sábado, 20 de janeiro de 2007

ONU vai ampliar alerta à mudança climática

Comissão diz que é "muito provável" que ação humana seja responsável. Grupo é composto por mais de 2.500 cientistas.

Uma comissão climática deve lançar o maior alerta já feito de que o uso de combustíveis fósseis está agravando o aquecimento global, disseram fontes nesta sexta-feira (19). Um relatório preliminar feito por 2.500 cientistas considera "muito provável" que as atividades humanas sejam a principal causa do aquecimento nos últimos 50 anos, fortalecendo uma conclusão do seu último estudo, em 2001, de que a causa humana era "provável". A Comissão Intergovernamental sobre a Mudança Climática também deve projetar cenários menos extremos do que em 2001 para o aumento de temperatura e nível do mar no século 21. Isso eliminará os cenários mais e menos catastróficos, mas manterá hipóteses que já configuram enormes problemas para a agricultura, mais inundações, ondas de calor, desertificação e degelo de glaciais. O relatório deve ser apresentado em 2 de fevereiro em Paris, após revisão e aprovação dos governos, que então terão pouco espaço para contestar as conclusões.

Autoridades norte-americanas dizem que os EUA financiaram grande parte das pesquisas da comissão e que as conclusões já estão incluídas nas políticas do país. Ao dizer que a influência humana no aquecimento é "muito provável", o relatório, segundo os critérios de 2001, indica que há uma probabilidade de 90-99 por cento disso. O cenário anterior, "provável", tinha uma possibilidade de 60-90 por cento. Dessa forma, há menos espaço para que os céticos aleguem variações naturais, como a exposição ao sol, e não emissões de poluentes do efeito estufa. O relatório preliminar projeta temperaturas médias entre 2 e 4,5 graus Celsius acima da média atual até 2100, caso o mundo não reduza drasticamente as emissões de carbono. A União Européia diz que um aumento de apenas 2 graus já provocará "perigosas" alterações climáticas no mundo. O relatório de 2001 projetava um crescimento de 1,4 a 5,8 graus Celsius. O novo relatório, segundo as fontes, também deve projetar um aumento de 9 a 88 centímetros no nível médio dos mares até 2100. Não há dados sobre as novas cifras, mas elas devem ser menos abrangentes. Os Estados Unidos, maior poluidor mundial, rejeita limites obrigatórios às emissões de gases do efeito estufa, como prevê o Protocolo de Kyoto, mas o governo Bush diz que aceitará medidas mais drásticas para conter as emissões "se a ciência justificar".

UE pode limitar emissões de CO2 para carros

A Comissão Européia pensa em criar nova legislação continental com o objetivo de combater o aquecimento global. A Comissão pode determinar na próxima semana a adoção de medidas para reduzir as emissões de CO2 dos carros novos, por considerar os esforços dos construtores insuficientes até aqui. Na revisão de sua estratégia sobre o número de carros no mercado, a o órgão propôs quarta-feira que os carros novos emitam em média 120 gramas de CO2 por quilômetro percorrido em 2012, ou seja, aproximadamente cinco litros de gasolina por 100 quilômetros ou 4,5 litros de diesel nos testes das fábricas, indicaram fontes da comunidade européia. A Comissão deve colocar várias opções sobre a mesa para atingir este objetivo.

Segundo várias fontes, ela deve manifestar sua preferência em uma legislação obrigatória. Mas o debate entre comissários não terminou nesta sexta-feira e deve ser retomado somente na próxima quarta-feira, destacou o porta-voz do comissário para a Indústria Günter Verheugen, mais favorável aos construtores e hostil à legislação obrigatória solicitada por seu colega da pasta do Meio Ambiente, Stavros Dimas. Verheugen defende "uma aproximação integrada" onde os construtores seriam convidados a fazer esforços com outros industriais, como os de pneus e combustíveis, para que juntos possam chegar a 120 gramas de CO2 por quilômetro. "Nós devemos considerar a mudança climática, e também o interesse dos consumidores e a competitividade de nossas empresas", afirmou Verheugen em entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal francês de economia Les Echos. "Não vamos esquecer que os carros de alta categoria são um ponto forte das exportações da União Européia". "Não haverá proposta legislativa da Comissão este ano", indicou Verheugen.

A questão de uma legislação obrigatória ou não é chave. Até aqui, a redução das emissões é voluntária para os construtores. Em 1998-1999, os construtores europeus, japoneses e coreanos se comprometeram em fazer com que seus carros particulares liberem até 140 gramas de CO2 em média daqui até 2008-09, ou seja um consumo de 5,25 litros de diesel ou 5,8 litros de gasolina por 100 km. Mas em 2005 a média das emissões -maior para um carro popular grande, um carro esporte ou uma 4X4 do que para um carro pequeno- era ainda de 162 gramas de CO2 por quilômetro, tornando improvável o respeito das metas. Segundo um estudo publicado no fim de outubro por uma ONG, a Federação européia para o transporte e o meio ambiente, "somente cinco das 20 principais marcas (Fiat, Citroën, Renault, Ford e Peugeot) comercializadas na Europa" atingirão a meta de 140 gramas em média para sua frota em 2008. O estudo estigmatiza, sobretudo, o primeiro construtor europeu Volkswagen, cuja redução das emissões foi duas vezes menor do que a considerada necessária.

A Associação dos construtores de automóveis europeus (ACEA) contesta a responsabilidade dos industriais e considera que o atraso se deve "a uma forte demanda dos clientes por carros maiores e mais seguros e uma receptividade decepcionante por parte dos consumidores dos modelos muito econômicos em combustíveis". As emissões dos novos modelos caíram em média 12,4% entre 1995 e 2004, destacou. Mas segundo a Comissão, "isto não foi suficiente para compensar o efeito do aumento do número de carros em circulação e do tamanho dos carros". Na realidade, o transporte rodoviário responde por mais de 20% das emissões de CO2 na UE, com os carros particulares responsáveis por mais da metade destas emissões. Bruxelas deve, por outro lado, lamentar a fragilidade até aqui dos incentivos fiscais e das campanhas de informação sobre os carros econômicos em combustível, e pedir mais desenvolvimento.

Fonte: Globo.com

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