quinta-feira, 31 de maio de 2007

Chás e xaropes sob suspeita

Thiago Romero

Apenas 7,4% dos produtos à base de plantas medicinais vendidos em supermercados e farmácias no Recife contêm nos rótulos ou nas bulas informações técnico-científicas exigidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A conclusão é do trabalho Qualidade de produtos a base de plantas medicinais comercializados no Brasil, realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e publicado na Acta Botanica Brasilica. Foram analisados 27 produtos de marcas diferentes, sendo 11 derivados do capim-santo (Cymbopogon citratus), dez da castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum) e seis da centela (Centella asiatica), provenientes de fabricantes de diferentes estados.
As plantas medicinais escolhidas são as que aparecem com mais freqüência em produtos como chás e xaropes. Em cada um dos 54 estabelecimentos comerciais analisados foram colhidas informações como o nome comercial do produto, composição vegetal, indicações terapêuticas e o laboratório envolvido na produção.

Segundo o trabalho, 92,6% de todos os produtos analisados não continham informações como a composição qualitativa e quantitativa dos princípios ativos, ação do produto, riscos, efeitos colaterais ou adversos e conduta em caso de superdosagem. “Não só no Recife, mas em todo o Brasil, os chás são comercializados em sachês que não seguem a padronização dos medicamentos convencionais, como com rótulos e bulas, apesar de serem produzidos a partir de plantas que contêm princípios ativos que podem ser tóxicos ao organismo”, disse Ulysses Paulino de Albuquerque, coordenador do trabalho e professor do Departamento de Biologia da UFRPE, à Agência FAPESP. Segundo ele, apenas dois produtos continham informações exigidas pela Anvisa, um à base de centela e outro de castanha-da-índia. A ausência de bulas, o principal instrumento de informações técnicas ao consumidor, foi constatada em 22 produtos analisados.
“O problema é que os chás são comercializados como complementos dietéticos, enquanto as pessoas os consomem para uso medicinal. Suas embalagens muitas vezes oferecem informações de uso enganoso, fazendo com que o consumidor acredite nos efeitos milagrosos desses chás contra males como insônia, nervosismo e dor de cabeça”, destacou.

Impurezas

Nas análises de pureza dos produtos, realizadas no Laboratório de Etnobotânica Aplicada da UFRPE e no Laboratório de Química Farmacêutica da UFPE, 59,2% das amostras estavam fora do padrão recomendado pela Farmacopéia Brasileira da Anvisa, documento oficial que estabelece a qualidade dos medicamentos em uso no Brasil. A verificação da pureza baseou-se na determinação do teor de umidade e das cinzas totais. Duas amostras de castanha-da-índia, sete de capim-santo e todas de centela estavam com teor de umidade acima do recomendado, que são 10%, 11% e 6%, respectivamente. “Os produtores têm que ressecar as plantas para formular os chás, mas uma quantidade mínima de água deve permanecer. Entretanto, com a quantidade de água acima do ideal, aumenta a possibilidade de fungos e bactérias serem desenvolvidos na embalagem”, afirma Albuquerque. Todas as amostras à base de centela ultrapassaram o percentual máximo de 11% do teor de cinzas totais. Os produtos derivados de capim-santo e castanha-da-índia apresentaram percentuais de cinzas totais em concordância com o recomendado pela Anvisa. “Cinzas totais são impurezas inorgânicas, ou seja, componentes como areia que são misturados com a planta para dar volume ao produto final”, descreve o professor da UFRPE.

A pesquisa foi financiada pelo Ministério da Saúde, por meio da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para ler o artigo Qualidade de produtos à base de plantas medicinais comercializados no Brasil, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme), clique aqui.

Fonte: Agência Fapesp

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