segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Viagem explora crista do Espinhaço

Belo Horizonte, 28/08/06

Igor Guimarães

Cinco aventureiros estão em processo de contagem regressiva para o início de uma caminhada inédita pela maior cadeia de montanhas do Brasil: a serra do Espinhaço. A partir do próximo sábado, o grupo partirá de Ouro Preto, na região Central, e percorrerá cerca de 500 km até Diamantina, no Alto Jequitinhonha.

Além do caráter de aventura, os integrantes da expedição acreditam ter chances de encontrar novos tipos de plantas. Isso porque o trecho escolhido para a viagem ainda foi pouco ou nada explorado. “Passaremos por cumeeiras, pontos mais altos da serra que não foram visitados nem por naturalistas do século XIX”, explica o biólogo Marcelo Vasconcelos, especialista em ornitologia e botânica e que há 12 anos trabalha em pesquisas da avifauna e flora da cordilheira do Espinhaço. O biólogo ficará atento também à existência de pássaros e animais característicos de outras áreas brasileiras, mas não catalogados na região.

Descobertas

O registro dos espécimes será feito através de georreferenciamento por satélite, fotografias e gravações dos sons emitidos pelos animais. Vasconcelos pretende depois publicar as descobertas em revistas científicas. Além dele participam da expedição o geógrafo e turismólogo Herbert Pardini, responsável pela organização; o jornalista Bruno Costa e Silva, que pretende fazer um documentário sobre a expedição; e o ilustrador e montanhista Paulo Fiote. Fechando o grupo está o idealizador da expedição, o fotógrafo especializado em imagens da natureza e esportes de aventura, Marcelo Andrê. Há oito anos, época em que manteve os primeiros contatos com a cordilheira, pensou em registrá-la pelo cume. “É uma montanha muito bacana, mas com pouquíssima literatura disponível. O intuito é levar informações da biodiversidade da serra às pessoas”, justifica. Para Andrê, os registros coletados pela expedição irão contribuir para que as pessoas valorizem ainda mais a cordilheira. “O intuito é levar conhecimento sobre a água, as plantas, a biodiversidade existente na crista do Espinhaço.”

Desde o início do mês, o fotógrafo Andrê mantém um blog sobre os preparativos da expedição. Pelo endereço desafiodoespinhaco. blogspot.com/será possível acompanhar a viagem.
Reserva Em junho do ano passado, a Unesco reconheceu a serra do Espinhaço como reserva da biosfera. A cordilheira corta Minas Gerais no sentido norte/ sul e, juntamente com a serra da Canastra, é responsável pela organização atual da rede de drenagem das principais bacias hidrográficas do Estado. Inicia-se na região Central de Minas Gerais e prolonga-se até o morte da Bahia. Seus terrenos são ricos em minérios, como o ferro, a bauxita, o manganês e o ouro.
O Espinhaço é considerado uma das regiões mais ricas e diversas do mundo. A extensão da área – mais de 3 milhões de hectares – e sua importância biológica, geomorfológica e histórica justificam a adoção de medidas urgentes para a conservação de todo o complexo montanhoso.
A reserva da biosfera reúne 11 unidades de conservação, entre elas o Parque Nacional da Serra do Cipó e os parques estaduais do Itacolomy, Rola Moça e do Biribiri.

Grupo vai ficar isolado da civilização
O caráter inédito da expedição Desafio do Espinhaço, de atravessar a cordilheira pelos cumes das montanhas, deixará os integrantes praticamente isolados da civilização. Distantes das cidades e das planícies, serão poucas as chances de eles se encontrarem com outras pessoas pelo caminho.
“O diferencial é que vamos fazer um trajeto diferente dos habituais, onde as pessoas têm aproveitado o mote da Estrada Real”, afirma o geógrafo e turismólogo Herbert Pardini, responsável por reunir a equipe e viabilizar a expedição. Ele se debruçou em mapas cartográficos da Embrapa para analisar o trajeto entre Ouro Preto e Diamantina. Será utilizado um aparelho de GPS para evitar eventuais desvios de rota. Além de enfrentar um relevo bastante acidentado no alto das montanhas, o grupo terá de carregar alimentos, água e equipamentos em mochilas que deverão pesar entre 25 kg a 30 kg. “Cada um está se preparando fisicamente da maneira que pode”, afirma.

No trecho inicial, entre Ouro Preto e Caeté, não há informações sobre a existência de fontes de água nas partes altas da montanha. Por isso, a expedição receberá suprimento de um veículo de apoio em três pontos dessa parte do trajeto. Além do esforço com a caminhada, o racionamento de comida, há também o risco de os aventureiros enfrentarem problemas com incêndios. “Estaremos em setembro, em pleno período da seca”, afirma o geógrafo, que ainda teme por ataques de abelhas e animais peçonhentos. Depois de Caeté, após a BR–381, em direção à serra do Cipó e Diamantina, a expedição não terá mais o suporte do carro. A partir dali, a serra da Mantiqueira é abundante em fontes d’água. Ainda segundo Pardini, para concluir a expedição nos 22 dias previstos, será preciso caminhar 23 km por dia, em média.

Fonte: O Tempo

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