quinta-feira, 15 de março de 2007

Mudanças globais, impactos regionais


Estudo coordenado por Luiz Drude de Lacerda aponta possíveis causas do aumento de 40% nos manguezais no Nordeste, como a redução na quantidade de chuvas e o aumento no nível dos oceanos (foto: Lab. Protee)


Reflexo das mudanças climáticas e ambientais ocorridas nos últimos anos, no Nordeste do Brasil foi constatado um aumento de 40% no número de manguezais. Desse total, 67% surgiram em áreas de baixa concentração urbana, segundo o biofísico Luiz Drude de Lacerda, professor da Universidade Federal do Ceará.

Os dados foram apresentados na segunda-feira (12/3), último dia do 1º Simpósio Brasileiro de Mudanças Ambientais Globais, promovido no Rio de Janeiro pela Academia Brasileira de Ciências, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). A expansão dos manguezais para o interior ocorre ao mesmo tempo em que se verifica a perda desse tipo de área devido a atividades humanas desenvolvidas no litoral. “Os manguezais são ecossistemas capazes de fornecer informações valiosas sobre a dinâmica ambiental da área litorânea. Alterações em sua distribuição podem ter influência negativa na ecologia local, na produtividade primária e na produção pesqueira”, disse o pesquisador à Agência FAPESP.

O estudo coordenado por Lacerda procurou mapear detalhadamente o aumento das áreas de mangue no Nordeste e apontar as possíveis causas de sua expansão para o interior. Segundo a pesquisa, a redução na quantidade anual de chuvas na região e o aumento em escala global do nível dos oceanos podem causar uma maior penetração de águas marinhas rio acima, proporcionando ambiente ideal para a formação dos mangues. O problema é o manguezal ser um grande concentrador e mobilizador de poluentes. “Trata-se de um sistema que naturalmente acumula uma quantidade significativa de contaminantes. O aumento de áreas de manguezais vem sempre acompanhado de um processo de mobilização de poluentes. Assim, uma população que sobrevive dos manguezais, cultivando caranguejos, por exemplo, pode estar economicamente bem, mas por outro lado terá problemas com a qualidade da água”, explicou.

Metais pesados

O biofísico também abordou os impactos que essas formações podem trazer para a economia pesqueira, principalmente quando localizadas em regiões costeiras. Uma das abordagens do estudo Geoquímica de sedimentos e o monitoramento de metais na plataforma continental Nordeste oriental do Brasil correlaciona os níveis de contaminação de organismos vivos com o aumento do número de manguezais. “Como saber, por exemplo, se uma cavala – peixes que estão sempre próximos à costa – tem concentração de mercúrio acima ou abaixo do nível máximo que a Organização Mundial de Saúde preconiza, que é de 5%?”, questionou.
Um dos metais tóxicos mais comuns, o mercúrio se acumula facilmente na biota marinha, por meio do lixo e de detritos depositados em áreas costeiras, oriundos de processos de industrialização ou da urbanização. “As lâmpadas que são jogadas pela população nos lixões têm forte concentração de mercúrio. Por conta disso, é importante saber como um peixe que se leva à mesa foi exposto a material tóxico. Como a contaminação não é um processo que se evite facilmente, monitorar o que comemos é o que se pode fazer”, disse Lacerda.

Fonte: Agência Fapesp

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