segunda-feira, 25 de junho de 2007

Caso desmatada, Amazônia emitirá 60 vezes mais carbono para a atmosfera

Luís Mansueto

A floresta amazônica possui um estoque de aproximadamente 100 bilhões de toneladas de carbono. Isso significa que, caso a floresta seja desmatada, será lançado na atmosfera terrestre o equivalente a 14 vezes as emissões anuais globais pela utilização de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural) e 60 vezes as emissões anuais por desflorestamentos em todo o planeta.

O alerta foi feito pelo cientista Antônio Manzi, do Programa LBA (Experimento de Larga Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), coordenado cientificamente pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT), durante a audiência pública sobre "Mudanças Climáticas". A audiência aconteceu na última segunda-feira (18), na Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas (ALEAM), para a Comissão Especial Mista de Mudanças Climáticas do Congresso brasileiro. Durante a sessão, foi discutido sobre o tema "Aquecimento Global: diagnóstico e perspectivas para o Brasil", com o enfoque para a Amazônia. Na oportunidade, foram debatidas alternativas para o desenvolvimento econômico e sustentável da região. A audiência contou com a presença de senadores, deputados federais e estaduais, representantes de órgãos do governo, cientistas e dirigentes de instituições de pesquisa da região etc. Manzi disse que as mudanças ambientais e o aquecimento global, causados pelo consumo de combustíveis fósseis e pelos desflorestamentos, são inevitáveis.

Segundo ele, já houve um aumento por volta de 1ºC da temperatura na Amazônia no último século. "A perspectiva é de aumento de 0,3ºC por década nos próximos 30 anos e que até o fim desde século o aumento seja superior a 4ºC ou 5ºC se não houver uma grande redução das emissões. Esse aumento causará impactos nos ecossistemas e na sociedade, causando a perda de biodiversidade, tanto terrestres quanto aquáticas, e sérias ameaças à saúde humana", afirmou. Disse também que a sociedade, como um todo, deva ser orientada a se adaptar às conseqüentes mudanças, além de buscar formas para reduzir os seus efeitos. Em relação ao seqüestro de carbono, o pesquisador explicou que estudos recentes estimam que a floresta amazônica vem capturando entre 300 e 600 milhões de toneladas por ano nas últimas três décadas. Isso quer dizer que os ecossistemas da Amazônia prestam um serviço ambiental importante ao retirar parte do excesso de gás carbônico da atmosfera e, por isso, contribui para diminuir o aquecimento global. "A manutenção da floresta em pé também pode representar importante contribuição da Amazônia em um esforço global de atenuação do aquecimento global. Estima-se que seja necessário diminuir a emissão dos gases de efeito estufa a metade das emissões atuais até 2050", enfatizou.

Segundo Manzi, manter a floresta em pé não quer dizer que a sociedade precise parar de evoluir. E garante: "é possível explorar os recursos naturais da floresta e do subsolo sem grandes impactos ambientais. Há, por exemplo, tecnologia disponível para extração seletiva de madeira com baixo impacto ambiental. A riqueza da diversidade biológica dos ecossistemas amazônicos possibilita a produção de alimentos, cosméticos, energia e produtos farmacêuticos". Ele também falou que é possível recuperar áreas degradadas ou abandonadas, fazer o reflorestamento para ajudar no seqüestro de carbono e destiná-las a atividades lucrativas, por exemplo, geração de serviços ambientais, agricultura sem queimadas e para a geração de biocombustíveis e sistemas agroflorestais para a produção de alimentos e madeira. "O seqüestro de carbono é um serviço ambiental altamente relevante. Contudo, não se pode esquecer dos ecossistemas terrestres. Eles são importantes para a manutenção da qualidade da água e interagem fortemente com a atmosfera, por meio da reciclagem de água das chuvas pela evapotranspiração, que transporta umidade para a região Central e Sul da América do Sul. Esses serviços ambientais, prestados pelas florestas, têm valor econômico que precisam ser remunerados", alertou Manzi.

Em sua fala final, o pesquisador destacou que as instituições de ensino e pesquisa da região precisam continuar investindo no aumento do conhecimento científico sobre os ecossistemas e sua interação com o sistema climático, pois desta forma, os modelos matemáticos utilizados para prever o clima poderão ser aperfeiçoados, permitindo a diminuição na margem de erros das previsões das mudanças climáticas da Amazônia e do planeta como um todo. Caroline Soares e

Fonte: Assessoria de Comunicação do INPA

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