A tolerância à seca, resultado da disponibilidade de água, afeta diretamente a distribuição de plantas em florestas tropicais. A conclusão está em estudo publicado nesta quinta-feira (3/5), na revista Nature, por um grupo de cientistas que trabalha no Instituto Smithsoniano de Pesquisas Tropicais, no Panamá.
O estudo é importante por destacar que alterações na umidade do solo promovidas por mudanças no clima e pela fragmentação florestal podem alterar a distribuição, a diversidade e a composição de espécies tropicais. Segundo os autores, o mecanismo poderá contribuir significativamente para a formulação de novos modelos de uso do solo e para compreender melhor as mudanças promovidas pelo clima. A idéia que se tem de florestas tropicais é de paisagens exuberantes, sempre verdes e saturadas de água. Mas, embora as temperaturas se mantenham relativamente constantes nessas regiões, a quantidade de chuvas e a disponibilidade de água variam enormemente mesmo em regiões relativamente próximas umas das outras.
A nova pesquisa avaliou a distribuição local e regional de 48 espécies de árvores e arbustos no istmo do Panamá, o estreito pedaço de terra entre o mar do Caribe e o oceano Pacífico que liga as Américas.
Por meio de experimentos e da observação da distribuição de espécies, a tolerância à seca foi o fator que serviu para prever a distribuição de plantas local ou regionalmente. “O istmo do Panamá é o local ideal para testar a idéia de que a distribuição de espécies de plantas é influenciada pela capacidade dessas em tolerar a falta de água”, disse a coordenadora do estudo, Bettina Engelbrecht, que também é da Universidade de Kaiserlauten, na Alemanha. Depois de realizarem experimentos para medir a tolerância à seca das espécies selecionadas, os pesquisadores analisaram a distribuição de plantas em 122 blocos de floresta. Os blocos variaram de áreas mais úmidas, próximas ao Caribe, a locais mais secos, ao lado do Pacífico. As plantas encontradas em áreas menos úmidas se mostraram mais tolerantes à seca.
Os cientistas também analisaram as distribuições de brotos e de árvores mais velhas em uma área de 50 hectares na ilha de Barro Colorado, em que o índice pluviométrico se encontra aproximadamente na média dos valores encontrados nos dois lados do istmo. Verificaram que a tolerância à seca se mostrou um fator de distribuição com maior ênfase para as árvores adultas do que para os brotos, o que implicaria um ajuste de acordo com limitadores climáticos. O grupo responsável pelo estudo analisou ainda diversos fatores que poderiam explicar ou contribuir para a distribuição de plantas, como a tolerância à sombra e a disponibilidade de nutrientes.
De acordo com a pesquisa, identificar a tolerância à seca como causa de padrões de distribuição aumenta a compreensão da diversidade de plantas tropicais e sugere que alterações em padrões de chuva – possível conseqüência para os trópicos das mudanças climáticas no planeta – possam implicar mudanças radicais em comunidades de plantas nessas regiões. “Nos trópicos, mudanças climáticas não resultam apenas em alterações no clima. Modificações dramáticas em padrões de chuva, por exemplo, também são esperadas, e nosso estudo mostra que isso pode ter grandes conseqüências para as florestas tropicais”, disse Benjamim Turner, do Instituto Smithsoniano de Pesquisas Tropicais, outro autor do estudo.
O artigo Droughr sensitivity shapes species distribution patterns in tropical forest, de Bettina Engelbrecht e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.
Fonte: Agência Fapesp
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