Partículas de fuligem emitidas por carros e fábricas estão piorando mudança climática. Aquecimento na Ásia pode deixar Índia e China sem geleiras e água.
Richard Ingham
A névoa de poluição que hoje cobre o Sudeste Asiático está acelerando a perda das geleiras do Himalaia, o que coloca o abastecimento de água dos países mais povoados e populosos do mundo -- a China e a Índia -- sob um risco incalculável, alerta um grupo de pesquisadores.
No estudo, que está na edição desta semana da revista científica britânica "Nature", a equipe afirma que a chamada Nuvem Marrom Asiática tem tanta culpa pelo aquecimento observado nos últimos 50 anos no Himalaia quanto os gases causadores do efeito estufa. O derretimento das 46 mil geleiras do Planalto Tibetano, a terceira maior massa de gelo do planeta, já está causando enchentes nos lugares mais baixos, mas no longo prazo o grande risco é o da seca. Os pesquisadores, liderados por Veerabhadran Ramanathan, do Instituto Scripps de Oceanografia (Califórnia, EUA), usou uma técnica inovadora para explorar a Nuvem Marrom Asiática. A pluma de partículas em suspensão se espalha pelo continente asiático, gerada por canos de escapamento, chaminés de fábricas e termelétricas, florestas ou campos que estão sendo queimados para uso agrícola e madeira ou esterco queimados como fonte de calor.
O papel dessas emissões em forma de partículas sólidas no aquecimento global ainda é pouco conhecido. Também chamadas de aerossóis, as partículas resfriam a terra ou o mar debaixo delas porque filtram a luz que vem do Sol. Ao mesmo tempo, alguns aerossóis também absorvem a luz solar, podendo esquentar a atmosfera localmente. A equipe de Ramanathan usou três aviões pilotados por controle remoto, equipados com 15 instrumentos capazes de monitorar a temperatura, as nuvens, a umidade e os aerossóis. Lançados da ilha de Hanimadhoo, nas Maldivas, os aviões fizeram 18 missões em março de 2006, voando sobre o oceano Índico.
A principal descoberta é que a nuvem aumentou o efeito do aquecimento solar sobre o ar em volta dela em cerca de 50%. Isso acontece porque as partículas são basicamente fuligem, que é negra e absorve a luz do Sol. Cálculos dos pesquisadores indicam que até metade do aquecimento atmosférico do Sudeste Asiático desde os anos 1950 pode ser explicado justamente pela ação desse tipo de poluente.
Fonte: FP
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