segunda-feira, 2 de julho de 2007

Dissertação avalia a diversidade de helmintos em mamíferos para analisar degradação ambiental


<P> Ovo de Trichuroidea encontrado em tamanduá no local (Foto: Márcia Chame)

Catarina Chagas

Queda na população de espécies animais e vegetais, variações de temperatura e diferenças na composição do solo são alguns dos indicadores do que se passa em um determinado ambiente. Mas a história das modificações ocorridas nos ecossistemas pode ser contada também pela contaminação por parasitos. Em sua dissertação de mestrado, recém-defendida na Fiocruz, a veterinária Martha Lima Brandão analisou helmintos de mamíferos da região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, que é Patrimônio Cultural da Humanidade, para avaliar os efeitos da degradação ambiental na região.

Martha participou de quatro expedições ao local, em épocas de chuva e de seca. A área do estudo, além de compreender os limites do parque, incluiu as pequenas comunidades do entorno. Após coletar amostras de fezes, a veterinária procurou identificá-las por seu tamanho, forma e restos alimentares ali presentes, como folhas, sementes, frutos, pedaços de ossos ou partes de insetos, observados com o auxílio de uma lupa. Assim, relatou que as 72 amostras incluídas no trabalho pertenciam a 13 espécies diferentes de animais, entre mamíferos silvestres, como onça pintada e tatu, e domésticos, como cães e porcos.

As amostras foram levadas ao laboratório para análise no microscópio óptico, a partir da qual foram identificados os ovos de parasitos presentes nas fezes de cada animal. Os resultados apontaram, no total, sete espécies de helmintos. Nos hospedeiros silvestres, foram encontrados 29 morfotipos diferentes – grupos de ovos de helmintos com características semelhantes –, enquanto nos hospedeiros domésticos foram encontrados 11. O cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) foi a espécie que apresentou maior diversidade de parasitos, com oito morfotipos diferentes.
“Nossas análises mostraram uma distribuição dos helmintos compatível com a filogenia dos animais estudados”, afirma Martha. “Algumas espécies diagnosticadas em fezes fossilizadas (coprólitos) da mesma região também foram encontradas nas amostras recentes. Isso mostra a continuidade das relações entre os hospedeiros estudados e seus parasitos e indica que tais relações ainda não foram afetadas pela pressão do homem sobre este ecossistema”.

A pesquisadora alerta, também, que os resultados podem ter sido favorecidos por uma imprecisão no diagnóstico dos ovos. “Alguns exemplares encontrados ainda não haviam sido descritos e outros são muito semelhantes, embora apareçam em hospedeiros distintos. Para confirmar se eles realmente pertencem à mesma espécie, precisaríamos estudar os vermes adultos”. As próximas etapas do estudo incluem a análise de mais ovos e a necropsia de animais encontrados mortos no parque, que possibilitará a identificação das formas adultas dos parasitos.
Após este trabalho inicial de desvendar a diversidade dos helmintos da região da Serra da Capivara, será possível acompanhar as mudanças ocorridas no local a partir da análise da relação parasito-hospedeiro nos animais que ali vivem. “Estudos futuros poderão avaliar os impactos da ocupação humana e das mudanças climáticas sobre essas relações a partir dos nossos dados primários”, aponta Martha.

Fonte:Fiocruz

Nenhum comentário: