Igor Guimarães
:Eles não pensam apenas no bem-estar próprio e conseguem, ao tomar atitudes simples, beneficiar a muitos. São pessoas que, preocupadas com o meio ambiente e apaixonadas pela causa, agem pela preservação do planeta, seja através do plantio de árvores na fazenda da família ou pelo resgate animais atropelados em beira de estradas. O importante é que essas iniciativas, como a do veterinário Fernando Pinheiro, do escritor Angelo Machado, do biólogo Francisco Mourão e da química Sandra Oberdá, podem fazer uma grande diferença.
Biólogo replantou mata em fazenda
Em 15 anos de muita dedicação, o biólogo Francisco Mourão coordenou o replantio de aproximadamente 4 ha de mata ciliar de córregos que cortam a fazenda de sua família, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte. O esforço valeu a pena, pois agora falta pouco para terminar a recuperação de áreas degradadas por antigos moradores da propriedade. Conseguimos proteger boa parte das margens antes expostas", disse. As terras foram herdadas pelo pai há 30 anos e as pessoas que viveram no local antes construíram casas próximas ao leito dos córregos Riacho Fundo e das Lages. "Resolvemos transformar a propriedade em uma fazenda ecológica", afirma o biólogo. Na vegetação predomina o cerrado e as matas de galeria e de fundos de vale. Com a ajuda dos irmãos, foram plantadas mudas de jequitibás, sapucaias, pau d’óleo, magnólia, ipês (amarelos, roxos e brancos) e outras. "Já temos árvores com 30 m de altura", comemora. O trabalho de reflorestamento é uma atividade considerada simples, disse o biólogo, mas foi preciso critério para não plantar árvores exóticas na mata. Depois de estudar quais as espécies que poderiam ser plantadas, Mourão colheu as mudas na própria região ou as comprou em viveiros. "É um trabalho lento, pois tenho que investir certa quantidade de dinheiro todo ano, mas, por outro lado, muito gratificante", diz. A fazenda da família Pinheiro possui cerca de 400 ha, sendo 90% da área tomada por vegetação nativa. Esse cuidado ecológico, afirma o biólogo, tem permitido a permanência de espécies de animais raros e ameaçados de extinção em Brumadinho, entre eles o macaco-sauá, o tamanduá- colete, o lobo-guará e a onça-parda.
Escritor aborda a natureza em livros
Dono de uma longa e intensa história no ativismo ambiental, o zoólogo e escritor Angelo Machado encontrou na literatura infanto-juvenil uma forma criativa de transmitir suas mensagens ecológicas. Há 18 anos, ele lançou "O Menino e o Rio", seu maior sucesso, com mais de 20 edições publicadas até hoje. A obra conta a história de um garoto, um mico, um pescador e um poeta que percorrem o mundo em busca do último rio limpo. "Sempre digo que o objetivo da literatura infantil é fazer as crianças gostarem da leitura. Aproveito para, em um segundo plano, ensinar sobre a importância de preservar a natureza", afirma. Dos 34 livros publicados por Machado, a maioria traz algum tipo de nuance relacionada ao meio ambiente e à biodiversidade. Neles não faltam personagens inspirados na fauna brasileira, como a arara-azul e o loboguará. O mundo das letras estimulou o zoólogo a experimentar outros meios de interação com o público. Escreveu as peças infantis "Chapeuzinho Vermelho e o Lobo- Guará", "O Casamento da Ararinha Azul" e adaptou para os palcos "O Menino e o Rio" – também um sucesso entre as crianças. Machado escreveu ainda, desta vez para os adultos, a comédia "Como Sobreviver em Festas com Bufê Escasso". Pioneiro
O zoólogo e escritor foi um dos pioneiros do movimento ambientalista brasileiro. Há 28 anos, se associou ao Centro para Conservação da Natureza de Minas Gerais, a mais antiga entidade ambientalista do Estado. Acompanhado de personalidades como Hugo Werneck e João Paulo Campelo, participou de movimentos que impediram o loteamento do parque das Mangabeiras e da construção de uma estrada pelo Parque Estadual do Rio Doce. "Mas percebemos que só o ativismo não adiantava. Precisávamos de uma base técnica", conta. O centro criou a Fundação Biodiversitas, há 18 anos, entidade com um corpo técnico especializado na conservação da fauna e flora, da qual Machado foi escolhido curador.
Química sonha com santuário para bichos abandonados
A química Sandra Oberdá se considera uma belo-horizontina comum. Mora em uma casa no tradicional bairro da Floresta, na região Centro– Sul da cidade, e trabalha em uma empresa de consultoria de mineração. Sua maior ambição é abrir um santuário para animais abandonados. Além de cuidar dos bichos, o espaço abrigaria também um centro de educação ambiental. "Meu sonho é poder ajudar o meio ambiente de alguma forma, conscientizando as pessoas, mas eu ainda não tenho recursos para isso", afirma. Enquanto o projeto de Sandra está no campo das idéias, ela e a família ajudam o meio ambiente da maneira que podem, de dentro de casa. As luzes dos cômodos e os aparelhos de TV não ficam ligados desnecessariamente, pois ela sabe que o aumento do consumo de energia por parte da população significaria a construção de novas usinas hidrelétricas e, consequentemente, em impacto ambiental provocado pela construção de represas. As compras no supermercado são planejadas de maneira a evitar o desperdício de alimentos, o que acarreta aumento do uso de pesticidas na agricultura, com prejuízos ao homem, aos animais, ao solo e aos lençóis freáticos. A água é usada de maneira racional. "Lavar quintal e passeio com água tratada, de jeito nenhum", ensina a química. Além de a conta ser cara, afirma Sandra, há os prejuízos ao meio ambiente. "Fazemos o possível, mas ainda não temos um comportamento de consumo 100% aqui em casa", diz.
Veterinário faz de clínica hospital público
O veterinário Fernando Pinto Pinheiro nutre um carinho especial pelos animais. Transformou sua clínica veterinária em Contagem, na Grande Belo Horizonte, em uma espécie de hospital público para cães e gatos. Bichos silvestres, vítimas da pressão urbana, também têm "leito" garantido no local. Ele já atendeu gaviões feridos por caçadores, gambás atropelados em estradas e até um urubu vítima de uma linha de cerol. O pássaro foi encontrado com a asa cortada. "Me sinto muito recompensado e valorizado por esse trabalho e o considero uma dádiva de Deus. Nenhum dinheiro paga o salvamento dos bichinhos", afirma Pinheiro. Os animais são encaminhados a ele pela Polícia Militar de Meio Ambiente há quatro anos, nos horários em que os órgãos oficiais não funcionam. Essa parceria informal com a PM lhe rendeu o carinho dos integrantes da corporação e, em seu último aniversário, ganhou de presente um chapéu de aba larga da polícia – sem o emblema –, que virou adorno na parede da clínica.
Mico
Há duas semanas, Pinheiro recebeu dos policiais um mico ferido em uma cerca elétrica. Muito fraco, o animal recebeu tratamento com soro durante dois dias, mas não resistiu e morreu. O veterinário afirma que as ocorrências desses animais feridos pelas cercas são cada vez mais frequentes. Quando eles tomam choque, diz o veterinário, costumam sofrer paralisia e as chances de sobrevivência são mínimas. O carinho que o veterinário tem com os animais vem desde criança, época de visitas frequentes à fazenda da família em Boa Esperança, no Sul de Minas. Apesar de gratificante, o veterinário tem dificuldades para manter o trabalho pelo fato de os tratamentos serem onerosos. Para ele, o ideal seria a criação de um sistema de plantão no Ibama. "É um trabalho bom, mas que sacrifica muito a gente", afirma.
Fonte: O Tempo
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