Um casal de pesquisadores do Rio Grande do Sul quer colocar o Brasil entre os grandes no mercado mundial de energia solar. Desde 2004, Adriano Moehlecke e Izete Zanesco coordenam o desenvolvimento de uma planta-piloto para a produção industrial de módulos fotovoltaicos.
A grosso modo, são as placas que absorvem radiação solar e a convertem em eletricidade. Ao fim do projeto, em maio de 2008, terão sido investidos R$ 6 milhões, dos quais R$ 2,6 milhões aportados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia."Nosso objetivo é produzir equipamentos com a mesma eficiência dos concorrentes internacionais, porém a custos menores. Descobrimos matérias-primas e processos mais baratos e, de acordo com previsões preliminares, podemos reduzir o preço dos módulos em até 15%", explica Adriano.
O projeto é realizado no Núcleo Tecnológico de Energia Solar (NT-Solar), da Faculdade de Física da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS).O mercado de energia solar, que cresce em média 40% ao ano, movimentou cerca de US$ 15 bilhões em 2006. A capacidade de produção de todos os módulos vendidos ao redor do mundo no ano passado foi de 2.536 megawatts, o que equivale a 15% da potência de Itaipu, hidrelétrica responsável por 30% do abastecimento brasileiro."Não a vejo como fonte principal, mas acho perfeitamente viável que a energia solar, no futuro, seja responsável por até 30% do abastecimento de qualquer país", explica Adriano. Na União Européia, a meta é que, até 2020, 20% da energia utilizada seja renovável, o que inclui fontes alternativas, como a solar, eólica e biomassa. "Se a energia solar conseguir 5% desse bolo, a procura por módulos fotovoltaicos será enorme", prevê Adriano. Hoje, a demanda na Europa já é maior do que a oferta. "A Alemanha, Espanha e Itália importam 45% do que é consumido, e só não compram mais porque não há produção industrial suficiente", afirma o pesquisador.
Existe, porém, um obstáculo para a popularização da energia solar: os altos custos. O preço médio do watt fica entre US$ 4 e US$ 5, cerca de cinco vezes mais caro do que o hidrelétrico. Para se ter uma idéia, o abastecimento de uma casa de dois quartos necessita de um sistema fotovoltaico de 1 kilowatt, que produziria em média 130 kilowatt/hora por mês em uma cidade como Porto Alegre. O desempenho varia de acordo com os índices de incidência solar de cada região. Com garantia de fábrica de 25 anos, o equipamento custa cerca de US$ 6 mil dólares e é instalado em uma área de aproximadamente 10 m2 no telhado do imóvel. "Os avanços tecnológicos, a constante modernização da produção e a fabricação em maior escala farão os preços caírem naturalmente. Atualmente, o watt já é dez vezes mais barato do que em 1979", lembra Adriano.
O pesquisador cita o exemplo do telefone celular. Há dez anos vendidos por US$ 1.500, são hoje oferecidos de graça por algumas operadoras. Se nas áreas cobertas pela rede elétrica o preço da energia solar ainda assusta, para as regiões mais afastadas trata-se de uma alternativa viável. Segundo dados do Ministério das Minas e Energias, existem cerca de 10 milhões de brasileiros vivendo em localidades sem energia elétrica, a maioria no estado do Amazonas e no Centro-Oeste. Em vários casos, a utilização do sistema fotovoltaico é mais econômica do que a extensão da rede convencional.Para que os módulos cheguem a essas populações e o Brasil possa disputar uma fatia do mercado mundial, Adriano alerta que é preciso mais investimentos na área, sejam eles públicos ou privados. "Quando o trem de determinada tecnologia passa, fica muito difícil correr atrás. Nas décadas de 1960 e 1970, perdemos o da microeletrônica. Hoje, estamos tentando recuperar o tempo perdido, mas não é fácil. A tecnologia fotovoltaica explodiu nos anos 1990 e já estamos um pouco atrasados. Por isso, precisamos agir rápido. A chinesa Suntech produzia, em 1994, 10 megawatts. Em 2006, produziu 160 megawatts e, em 2010, promete chegar a 1000 megawatts. E ela é apenas uma entre as cerca de 15 empresas na China que produzem módulos fotovoltaicos", revela Adriano. No Brasil, a luta é para montar uma primeira indústria.
O objetivo é ter uma empresa que, até 2015, produza 100 megawatts ao ano. "Se conseguirmos, ela estará entre as 20 maiores do mundo", prevê o pesquisador. Em setembro, o projeto da planta-piloto entregará os primeiros módulos prontos, com previsão de produzir 200 sistemas até maio de 2008. "Vamos provar que é viável fabricar esses equipamentos em escala industrial", conclui Adriano. A Petrobras, a Eletrosul e a Companhia Estadual de Geração e Transmissão de Energia Elétrica - RS (CEEE-GT), também parceiras do projeto, devem utilizar os primeiros módulos e verificar em campo o desempenho dos equipamentos. Certificada a qualidade, o passo seguinte será atrair empresas interessadas em realizar a produção industrial dos módulos. Petrobras, Eletrosul e CEEE têm prioridade por serem parceiros do projeto, mas nada impede que outros investidores e empresários negociem a participação no novo negócio.
Fonte: Finep
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