sexta-feira, 18 de maio de 2007

Estudantes navegam pelo Tietê (SP) para aprender a preservar o rio

O Navega São Paulo foi criado em 2005 e já levou 4 mil pessoas a passeio no Tietê. Alunos do Colégio Rio Branco gostaram da experiência, 'a não ser pelo cheiro'.

Isabela Noronha

Se de longe o Tietê não passa de um grande canal de águas escuras e mal cheirosas, de perto, a impressão é ainda pior. O lixo fica mais visível e o cheiro beira o insuportável. Garrafas plásticas, dejetos, pedaços de móveis: está tudo ali, boiando. Foi apostando no impacto da proximidade com a sujeira para a conscientização ambiental que nasceu, em dezembro 2005, o Navega São Paulo. Mantido por empresas e sem fins lucrativos, o programa é um passeio de 1h30 (45 minutos de ida, 45 minutos de volta) pelo rio, no barco ecologicamente correto "Almirante do Lago". A embarcação tem 26,5 metros de comprimento e 7,35 metros de altura (do nível da água ao mastro). Por turno, é capaz de levar mais de 150 passageiros, e "não sai com menos de 80 pessoas", pontua o coordenador do programa, Douglas Parisi.

O Navega São Paulo recebe grupos de todas as idades, mas principalmente de crianças e adolescentes, e os passeios são pré-agendadas. Desde 2005, mais de 4 mil pessoas já embarcaram no Almirante do Lago. Além de fazer o passeio pelo rio, os visitantes recebem panfletos e assistem a uma “micro palestra” sobre o Tietê. Em maio deste ano, o Navega inaugurou sua segunda fase. Agora, além do passeio, o programa convida os participantes a criar um núcleo de conscientização ambiental dentro das próprias escolas e comunidades. Esse núcleo é assistido por um monitor do projeto, que ajuda o grupo a fazer intervenções ecológicas no ambiente em que está.

Na tarde de quarta-feira (16), fizeram o passeio 149 alunos do Ensino Fundamental e do Médio do Colégio Rio Branco. Eles nunca tinham visto o Rio Tietê tão de perto. Foi uma surpresa para as crianças. “Acho importante preservar para melhorar nosso ambiente. Se a gente polui muito, os animais morrem e a água fica suja”, diz André Haddad, de 10 anos. A colega dele, Maria Coppola, de 11 anos, concorda. “Se a gente polui, fica tudo embaralhado”, diz. Mas mostrando os conhecimentos recém-adquiridos de preservação ambiental, ela tem esperança na recuperação do Tietê: “Tem processo para despoluir”. Soa a buzina do barco. Uma das coordenadoras do Navega São Paulo, Fernanda Ricci, de 25 anos, avisa: "estamos saindo"! Os estudantes estão sentados em uma sala na parta de baixo do barco - que tem três andares. As janelas são cobertas. Em um telão branco, começa a palestra. Durante cerca de dez minutos, as crianças são apresentadas ao Projeto Tietê, de despoluição do rio. Esse projeto também foi dividido em duas etapas. Na primeira, que começou em 1995 e terminou em 1998, foram implantadas redes coletoras de esgotos e estações de tratamento para a água. A segunda fase começou em 2002 e termina neste ano. O objetivo é aperfeiçoar o sistema instalado e aumentar a quantidade dos esgotos tratados.

Terminada a palestra, os alunos seguem para a parte de cima do barco, que é aberta. Mesmo do alto, podem ver a sujeira do rio em detalhes. “Estou achando uma beleza. Só precisa de um piscineiro”, ironiza João Melo, de 14 anos. Mariana Silveira Ramires, de 13, diz que acha importante o passeio “para ter mais consciência ambiental”. Um dos mais assediados durante a viagem é o condutor do barco, Cláudio Ferreira Gomes, de 46 anos, 20 deles navegando. “Eles (os alunos) querem saber se tem peixe no rio, como é que pilota...”, diz. O condutor conta que o Almirante do Lago foi construído em 1997 em Cardoso, a 559 km a noroeste de São Paulo. Antes de ser trazido para a capital, dividido em duas partes, o barco navegava no Tietê em Barra Bonita, a 302 km de São Paulo. Mas lá, relata Gomes, parece outro rio. “A água é limpa, (o rio) tem 4 km de largura. Tem praia, tem peixe”, lembra. O condutor do barco é trazido de volta ao Tietê da capital pela pergunta de um aluno. “Tio, tio, já viu capivara?”, pergunta Adolfo Torrecilha Júnior, de 10 anos. Ao ouvir a resposta positiva do comandante, retruca. “Já viu morta?” - e, novamente, Cláudio diz que sim.

A viagem segue e o rio se torna uma repetição de água suja. Pequenas bolhas na água dão a falsa impressão de que ali há peixes, mas é só mais um efeito da poluição. Depois de fazer o retorno sob a Ponte do Piqueri, na Zona Norte, o barco volta à “base”, perto da ponte dos Remédios, na Zona Oeste da cidade. No fim do passeio, os alunos vêem as capivaras - provavelmente os únicos animais nas proximidades do rio. Os pequenos visitantes parecem satisfeitos com a experiência. “Achei muito interessante. A não ser o cheiro”, pontua Júlia Cardoso de Souza, de 11 anos. Para amiga dela, Maria Beatriz Ravenduti Zafiro, também de 11 anos, a proximidade serviu para, finalmente, enxergar o Tietê. “A gente passa aqui tantas vezes e nunca vê como é o rio”. Quem quiser agendar o passeio, deve ligar para o Navega São Paulo no telefone (11) 3035 2598

Mais Poluído

Um relatório da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) divulgado na terça-feira (15) mostrou que o Rio Tietê continua muito poluído. O estudo mostra que, em 2006, o índice de oxigênio na água do Tietê chegou a zero durante boa parte do ano, no trecho da capital paulista. O rio apresenta sinais de recuperação na região de Salto, a 105 km de São Paulo, devido à declividade. Mas, na altura da foz do Rio Jundiaí, a velocidade das águas volta a cair - o que reduz o teor de oxigênio nas águas. A partir de Barra Bonita, a 302 km de São Paulo, o rio começa se recuperar outra vez. A Cetesb acredita que chuvas em excesso, ou em pouca quantidade, deixam o rio mais poluído. No verão, quando chove muito, a água que alaga as ruas leva o lixo e o esgoto para o Tietê. Já no período de estiagem, no meio do ano, o nível do rio fica baixo e a água não circula o suficiente. Assim, a capacidade do rio se autolimpar fica limitada.

Fonte: Globo.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse texto é muito chato !