quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Dispersão vegetal transoceânica


Estudo de pesquisadores brasileiros e norte-americanos comprova que a sumaúma, árvore originária da América Tropical, saiu da Amazônia e cruzou o oceano Atlântico até colonizar a África


Devido ao alto poder de adaptação e dispersão de suas sementes, a sumaúma (Ceiba pentandra), árvore originária da América Tropical que chega a atingir 50 metros de altura, saiu da Amazônia, cruzou o oceano Atlântico e colonizou a África. A constatação foi feita por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical, no Panamá. Os resultados do estudo foram publicados na revista Molecular Ecology.

O trabalho começou em 2000 com a análise do material biológico de 54 exemplares de sumaúma coletados em diversos pontos da Amazônia brasileira, no Equador, no Panamá, na Guiana Francesa, na Costa Rica, no México, em Porto Rico e em três países da África: Camarões, Gabão e Gana. Foram analisadas, para cada indivíduo, seqüências do DNA extraído do cloroplasto, organela responsável por carregar a clorofila e que contém informação genética materna, bem como do núcleo celular, que contém informação genética do pai e da mãe.
“Com base em marcadores genéticos universais, amplificamos regiões de interesse dos genomas do núcleo celular e do cloroplasto da sumaúma”, disse Maristerra Lemes, pesquisadora do Laboratório de Genética e Biologia Reprodutiva de Plantas do Inpa e uma das participantes do estudo, à Agência FAPESP.

Em seguida, ao sair em busca de mutações genéticas nos exemplares analisados da sumaúma, os cientistas encontraram poucas divergências entre os do continente americano e africano. “Identificamos seis haplótipos, que são os tipos de variantes encontrados a partir das mutações da seqüência de DNA, utilizando o marcador genético do núcleo”, explicou Maristerra. Isso quer dizer que, nesse caso, os 54 indivíduos se distribuíram em seis “categorias genéticas”. “Quando analisamos o genoma do cloroplasto, o número de haplótipos encontrados foi de apenas dois.” “Com base em estimativas das taxas de mutação para esses marcadores genéticos publicados na literatura científica, foi possível estimar o tempo de divergência entre as populações de sumaúma, o que ocorreu muito recentemente, provavelmente entre 3 e 5 milhões de anos atrás”, apontou. Estima-se que os continentes sul-americano e africano tenham se separado há cerca de 96 milhões de anos. “Com base em nossos dados genéticos, a hipótese mais plausível para a colonização da sumaúma no continente africano é a dispersão da espécie a longa distância pelo oceano”, disse Maristerra. O estudo sugere que as sementes teriam se dispersado por meio da combinação de correntes marítimas com grandes vendavais. “A semente da sumaúma tem uma estrutura similar a uma cortiça que permite com que flutue na água e também é envolta por uma paina, que facilita seu carregamento pelo vento”, conta a pesquisadora do Inpa. Outra possibilidade seria o transporte das sementes e estruturas vegetativas em troncos de árvores pelo oceano.

Segundo o outro autor brasileiro do trabalho, Rogério Gribel, pesquisador titular da Coordenação de Botânica do Inpa, apesar de raros, esses eventos de dispersão de espécies em longa distância podem estar contribuindo, nas últimas dezenas de milhões de anos, para a composição de florestas da região da América Tropical, assim como da África. “Alguns estudos mostram que a vegetação da Amazônia é composta por grupos de plantas originárias de outras regiões do planeta. Mas nosso trabalho comprova, pela primeira vez com base na análise de marcadores genéticos, que o Atlântico foi realmente cruzado pelo propágulo de uma espécie vegetal”, disse Gribel. Os outros dois autores do trabalho são Eldredge Bermingham e Christopher Dick, que também é professor da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Para ler o artigo Extreme long-distance dispersal of the lowland tropical rainforest tree Ceiba pentandra L. (Malvaceae) in Africa and the Neotropics, publicado na edição de julho da Molecular Ecology, clique aqui.


Fonte: Agência Fapesp

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