quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Fumo induzido pelo ambiente

Estudo avalia 2,6 mil pessoas do nascimento aos 18 anos e conclui que 15% dos adolescentes fumem diariamente e que os fatores de risco associados ao fumo variam entre os sexos

Thiago Romero

Em 1982, pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) entrevistaram as mães de 5.914 bebês nascidos em três maternidades da cidade gaúcha para coletar dados socioeconômicos e obter informações sobre a gravidez e o comportamento social familiar. Nos anos de 2000 e 2001, os adolescentes nascidos em 1982 completaram a maioridade e foram procurados pelos mesmos pesquisadores, que aplicaram questionários nos 2,2 mil rapazes e 473 moças localizados. O alistamento militar foi um dos fatores que auxiliou na busca pelos homens. O objetivo foi verificar a relação entre o ambiente social e os fatores de risco que, presentes no início da vida, determinaram a prevalência do tabagismo na adolescência.

Entre os homens, 48,6% haviam experimentado cigarro e 15,8% fumavam diariamente. Nas mulheres, os índices foram de 53,1% e 15,4%, respectivamente. Ana Maria Menezes, Pedro Hallal e Bernardo Horta, autores do trabalho, apontam que, embora o consumo diário de cigarros tenha sido semelhante para rapazes e moças (15%), os fatores de risco associados ao hábito de fumar foram diferentes entre os sexos. Segundo o estudo, no caso dos meninos, o fumo na adolescência foi mais freqüente entre os que eram filhos de mães solteiras ou de pais com baixa escolaridade. Já as meninas fumantes pertenciam a famílias nas quais as mães fumaram durante a gravidez e os pais tinham problemas relacionados ao álcool. “Por se tratar de uma pesquisa quantitativa, fizemos apenas as associações dos fatores de risco. A proposta não foi avaliar as razões dessas diferenças, o que demandaria novos estudos qualitativos, mas pudemos verificar que o ambiente se mostrou decisivo para que crianças e adolescentes se tornassem fumantes”, disse Ana Maria Menezes, professora do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Faculdade de Medicina da UFPel, à Agência FAPESP.

O estudo identificou alta associação, em ambos os sexos, entre baixo nível socioeconômico e maior consumo de cigarros. “Uma forma simples de combater o problema seria aumentar o custo dos maços de cigarro”, sugere Ana Maria. Para ela, se os fatores de risco são diferentes entre os sexos, as campanhas antitabagismo também deveriam ter conteúdos distintos.
“Campanhas publicitárias da indústria tabagista costumavam ter jovens como público-alvo. A dependência e o vício começam nessa fase da vida. Enquanto isso, os programas de conscientização no Brasil deixam de abordar particularidades dos sexos, como questões voltadas à estética, dentição e rugas para as mulheres, por exemplo, e a impotência sexual para os homens”, disse.


Mais mulheres fumantes


De acordo com Ana Maria, estudos feitos antes do ano 2000 apontavam que as mulheres fumavam com menos freqüência do que os homens. “Como nosso trabalho mostra que a prevalência de consumo é idêntica, ou seja, 15% dos indivíduos fumam diariamente, podemos concluir que não há mais diferenças entre os sexos”, afirma. “Estudos recentes indicam que o consumo atual entre as mulheres já está um pouco mais alto do que entre os homens. Nossa pesquisa verificou que o número de mulheres que experimentou cigarros na adolescência (53,1%) é maior que o de homens (48,6%)”, revela Ana Maria.
Para ler o artigo Early determinants of smoking in adolescence: a prospective birth cohort study, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.


Fonte: Agência Fapesp

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