quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Dados sobre o cerrado são positivos, mas não eliminam alerta, diz coordenador de programa de bacias

Érica Santana

Os dados apresentados pela pesquisa da Embrapa Cerrados (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que concluiu que 61% do cerrado ainda conserva sua vegetação original, são positivos, mas isso não significa que a situação desse bioma não seja preocupante. A afirmação é do coordenador do Programa Nacional de Bacias Hidrográficas do Ministério do Meio Ambiente, Maurício Laxe. “Esses dados são fundamentais para que a gente possa remodelar as estratégias, mas não tiram do alerta a situação da degradação do cerrado”, disse Laxe, em entrevista à Agência Brasil.

A pesquisa, divulgada na semana passada pela Embrapa Cerrados em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), avaliou imagens captadas em 2002 por satélite em dez estados e no Distrito Federal.
O coordenador disse que, apesar de a pesquisa da Embrapa apresentar detalhamento do ponto de vista espacial, é preciso levar em conta que os dados foram captados há cinco anos. “Grande parte dessa área já sofreu degradação. Nós tivemos uma expansão grande da soja nos últimos anos e com certeza, se for dar o retrato hoje, pela velocidade do desmatamento e ainda a falta de consciência ambiental, esses números estão piorando cada vez mais”, explicou. De acordo com a Embrapa, o cerrado possui 207 milhões de hectares, dos quais 78,5 milhões são usados na agricultura e em pastagens cultivadas. Laxe disse que as bacias hidrográficas que se encontram no cerrado não estão protegidas, principalmente as do São Francisco, Paraná e do Araguaia-Tocantins. Segundo ele, o desrespeito pelas áreas de preservação permanente (APPs) é uma das principais causas da degradação acelerada do cerrado e das suas nascentes. Essas áreas protegem vegetação à margem de cursos d’água, nas encostas e no topo de morros e serras, entre outros locais. O coordenador ressaltou “a necessidade de uma política voltada para o cerrado começar a se configurar de forma mais contundente no país”. Ele também defendeu a intensificação da fiscalização.

Maurício Laxe lembrou que até pouco tempo atrás o cerrado e caatinga não eram reconhecidos como biomas nacionais. Em agosto de 2004, a Comissão Especial do Cerrado, no Congresso Nacional, aprovou, por unanimidade, proposta de emenda à constituição (PEC 115 de 95) reconhecendo as duas vegetações como Patrimônio Nacional. Até então, só mata atlântica, a floresta amazônica, a Serra do Mar, o Pantanal e a zona costeira integravam o patrimônio. Segundo Laxe, medidas como essa “apontam positivamente para uma preocupação maior em relação à preservação”.

Fonte: Agência Brasil

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