quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Excesso de zelo contra malária causa febre

Brasileiros e americanos fazem descoberta que pode aliviar sintomas da infecção. Inflamações características da doença podem vir de defesa excessiva do organismo

Marília Juste

A febre e as inflamações típicas da malária podem ser resultado de uma resposta exagerada do sistema de defesa do nosso organismo. Na ânsia de nos defender, ele peca pelo excesso de zelo e mais atrapalha do que ajuda. A descoberta, feita por um grupo de cientistas brasileiros e americanos, pode resultar em uma maneira de aliviar os sintomas da doença.

Curar a malária é possível, mas, devido à resistência do parasita aos medicamentos, fazer isso tem sido cada vez mais difícil, e caro. A luta contra a doença esbarra ainda em outro empecilho: ela é negligenciada pelas grandes companhias farmacêuticas por afetar principalmente pessoas pobres de países de terceiro mundo, que não têm dinheiro para gastar com remédios. Enquanto a pesquisa não avança mais, o grupo de cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de Massachussets, nos Estados Unidos, acredita que vai poder, em breve, ao menos aliviar o sofrimento de quem tem a doença. “Estamos ainda em um estágio bastante inicial e não queremos gerar um grande entusiasmo”, afirmou ao G1 o brasileiro Ricardo Gazzinelli, da UFMG e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Belo Horizonte. “Mas acreditamos que isso vai ser possível no futuro.” Gazzinelli e a também brasileira Daniella Bartholomeu fizeram parte do grupo liderado pelo americano Douglas Golenbock e seu trabalho aparece na edição desta semana da revista “PNAS”, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

A missão do grupo era identificar qual área do nosso sistema de defesa é responsável por dar o alerta de que um protozoário causador da malária invadiu o organismo e exatamente qual parte do parasita era detectada por esse sistema. Ao responder as duas perguntas, eles descobriram que uma falta de regulagem nesse “alarme” era a culpada por alguns dos sintomas da doença. A região é ativada quando um composto, produzido pelo protozoário quando ele se alimenta dos glóbulos vermelhos do nosso sangue, é detectado. Ao entrar em ação, no entanto, ele vai um pouquinho além da conta e acaba causando os calafrios e febre intensos que são característicos da malária. “O papel desses receptores que dão o primeiro alerta no caso de infecções tem sido bastante estudado. Nós demos um verdadeiro salto na pesquisa na área desde que eles foram identificados. No entanto, seu papel na infecção pelo parasita da malária ainda é muito pouco estudado”, explica Gazzinelli. Agora, o brasileiro está envolvido no próximo passo do estudo.

Descobrir se existe uma maneira de diminuir o efeito desse sistema para que pacientes com a doença não sofram com esses sintomas. “Acreditamos que é possível fazer isso sem comprometer o combate do organismo ao parasita, porque essa parte do sistema de defesa só atua na detecção e no aviso da infecção”, afirma. Os resultados, no entanto, ainda vão demorar alguns anos antes de chegar aos pacientes.

Fonte: Globo.com

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