quinta-feira, 1 de março de 2007

Formiga da cidade agüenta mais calor


Formigas estudadas pelos pesquisadores em SP. (Foto: Divulgação)

Saúvas de SP levaram 20% mais tempo para ficar imobilizadas em temperatura extrema. Adaptação pode fornecer pistas sobre reação da fauna ao aquecimento global

Reinaldo José Lopes

É preciso ser durão para sobreviver na cidade grande - mesmo que você não passe de uma simples formiga. A prova dos noves acaba de vir de experimentos realizados por pesquisadores da USP, junto com colegas da Austrália e dos EUA. Eles compararam saúvas da selva de pedra de São Paulo com suas companheiras da zona rural e descobriram que os insetos urbanos são muito mais resistentes ao calor - o que parece ser uma resposta às temperaturas elevadas que predominam na metrópole. O trabalho revela uma variabilidade surpreendente de adaptação à temperatura dentro da mesma espécie, ainda mais no caso de um animal de sangue frio, cujo organismo está totalmente à mercê das mudanças do ambiente externo. E traz uma contribuição importante num momento em que a ameaça do aquecimento global está mais presente que nunca: a diferença de temperatura entre zona urbana e zona rural poderia servir de modelo para verificar como os seres vivos vão responder a um planeta mais quente. "O fato é que a gente não faz a menor idéia sobre muitos dos efeitos de um ambiente mais quente sobre a fauna. Espero que o nosso esforço, ao lado do de outros pesquisadores ao redor do mundo, ajude a entender qual é o potencial dos animais para se ajustar a essas condições que estão mudando", declarou ao G1 o biólogo Carlos Navas, líder do Laboratório de Ecofisiologia e Fisiologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP.

Junto com seu aluno Pedro Ribeiro e colegas estrangeiros, ele assina o artigo científico descrevendo a descoberta no periódico "PLoS One". Navas conta que o foco geral de seu trabalho é entender como o organismo dos animais se ajusta à temperatura do ambiente, tendo trabalhado com anfíbios, lagartos e invertebrados - todos bichos de sangue frio. "Foi então que tivemos a idéia de estudar o papel das cidades como ilhas de calor", afirma ele. Essa propriedade das grandes metrópoles é bem conhecida: graças a fatores como a facilidade dos prédios em absorver calor, as mudanças que eles causam na circulação do ar e a falta de árvores, uma grande cidade pode ser até 12 graus Celsius mais quente que a zona rural que a circunda.

No asfalto tinha uma saúva

As saúvas da espécie Atta sexdens, além de ocupar tanto o nicho urbano quanto o rural, são bichos de ampla distribuição no Brasil, de fácil manejo e de interesse prático para áreas como a agricultura, onde são consideradas praga. Por tudo isso, elas eram uma escolha lógica para abordar a questão das ilhas de calor. Os pesquisadores coletaram "voluntárias" da espécie oriundas de quatro formigueiros no campus paulistano da USP (a amostra urbana) e outras nascidas em cinco colônias da zona rural. "Escolhemos formigueiros ao longo da rodovia dos Bandeirantes, a não mais que 30 km ou 40 km de distância, mas o importante era que eles estivessem fora da mancha urbana", explica Pedro Ribeiro, que cursa o doutorado.

As formigas foram, então, submetidas a dois testes de resistência ao frio e ao calor. No primeiro, os insetos eram colocados sobre uma placa de Petri (as típicas plaquinhas de vidro de laboratório) e levadas até uma câmara com temperatura constante de 42 graus Celsius. No segundo, a placa de Petri era colocada dentro de uma caixa, com gelo por cima e água gelada por baixo. "Assim, a temperatura da placa ficava bem próxima da de congelamento", diz Ribeiro.
No caso do frio, não houve diferenças significativas entre os dois grupos, sugerindo que a tolerância a baixas temperaturas permanece a mesma em ambos. Porém, as saúvas urbanóides demoravam 20% mais tempo para sucumbir aos efeitos do calor excessivo e ficar totalmente imóveis. Em média, elas demoravam pouco menos de 220 minutos para ser nocauteadas pelo calor, contra pouco menos de 180 minutos das formigas do campo.

Genes ou versatilidade?

Os resultados em si parecem não deixar muita margem para dúvida, mas interpretá-los é uma outra história. "Eu acho muito complicado tentar chutar algo por enquanto", acautela-se Navas. Uma hipótese possível é atribuir a resistência das saúvas urbanas à seleção natural: alguns insetos mais capacitados geneticamente a lidar com o calor teriam se multiplicado mais sob as novas condições e espalhado essa característica entre a população de formigas por meio de seus descendentes. Por outro lado, talvez os bichos contem com uma plasticidade razoável, acostumando-se com o calor ao longo da vida, sem necessidade de um componente genético. De qualquer maneira, seria uma boa notícia para os que temem conseqüências danosas para a fauna com o aquecimento global? Ainda é cedo para dizer, diz Navas. No entanto, ele diz esperar que mais estudos do tipo possam trazer respostas mais claras. "É muito importante saber qual é o limite de cada espécie. Eu, por exemplo, estudo um sapinho da caatinga que já vive num ambiente extremo. Ele é ativo numa temperatura apenas 1 grau Celsius mais baixa do que o limite dele. Que risco a mudança climática poderia trazer para uma espécie como essa?"
O trabalho recebe apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão do governo federal.

Fonte: Globo.com

2 comentários:

Amanda Oliveira disse...

Qual é a temperatura do corpo de uma formiga?

Babi disse...

Cade a resposta da Amanda, eu também quero saber qual é a temperatura de uma formiga, parafazer um trabalho de física com urgência?