segunda-feira, 25 de junho de 2007

Trópicos têm sumidouro inesperado de carbono

Bernardo Esteves

Modelos teóricos subestimam quantidade de CO 2 absorvida da atmosfera por florestas intactas.

As florestas tropicais intactas podem capturar da atmosfera uma quantidade de carbono maior do que se acreditava, sugere um estudo internacional publicado esta semana. O trabalho concluiu que a vegetação temperada do Hemisfério Norte absorve 40% menos carbono do que previam os modelos teóricos. A diferença está sendo compensada nos trópicos, onde as matas intactas estão capturando quase 2 bilhões de toneladas anuais a mais do que indicavam as previsões. O estudo ajuda a entender o destino das 8 bilhões de toneladas de carbono lançadas anualmente na atmosfera. Cerca de 40% ficam acumulados na atmosfera e 30% são absorvidos pelos oceanos. Acreditava-se que os 30% restantes seriam capturados pela vegetação terrestre, sobretudo nas regiões temperadas do Hemisfério Norte.

No balanço global, as florestas tropicais são emissoras, já que o carbono absorvido por elas não basta para compensar aquele lançado na atmosfera pela queimada e derrubada da mata para dar lugar a lavouras e pastagens. A conclusão do estudo, publicado na revista Science , não era esperada pelos autores. “Os resultados são muito surpreendentes, porque há 15 anos os pesquisadores vêm procurando sem sucesso por um grande sumidouro de carbono nos continentes do Hemisfério Norte”, disse à CH On-line Britton Stephens, cientista do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (EUA) e autor principal do estudo. “Mostramos que ele não foi encontrado simplesmente porque não está lá.”

O estudo, assinado por 22 autores de sete países, analisou a concentração de carbono em amostras de ar colhidas por aviões em 12 pontos do globo ao longo dos últimos 27 anos. Os dados foram em seguida comparados com modelos computacionais da atmosfera alimentados com informações sobre os ventos e medições do fluxo de dióxido de carbono efetuadas no nível do solo. A comparação mostrou que os modelos estavam superestimando a quantidade de carbono absorvido pelas florestas temperadas. O estudo mostra que elas estão capturando anualmente cerca de 1,5 bilhões de toneladas – quase 1 bilhão de toneladas a menos do que previam os modelos. As matas tropicais, por sua vez, estariam emitindo “apenas” 100 milhões de toneladas anuais de carbono, em vez de 1,8 bilhões de toneladas, conforme apontavam os modelos. A discrepância entre os modelos e os resultados encontrados se deve ao fato de as previsões teóricas serem baseadas em medições feitas no nível do solo. As amostras colhidas em aviões permitiram retratar de forma mais fiel os fluxos verticais de carbono na atmosfera.

Manter as florestas de pé

"Nosso estudo traz mais uma forte motivação para preservar as florestas tropicais intactas, para que elas continuem capturando grandes quantidades de carbono", acredita Stephens. Os resultados trazem também mais argumentos a favor do estabelecimento de incentivos econômicos aos países que mantiverem suas florestas em pé – uma antiga reivindicação do Brasil nas discussões do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto. O estudo revela ainda o quão precário é nosso entendimento sobre os fluxos de carbono na atmosfera. Para se aprofundar esse conhecimento, a única solução é desenvolver modelos mais precisos e realizar mais observações atmosféricas. Stephens conta que fará em outubro e novembro, junto com uma equipe que inclui o brasileiro Paulo Artaxo, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), medições aéreas dos fluxos de carbono sobre a Amazônia. "Também pretendemos fazer no avião de nosso centro de pesquisa giros em torno do globo para medir dióxido de carbono e outros gases, de forma a termos uma visão mais clara do movimento do carbono na atmosfera e das fontes e sumidouros em terra.”

Fonte: Ciência Hoje

Nenhum comentário: