Érica Santana
Apresentação da Embrapa Cerrados (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) destaca a diversidade de espécies desse bioma. Pesquisa da Embrapa concluiu que 61% do cerrado mantém vegetação nativa e que a área cultivada pode dobrar aproveitando pastagens degradadas
Prevalece, ainda, no Brasil a idéia de que o desmatamento do cerrado seria um bom preço a se pagar pela conservação da Amazônia. A avaliação é do geógrafo da Universidade Federal de Goiás (UFG) Pedro Novaes, que defende cautela diante de pesquisa divulgada pela Embrapa Cerrados (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) que aponta que 61% do cerrado ainda conserva a vegetação nativa.“A Amazônia existe em interação com o cerrado”, observou Pedro Novaes, em entrevista à Agência Brasil. “Então, a devastação do cerrado vai ter conseqüências muito sérias sobre a Amazônia e sobre outros biomas também, como já está tendo.”
O pesquisador, mestre em ciências ambientais, ressaltou a necessidade de continuar preservando esse bioma, cujo limite oficial (207 milhões de hectares) corresponde a um quarto do território nacional. “Quando se compara a biodiversidade da Amazônia e da mata atlântica, percebe-se que elas têm muitas espécies comuns. No cerrado, ao contrário, grande parte das espécies dele só existem aqui. Se a gente destrói o hábitat dessas espécies, elas vão estar extintas”. O geógrafo apontou a falta de compromisso com a implementação dos corredores de biodiversidade – redes de áreas protegidas, que buscam permitir que as populações de seres vivos se desloquem e se reproduzam, evitando empobrecimento genético, em regiões com ocupação humana. “É um conceito muito bonito, mas na prática eu acho que isso, até agora, não resultou em grande coisa em termo de conservação dos cerrado ou de outros ecossistemas do Brasil.” Ele também disse que no país as reservas legais – percentual da propriedade em que é obrigatório manter a vegetação original – existem de direito, mas não de fato: “Se a gente verificar na prática o que são essas reservas, a vasta maioria delas está averbada em terras de pastagens, que não têm mais a vegetação nativa preservada”.
Novaes classificou como “bastante grave” e “controversa” a questão das queimadas no cerrado. Lembrou que o fogo tem um papel natural no bioma e que sempre ocorreu naturalmente, mas ressaltou que as queimadas provocadas pelo homem foram responsáveis pela desestruturação do bioma. Ele disse ainda que a vegetação ciliar (aquela que margeia os rios e cursos d’água em geral), que por lei, deveria ser de preservação permanente, também tem sido devastada pela ação humana. “A preservação da mata ciliar fica na mesma ficção da reserva legal. Basta sair de casa e viajar para a gente ver qual é a situação da vegetação ciliar, a gente quase não vê [esse tipo de formação]”.
Fonte: Agência Brasil
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