quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Decisão inédita proíbe pesca no rio São Francisco

Ney Rubens

O Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF) publicou nesta quinta-feira uma portaria que proíbe a pesca no rio São Francisco e no rio das Velhas, seu afluente. A medida é tomada pela primeira vez na história de Minas. De acordo com o IEF, exames realizados por técnicos da Companhia de Saneamento Básico de Minas Gerais identificaram uma alta concentração de toxinas liberadas pelas cianobactérias (algas azuis) que podem trazer riscos à saúde da população.

No rio das Velhas, a atividade será proibida no trecho entre Belo Horizonte até a foz no São Francisco, no município de Várzea da Palma, região noroeste do Estado. No São Francisco, a pesca estará proibida até o município de Manga, na divisa com o Estado da Bahia. A previsão é de que até 1º de novembro, quando se inicia a piracema (fase de reprodução dos peixes), a situação seja normalizada. A proibição pode ser prorrogada se os exames ainda detectarem contaminação da água. "Estamos preocupados com a saúde pública. As pessoas que utilizam essas águas, na pesca ou até mesmo no dia-a-dia, podem ser muito prejudicadas com a contaminação, por isso a proibição também continua se o problema não tiver sido resolvido", explicou Marcelo Coutinho Amarante, gerente de fauna aquática e pesca do IEF.

Para avaliar a presença da toxina nos peixes, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) vai enviar, nos próximos dias, amostras ao laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A Secretaria de Estado de Meio Ambiente informou que a pesca profissional já não é permitida no rio das Velhas, mas a proibição irá abranger todas as modalidades, inclusive a de subsistência. Segundo a secretaria, os pescadores poderão requerer um salário mínimo concedido pelo governo federal para sanar as perdas que terão com a medida. Ainda segundo o gerente do IEF, as pessoas que tiverem contato com essas toxinas podem apresentar irritações na pele e náuseas. Quando consumidas, as toxinas podem causar hepatite e câncer. "Se a pessoa tiver alguma alergia, a toxina pode até causar a morte". Para ele, o aumento da concentração pode ter sido causada por causa da diminuição da vazão da água dos rios, devido à seca."Outra razão seria a concentração de matéria orgânica que serve de alimentação para essas bactérias", disse Coutinho.

Segundo ele, o tratamento que é realizado na água é incapaz de retirar todos os componentes químicos da poluição desses rios."O fósforo, o nitrogênio e outros elementos deixados pela matéria orgânica é o que nutre essas algas", explica, ao indicar o tratamento do tipo terciário. "Esse tratamento é realizado apenas no lago Paranoá em Brasília e já revelou ser bem mais eficaz".O acompanhamento semanal da qualidade das águas nos rios das Velhas e São Francisco vai contar, a partir desta semana, com um novo ponto de coleta entre lagoa Santa e Jequitibá. De acordo com a Copasa, o Ministério da Saúde considera aceitável a concentração de um micrograma de cianobactéria por litro de água tratada. O último exame apontou níveis abaixo do estipulado nos rios Doce, das Velhas e São Francisco, "mas está mantido o alerta, pois as algas azuis são muito sensíveis e podem voltar com uma simples mudança no vento, na velocidade da água ou na temperatura, explicou o biólogo da Copasa, Fernando Jardim. Para Jardim, o principal alerta é para que a população ribeirinha evite consumir água captada diretamente dos rios e pescados.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, o contato e a ingestão de toxinas liberadas pelas cianobactérias podem trazer complicações para o fígado e, dependendo do grau de contaminação da água, podem causar hepatite tóxica e câncer. Outros sintomas são inflamação nos seios da face e asma, irritação na pele, olhos, ouvidos, lábios e garganta, náuseas e vômitos. A toxina também pode afetar o sistema nervoso central, provocando dormência e formigamento das extremidades (pontas de dedo, nariz e orelhas), convulsão, paralisia muscular e, em casos extremos, até a morte.

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