Érica Santana
Os dados apresentados pela pesquisa da Embrapa Cerrados (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que concluiu que 61% do cerrado ainda conserva sua vegetação original, são positivos, mas isso não significa que a situação desse bioma não seja preocupante. A afirmação é do coordenador do Programa Nacional de Bacias Hidrográficas do Ministério do Meio Ambiente, Maurício Laxe. “Esses dados são fundamentais para que a gente possa remodelar as estratégias, mas não tiram do alerta a situação da degradação do cerrado”, disse Laxe, em entrevista à Agência Brasil.
A pesquisa, divulgada na semana passada pela Embrapa Cerrados em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), avaliou imagens captadas em 2002 por satélite em dez estados e no Distrito Federal.
O coordenador disse que, apesar de a pesquisa da Embrapa apresentar detalhamento do ponto de vista espacial, é preciso levar em conta que os dados foram captados há cinco anos. “Grande parte dessa área já sofreu degradação. Nós tivemos uma expansão grande da soja nos últimos anos e com certeza, se for dar o retrato hoje, pela velocidade do desmatamento e ainda a falta de consciência ambiental, esses números estão piorando cada vez mais”, explicou. De acordo com a Embrapa, o cerrado possui 207 milhões de hectares, dos quais 78,5 milhões são usados na agricultura e em pastagens cultivadas. Laxe disse que as bacias hidrográficas que se encontram no cerrado não estão protegidas, principalmente as do São Francisco, Paraná e do Araguaia-Tocantins. Segundo ele, o desrespeito pelas áreas de preservação permanente (APPs) é uma das principais causas da degradação acelerada do cerrado e das suas nascentes. Essas áreas protegem vegetação à margem de cursos d’água, nas encostas e no topo de morros e serras, entre outros locais. O coordenador ressaltou “a necessidade de uma política voltada para o cerrado começar a se configurar de forma mais contundente no país”. Ele também defendeu a intensificação da fiscalização.
Maurício Laxe lembrou que até pouco tempo atrás o cerrado e caatinga não eram reconhecidos como biomas nacionais. Em agosto de 2004, a Comissão Especial do Cerrado, no Congresso Nacional, aprovou, por unanimidade, proposta de emenda à constituição (PEC 115 de 95) reconhecendo as duas vegetações como Patrimônio Nacional. Até então, só mata atlântica, a floresta amazônica, a Serra do Mar, o Pantanal e a zona costeira integravam o patrimônio. Segundo Laxe, medidas como essa “apontam positivamente para uma preocupação maior em relação à preservação”.
Fonte: Agência Brasil
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