sábado, 27 de janeiro de 2007

Biologia molecular ajudará no diagnóstico do verme Mansonella ozzardi

Pela primeira vez pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCT) vão utilizar uma nova técnica, baseada na biologia molecular, para o diagnóstico da Mansonella ozzardi nos vetores.

A M. ozzardi é um verme (filária) que causa uma filariose conhecida como mansonelose, doença desencadeada pelo acúmulo de microfilárias no sangue periférico do homem. As microfilárias são as formas jovens produzidas por vermes adultos que parasitam o sistema linfático, a cavidade abdominal e os tecidos dos vertebrados. Essa filária é encontrada em todo o continente americano, inclusive, no Brasil existem registros nos estados do Amazonas, Roraima e Mato Grosso.

O projeto denominado Diagnóstico laboratorial da Mansonella ozzardi (Nematoda, Onchocercidae) em Simuliidae (Diptera) por dissecção e reação em cadeia da polimerase, que será executado nos Laboratórios de EtnoEpidemiologia e de Virologia e Imunologia do Inpa, fará uma comparação entre o método já empregado, “dissecção”, e o que será implantado, "diagnóstico via genoma da M. ozzardi. O primeiro, é uma técnica tradicional que consiste na coloração dos simulídeos (vetores conhecidos na região como piuns) utilizando um corante específico (hematoxilina), e posteriomente as dissecções dos insetos em lâminas, onde os exemplares são divididos em três partes (cabeça, tórax e abdômen). Em seguida, com o auxílio de um microscópio óptico é observado se os simulídeos estão parasitados ou não, ou seja, com a filária. O segundo, o diagnóstico via genoma da M.ozzardi, consiste na detecção do DNA pelo PCR (sigla em inglês que significa Reação da Polimerase em Cadeia) - A partir de uma quantidade definida de simulídeos será obtido o DNA. Após esse processo, será submetido a reação de PCR, na busca de características do genoma da espécie em estudo. A reação será amplificada em um equipamento específico, o termociclador. Os produtos gerados na reação de PCR serão submetidos a uma separação eletroforética em gel de agarose. O gel será corado com brometo de etídeo e visualizado por meio de luz ultravioleta em transiluminador (aparelho para a visualização de géis e análise de imagens) com o propósito de reconhecer a identidade genômica da espécie em estudo.

O pesquisador responsável pelo projeto, Jansen Fernandes de Medeiros, doutor em Entomologia pelo Inpa, explica que a intenção é implementar mais um método diagnóstico da filária no vetor, bem como utilizá-lo como complemento ao método de “dissecção”. Ele também informa que a pesquisa complementará o trabalho que já é feito há alguns anos pelo Laboratório de EtnoEpidemiologia do Inpa. Para isso, serão realizadas três excursões anuais a Pauini. Durante a pesquisa, serão feitos exames nos indivíduos para estimar a prevalência da doença, além da coleta dos simulídeos. "Todo o material será trazido para o Instituto para análise", afirma.

Segundo o pesquisador, a escolha do município para a realização do estudo deve-se porque em 1998, trabalhos feitos com habitantes de Pauini trouxeram novas informações sobre a sintomatologia da mansonelose. Observou-se a presença de lesões visuais (cegueira) associada a M. ozzardi. "O alerta surgiu durante o Programa Alfabetização Solidária, Programa do governo federal, quando foram constatados problemas de visão entre alunos que freqüentavam as aulas. Exames feitos por oftalmologistas da Universidade Federal de São Paulo (UFSP) comprovaram a presença de opacidade periférica da córnea em 20 das 524 pessoas examinadas", destaca. Medeiros diz que quando a opacidade se aproxima do centro da córnea há risco de cegueira. Ele ressalta que essa provável relação surgiu após a identificação de microfilárias no sangue de dois pacientes de quatro examinados. Além disso, a presença da lesão ocular também foi relatada em estudo feito entre indígenas do alto rio Negro, no Amazonas, o que reforça a possível relação. Contudo, ainda não foi comprovado se a cegueira pode ter uma correlação com a mansonelose. O pesquisador afirma que é importante que se realizem mais investigações sobre o assunto com o auxílio de oftalmologistas. O projeto será financiado pelo Programa Primeiros Projetos (PPP) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT). Ele está orçado em R$ 27 mil, terá a duração de 24 meses e estarão envolvidas, diretamente, seis pessoas, entre técnicos e pesquisadores. A previsão é que o recurso seja liberado no mês de março.

Sintomas

Os principais sintomas observados nos portadores da doença são: febre moderada sem causa aparente, frieza nas pernas, dores nas articulações e cefaléia (dor de cabeça), principalmente nos indivíduos com alta quantidade de microfilárias no sangue. “Já observamos casos em que devido a ocorrência de febre e calafrios em determinados períodos do dia, a doença é confundida com malária”, afirma Medeiros. Diante disso, muitas vezes são feitos exames direcionados para a malária, não se diagnosticando a mansonelose, uma vez que os técnicos de saúde de alguns municípios não são instruídos nem treinados para procurar microfilárias no sangue dos possíveis doentes. Hoje, no município de Pauini (AM), técnicos locais já foram treinados por pesquisadores do Inpa para facilitar o diagnóstico da doença. Medeiros destaca que a busca de agentes causadores da malária em microscópio óptico utiliza a objetiva maior (aumento de cem vezes), que não é a mais adequada para procurar microfilárias, uma vez que estas são muito maiores. Objetivas com aumento de dez ou vinte vezes são mais apropriadas. Segundo o pesquisador, por ser uma doença ainda pouco estudada e com uma sintomatologia não bem definida, os órgãos de saúde, não possuem ainda uma política específica para o tratamento. Essa decisão gera discussões entre os cientistas. "Nós queremos que haja o reconhecimento para se fazer o tratamento", finaliza.

Fonte: Assessoria de Comunicação do INPA


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