quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Nova tecnologia na mineração de cobre reduz emissão de gases poluentes

Alana Gandra

O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, concluiu a primeira fase do projeto de lixiviação bacteriana, colocando em funcionamento a primeira Unidade Semi-Piloto de Biolixiviação computadorizada. O objetivo é reduzir a emissão de gases poluentes durante a extração do concentrado de cobre, o que diminui, em conseqüência, as emanações que contribuem para o efeito estufa na atmosfera. Com isso, ganha também o cidadão, principalmente o que reside em áreas próximas das minas, que pode respirar um ar mais limpo.

Segundo o coordenador do projeto, Luís Sobral, a unidade visa à utilização de microorganismos, ou seja, organismos vivos que estão presentes no próprio minério, “e fazer com que estes, de forma bioestimulada, acelerem o processo oxidativo dos sulfetos de cobre, que são estruturas minerais contendo cobre”. A bactéria abre essas estruturas para liberar o cobre de forma solúvel, de onde ele é recuperado na forma de metal, explicou Sobral, em entrevista à Agência Brasil. Ele informou que isso é feito convencionalmente por um processo pirometalúrgico, em que a queima de sulfetos de cobre ocorre a temperaturas superiores a mil graus centígrados. No processo pirometalúrgico, as peças mineralógicas de cobre são transformadas diretamente em cobre metálico, também conhecido como cobre blister. Esse material é impuro, porque o processo não é seletivo somente para cobre, destacou Sobral. Por isso, é necessário que o material passe por um processo denominado eletrorrefino, que consome muita energia, a exemplo do pirometalúrgico, de transformação dos sulfetos em cobre metálico.
A meta do Cetem é substituir de forma gradual o processo pirometalúrgico pelo bio-hidrometalúrgico, de lixiviação bacteriana. “O processo de biolixiviação é menos poluente, evita as emanações do processo piro, causadas por metais como arsênio, cádmio, chumbo, mercúrio, telúrio, selênio e bismuto, elementos voláteis nessa temperatura”, destacou Sobral. Ele explicou que o processo piro necessita de um sistema sofisticado de retenção dos metais para que não cheguem à atmosfera, para que não poluam. Além de afetar o meio ambiente, tal processo implica elevado consumo de energia.

Na biolixiviação, usam-se organismos vivos presentes no próprio minério. “É só uma questão de bio-estimulá-los, de fazer com que eles funcionem de maneira mais efetiva, com o uso de incentivos como fontes de carbono, nutrientes, nitrogênio, fósforo e potássio. O que se faz é só estimular o crescimento dessas bactérias e seu funcionamento. Aí, consegue-se extrair o cobre de maneira menos poluente. Esses metais não vão para o meio ambiente e, com isso, tem-se cobre extraído dos bens minerais, a um custo bem inferior ao do processo piro”, afirmou Sobral.Em termos de investimento geral, ele estimou que o processo biológico desenvolvido pelo Cetem é cerca de 60% mais barato do que o processo convencional. “Ele chega a reduções de gastos de mais de 60%”, destacou Sobral. Ele enfatizou, entretanto, que o grande ganho da nova tecnologia é o aspecto ambiental. “É o grande diferenciador. Deve ser levada em consideração em primeira instância a eliminação do impacto que o processo piro acarreta ao meio ambiente”.
O pesquisador lembrou o valor que o mercado externo dá à comercialização de produtos que apresentem o que se chama de “pegadas do processo”. Segundo Sobral, nesse caso, toda a malha produtiva é rastreada e avalia-se o impacto no meio ambiente.

A empresa cuidadosa com sua malha produtiva, e que se preocupa em afetar cada vez menos o meio ambiente, acaba recebendo incentivos na forma de sobrepreço, disse Sobral. “Isso é bom porque, além do preço naturalmente praticado, tem-se um bônus por não impactar o meio ambiente. Do ponto de vista econômico, a nova tecnologia é satisfatória, mas é muito mais ainda quando agrega as características de não contaminação”, afirmou.

Para gerente de mineradora, nova tecnologia reduzirá importações de cobre

O processo de biolixiviação na extração do cobre, que vem sendo desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) na Mineração Caraíba, com sede na Bahia, vai chegar à etapa industrial isento da emissão de gases poluentes na atmosfera. A afirmação é do gerente de Tecnologia da Caraíba, Paulo Medeiros.
Segundo ele, além de diminuir o impacto ambiental, a nova tecnologia desenvolvida pelo Cetem (centro de pesquisas ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia), contribui para a redução de gastos. Ele informou que o processo tradicional, de queima de sulfetos de cobre (pirometalúrgico), gasta entre US$ 4 mil e US$ 6 mil por tonelada por ano em termos de metal que se quer produzir. “O processo bio-hidrometalúrgico vai gastar algo em torno de US$ 1,6 mil por tonelada por ano. Então, você vê que é muito menos da metade. Esse valor engloba todos os investimentos que você tem que fazer para se construir uma planta de beneficiamento. A quantidade de recursos que se gasta é bem menor”, explicou Medeiros. Ele disse que, também no que se refere ao custo operacional, a economia é de 50%.

De acordo com Medeiros, a Mineração Caraíba produz no interior da Bahia um concentrado de cobre que contém 34% deste metal. O produto é vendido para a Caraíba Metais, localizada em Salvador, onde funciona a parte de metalurgia do grupo industrial. O consumo mundial de cobre é de cerca de 16 milhões de toneladas anuais. O Brasil consome cerca de 300 mil toneladas por ano. Segundo Medeiros, a produção no Brasil é de 25 mil toneladas. As três empresas produtoras não atingem sequer 50% do consumo nacional. É preciso importar cerca de 50% do que o país gasta de cobre, acrescentou. Medeiros acredita que a nova tecnologia poderá resultar, futuramente, na redução de importações de cobre pelas três empresas produtoras nacionais. “Qualquer coisa que se faça no sentido de aumentar a produção ou reduzir custo tem impacto na balança comercial, porque deixa-se de jogar dólares para fora do país”, afirmou. Com o novo processo, cujos custos operacionais são mais baixos e os investimentos, reduzidos, pequenos projetos que hoje estão parados podem se viabilizar, e a diminuição das importações será um reflexo disso, acrescentou.

Fonte: Agência Brasil


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