Juliana Tinoco
Fósforo de esgoto responsável por contaminar água de rios pode ser combatido com lodo Um processo inovador e barato para eliminar o fósforo presente no esgoto foi desenvolvido na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
O esgoto no Brasil, mesmo quando passa pelas estações de tratamento de esgoto, retorna para os mananciais dos rios rico em fósforo, oriundo das fezes humanas, com alto poder de contaminação. Ao contrário dos países desenvolvidos, o Brasil realiza apenas as etapas primária e secundária de tratamento, que são, respectivamente, as de remoção das sujeiras sólidas grosseiras, como pedaços de madeira, papel e plástico, e das sólidas solúveis suspensas. A etapa terciária do tratamento, responsável pela eliminação de nutrientes químicos como o fósforo, ainda não é comum no país. “O resultado é que apenas 40% do fósforo do esgoto são eliminados nas duas primeiras etapas. O resto fica no esgoto tratado”, explica a engenheira civil Iara Regina Soares Chao, responsável pela pesquisa. Chao ressalta que a remoção de nutrientes durante o tratamento de esgotos é importante para proteger a qualidade das águas de rios e reservatórios. Segundo ela, o excesso de fósforo na água é uma das causas da eutrofização dos rios, fenômeno de crescimento excessivo de plantas aquáticas e organismos como as algas, que têm potencial para a liberação de grande quantidade de toxinas. “A pessoa que entra em contato com essa água corre risco de adoecer e até morrer, dependendo das concentrações ingeridas e de suas condições de saúde”, alerta.
A pesquisadora explica ainda que a eutrofização provoca a morte de peixes, afeta a biodiversidade, libera gases tóxicos que causam odores desagradáveis e diminui a transparência da água. “Além disso, provoca proliferação excessiva de macrófitas, que podem interferir até na produção de energia, se essas plantas aquáticas ficarem presas nas turbinas de hidrelétricas”, acrescenta. Para evitar os riscos, as empresas de tratamento de água, responsáveis pela comercialização desse recurso, adicionam uma carga extra de produtos para tratar a água originária de rios contaminados, o que encarece a produção. “Esse problema ocorre porque não existe legislação no país que regule a carga de fósforo permitida para lançamento nos rios”, diz. E completa: “Seis bacias hidrográficas só no estado de São Paulo foram classificadas como eutrofizadas.”
Da agricultura para o saneamento
A pesquisadora revela que essa utilidade viria em um momento certo, já que as previsões são de que as reservas naturais de fósforo usadas para esse fim se esgotem até 2035. Para que o resultado do trabalho possa ser posto em prática, Chao sugere que a estação de tratamento de água, de onde se origina o lodo, seja próxima da estação de tratamento de esgoto, onde ele será aplicado. “As futuras estações devem ser projetadas de forma integrada, senão fica economicamente inviável”, diz. A pesquisadora ressalta ainda que o uso do lodo vai tornar mais barato o processo de tratamento terciário do esgoto. “Em outros países, produtos químicos são adicionados em etapas subseqüentes àquelas que já possuímos em nossas estações de tratamento, em um processo mais caro que a nossa opção”, conta. Segundo a engenheira, já existem estações interessadas em implantar o novo sistema.
Fonte: Ciencia Hoje
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