidade, das coleções de polinizadores e informatização dos acervos, da construção de palinotecas (coleção de grãos de pólen) e sua importância para manejo de polinizadores.

“O livro apresenta ainda uma série de estudos de caso que utilizam a modelagem preditiva como método de comunicação com os tomadores de decisão, abordando eventos climáticos previstos pelo IPCC. Toda a parte de modelagem foi desenvolvida no Projeto Temático”, disse Fonseca.

Polinizadores no Brasil – Contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais
Organizadores: Vera Lucia Imperatriz Fonseca, Antonio Mauro Saraiva e Dora Ann Lange Canhos.
Lançamento: 2012
Preço: R$ 130
Páginas: 488
Mais informações: www.edusp.com.br/detlivro.asp?ID=413445

Japão busca alternativas para energia nuclear

Por Washington Castilhos, da Agência FAPESP 


Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Centro Internacional de Gerenciamento de Riscos do Japão, fala sobre melhoria da eficiência energética e popularização da energia solar como alternativas para o uso de energia nuclear (foto:W.Castilhos)

Desde a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, estima-se que os desastres naturais (grande parte relacionada à mudança no clima) foram responsáveis pelas mortes de 1,3 milhão de pessoas no mundo, afetaram 4,4 bilhões e resultaram em perdas econômicas de US$ 2 trilhões.

Segundo Kuniyoshi Takeuchi, diretor do Centro Internacional de Gerenciamento de Riscos do Instituto Público de Pesquisas do Japão, o acidente na central nuclear de Fukushima mudou a equação energética mundial.

“Mudou no sentido de que os países que tinham a responsabilidade de tratar problemas internacionais estão se voltando para dentro, a fim de resolver seus problemas nacionais e domésticos”, disse Takeuchi, que participou da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), em junho último.

O centro que Takeuchi dirige tem ajudado o Japão a desenhar estratégias contra a ocorrência de acidentes, principalmente os relacionados à água, como o tsunami, que em 2011 inundou parte do território do país e causou o acidente em Fukushima.

Em entrevista à Agência FAPESP, Takeuchi, que integra o Programa Integrado de Pesquisa sobre Redução de Riscos de Desastres (IRDR, na sigla em inglês), falou também sobre algumas medidas que estão sendo tomadas no Japão para reduzir os riscos e as vulnerabilidades aos acidentes naturais.

Agência FAPESP – O senhor poderia destacar algumas lições trazidas pelo acidente nuclear em Fukushima?

Kuniyoshi Takeuchi – Aprendemos muito. Temos ainda que recuperar as perdas, estimadas entre 25 trilhões e 30 trilhões de ienes [de R$ 650 bilhões a R$ 790 bilhões], mas o acidente trouxe o tema da redução de desastres para a agenda da sustentabilidade. O assunto integrou o Zero Draft da RIO+20. Além disso, o acidente em Fukushima fez com que a população japonesa considerasse a possibilidade de se livrar das usinas de energia nuclear. Temos 53 reatores atualmente, que fornecem de 25% a 30% da nossa eletricidade. Porém, como o seu fechamento pode causar um grande impacto econômico no país, as já existentes deverão ser mantidas por ora. Mas, eventualmente, escolheremos outra linha de desenvolvimento sem as usinas nucleares.

Agência FAPESP – Que outras fontes de energia o Japão poderá empregar para substituir essa dependência da fonte nuclear?

Takeuchi – Estamos estimulando, por exemplo, o uso da energia solar. Ao mesmo tempo, promovemos a importante redução do consumo de energia elétrica junto à população. O processo acelerado de industrialização do Japão, especialmente no período de 1960 a 1980, fez com que o consumo de energia em nosso país crescesse muito. Agora, a população está mais cuidadosa com a questão do desperdício de energia.

Agência FAPESP – Quais práticas e estratégias estão sendo desenvolvidas no Japão no sentido da prevenção e da redução de riscos?

Takeuchi – Nesse sentido, o governo japonês trabalha essencialmente em dois níveis. O primeiro inclui a proteção da vida da população e da propriedade e a segurança alimentar, por meio de infraestruturas físicas que protejam contra tsunamis e outros desastres naturais. O segundo nível inclui a evacuação das áreas de risco. Ainda não sabemos qual será o impacto disso na economia, pois estamos apenas começando, mas temos a certeza da necessidade de se investir em políticas para lidar com os riscos. O mais importante é promover estratégias de adaptação aos desastres, uma vez que não temos como mudar o comportamento de fenômenos como tsunamis, terremotos ou ciclones.

Agência FAPESP – Mas os acidentes naturais muitas vezes contam com a colaboração das atividades humanas.

Takeuchi – Acidentes naturais são agravados pela ação humana em muitos casos, e isso ocorre em todos os locais, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Então, mais do que a resposta, a prevenção e a adaptação são ainda o melhor caminho de ação para lidar com os desastres. Fenômenos naturais são inexoráveis, mas isto não quer dizer que devemos nos resignar e ser apenas vítimas. Existem soluções inteligentes e produtivas para conviver com a natureza e nos adaptar às suas inevitáveis variações.

Agência FAPESP – Poderia citar algum exemplo?

Takeuchi – Precisamos lidar com isso de maneira integrada. Em 2008, o ciclone Nargis atingiu Myanmar e levou 150 mil vidas. Nesse caso, se o governo local tivesse aceitado a ajuda internacional teria havido muito menos mortes. Por outro lado, a preparação para o ciclone que atingiu Bangladesh em 2007 fez com que apenas 3 mil pessoas fossem vitimadas, devido aos avisos prévios e aos abrigos que foram construídos na costa do país. Do ponto de vista do acidente natural, a enchente da China de 1998 foi tão devastadora quanto as enchentes de 1931 e de 1954 que, juntas, mataram quase 180 mil pessoas. Em 1998, morreram mil pessoas. E isso foi resultado de um investimento importante no trabalho de gerenciamento de enchentes.

Pesquisadora do Inpa explana sobre áreas alagáveis amazônicas

Por Eduardo Gomes, do Inpa

Estudantes, pesquisadores e interessados em conhecer e entender mais sobre as áreas úmidas do Brasil participaram na tarde desta terça-feira (24), da mesa redonda intitulada “Ecossistemas de áreas úmidas brasileiras: vulnerabilidade e perspectivas de uso sustentável”, que contou com apresentações das pesquisadoras: Maria Tereza Piedade, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI); e Carolina Joana da Silva da Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT). O evento foi uma das atividades inseridas na programação da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).


Repiquete, períodos de seca e enchente, perda de biodiversidade, capacidade adaptativa que as populações tradicionais possuem para superar e se adaptar aos distúrbios e mudanças de variação climáticas, foram abordados na ocasião.

A pesquisadora do Inpa ministrou a palestra intitulada “As áreas inundáveis amazônicas: características, vulnerabilidade e perspectiva do uso sustentável”, para explicar sobre os ambientes Amazônicos e onde o nível de inundação muda ao longo do ano. “Na América do Sul é estimada uma cobertura de áreas úmidas em torno de 20%, e ocorrem em todos os biomas brasileiros, cada um com suas próprias características”, disse.

Outro aspecto abordado por Piedade foi o ritmo de crescimento das árvores nos ambientes alagáveis, estudados por meio da “dendrocronologia”, que permite aos pesquisadores saber o tempo de desenvolvimento das espécies arbóreas nas épocas de seca ou enchente.

Segundo a pesquisadora, nos últimos 20 anos os estudos apontam picos de cheias e secas mais intensas. Ela também falou sobre um modelo de estudo, utilizado como ferramenta que possibilita saber com dois meses de antecedência o pico de cheia nos rios na região amazônica, como o caso ocorrido no ano de 2012 no Amazonas, onde mais de 11 mil famílias sofreram com o período da cheia.

Sobre a pesquisadora
Pesquisadora do Inpa desde 1988, Maria Tereza Piedade estudou mestrado e doutorado em Ecologia no Inpa. Suas áreas de pesquisas são: ecologia de áreas úmidas, ecofisiologia da vegetação de áreas úmidas e uso sustentável de áreas alagáveis amazônicas.

Em 2011, Piedade foi agraciada, durante o Simpósio Latino Americano em Bonn na Alemanha, com o prêmio Joachim Adis de Ecologia Tropical Interdisciplinar, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido em prol da pesquisa.

Governo irá suspender portaria polêmica sobre terras indígenas

A Advocacia Geral da União (AGU) deve publicar um ato, nos próximos dias, suspendendo os efeitos da portaria 303/2012, que orienta o trabalho de seus advogados e procuradores em processos envolvendo terras indígenas. A partir da suspensão, o governo federal deve realizar audiências públicas com populações indígenas para consultá-las a respeito das novas regras em um prazo de 60 dias. A informação foi confirmada por fontes na Secretaria Geral da Presidência da República.

Sob a justificativa da soberania nacional, a portaria prevê que o governo pode intervir nessas áreas sem a necessidade de consultas às comunidades envolvidas ou à Fundação Nacional do Índio (Funai). Ou seja, instalar unidades ou postos militares, construir estradas ou ferrovias, explorar alternativas energéticas (leia-se hidrelétricas, termelétricas, usinas nucleares, entre outros) ou resguardar “riquezas de cunho estratégico” para o país – minerais ou vegetais, por exemplo.

A Constituição Federal, no seu artigo 231, afirma que a exploração de recursos hídricos e a construção de usinas hidrelétricas só podem ser feitas com a autorização do Congresso Nacional, desde que ouvidas as comunidades atingidas. Ao mesmo tempo, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, do qual o Brasil é signatário, estabelece que as populações tradicionais devem ser consultadas em situação assim.

A publicação da portaria, no dia 17 de julho, provocou fortes reações por parte de movimentos sociais e indígenas, organizações ambientalistas e de direitos humanos e em setores do próprio governo, como a Funai, pois ela também dificulta a expansão das terras indígenas. Do outro lado, recebeu manifestações acaloradas de apoio, como as da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que teria negociado os termos da portaria com a própria AGU. O Ministério Público Federal está atuando para derrubar os efeitos da portaria.

A decisão pela suspensão foi tomada após uma reunião entre representantes da Funai, da Secretaria Geral da Presidência da República, do Ministério da Justiça e da Advocacia Geral da União, entre outros. De acordo com fontes da Secretaria Geral, foi explicado à AGU que a portaria havia torpedeado um processo de discussão sobre a normatização da convenção 169 da OIT.

A Advocacia Geral da União havia usado como justificativa que, com essa portaria, acatava decisão do Supremo Tribunal Federal baseada na definição de condicionantes, em 2009, para a efetivação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Só que a corte afirmou que as condicionantes para demarcação valiam para aquele caso e não, necessariamente, para outros. O governo federal aproveitou a brecha e passou um pacotão do seu interesse.

A presidente da Funai, Marta Azevedo, estará, nesta semana, com comunidades indígenas Guarani Kaiowá que se reúnem na assembléia Aty Guassu, no Mato Grosso do Sul. O grupo, que esta envolvido em disputas de terra, seria um dos principais afetados pela medida.

Em comunicado à imprensa enviado na tarde desta terça (24), após a publicação deste post, a Funai também confirmou que Luis Inácio Adams, advogado-geral da União, concordou em publicar um ato de vacância da lei, suspendendo a vigência da portaria até que sejam ouvidos os povos indígenas.

* Com Verena Glass, da Repórter Brasil.

** Publicado originalmente no site Blog do Sakamoto.

Agricultor que vinha sofrendo ameaças morre após ser baleado em Apuí (AM)

Do Portal A Crítica.com

O agricultor Francisnilson João Constante de Souza, de 25 anos, se tornou mais uma vítima da violência rural recorrente no sul do Amazonas. Ele vinha sofrendo ameaças há alguns meses em função de um conflito de posse de terra no município de Apuí, e foi baleado, no último dia 15 de julho, enquanto voltava para casa



Equipe do Ibama identifica área desmatada, no município de Apuí, durante sobrevoo pela cidade
Equipe do Ibama identifica área desmatada, no município
de Apuí, durante sobrevoo pela cidade (Ibama)


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O agricultor Francisnilson João Constante de Souza, de 25 anos, se tornou mais uma vítima da violência rural recorrente no sul do Amazonas. Ele vinha sofrendo ameaças há alguns meses em função de um conflito de posse de terra no município de Apuí, e foi baleado, no último dia 15 de julho, enquanto voltava para casa. A informação foi dada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), que divulgou uma nota repudiando o ocorrido e reforçando o debate em torno de conflitos agrários no Amazonas.

De acordo com a nota, essas práticas não podem ser rotineiras no Estado. “Só será possível com a intervenção dos órgãos de segurança competentes e dos responsáveis pela regularização fundiária. O Idesam expressa sua indignação, na certeza que o ocorrido é resultado direto da ausência de governança e de uma política forte de regularização fundiária, que há muitos anos se mostra fundamental”.

A família do agricultor planeja realizar, nesta sexta-feira (27) uma passeata contra a violência em Apuí. A previsão é que os moradores saiam da casa dos familiares de Franscisnilson e percorram as principais ruas da cidade até a praça dos Três Poderes.

Sobre o ocorrido, o Idesam informa que o agricultor familiar Francisnilson assumiu a administração de um dos sítios da família e começou a sofrer ameaças por um dos vizinhos da propriedade. O mesmo terreno já era motivo de perseguição sofrida pelo pai de Francisnilson, o também agricultor Francisco João Constante de Souza.

O Idesam informou também que a segundo informações da família da vítima, Franscisnilson tinha toda a documentação do Incra comprovando a posse da área, mas estava sendo pressionado pelo vizinho a abrir mão do terreno. Em função disso, registrou um boletim de ocorrência contra o autor das ameaças. Uma semana após o registro e a notificação do suspeito, Francisnilson foi baleado nas costas enquanto fazia o trajeto de volta para o seu sítio, próximo a uma ponte onde, devido a más condições de estrutura, os motoristas são obrigados a reduzir a velocidade.

De acordo com o relatório Conflitos no Campo Brasil 2011, lançado em junho passado, o Amazonas apresentou, no ano passado, 32 conflitos de terras envolvendo 4.009 famílias. Embora na maioria dos conflitos (18), os afetados sejam populações tradicionais, como indígenas e ribeirinhos; posseiros, assentados e pequenos proprietários representam 14 conflitos. Três desses conflitos foram reportados em Apuí. A publicação, segundo o Idesam, também destaca o crescimento avassalador do número dos que estão sendo ameaçados de morte: 125 pessoas, em 2010, 347 pessoas em 2011, o que representa um aumento de 177,6%. No Amazonas, são 48 pessoas ameaçadas, três em Apuí, segundo o Idesam.

O Instituto faz um apelo por uma atitude rigorosa para investigar o caso e punir os culpados, tanto executores como mandantes. “Só coibiremos essa violência constante no sul do nosso Estado quando acabarmos com a impunidade de crimes como esse. Francisnilson já é a segunda vítima no sul do Amazonas neste ano (a primeira foi registrada em Lábrea). Nossa motivação ao destacar esse tema surge principalmente diante do fato de ser Apuí um dos locais de atuação do Instituto, que mantém contato direto com produtores locais, entidades e a sociedade em geral, que sofre constantemente com essa situação”, protestam.

De acordo com o Instituto, assim como o agricultor, que é cadastrado no Projeto Apuí Mais Verde para implantação de sistemas agroflorestais em sua propriedade, outro parceiro do Idesam encontra-se ameaçado: é o pequeno proprietário Odomar Neri Fernandez, de 63 anos, convicto defensor da floresta.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Com temperaturas recorde, norte-americanos passam a acreditar mais em mudanças no clima

por Fernanda B. Müller,do CarbonoBrasil

Em tempos de secas, incêndios e temperaturas recorde, uma nova pesquisa de opinião feita pela Universidade do Texas concluiu que atualmente 70% dos norte-americanos acreditam que o clima está mudando, reportou a Bloomberg. Em março, a mesma pesquisa chegou ao total de 65%.


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Gráfico classifica os adultos norte-americanos em seis públicos: alarmados; preocupados; cautelosos, desengajados; que têm dúvidas; e desdenhosos. Foto: Universidade de Michigan

A porcentagem daqueles que não acreditam nas mudanças climáticas atuais caiu de 22% em março para 15% na pesquisa realizada entre 12 e 16 de julho, que será publicada no site do Instituto de Energia da Universidade do Texas.

Em outra pesquisa, do jornal The Washington Post e da Universidade de Stanford, 60% dos questionados afirmaram que os padrões meteorológicos têm se mostrado mais instáveis. Eles também acreditam que o aquecimento futuro do planeta é algo que pode ser mitigado, portanto, a maioria (dois terços) quer que o governo lidere no cenário global de combate às mudanças do clima.

Na semana passada, uma coletânea de estudos organizada pelo Met Office e pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) afirmou que algumas das ondas de calor e secas de 2011 foram até 60 vezes mais prováveis de acontecer graças ao aquecimento global e às ações humanas no clima.

A coletânea analisa, por exemplo, a seca no estado norte-americano do Texas, concluindo que mudanças instigadas pela queima de combustíveis fósseis tornaram a onda de calor vinte vezes mais provável.

Os últimos doze meses foram os mais quentes já registrados para os Estados Unidos como um todo, segundo a NOAA.

Geração X

Uma série de pesquisas da Universidade de Michigan, publicadas neste mês na sua revista trimestral, vem desde 2008 questionando a Geração X (adultos entre 32 e 52 anos) sobre alguns assuntos e analisando com metodologias amplas os resultados. Entre eles está o seu interesse sobre questões ligadas às mudanças do clima, sendo que na primeira pesquisa 28% disseram estar muito interessados e 55% estavam moderadamente interessados.

“O interesse da população em qualquer assunto específico sempre tem relação com as outras questões que competem pela sua atenção ao mesmo tempo… A crise econômica de 2008 fez com que muitos adultos se focassem em questões econômicas”, justificam os autores, que também citam a fadiga. “Muitos adultos tem um grau de atenção limitado para questões de políticas públicas e tendem a se cansar dos mesmos assuntos se eles persistem ao longo de vários anos.”

Tanto em 2009 quanto em 2011 um pouco mais de 20% da Geração X mostrou um alto nível de preocupação quanto às mudanças climáticas. Cerca de 40% expressaram temores moderados e um pouco menos de 40% disseram ter baixos níveis de preocupação com a questão. Apenas 16% em 2009 e 11% em 2011 se sentiam bem informados.

Juntando as diversas respostas, os pesquisadores classificaram os adultos em seis públicos: alarmados; preocupados; cautelosos, desengajados; que têm dúvidas; e desdenhosos (figura). Surpreendentemente, os desengajados são 41% da Geração X norte-americana.

“Poucas problemáticas engajam uma maioria sólida dos adultos em nossa sociedade ocupada e plural, mas a questão das mudanças climáticas parece atrair menos ativistas comprometidos (em ambos os lados) do que esperávamos”, concluem os autores.

Os resultados também indicam que jovens com maior nível de educação têm maior probabilidade de reconhecer a importância do problema e que existe ampla conscientização sobre as mudanças do clima, mas que muitos preferem focar em coisas mais imediatas, como emprego e estudo para seus filhos, a se concentrar nas necessidades da próxima geração.

“Estes resultados não são confortantes para aqueles que, como nós, se preocupam com a saúde da democracia americana no século 21″, enfatizaram os autores.

Crise no Incra expõe a precariedade da reforma agrária


por Marcelo Pellegrini, da Carta Capital

Criado em 1970, durante a ditadura, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) surgiu para realizar, de forma organizada, a reforma agrária brasileira. Ironicamente, neste mesmo período, começava a ocupação da Amazônia sob o lema, cunhado pela ditadura, “Integrar para não Entregar”.

O Pará está entre os Estados brasileiros que mais possuem trabalho escravo.

Os problemas agrários brasileiros, que já não eram poucos, aumentaram à medida que os colonizadores se instalavam floresta adentro. Na esteira desse movimento, muitos trabalhadores rurais sem terras migraram de diversas regiões do país para a Amazônia, principalmente para o Estado do Pará. Lá, recebiam lotes de terras e obtinham acesso ao crédito, caso desmatassem suas propriedades para dar lugar à agropecuária. Assim, o desmatamento na Amazônia ganhou corpo, e o Estado do Pará começou a fermentar os problemas agrários e ambientais que possui hoje.

Como resultado desse processo, em 2011 o Pará registrou 125 conflitos por terras, segundo a Comissão Pastoral da Terra – só perde para o Maranhão, com 225 conflitos. Na lista de problemas que atacam o Estado consta índices alarmantes de trabalho escravo e a luta para conter o avanço do agronegócio e das madeireiras por meio das reservas ambientais da Amazônia, espalhadas por todo o Estado.

No meio dessa problemática socioambiental, o Incra, que hoje senta sobre um orçamento de cerca de R$ 2 bilhões anuais, acumulou uma série de críticas e suspeitas sobre sua capacidade de organizar a reforma agrária no país sem provocar estragos. Nas últimas semanas, uma enxurrada de denúncias resultou na mais recente crise no governo federal – e culminou com a demissão de seu presidente, Celso Lacerda. O anúncio foi feito na noite da quinta-feira, 19.

A situação se mostrava insustentável desde que o Ministério Público Federal (MPF) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram a público acusar a autarquia de colaborar para o aumento do desmatamento e beneficiar os interesses das madeireiras na região. Em um nota publicada em seu site, o MPF afirma que “a falta de estrutura do Incra se traduz em altas taxas de desmatamento, ausência de licenças ambientais, desvio de verbas públicas, venda de lotes e reconcentração fundiária”. Soma-se a isto a investigação que sofrerem quatro servidores do órgão por terem desviado R$ 13,6 milhões.
 
Em entrevista a CartaCapital, pouco antes de deixar a presidência do órgão, Celso Lacerda afirmou que as denúncias do MPF eram infladas por informações equivocadas. “Os assentamentos têm certa participação no desmatamento, sim, mas isso deve ser analisado dentro de uma conjuntura histórica de ocupação da Amazônia”, pondera.

Segundo ele, os dados do MPF levaram em conta áreas que não estão mais sob administração do Incra e utilizaram os dados da ONG para o desenvolvimento sustentável na Amazônia, o Imazon. “O MPF contabilizou projetos de colonização da década de 1970, ou seja, de um período em que o governo incentivava a ocupação e o desmatamento da Amazônia. Essas áreas não pertencem mais ao Incra”, explicou.

“Além disso, o Incra trabalha com dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Esta é a base oficial de dados do governo federal. Enquanto o MPF se baseou em dados do Imazon”, conta Lacerda.

Em uma nota oficial, o Incra diz que o desmatamento nos assentamentos da Amazônia teve uma redução de 66% em área, de 2005 a 2011, e que o desmatamento nos assentamentos representou 18% do total desmatado no ano passado. Contudo, o MPF reafirmou que, “com base em informações oficiais do Inpe, que o Instituto é sim responsável atualmente por um terço do desmatamento na região amazônica: desde 2010, as taxas dos assentamentos flutuam entre 26% e 31% das derrubadas”. Para o procurador da República, Daniel Avelino, “o MPF continua esperando que a autarquia, em vez de negar o problema e apresentar a já desgastada saída da perseguição política, apresente soluções concretas e eficazes para os elevados números apresentados”, afirmou por meio de nota.
 
Assentamentos diferenciados


 
Segundo o presidente do Incra, apenas em 2011, mais de R$ 70 milhões foram investidos para melhorar a estrutura dos assentamentos. Foto: Elza Fiuza/ABr



Também por meio de nota, o MST declarou que os projetos de colonização do Incra para a região beneficiam os interesses dos madeireiros, uma vez que regularizam áreas em conflito e têm a política de assentar famílias em áreas públicas florestadas.

“O Incra realmente atua em áreas de conflito agrário, é uma de nossas funções”, rebate o presidente da autarquia, “mas isso não nos faz beneficiar madeireiros”. Segundo ele, o Incra não cria mais nenhum projeto de assentamento convencional na Amazônia. “Todos os projetos de assentamento na Amazônia, hoje, são diferenciados do ponto de vista ambiental. Temos projetos Agroextrativistas (PAEs), de Assentamento Florestal (PAF) e de Desenvolvimento Sustentável (PDS), no intuito de buscar atividades com baixo impacto ambiental para a área”, exemplifica.

“O combate ao desmatamento não pode ser feito apenas com ações de repressão, às vezes a floresta é a única base de sustento da comunidade, por isso é preciso assentar de maneira responsável”, argumenta Lacerda.
 
Corrupção e abandono


Além de ser visto pelo MPF como o maior desmatador da Amazônia, o Incra, que recebeu R$ 2,718 bilhões dos cofres públicos em 2011, também teve de lidar com a investigação de quatro funcionários das superintendências do Pará, suspeitos de desviar R$ 13,6 milhões.
 
O dinheiro desviado seria destinado à compra de material, construção e reforma de moradias e assentamentos, que segundo o Ministério Público estão em “situação de abandono”.

Em entrevista à CartaCapital, o presidente do Incra, Celso Lacerda, nega o abandono. “Apenas em 2011, mais de R$ 70 milhões foram investidos em obras de infraestrutura nos assentamentos, em parceria com os governos municipais e estaduais, no Pará”, argumentou.

Ele também culpa as carências estruturais da economia paraense pelo ritmo de melhoria dos assentamentos. “Abrimos editais para assistência técnica e nenhuma empresa se inscreveu, simplesmente porque não existem empresas no Estado para o tipo de serviço que procurávamos”, disse.

Em relação às denúncias de corrupção, Lacerda lembrou que elas partiram da auditoria do próprio Incra. “Nós que verificamos a irregularidade. Não existe corrupção disseminada no Incra. Podem existir alguns casos aqui e ali, mas investimos na modernização da gestão e na integração dos sistemas para dificultar estas ações.”

Na ação, o Ministério Público Federal requisitou à Justiça a proibição da criação de novos assentamentos sem licença ambiental. O que, segundo Lacerda, não acontece desde 2006 devido à proibição emitida na Resolução Conama 387. Problemas, portanto, que não se encerram com a substituição de Lacerda pelo economista Carlos Guedes de Guedes.

Brasil multa 35 empresas em US$44 milhões por biopirataria

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou 35 empresas por não compartilhar os beneficios da exploracão da biodiversidad do país. A decisão se baseou em denuncias feitas pelo Departamento de Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente ao instituto.

O Ibama anunciou no inicio deste mês (6 de julho) que 35 empresas cometeram 220 violações a Lei Nacional de Biodiversidade, o que totalizou R$ 88 milhões em multas. A maioria das empresas são multinacionais das áreas farmacêutica e cosmética com sedes no Brasil.

Algumas das empresas foram multadas por não compartilhar os benefícios financeiros da exploração da biodiversidade brasileira, e outras por mentir, afirmando que haviam repartido os benefícios, segundo o Ibama. A lei brasileira sobre biodiversidade estipula que a divisão dos benefícios da exploração da biodiversidade deve incluir: repartição dos benefícios, pagamento de direitos autorais, transferência de tecnologia e capacitação das pessoas que vivem nas regiões de onde foram extraídos os recursos.

Natália Milanezi, do Conselho sobre Proteção Ambiental do Ibama, responsável pela operação, disse que as empresas que não cumpriram a lei estão causando enormes danos a economia brasileira e praticando biopirataria. “Infelizmente a biopirataria não é considerada crime, apesar de existirem vários projetos de lei no Congresso Nacional que transforma esta pratica uma transgressão ambiental”, disse a SciDev.Net.

Apesar da operação ter começado em 2010, e vários pesquisadores e universidades já terem sido foram notificados e multados, esta é a primeira vez que tantas empresas são punidas pelo finas Ibama, disse.

Segundo Milanezi o Ibama não tem a intenção de impedir que as empresas trabalhem no Brasil não exclui instituições que trabalham no Brasil. Por isso elas tem a opção de reduzir em 90% o valor da multa se firmarem um acordo para regular suas políticas de distribuição de benefícios. Ela também disse que o órgão está avaliando a melhor forma de distribuir o valor arrecadado com as multas para as pessoas que vivem nas regiões exploradas.


Vanderlan Bolzani, vice-presidente da Agência de Inovação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquista Filho (Unesp), disse que o número elevado de empresas multadas indica que as agências governamentais e ministérios responsáveis ​​pela regulação do uso da biodiversidade precisam se comunicar de forma mais eficaz para agilizar o processamento de pedidos pelas empresas.

"Isso mostra que setores do governo precisam conversar entre si, de modo a evitar a burocracia para obter licenças e permissões de acesso ao patrimônio genético", disse ele SciDev.Net.

Vanderlan também observou que a lei da biopirataria deve ser também educativa e não apenas punitiva. As empresas ainda podem recorrer da decisão do Ibama.

A assessoria da Mapric Pharmaceuticals Ltd., uma das empresas multadas, disse que denúncias feitas pelo Ibama são infundadas e que existem diversos registros e documentos mostrando a legalidade de seu trabalho. Outras empresas contatadas pelo SciDev.Net não responderam ou não tinham posição oficial sobre o fato.

Fonte: SciDev.net

terça-feira, 3 de julho de 2012

Inpa disponibiliza biblioteca de sapos amazônicos na internet




Com o avanço das tecnologias e o crescimento do fluxo de informações disponíveis na Rede Mundial de Computadores, o internauta passou por uma série de modificações no cenário que constitui a busca por informações. As estruturas físicas das bibliotecas deram lugar ao sistema de consultas online, tornando o processo de pesquisa muito mais prático e interativo.

No campo científico, os pesquisadores deram um novo sentindo para o conceito das bibliotecas. Agora, os internautas poderão consultar informações sobre sapos em uma plataforma online. Com uma proposta que integra inovação e tecnologia, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), por meio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (INCT/CENBAM), coordenado pelo pesquisador do Instituto, William Magnusson, passou a dispor na rede uma espécie de “biblioteca de sapos”, intitulada “Sapoteca”.

A coleção tem como intuito principal fornecer uma ferramenta permanente, que possa ser utilizada por cientistas e professores em suas atividades de pesquisa e ensino, preencher lacunas da curiosidade dos amantes da herpetologia, área da zoologia dedicada ao estudo dos répteis e anfíbios, além de atender o público em geral com informações sobre a comunicação acústica dos sapos amazônicos.

De acordo com o bolsista do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Inpa, Pedro Ivo Simões, que faz parte do trabalho desenvolvido pela Sapoteca, a criação do espaço foi motivada para suprir a falta de conhecimento, visando auxiliar na identificação das espécies. “O que motivou a criação foi a dificuldade que as pessoas possuem em relação à identificação das espécies. Vários animais chegam para os pesquisadores já preservados, a partir de coleções. Já estão em álcool há muito tempo. Já perderam a cor, e você não sabe como cantam, ou seus hábitos. Nós tentamos unir e fornecer o máximo destas informações sobre algumas espécies. A ideia é ter uma plataforma multimídia, onde você tenha sons, vídeos e fotos disponíveis para cada uma delas, auxiliando as pessoas na identificação dos animais em campo”, explicou.

Arquivos compartilhados

A criação da Sapoteca teve início há aproximadamente três anos, durante o doutorado da pesquisadora Luciana K. Erdtmann, que coordenou o projeto sob orientação da pesquisadora do Inpa, Albertina Lima. As etapas iniciais buscaram digitalizar e organizar gravações de espécies da Amazônia brasileira, realizadas por pesquisadores do grupo e colaboradores, durante expedições a campo.

O passo seguinte envolveu resgatar informações sobre estas gravações, como o local onde foram realizadas, datas, equipamentos utilizados e atributos que podem alterar as características dos sons emitidos por sapos, como a temperatura do ar e tamanho corporal dos animais gravados.

Atualmente, informações sobre 40 espécies de sapos estão disponíveis na plataforma online da Sapoteca. Se o usuário busca confirmar uma identificação, ele pode procurar a espécie por seu nome científico, ou através de uma galeria de fotos, procurando o animal mais parecido com aquele que viu em campo. Para cada espécie listada, há uma página contendo foto, vídeo, sons para download, sonograma - gráfico que representa visualmente o som emitido pela espécie - e indicações de artigos científicos relacionados.

Além do acervo prontamente disponível na plataforma online, a coleção conta com mais de 500 arquivos de áudio e 30 vídeos catalogados, que podem ser acessados mediante contato com os curadores.

Difusão multimídia

Para Simões, a difusão dos estudos realizada por meio da plataforma multimídia pode modificar a falta de conhecimento da sociedade em relação a espécies que possuem sua importância na biodiversidade da região.  “É uma forma de tentar aumentar a conscientização sobre a diversidade de espécies que temos e que está em risco, seja por projetos de desenvolvimento, ou por desmatamento. Animais como mamíferos possuem um apelo muito maior, mas as pessoas ainda conhecem pouco sobre anfíbios ou répteis. São grupos dos quais as pessoas ainda têm um pouco de medo, desgosto ou receio. Esta é uma boa oportunidade para apresentar parte da biodiversidade que é desconhecida pela maioria da população”, enfatizou.

O bolsista de Iniciação Cientifica do Inpa, Emerson Pontes, acredita que a ferramenta poderá contribuir também nas questões que relacionam educação ambiental e os sapos da região. “Como ingressante na vida da pesquisa científica e educação ambiental sobre os anuros amazônicos, acho que a sapoteca trará grande contribuição para a popularização das informações não somente da comunicação acústica entre os nossos sapos, como também de toda a diversidade de anfíbios existente na região”, explicou.

Pontes afirma que a iniciativa ajuda a reverter uma situação comum, onde a sociedade não contribui na conservação dos sapos, por falta de conhecimento. “Existem muitos mitos e contos que prejudicam a conservação desses animais. Nesse sentido, oferecer à sociedade uma riqueza tão grande de cantos e seres, pode contribuir para amenizar tanto preconceito. Acho que é um dever da ciência sendo cumprido”, expõe.

A ação conta com o apoio do Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio) do Inpa, responsável pela concessão e manutenção do site. Além disso, o desenvolvimento do projeto, contou com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), que mantém um bolsista permanente atuando na coleção, e com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fonte: Ascom Inpa

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Acordo sobre madeiras tropicais está pronto para o Plenário

Por José Carlos Oliveira, da Agência Câmara
A ratificação do Acordo Internacional de Madeiras Tropicais, assinado pelo governo brasileiro, está pronta para votação no Plenário da Câmara. O tema tramitou na Casa por meio do projeto de decreto legislativo (PDC) 560/12, já aprovado em quatro comissões temáticas.

O acordo foi proposto em 2006 pela Organização Internacional de Madeiras Tropicais, que reúne produtores e consumidores de madeira de 44 países, além da União Europeia. Entre os objetivos do acordo estão a inclusão social e a geração de renda para os povos da floresta, a partir do uso sustentável dos recursos naturais e do incentivo ao manejo florestal comunitário.

O relator da proposta na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, deputado Francisco Praciano (PT-AM), destaca que o foco está na proteção florestal. "Lamentavelmente no sudeste asiático, Malásia e outros países exterminaram suas florestas e esse é um péssimo exemplo. E a OIMT [Organização Internacional de Madeiras Tropicais] está firmando esse acordo para promover o desenvolvimento da exploração da madeira de áreas tropicais, com sustentabilidade. Portanto, é um acordo para melhorar o comércio dos países e, ao mesmo tempo, implementar tecnologias e métodos de manejo das florestas tropicais; e criar um fundo que financie esses manejos".

Reflorestamento

O acordo também prevê ações de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas. O relator na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, deputado Afonso Florence (PT-BA), avalia que a proposta reafirma as ações do governo brasileiro para a exploração sustentável dos recursos florestais. "Nós, no Brasil, temos avançado muito no plantio e na gestão sustentável de florestas e, com isso, temos assentamentos diferenciados tanto no setor da agricultura familiar quanto no setor empresarial. A nossa expectativa é um ambiente de segurança jurídica para a produção sustentável, com a preservação das florestas e com a geração de emprego e renda nos negócios desse segmento econômico".

O Brasil tem cerca de 520 milhões de hectares de florestas, equivalentes a 13% do total mundial. No entanto, a participação do País no mercado internacional de madeira é inexpressiva.

Íntegra da proposta:

PDC-560/2012

Caça de animais silvestres aliada ao desmate no Amazonas

Situação foi denunciada por moradores da zona rural de Borba. Entre as espécies de animais, capivaras e antas são os principais alvos


Por Elaize Farias


Moradores de comunidades rurais situadas à margem dos rios Sucunduri, Acari e Canumã, na região dos municípios de Borba, Novo Aripuanã e Apuí, no Amazonas, denunciam que desde o início deste ano aumentou a caça predatória de animais silvestres na área. Os ribeirinhos acreditam que a caça vem sendo praticada por pessoas ligadas à grilagem e ao desmatamento ilegal, muitas delas vindas do estado de Mato Grosso.

Há duas semanas, ribeirinhos de uma comunidade à margem do rio Sucunduri afirmaram ao pesquisador Antônio José Fernandes, que foi ao local realizar um trabalho para a prefeitura de Borba (a 430 quilômetros de Manaus), que testemunharam mais de 300 capivaras abatidas sendo transportadas pelo rio e, em seguida, pela rodovia Transamazônica.

Um macaco foi encontrado morto no meio da carga
Um macaco foi encontrado morto no meio da carga apreendida no porto da Panair (Foto: Ney Mendes)

Antônio José conseguiu ter acesso a uma fotografia feita pelos comunitários dos animais mortos e repassou ao jornal A CRÍTICA. “O pessoal me disse que foram mais de 300 capivaras capturadas a tiro e que elas são enviadas por barco para o Mato Grosso. Os comunitários estão receosos, com medo dos grileiros. Segundo eles, essa situação começou a ocorrer em fevereiro deste ano. A intensidade está relacionada à grilagem e à retirada de madeira”, disse Fernandes.

Segundo Fernandes, a ação dos grileiros, que é mais frequente no sul do Amazonas, alcançou também a área ribeirinha de Borba, município localizado em uma região mais central do Amazonas, e tem provocado receio nas comunidades. Ele conta que aumentou também a pressão para que os ribeirinhos vendam suas terras aos grandes fazendeiros. Os que se negam, acabam expulsos.

Conforme Fernandes, comunitários relataram que viram derrubadas de floresta feita por tratores de esteira com corrente, além da caça em grande escala. “Essa é uma situação muito nova. Muitas pessoas desconhecem. A notícia da grilagem ainda nem chegou na sede de Borba. As comunidades ficam muito distantes da zona urbana”, disse ele.

O superintendente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Mário Lúcio Reis, disse desconhecer a ação de grileiros e de caça predatória na zona rural de Borba. Ele afirmou que atualmente a operação de fiscalização contra desmatamento no sul do Amazonas foi intensificada e que vai incluir, no itinerário, uma ação na região onde há registro de caça de animais silvestres. “Talvez a caça seja uma atividade paralela. Vamos investigar”, disse.

Investigação

O comandante do Policiamento Ambiental do Estado, coronel Ricardo Gomes, ao saber da situação em Borba disse que pretende fazer contatos com “os parceiros” para investigar a situação. Os parceiros são o Ibama e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). Ele admitiu que também não sabia da situação em Borba, mas garantiu que irá apurar o caso.

Ricardo Gomes disse ainda que o Policiamento Ambiental, em convênio com um projeto de “corredores ecológicos”, do Ministério do Meio Ambiente, vai instalar uma rede de comunicação em toda a calha do rio Solimões. A rede terá antenas de transmissões de informações para facilitar a ação dos policiais ambientais. O projeto, contudo, não tem data para ser implementado.

Em todo o Estado, o Batalhão Ambiental tem apenas 150 homens em atividade, sendo que a maioria está concentrada em Manaus.

Fonte: A Critica.com

Como um novo projeto de jornalismo de dados está de olho na floresta amazônica


Um novo projeto de jornalismo de dados espera mapear os hotspots da floresta amazônica, verificando o desenvolvimento, desmatamento e incêndios florestais.

Lançado no Rio +20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o InfoAmazonia é um mapa interativo, fácil de usar, oferecido em três idiomas: espanhol, inglês e português -- com informações atualizadas sobre o ecossistema mais intacto do mundo. Mapas dispõem de dados e notícias recentes, que podem ser contribuídos pelos leitores. Dados sobre o site também estão disponíveis para download, podendo ser uma ferramenta de pesquisa interessante.

"Apesar do importante papel que a floresta desempenha na saúde da América do Sul e do ambiente global, existe pouca informação disponível sobre as ameaças à sobrevivência da região", disse Gustavo Faleiros, editor da agência brasileira de notícias ambientais, O Eco, criador do InfoAmazonia e bolsista do Knight International Journalism Fellowship Program.



Durante um seminário do lançamento, Faleiros falou a 30 jornalistas sobre os dados, fotos e mapas na plataforma. Os participantes também aprenderam a categorizar artigos geograficamente ("geo-tag"), usando planilhas como o Google Fusion Tables, e aplicativos de dados, como o Google Terra e o MapBox, um produto do Development Seed para contar histórias. Ao combinar os dados, fotos de satélite, mapas e gráficos, o projeto pretende dar às pessoas uma informação melhor sobre o que está acontecendo no terreno.

Faleiros passou três meses desenvolvendo o projeto durante a bolsa. O InfoAmazonia começou como uma parceria entre a agência O Eco e a Internews, com o apoio da Climate and Development Knowledge Network. A plataforma do mapa e o sistema de publicação foram concebidos pelo Development Seed.

Ele espera que os dados serjam atualizados com frequência por jornalistas, ONGs e cidadãos, tornando-se um registro visual e gráfico do desenvolvimento, desmatamento, incêndios florestais, mineração e outras ameaças à floresta tropical.

"O objetivo: [é] parar e até mesmo reverter os danos ambientais a este precioso recurso natural", disse Faleiros.

Fonte: International Center For Journalists (ICFJ)