Jacqueline Silva
A temperatura em Juiz de Fora está quase dois graus acima da média registrada há 50 anos e a tendência de alta se mantém. De acordo com o coordenador do grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Osmar Pinto Júnior, o aquecimento acumulado no município pode chegar a cinco graus nas próximas décadas. Ele atribui o comportamento climático a dois fatores. No plano local, ocorre o fenômeno conhecido como ilha urbana de calor. “Trata-se da elevação na temperatura superficial devido à multiplicação de prédios, que bloqueiam a circulação do ar, além da quantidade cada vez maior de áreas cobertas com asfalto e concreto, materiais que têm propriedade de reter calor e não absorvem a água da chuva.” O pesquisador acrescenta que a situação é agravada pelo aquecimento global, ocorrência ligada ao efeito estufa, que já elevou em 0,7 graus a temperatura do planeta.
As conseqüências mais alarmantes do aquecimento em escala mundial são o derretimento das calotas de gelo e o conseqüente aumento no nível dos oceanos, situações que parecem distantes da realidade local. No entanto, mesmo longe dos pólos e do mar, Juiz de Fora já é afetada pelo fenômeno. “A Terra funciona como uma rede, na qual todos os fios estão conectados. Dessa forma, o desaparecimento de geleiras está relacionado à chuva intensa que tem castigado a Zona da Mata mineira neste início de ano. Se um fio é mexido, toda a rede se modifica, embora os efeitos sejam diferentes em cada localidade,” explica Miriam Duailibi, coordenadora geral do Instituto Ecoar, ONG ligada às questões ambientais. Ela afirma que o resultado mais importante do aumento de temperatura é a mudança no sistema de clima, com alterações no ciclo dos ventos, nas temperaturas e no regime de chuvas. Já o professor da Universidade de São Paulo (USP), Fábio Gonçalves, destaca que essas modificações afetam primeiramente a agricultura e a agropecuária. “São atividades que dependem diretamente da chuva e do sol, que atualmente estão sujeitos a extremos: secas e tempestades,” analisa.
Clima mais instável
Estiagem e umidade viram problema de saúde pública
O professor Fábio Gonçalves também manifesta preocupação com outro aspecto do aquecimento global: a saúde pública. Ele explica que doenças respiratórias se tornam mais freqüentes nos períodos de estiagem prolongada, como no veranico de quase três semanas, registrado em Juiz de Fora em janeiro de 2006. “Além disso, o tempo mais quente e úmido favorece a proliferação de mosquitos, dificultando o controle de doenças como a dengue e abrindo a porta para moléstias consideras erradicadas, como a malária.” Miriam Duailibi vai mais longe, cogitando o risco da chegada de doenças características de países tropicais à Europa e à América do Norte. “Com as atípicas ondas de calor, agentes transmissoes de doenças podem encontrar condições para se reproduzir.” Apesar de previsões catastróficas, Miriam lembra que o equilíbrio pode ser restabelecido. “Isso já aconteceu antes. Há cerca de 50 milhões de anos, o planeta sofreu mudanças profundas no clima, o que provocou a morte de milhares de espécies. No entanto, muitas formas de vida sobreviveram e outras se desenvolveram. A natureza pode se reequilibrar, mas as questões são: como fará isso e de quanto tempo vai precisar? Enquanto isso, cada um pode fazer a sua parte.”
Mais calor, mais nuvens, mais raios
O aumento na frequência dos raios também é apontada como uma das conseqüências diretas do aquecimento em Juiz de Fora. O pesquisador do Inpe, Osmar Pinto Júnior, informa que, quanto mais quente é uma cidade, mais acentuado o processo de evaporação, o que propicia a formação de nuvens pesadas, responsáveis pelos grandes temporais, com relâmpagos e descargas elétricas. Segundo ele, não há modelos meteorológicos capazes de dimensionar, com precisão, de quanto será o aumento na incidência de raios. “A estimativa é de que seja da ordem de 30% a 40% nos próximos 30 anos”. O pesquisador destaca que a situação é preocupante porque a cidade já registra índice elevado de descargas atmosféricas, com classificação dez (dez raios por quilômetro quadrado por ano) em uma escala internacional que vai de um a 22. “Valores acima de 20 são observados apenas no sul do Mato Grosso do Sul, no oeste do Rio Grande do Sul e no Tocantins”, informa Osmar, acrescentando que o índice de Juiz de Fora está acima da média brasileira, que é de sete raios por quilômetro quadrado por ano. Já no cenário estadual, a cidade aparece em quarto lugar no ranking de municípios com maior incidência de descargas atmosféricas, atrás apenas de Bias Fortes, Ibirité e Ewbank da Câmara. De acordo com a Cemig, só em 2006, 12.147 ocorrências foram contabilizadas. “A topografia acidentada e a freqüência de frentes frias vindas da região Sul do país explicam o índice elevado de raios”, resume Osmar.
Já o pesquisador titular do Inpe, Carlos Nobre, observa que embora representem perigo real de morte e resultem em prejuízos materiais, os raios cumprem uma importante função na natureza. “Produzem compostos químicos que funcionam como fertilizantes naturais. O processo demora centenas de milhões de anos, mas é fundamental para a existência da vida na forma como conhecemos.”
Faça a sua parte
Ao comprar
- Carne: Pergunte ao açougueiro ou a um funcionário do supermercado que freqüenta de onde vem a carne que você compra, cerca de 70% das áreas desmatadas são para abertura de novas pastagens. O desmatamento é o principal responsável por nossas emissões de gases causadores do efeito estufa.
- Madeira: Procure sempre o selo FSC, é a garantia de que a madeira foi retirada corretamente. Quanto mais incentivamos o manejo sustentável, menor será a motivação para desmatar completamente determinadas áreas.
- Transporte: Prefira o transporte público, além de ser menos poluente, você evitará parte do estresse do dia-a-dia; Use bicicleta ou caminhe sempre que possível, é saudável e você estará contribuindo para um planeta mais limpo. Se não houver ciclovias, fale com seus representantes políticos para que as construam; para viagens curtas a trabalho ou de turismo, prefira o ônibus; crie uma “rede” de caronas com vizinhos e amigos
- Carro: Faça sempre uma revisão, além de evitar possíveis dores de cabeça, um carro que funciona corretamente consome menos combustível e emite menos gases do efeito estufa; calibre bem os pneus de seu carro, isso evita consumo excessivo de gasolina e garante mais segurança; ao comprar, dê preferência aos veículos flex e aos que sejam mais econômicos, se puder, abasteça com álcool e não com gasolina.
- Em casa: Procure sempre comprar aparelhos eficientes em consumo de eletricidade; desligue as luzes dos ambientes não utilizados; retire das tomadas os aparelhos em stand-by (com as luzinhas vermelhas acesas); instale painéis solares para aquecer a água, a longo prazo, você poupará energia e dinheiro; substitua as lâmpadas mais usadas da casa por modelos fluorescentes compactos, que consumem 75% menos que os convencionais; desligue o chuveiro quando estiver se ensaboando; reduza a produção de lixo e adote a prática da reciclagem; busque ser cada vez menos dependente, direta ou indiretamente, do petróleo; opte por construções ambientalmente corretas, que aproveitam a água da chuva, a energia solar e eólica, e naturalmente climatizadas.
- Na cidade: Plante árvores, elas ajudam a “seqüestrar” os gases do efeito estufa; lute pela permeabilização da cidade com criação e reativação de parques e jardins, que ajudam a absorver a água da chuva
- No trabalho: Ao sair, verifique se as luzes estão desligadas; seja ativo: forme uma comissão para verificar como a empresa pode gastar menos energia; mantenha os aparelhos de ar-condicionado a 25°C; verifique se os aparelhos de ar-condicionado estão na sombra, eles consomem 5% menos se não estiverem, no sol.
Fonte: Tribuna de Minas
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